Changing Lifes escrita por Maty


Capítulo 8
Mudanças




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“ -Tom... Você não sente realmente nada, nem um pouquinho de amor, pela nossa filha?

-Eu não sei, acho que não passei tempo o bastante com ela para isso.

Será que era tão difícil assim admitir que eu sentia sim alguma coisa pela Tessie? E que mesmo que tentasse negar era um sentimento forte?

-Você não acha engraçado? – se recompôs rapidamente me olhando curiosa dessa vez.

-O que?

-Nós moramos no mesmo apartamento, extremamente pequeno por sinal, estamos noivos, temos uma filha e mesmo assim você é um completo estranho para mim. – riu. – Aliás, tudo isso é completamente estranho para mim! Minha vida está uma completa bagunça desde que te conheci! Tem idéia do que eu tive que passar nos últimos meses?

    Pensei por alguns segundos, não sabia muita coisa, nunca estive interessado o bastante para sair perguntando. Sabia que David a visitou e fez aquele acordo de 1 ano com ela, uma semana depois ela se mudou de Frankfurt para Hamburg e então já anunciamos o nosso noivado. Foi tudo muito rápido e não deu tempo de providenciar o nosso apartamento então ela se hospedou na casa de minha mãe enquanto eu viajava com a banda para terminar a Turnê e todos os compromissos a tempo da Tessie nascer.

-Tem idéia de como foi deixar tudo para trás para morar na casa de estranhos? – falava as palavras sem nem ao menos olhar para mim. Talvez ela só precisasse falar, mesmo que ninguém a ouvisse. – Sabe como foi ir á todas aquelas consultas sozinha? Todas as mulheres tinham alguém para segurar suas mãos, alguém para sorrir com elas quando ouvissem o coração do seu bebê pela primeira vez ou vibrar na hora de descobrir o sexo... E eu estava sozinha. Você nem ao menos estava ao meu lado no dia que ela nasceu!

-Isso não foi minha culpa! A previsão era eu chegar aqui em Hamburg uma semana antes da Tessie nascer, mas ela decidiu nascer antes disso! Culpe o David por ter marcado tantos compromissos. – tentei me justificar, mesmo sabendo que isso não faria muita diferença agora.

-David... – ela riu. – Se não fosse ele como as coisas teriam sido? Foi ele quem correu atrás e tentou corrigir os nossos erros, e de quebra salvar a sua carreira. – encostou a cabeça na corrente do balanço, olhando para o chão desanimada. – Foi ele quem se esforçou para tornar a nossa mentira convincente para o mundo.

     Lembrei de todas as vezes que cheguei no hotel e me deparei com a Beatrice sentada no saguão, ou em camarins de concertos e outros compromissos públicos. Sempre reservavam um quarto de casal para mim e ela, mas no final eu sempre acabava dormindo com Bill no de casal e ela dormia no de solteiro que era para ser do Bill.

-Uma ou duas vezes por mês David me mandava passagens para qualquer lugar do mundo onde vocês estivessem, eu tinha que fazer as minhas malas e embarcar em um avião para forçar sorrisos e fingir que éramos completamente apaixonados...

-Mas eu sempre fui frio com você. - me senti na obrigação de completar aquela frase. Olhando para trás agora, ela fora extremamente valente e forte passando por tudo isso sozinha.

    Lembrei de quando David nos obrigava a sair para restaurantes e eu ia sempre de cara feia e á força, nem ao menos abria a porta do carro ou a esperava antes de sair andando. Sempre passávamos os jantares em silêncio por que eu nunca me esforcei para tornar tudo mais agradável. Ela só ficava 3 ou 4 dias ao meu lado para tornar toda a mentira convincente, e nós quase nem trocávamos uma única palavra.

-Eu sinto muito... – engoli em seco, olhando para o lado oposto para que ela não visse meu rosto corar. Notei que era a primeira conversa civilizada e com um pingo de sentimento que já tivemos. – Desculpe por ter sido tão idiota, nunca tentei ver as coisas pelo seu lado. Se eu parar para pensar nem abri mão de tantas coisas assim... – ri um tanto indignado com a conclusão á qual chegara. – Estou na minha cidade, tenho minha família, tenho o Bill, tenho a minha banda, nunca sacrifiquei muito do meu tempo para a Tessie e nem ao menos parei de sair para beber em bares...

-Posso te fazer uma pergunta? – me lançou um olhar questionador. O sol que começava a nascer dava um tom alaranjado á sua pele clara, e refletia em seus olhos fazendo-os brilharem. Acenei com a cabeça para que continuasse falando. – È realmente tão difícil para você?

-O que?

-Mudar. Você tem medo de alguma coisa? – indagou. – Por que cuidar da sua filha, ajudar de vez em quando ou deixar de ir nos bares para ficar em casa parece ser tão impossível para você? – perguntou me deixando completamente embasbacado. – Por que...

-Eu menti. – a interrompi antes que pudesse abrir a boca novamente e me atacar com perguntas que eu não podia responder. – Quando você perguntou se eu não amava a Tessie... Eu menti. – respirei fundo. – A verdade é que quando ela chora, eu tenho vontade de abraçá-la, quando ela segura meu dedo eu tenho vontade de sorrir. Eu gosto da sensação de quando ela dorme em meus braços, ou de dar a mamadeira. – confessei de uma só vez sem nem ao menos parar para respirar. – A verdade é que eu não esperava sentir nada disso! Eu estava bem quando não ligava para nada!! Mas agora eu sinto necessidade de checar toda hora se ela está bem, me sinto mal quando ela chora, me sinto mal quando vejo que você faz tudo sozinha por que isso me faz sentir um péssimo pai! E principalmente, estou me sentindo um lixo depois de tudo o que você falou! – gritei, de repente nervoso e aliviado ao mesmo tempo por ter falado tudo aquilo. Afinal de contas parece que ela não foi a única que tirou a madrugada para desabafar.

-Tom...? – chamou depois de alguns segundos de silêncio que eu usei para recuperar meu fôlego, Beatrice ainda tinha seus olhos arregalados de surpresa. – Eu... Posso te abraçar?

-C-Como? – gaguejei com a pergunta inesperada. Ela corou de leve.

-Eu não me lembro quando foi a última vez que abracei alguém que não fosse a minha filha de dois meses. – riu – Meio que estou precisando... – fez uma expressão desajeitada de vergonha. - E como eu achei que não tinha como esse dia ficar mais estranho do que já está, achei que era uma boa hora para perguntar. – acabamos rindo juntos. Um tanto sem graça eu assenti que sim com a cabeça e ela se levantou de seu balanço e me envolveu em um abraço no começo tímido, mas depois cada vez mais forte.

    Podia sentir o cheiro agradável de seu shampoo em seus cabelos, sua respiração lenta e compassada próxima ao meu pescoço e o toque aveludado de sua pele contra a minha. Inconscientemente soltei minhas mãos das correntes do balanço e as posicionei em volta dela também, para minha surpresa ao soltar o longo metal acabei perdendo o equilíbrio e nós dois caímos na grama desajeitados. Depois de alguns segundos de confusão nos encaramos e começamos a rir. Ela saiu de cima de mim e nós deitamos de costas olhando o céu alaranjado.

-As coisas serão, pelo menos um pouquinho, diferentes agora? – perguntou se apoiando em um cotovelo. Eu olhei para ela e logo após voltei a fitar o céu, cuidadoso com minhas próprias palavras.

-Veremos.


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Notas finais do capítulo

No próximo capítulo:

" -Então isso é um sim? – perguntou, olhei para ela e estreitei os olhos, confuso com a pergunta. – Quando eu perguntei se as coisas seriam diferentes daqui pra frente... Isso é um sim?

—Isso é um “eu vou tentar”. – ela sorriu. "