A semana passou lentamente. A cada dia me sentia mais só. Jared saía muito para resolver problemas, e eu passava a   maior parte do tempo com Shannon. Essa
perspectiva me assustava um pouco. Quer dizer... Não sei bem explicar, porém, claramente ele tinha algum poder sobre mim.
Eu estava deitada no sofá, lendo um livro qualquer, quando Jared chegou. Já era bem tarde. Me surpreendi quando percebi seus cabelos tingidos de loiro. Afinal, de
quem era a preferência? Ele me fitou e sorriu. Estava com saudades, era óbvio. Podia parecer infantil, mas eu estava chateada por ele não me dar tanta atenção
quanto antes. Jay deve ter percebido algo, pois se aproximou, sentando na beirada do cômodo. Não tirei meus olhos do livro.
- Amor? - ele falou num tom suave, tentando chamar minha atenção.
- Que foi? - Ele suspirou profundamente, então deitou-se ali, me abraçando. Lógico que não recusei, e antes que percebesse estava alisando seu rosto com uma das
mãos. - Quem mandou você pintar o cabelo? - Perguntei de repente. Ele riu.
- Você não gostou? - Ele parecia preocupado em me agradar.
- Não é isso. - respondi. - Você fica bonito de qualquer jeito... - disse meio sem graça. - Só queria saber o motivo.
- A gente discute isso depois.
E calou-me com beijos. Foi só quando segurei sua nuca que percebi o quanto do comprimento ele havia retirado do cabelo. Choraminguei mentalmente, procurando
concentrar-me naqueles lábios muito macios. Como  uma pessoa podia ser tão irresistível aquele ponto? Comecei a desabotoar os botões da sua blusa, até que ele
segurou minha mão, impedindo-me. Parei para olhá-lo.
- ...Hoje não. - Ele percebeu meu olhar interrogativo. Susipirei, começando a me levantar, muito irritada, por sinal. Sabia que ele estava me seguindo, porém não
dei muita importância. Quando cheguei em meu quarto ele me parou. - Mellanie?
- O que? - Demonstrei todo meu mal humor naquela palavras. Ele me abraçou por trás, e começou a desferir beijos leves no meu pescoço. - Jared, para...
- Porque? - Fez manha, e continuou o que estava fazendo. Virei-me de frente pra ele rapidamente e me afastei.
- Se você não quer transar comigo, não me excite! - E fiquei de costas para ele, não queria ver sua expressão.
- Eu só estou cansado. - Jared admitiu, derrotado.
Odiava magoá-lo. Repreendi-me em silêncio, já indo em sua direção. O beijei brevemente, pedindo desculpas. Ele apenas assentiu. Comecei a alisar seu rosto 
suavemente, numa carícia tiste. Depois disso sentí-me fraca para qualquer coisa. Deitei-me na cama, com aquela estranha sensação de comodidade. Jared deitou em
meu lado, aconchegando um braço protetor em volta de mim. Fiquei fazendo cafuné em seu cabelo, agora, loiro. Senti sua respiração se suavizar, sabia que ele
havia dormido. Por algum motivo desconhecido não havia conseguido pegar no sono. E pensando nisso, ouvi um som abafado vindo do criado-mudo. Virei-me,
percebendo que meu celular estava vibrando repetidas vezes, anunciando uma mensagem nova. Peguei-o, sem me mecher muito, para não acordar o jay, e li em
silêncio, as seguintes palavras:
"Estou com insônia, tá afim de sair?"
Olhei o número no visor. "Shannon". Bom... Que mal tinha? Afinal, eu também estava entediada. Levantei-me, lentamente, e escrevi de volta.
"Onde?"
Puxei um vestido do armário, sem fazer ruído e vestí-o. Era preto, com alguns detalhes bordados, mas não muito aberto. Ainda fazia frio. Principalmente as 1h
da manhã, pensei. Enquanto passava uma maquiagem escura, senti o celular vibrando novamente. Nele havia o endereço de uma boate bem frequentada, no centro.
Típico dele... Teclei de volta.
"Ok. Te vejo em meia hora."
Me arrumei rapidamente, deixando meus cabelos claros soltos, e pondo um salto não muito alto. Dei um beijo no rosto de Jared por hábito, e desci as escadas,
pegando as chaves do carro, fechando a porta cautelosamente, e chaveando-a logo após.
Enquanto dirijia, sentía-me em estado de ecstasy completo, por mais absurdo que parecesse. Liguei o som no volume máximo, e procurei uma rádio de meu agrado.
Quase gritei ao ouvir a música, e comecei a acompanhar a letra do clássico, cantando absurdamente alto.

Welcome to the Jungle
Bem-vinda à selva
We got fun and games
Nós temos diversões e jogos
We got everything you want
Nós temos tudo o que você quiser
Honey, we know the names
Querida, sabemos os nomes

We are the people that can find
Nós somos as pessoas que podem encontrar
Whatever you may need
Qualquer coisa que você precisar
If you got no money honey
Se você tiver o dinheiro, querida
We got your disease
Nós temos sua doença

In the jungle, welcome to the jungle
Na selva, bem-vinda à selva
Watch it bring you to your
Veja ela derrubar seus joelhos
Sha-na-na-na-na-na-na-na-knees, knees
Seus joelhos
Oh, I wanna watch you bleed
Venha, eu quero ver você sangrar

Welcome to the jungle
Bem-vinda à selva
We take it day by day
Nós a enfrentamos dia após dia
If you want it you're gonna bleed
Se você quiser, você vai sangrar
But it's the price you pay
Este é o preço que você pagará

And you're a very sexy girl
E você é uma garota muito sexy
That's very hard to please
Muito  difícil de satisfazer
You can taste the bright lights
Você pode provar as luzes brilhantes
But you won't get them for free
Mas você não vai tê-las de graça

In the jungle, welcome to the jungle
Na selva, bem vinda à selva
Feel my, my, my, my serpentine
Sinta, minha, minha, minha, minha serpentina
Oh, I wanna hear you scream
Oh, eu quero ouvir você gritar

Welcome to the jungle
Bem-vinda à selva
It gets worse here everyday
Fica pior a cada dia
Ya learn to live like an animal
Você aprende a viver como um animal
In the jungle where we play
Na selva é onde nos brincamos

If you got a hunger for what you see
Se você tem fome pelo que você vê
You'll take it eventually
Você vai tê-la, eventualmente
You can have anything you want
Você ter tudo que você quiser
But you better not take it from me
Mas é melhor não tentar tirar nada de mim
In the jungle, welcome to the jungle
Na  selva, bem-vinda à selva

Watch it bring you to your
Veja ela derrubar seus
Sha-na-na-na-na-na-na-na-knees, knees
Joelhos, joelhos
Oh, I wanna watch you bleed
Venha, eu quero ver você sangrar

And when you're high you never
E quando você está no alto, você nunca
Ever want to come down
Quer descer
So down, so down, so down
Então desça, então desça, então desça
Yeah, down!
Sim, desça!

You know where you are?
Você sabe onde você está?
You're in the jungle baby
Você está na s elva, baby
You gonna die!
Você vai morrer!

In the jungle, welcome to the jungle
Na selva, bem-vinda na selva
Watch it bring you to your
Veja ela derrubar seus
Sha-na-na-na-na-na-na-na-knees, knees
Joelhos, joelhos

In the jungle, welcome to the jungle
Na selva, bem-vinda à selva
Feel my, my, my, my serpentine
Sinta, minha, minha, minha, minha  serpentina
In the jungle, welcome to the jungle
Na selva, bem-vinda à selva
Watch it bring you to your
Veja ela derrubar seus

Sha na na na na... knees, knees
Joelhos,  joelhos
In the jungle, welcome to the jungle
Na selva, bem-vinda à selva
Watch it bring you to your
Veja ela derrubar seus
It's gonna bring you down, huh!
Ela está indo derrubá-la, huh!

Parecia uma louca pulando, mal prestava atenção na direção, foi sorte não ter batido o carro acidentalmente. Porém, antes que percebesse havia chegado em meu
destino. E bem animada, por sinal. Meu acompanhante estava parado bem na porta, com cara de quem não quer nada. Quando me viu, franziu levemente o cenho,
observando meu sorriso de canto. Comprimentei-o.
- Que animação é essa? Tudo isso é pra mim? - Brincou.
Ignorei, puxando-o pela mão. Queria dançar. Estava fora de mim aquela noite. Shannon se deixou levar obediente. Nenhum dos seguranças tentou nos impedir de
furar fila. Achei bem estranho, porém, na hora não fiz muito caso. O ambiente era animado e escuro. A pista de dança estava lotada. Enfim, me sentia em casa.
Uma música eletrônica - não sabia dizer o nome - tocava. Que bom! Ergui os braços e comecei a dançar loucamente. Afinal não havia um padrão para aquele tipo
de composição musical. Ele riu, todavia me acompanhou, dançando à minha frente. Perdi a conta de quanto tempo ficamos ali, naquele ritmo louco e nada
sincronizado. Até que ele se aproximou, abaixando para falar em meu ouvido:
- Você quer beber alguma coisa?
- O que!?
- Você quer beber alguma coisa!? - Ele gritou, alterando a voz até ela ficar mais alta que a música.
Fiz que sim com a cabeça e ele me guiou até o bar, que ficava dentro da própria boate, porém no outro extremo do local, tornando-se assim, mais privativo.
Sentei em um banco alto, ao lado de Shannon. Não tardou até um barman de meia-idade vir nos atender.
- Vão querer beber o que? - Ele perguntou, simpático.
- Cuba libre - falou a voz familiar em meu lado.
- Long Island Iced Tea - Pedi. Indubitavelmente era muito gostosa.
Shannon me fitou, incrédulo, pois a bebida era famosa por deixar as pessoas bêbadas com cerca de uma ou duas doses, dependendo do metabolismo do indíviduo.
A receita deixava isso claro, pois possuía quase todas as bebidas alcoólicas fortes. Como por exemplo: Gin, Rum, Vodka, Tequila e Contreau. Tinha a certeza de que
ele ia protestar, porém o protesto morreu na garganta. Ele apenas brincou.
- Parece que alguém quer beber até cair hoje. Não vou perder a noite hem.
- Até parece. - Rolei os olhos, deixando a risada correr livremente por meus lábios.
Nossos respectivos pedidos chegaram. Agradeci e tomei um gole, saboreando aquele delicioso misto de coisas. Tirei o salto, deixando-o ali mesmo, e puxei Shannon
para ir dançar. Ele riu e agarrou seu Cuba Libre com uma das mãos.
No fim das contas ele tinha razão. Minha bebida não me fez desmoronar, porém, quando terminei de beber, já estava mais louca que o normal, dançando
freneticamente. Todas as luzes pareciam me seduzir, aquele rosto à minha frente também não podia deixar de ser tentação também. Aquela mistura de cores, o apagar e
acender, a clareza e a escuridão só contribuíam mais para minha "pani" elétrica. Minha alma parecia ir e voltar à extremidade da terra em poucos segundos.
Sem ao menos perceber já estava dançando com o corpo colado no dele. Já podia perceber os primeiros raios de sol querendo chegar, porém ainda tinha disposição.
Me virei para ele, deixando o rosto perigosamente perto, e as duas mãos em volta de sua nuca, numa espécie de provocação. Mal eu sabia, como ia me arrepender
daquilo mais tarde. Mas não naquele momento. Afinal, a vida é bela, e eu estava embreagada! Combinações bem perigosas. Eu mesma tomei iniciativa e o beijei.
Seus lábios retibuíram automaticamente, e Shannon começou a pedir espaço com a língua.
Nossas bocas se moviam no mesmo ritmo da música, de modo frenético, louco e tentador. De repente senti suas duas mãos em meus ombros, repelindo-me. Shannon
virou-se de costas, passando a mão entre os cabelos pretos. Tentei puxá-lo de volta, sem entender, porém, ele não se deixou levar.
- Que foi? - Perguntei, fazendo um beiçinho.
Contornei-o, ficando à sua frente. A expressão de Shannon era indecifrável. Comecei a me aproximar novamente, e dessa vez, ele pareceu se irritar.
- Para, Mellanie! Que merda... - Ergui uma sombrancelha de modo interrogativo - Você está bêbada, vou te levar pra casa.
Ele começou a puxar-me pela mão, porém grudei os pés no chão com força.
- Mas eu não quero ir!
- Ah, qual é. - Ele falou mais pra si mesmo que pra mim, então aproximou-se e me ergueu, colocando-me em cima de seu ombro, com metade do corpo pendendo
para suas costas, e outra para seu peito.
- Me solta! - Gritei, socando suas costas, porém, não parecia surtir efeito.
Então tudo começou a ficar escuro.