35. Discussões

Jane’s POV

            Eu sentia. Sentia o que todos diziam, o que os filmes mostravam, o que os casais viviam... um beijo, um desejo suprimido, algo que eu não acreditava existir, e ali quando todas as minhas dúvidas me dominavam e minhas inseguranças me esmagavam como nem mesmo o vampiro mais forte que eu possa ter lutado fez, totalmente insegura e impotente, eu já não era Jane Volturi, não era uma vampira experiente e poderosa, não era superior a ninguém, era apenas uma garota, inexperiente, trêmula, insegura e ansiosa...

            Nem mesmo eu tinha idéia de como ansiava por aquele beijo, tudo tão novo e diferente, naquele momento não existia mais orgulho pairando entre nós, as mãos de Demetri se embrenharam cuidadosamente por entre meu coque frouxo e tive que segurar em seu ombro para não cair; ele com uma graciosidade fora do comum nos sentou na grama verde que cobria toda a clareira, eu não queria quebrar aquele beijo, talvez eu não tivesse outra chance de tê-lo em meus braços sem o ciúme doentio que eu sentia dele com Heidi.

            Talvez fosse realmente errado estar me entregando assim só porque ele demonstrou algum tipo de afeto e preocupação, talvez ele realmente esteja embriagado por Heidi e toda sua sensualidade... Sensualidade que eu francamente não tinha e isso me mata!

            Apesar de todas as minhas resoluções continuei deslizando meus lábios no dele, e nossa, não havia sensação melhor do que aquela, os braços másculos que envolviam minha cintura, a mão delicada, porém decidida que emaranhava meus cabelos, a suavidade dos lábios e o modo como nossas línguas se encaixavam. Jamais pensei que Demetri fosse tão incrível, contra minha vontade nosso beijo se acabou em um selinho, abri meus olhos, mas os dele continuavam cerrados, seu rosto totalmente petrificado me mostrava uma beleza singular, ele era muito mais que um monte de músculos, no fundo ele era um cavalheiro.

            Não forcei o momento e apenas contemplei sua tez e como ela ficava lívida e bonita refletindo a luz da lua, vagarosamente ele passou a língua pelos lábios e eu senti milhões de borboletas voando dentro de mim, a verdade era que eu nunca havia beijado, Demetri abriu os olhos calmamente e me fitou pousando uma mão em minha bochecha:

-Não sabe quanto tempo eu esperei e imaginei esse momento... – o som da sua voz era totalmente sedutor, meio rouco, fitei o chão envergonhada, não tinha a mínima idéia do que fazer:

-hãn... me desculpe Demetri eu não deveria ter correspondido

Ele pareceu confuso, no seu olhar passava dúvida e... dor?

Eu estava delirando!

Levantei e retirei os fiapos de grama que insistiram grudar na minha roupa, na verdade já estava na hora de fazer algo a respeito dessa história, eu gostava ou não dele? Pela movimentação no meu estômago a resposta era sim, então não era hora para aceitar essa palhaçada dele e da Heidi, como é? Ele fica aqui por ela e blá blá blá, mas não hesita nem um minuto em me beijar? Palhaçada viu!

Ele se levantou e se plantou na minha frente com uma expressão nada amigável:

-O que? Você é louca Jane? Bipolar? Você sabe o que acabou de fazer? Nós nos beijamos e eu acabei de praticamente me declarar para você dizendo que te esperei por séculos e você diz que não devia ter correspondido?

Meu sangue ferveu, eu que era louca e bipolar?

-Quer saber de uma coisa? Vai à merda Demetri! Você acha que eu não sei que está aqui por Heidi? – A cara dele era de descrença e assombro, sorri malévola por ter conseguido atingi-lo com o segredo – Pois é, você achou que eu não fosse descobrir não é? Mas eu descobri... Então porque está brincando comigo? Porque me trata tão bem? É só pra seduzir a inexperiente?

Quebrada. Era assim que eu estava me sentindo, comecei falando dele e não estava conseguindo segurar mais nenhum dos meu pensamentos e conclusões sobre nosso tempo juntos, me calei abalada por tudo que tinha falado... me senti nua por ter despido meu orgulho e ter me colocado no papel de fraca então fiz a única coisa que minha dignidade permitia: Dei meia volta e me preparei para sumir de perto dele, mas sem que eu nem percebesse ele já estava de pé segurando meu pulso:

-É por isso que você acha que eu estou aqui?

Eu estava congelada... eu sabia lidar com garotos que provavelmente me deixariam ir embora, não com homens...

Alec’s POV

            Respirei novamente, Suzane continuava deitada de bruços e se eu não soubesse de tudo diria que ela estaria dormindo pela forma calma e linda com que respirava, eu não poderia me sentir mais feliz, a razão da minha existência estava de volta e bem; no entanto aquilo que um dia foi um longo pesadelo ainda havia deixado suas marcas, tracei com as pontas dos meus dedos os traços sinuosos que passavam por seus ombros.

            A linha fina e brilhante que um dia tinha separado e matado minha pérola, elas me lembravam da minha vingança, eu havia matado Aro e isso era tudo que me reconfortava, mas apesar disso já havia se passado alguns dias e uma hora ou outra chegaria o momento que teríamos de retornar para Volterra e enfrentar o resto da realeza vampírica.

            Tava na hora de mostrar que Alec Volturi não era mais um garoto habilidoso, eu era agora um homem, um homem perigoso com o objetivo de proteger Suzane custasse o preço que for... Minha família não seria mais o brinquedinho de cristal da realeza!

            Levantei delicadamente para não incomodar Suzane e fui até a sacada que dava de frente para o lago, tudo parecia calmo, tudo estava digno da volta da minha princesa, ouvi quando ela se levantou e logo enlaçou minha cintura por trás:

-Já se cansou de mim? – seu riso era o mais cristalino que eu já ouvira, sorri pela tolice de suas palavras e virei afim de olhar seu rosto de porcelana

-Não diga bobagens! Só estou pensando em coisas sérias, preciso retornar e enfrentar Caius e Marcus e creio que nenhum deles ficará feliz com meu retorno e muito menos com as notícias recentes... talvez possam me matar...

Suzane arregalou os olhos e tapou a boca com as mãos, parecia aterrorizada, eu a puxei para um abraço e apertei forte meus braços ao seu redor, gostaria muito de dizer que vai dar tudo certo ou que ficará tudo bem... mas nem eu mesmo tinha certeza, eu não poderia prever as reações do resto da guarda.

Senti quando Suzane enrijeceu nos meus braços, seu olhar estava desfocado e sua boca meio aberta como se estivesse vendo algo que eu mesmo não notei, a sacudi desesperado tentando tirá-la do transe:

-Suzane? Que está acontecendo? Meu amor?

Aos poucos ela foi focando o olhar, quando falou sua voz saiu etérea e lenta:

-Faremos uma aliança com os Cullen... Alice me deve um favor e tenho certeza que ela não negará!

Eu não sabia porque mais uma pequenina esperança começou a brotar no meu peito com um fininha voz que parecia me dizer:

“Dias melhores chegarão...”

Abracei Suzane e torci internamente para que ela estivesse certa