Homens Al Dente escrita por PAMS
Notas iniciais do capítulo
Espero que gostem!!C=
O vento assobiava nas esquinas e, à sua frente pelas ruas, levava jornais velhos e caixotes de cartão. Bella oferecia resistência às rajadas e procurava abrigo por trás de um homem encorpado que lutava com o guarda-chuva. Um olhar para o céu explicou-se por que razão o homem se esforçava para o abrir, pois as nuvens negras e ameaçadoras, muito baixas, tinham-se instalado sobre Toronto, como se quisessem lavar todas as ruas da cidade. Relampejou e Bella olhou rapidamente à sua volta. Um hotel do outro lado da rua garantia protecção. Ela consegui ver pessoas à janela do bar do hotel que espreitavam com curiosidade lá para fora.
Bella atravessou a rua a correr e refugiou-se da tempestade no vestíbulo do hotel.
Uma ruidosa confusão de línguas fez-se ouvir e aromas diversos de tecidos antigos e perfumes caros envolveram-na. Bella parou. Adorava aquilo. Lembrava-lhe um pouco a mãe que tinha um pequeno restaurante italiano em Wiesbaden e por momentos sentiu algo semelhante à saudade.
Bella, observou a recepção, em frente da qual se formara uma fila com viajantes acabados de chegar, e ainda procurava a entrada para o bar do hotel, quando ouviu ao seu lado uma voz que exprimia perplexidade numa língua que lhe era familiar. Involuntariamente virou-se. Uma senhora de idade, decerto pertencente ao grupo de viajantes, tentava fazer-se entender em inglês. Com um telemóvel encostado ao ouvido parecia procurar a todo custo não perder a ligação.
- Parece impossível – comentou a senhora, falando sozinha -, agora o miúdo nem sabe falar alemão!
- Posso ajuda-la? – perguntou Bella e sentiu-se contente por finalmente poder aplicar os seus conhecimentos linguísticos com um objectivo.
A senhora mirou-a rapidamente com um olhar vivo, depois estendeu-lhe o telemóvel sem dizer palavra.
- E o que pretende saber? – inquiriu Bella.
- Se e quando a minha filha me vem buscar aqui; o nosso voo de Frankfurt atrasou-se. Mas foi o meu neto quem atendeu e ele não percebe o que digo!
Bella reprimiu um sorriso e num ápice esclareceu a situação.
- A sua filha aguarda que a tempestade passe, depois vem buscá-la, diz o seu neto – transmitiu. – Só tem que esperar no bar do hotel!
- E isto? – perguntou a senhora apontando para uma grande mala preta ao seu lado.
- Se não está alojada no hotel, o melhor é levá-la consigo! – E quando viu a expressão de dúvida da senhora, acrescentou: - Terei muito gosto em ajudá-la, claro!
Procuraram um lugar junto à janela e Bella contou que depois do exame final do ensino secundário quis fazer um curso intensivo da língua durante três meses e por isso viera para Toronto.
- Que idade tem? – quis saber a sua interlocutora e suspirou quando Bella ripostou:
- Vinte anos.
- Tão jovem! E os seus pais deixam-na vir sozinha?
Bella riu. A mãe dela considerava que as escolas de línguas eram boas, na verdade só receava pela filha, e o pai tinha uma nova família, limitando-se a mandar dinheiro.
A senhora apresentou-se como Barbara Halm, revelou que tinha «setenta e quatro anos » e espontaneamente convidou-a para tomar café.
Ainda antes que o empregado chegasse com as bebidas, do céu desabou um temporal que abafava qualquer conversa na sala.
O empregado parou junto à mesa delas.
- Isto é normal aqui? – inquiriu Barbara.
Ele contemplou a rua e encolheu os ombros.
- Este ano o inverno vai chegar tarde – disse. – Por isso as tempestades de Outono são realmente mais violentas!
- Então são alterações climáticas – conclui Bella.
- O clima sofre alterações há quatro mil milhões e meio de anos. – sorriu com ironia. – Continuará a modificar-se!
- É especialista em alterações climáticas? – perguntou Bella em tom de provocação. De facto, ele não se enquadrava ali, no meio de cadeiras em estilo barroco estofadas a vermelho e de flores de plástico a decorar as mesas de cerejeira, pensou.
- Trabalho aqui – declarou, cumprimentando-as com uma inclinação da cabeça e dirigindo-se à mesa seguinte.
- Todavia, o assunto preocupa-me – observou Barbara
- Não se preocupe. Afinal o seu neto disse que a sua filha só sairia quando o temporal passasse! – Como um ligeiro movimento de cabeça Bella apontou lá para fora; a seguir o toque do telemóvel anunciou uma mensagem.
- Com licença – disse com rapidez e leu a mensagem. Edward perguntava quando e onde podia encontra-se com ela à noite. O coração bateu mais depressa. Edward frequentava o mesmo curso de línguas que ela, que contava com participantes de todas as partes do mundo.
- Boas notícias? – questionou Barbara compondo para trás o cabelo curto, grisalho, com um gesto distraído.
À pergunta de Barbara, Bella respondeu afirmativamente com a cabeça.
- Está deveras apaixonada – constatou Barbara com um sorriso.
Bella confirmou com a cabeça. Era verdade. Estava mesmo. E não era pouco. Mas não imaginava o que se iria passar quando terminasse a sua estadia ali. Ele em Milão, ela em Wiesbaden – distância fazia toda a diferença. Face a isto, quatro milhões e meio de anos não representavam nada.
Ambas olhavam para rua.
- Não há nada melhor do que estar apaixonada! – afirmou Barbara com melancolia.
Sobre este tema Bella ainda reflectia, mas já se apaixonara perdidamente algumas vezes. Achava absolutamente normal. Para si, o melhor era conseguir um emprego tranquilo, ter um bom ordenado, poder dar-se ao luxo de gozar umas férias fantásticas, ter uma casa sofisticada e um carro. Porem, aos setenta e quatro anos talvez a perspectiva fosse diferente.
Beberam o café e, a certa altura, a tempestade serenou. Bella olhou para o relógio.
- Tenho que ir, a sua filha deve estar mesmo a chegar!
Barbara assentiu com a cabeça.
- Muito obrigada pelo seu cuidado – disse, foi muito simpático da sua parte!
- O prazer foi todo meu – respondeu Bella e nem se reconheceu. Com certeza ouvira a expressão num filme antigo.
Antes de Bella sair, Barbara entregou-lhe ainda uma carta de visita.
- Nunca se sabe, por vezes a vida é estranha – comentou.
O seu telemóvel emitiu o toque de mensagem. Um SMS do Edward. «Pensas em mim neste momento?», queria saber.
«Não, em futebol.», respondeu de forma espontânea. Mas de seguida enviou-lhe ainda outra mensagem. «Agora em ti, de novo!»
«Quando nos vemos?», queria ele saber.
Bella viu as horas. Heidi e Eric (donos da casa onde ela está a viver) gostariam muito de passar a noite com ela, isso era obvio. Dentro de três dias partiria. «Jantar com Heidi e Eric», escreveu. «Depois?»
«Vou buscar-te!»
«Beijos!», digitou como resposta.
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reviews?! comentarios?!
Até ao proximo *---*
BjOs
Patrícia