Já havia se passado quase duas horas e nada da chuva cessar. Muito pelo contrário, a chuva ficava mais forte a cada segundo. Ao longe, era possível ver um grupo de treinadores iniciantes correndo em busca de um lugar onde pudessem se abrigar. Eu torcia para que não viessem até aqui, pois não estava a fim de ter companhias por hoje. Um dos treinadores escondia um Charmander dentro do colete para que a chama da cauda não se apagasse. Outro tentava controlar seu Squirtle, que corria feito louco pelo temporal, pulando e soltando rajadas de bolhas. E por fim, havia uma garota que estava sentada debaixo de uma árvore, ao lado de seu pequeno Bulbasaur. Ela tinha cabelos azuis e usava uma saia branca, um pouco parecia com a saia-short da May. Ao vê-la com seu pequeno Bulbasaur, senti mais uma de minhas memórias vindo a tona. Eu me deitei no saco de dormir e passei a olhar para o teto, me lembrando daquele dia.

"Esse é mais um torneio do qual estarei participando. Eu quero a todo custo conseguir minha terceira fita e sei que não será fácil, já que tenho dois rivais na minha cola. Na verdade, dentre os dois rivais que tenho, o que mais me deixa preocupada é um grande inimigo chamado pressão. Todos acham que eu sou uma super coordenadora por causa que meu pai é um grande líder de ginásio. Mas na verdade, eu não passo de uma garotinha idiota que está mentindo pra todos e acima de tudo, para si mesma. Eu estou desanimada com relação a esse torneio, até porque é o primeiro torneio do Bulbasaur.

Subitamente, algumas luzes em um ponto próximo dali me chamaram a atenção. Era maravilhoso olhar para elas, parecia que eu estava em um sonho. Então, eu vi a imagem de um pokémon pequeno e de corpo prateado que eu nunca havia visto antes na minha vida. Eu procurei no meu pokédex e lá dizia que era um Masquerain. Eu fiquei completamente maravilhada e resolvi chegar mais perto para ver melhor aqueles ataques. Mas quando eu me aproximei, logo escutei uma voz conhecida.

-Espionando meu treinamento, não é, May?!

-Drew?! Então quer dizer que esse Masquerain é seu?

-É sim. Eu o capturei a pouco tempo e estou treinando pra usá-lo no torneio amanhã.

-Hã?! Não brinca!

-Não estou brincando, eu pretendo usar o Masquerain no torneio amanhã. E pelo jeito você vai usar o Bulbasaur né?!

-Bem, eu estava pretendendo usá-lo amanhã, mas ainda não tenho certeza.

-É melhor decidir logo, caso não queira ser derrotada.

-Está certo, mas eu não irei perder, muito menos pra você!

-Vai nessa e vai se arrepender.

-Ora, pare de se gabar Senhor Exibido!

-Não estou me gabando. Só estou te testando.

-Hã? Me testando?

-Exatamente. Tô vendo se você está calma ou apreensiva com esse torneio. E a resposta é clara, você não está muito confiante.

-Bem...Eu só não quero decepcionar as pessoas. Afinal, eu sou filha de um grande líder de ginásio, é esperado que eu seja forte como meu pai, mas eu não sou tão boa quanto ele.

-Talvez devesse parar de fazer comparações. Você sabe que não é o Norman, voce é a filha dele, é apenas uma coordenadora que está tentando fazer o seu melhor. E deveria parar de colocar essas minhocas na sua cabeça e começar a acreditar mais em você.

-Acreditar mais...em mim?!

-Exatamente. Bem, eu já vou indo. Até amanhã May. Espero que esteja preparada pra quando eu derrotar você!

Apesar dessa última provocação, nada respondi. Eu apenas fiquei pensando no que ele havia me dito sobre acreditar mais em mim mesma. Eu não entendia muito bem o que isso poderia significar, mas eu tentaria dar o meu melhor no torneio amanhã. Além do mais, a imagem dele se afastando me deixava confortável e eu me sentia pronta para o dia de amanhã."

Eu estava profundamente perdido em minhas lembranças, me lembrava perfeitamente de que havia sido muito implicante com ela naquele dia. Era normal se sentir insegura, afinal, ela sabia que tinha um grande líder de ginásio como pai e não queria manchar a honra da família. Mas algo que eu não aceitava de maneira alguma era que ela ficasse espionando meus treinos. Eu entendo a grande admiração dela por mim, mas não consigo admitir que ela me espione. Não quero que ela descubra meus segredos de treinamento, por isso, achei melhor ser chato com ela. Apesar de que isso me machuque as vezes. Depois de todas essas lembranças, eu não podia aguentar mais tantos pensamentos. Me levantei as pressas, abri a mochila e peguei papel, caneta e um envelope. Eu faria uma coisa que eu jamais faria em nenhuma hipótese a algum tempo atrás. Eu escreveria uma carta de amor. Uma carta de amor, para a mais amável entre todas as garotas, a mais delicada entre todas as flores. Eu escreveria uma carta para May Haruka.

Continua...