Ações e Reações escrita por Seto Scorpyos


Capítulo 5
Acertos de cálculos


Notas iniciais do capítulo

Não tenho como me desculpar pela demora excessiva. Nada do que eu diga é justificativa suficiente. Peço perdão por isso!!
Boa leitura!!



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/11057/chapter/5

 

Aoi estacionou o carro na orla da praia, saindo rapidamente. Esperava não encontrar Uruha bêbado. Seus olhos percorreram os quiosques mais afastados e o pequeno muro de pedras. Afastou-se, andando lentamente. Assim que alcançou as escadas, avistou uma pessoa sentada na areia.

Respirou fundo, aproximando-se para se certificar que era realmente seu namorado que estava ali. Sorriu ao vê-lo, pelo menos não pareceu estar bêbado.

- Uru? – chamou, baixo.

O loiro sorriu e virou-se. Ergueu o braço, chamando-o para perto.

- Yuu... senta aqui!

Aoi aproximou-se mais, segurando na mão do loiro. Sentou-se a seu lado, olhando em volta.

- Porque está aqui? – perguntou, curioso.

O moreno mal conteve um grito ao sentir o corpo de Uruha sobre o seu. O loiro havia quase pulado sobre ele, desequilibrando-o. Não conseguiu segurar os dois e ambos caíram sobre a areia, rindo.

Deixando uma perna de cada lado, Uruha se ajeitou sobre o moreno, encarando-o vivamente. Yuu retornou o olhar, sorrindo.

- Não vai levantar? – o moreno perguntou, tentando se esquecer dos quase trinta dias em que não transavam. Uruha estava perto demais.

- Ainda não. – o loiro respondeu, divertido.

O moreno mordeu o lábio ao sentir que Uruha havia sentado diretamente em seu colo. Isso não era bom. Se ele se mexesse... bem, era melhor desviar a atenção daquele loiro maluco.

- E então, porque está aqui?

- Eu... – o loiro começou, mas parou.

Encarou o homem embaixo de si. Yuu tinha sido compreensível ao extremo. Tinha feito todas as suas vontades sem brigar. Não se negou a Uruha, mesmo sabendo que podia ser deixado na mão. Aliás, deixou o moreno na mão, fazendo-o ter que se virar sozinho para resolver o “problema” bem mais que uma vez.

Pensou por um momento se o que estava prestes a fazer não era castigo demais. Talvez Kai estivesse certo e eles sendo injustos com os namorados. Encarar os olhos sinceros daquele homem maravilhoso embaixo de si fraquejou a determinação de Uruha. Talvez fosse melhor desistir.

- Uru? – Aoi chamou, notando que o outro não estava ali.

- Amo você – respondeu, baixo.

Aoi sorriu lindamente e Uruha mordeu o lábio, tentando não atacá-lo. O moreno sentou-se de uma vez, fazendo o loiro ir para trás, mas antes que caísse, segurou-o. O choque dos dois corpos fez os dois gemerem baixo.

- Também te amo – o moreno disse, puxando Uruha para si.

Invadiu a boca dele, exigindo espaço. O loiro nem cogitou negar. Estava há tanto tempo sem o moreno e não conseguiu segurar a vontade louca de ter Aoi ali, naquele minuto. Vasculhou cada canto daquela boca conhecida e viciante, chupando a língua dele com vontade. Apertou-o ainda mais ao ouvi-lo gemer no beijo, entregue.

Encerrou o beijo, notando que Aoi estava ofegante e aqueles lábios, mais vermelhos e convidativos do que nunca. Ergueu-se, puxando o guitarrista moreno.

- Vem! – chamou, empolgado.

Aoi não discutiu. Assim que se levantou foi enlaçado por Uruha, que colou o corpo ao seu. Entre risadas e carinhos, chegaram ao carro. O moreno teve que se esforçar para manter as mãos do loiro acima da linha da sua cintura. Quando alcançou o carro, estava com a camisa aberta e fora da calça, ofegante e excitado. Foi prensado na lateral, sentindo as mãos de Uruha dentro de sua roupa.

- Uru... vamos para casa – gemeu baixo quando sentiu o calor do corpo atrás de si – Eu... eu não aguento... mais...

O moreno apertou os punhos, tentando se conter. As mãos do loiro estavam em todos os lugares de seu corpo, acariciando-o, apertando-o. Virou um pouco a cabeça, mordendo violentamente o lábio para conter um gemido alto quando Uruha lambeu seu pescoço.

- Você me deixa faminto! – o loiro sussurrou, provocante. Mordeu a pontinha da orelha do moreno, provocando mais um arrepio – Sua pele está quente... suada... Sabia que tem um gosto delicioso?  - apertou-o, sentindo o corpo em seus braços estremecer – Eu dirijo!

Afastou-se do moreno, ainda apoiado no carro. Sorriu ao ver o estado entregue do outro. Estava louco de desejo, mas ia com calma. A noite só estava começando.

 

Aoi ainda respirava pesadamente, tentando controlar as batidas loucas do coração, mas estava difícil. Nem percebeu quando Uruha pegou a chave do carro em seu bolso. O loiro se aproximou e delicadamente puxou o namorado, fazendo-o dar a volta e abriu a porta do carro para ele. O guitarrista moreno ainda estava aéreo demais para notar. Não viu o sorriso satisfeito no rosto do amante, e nem quando voltou seus passos, abrindo a porta do motorista e sentando-se a seu lado.

- Yuu.

Aoi fechou os olhos por alguns segundos, respirando fundo. Olhou para o namorado.

- O cinto. – o loiro disse, com um olhar indecifrável.

O moreno olhou para a própria roupa, sem entender. Ergueu os olhos novamente, confuso. Uruha deu uma risadinha, inclinando-se. Aoi se encolheu no banco, alarmado com o movimento do namorado. Não respondia por si se fosse agarrado daquele jeito de novo. Seu corpo estava tão excitado que chegava a ser desconcertante.

- O cinto – o loiro repetiu, prendendo o cinto de segurança.

Aoi quis se estapear. – Ah, claro! – comentou, desviando os olhos.

Uruha o encarou por algum tempo, sorrindo divertido. Deu partida no carro e manobrou, saindo do estacionamento.

- Linda noite, não? – perguntou, distraído.

Aoi ergueu a sobrancelha, olhando-o.

- Quero dizer, acho que não vai chover. – Uruha comentou, calmo.

Aoi olhou para fora, confuso. Sacudiu a cabeça e concentrou-se em fechar a camisa, incomodado com o material áspero do cinto roçando em seu tórax. O loiro deu uma rápida olhada, sorrindo malicioso.

- Não precisa se preocupar tanto em fechar, se vou abrir de novo.

Os dedos de Aoi pararam e ele respirou fundo, antes de continuar.

- O que não significa que preciso andar por aí mostrando tudo, não é? Ou quer que eu faça isso? – provocou.

Uruha riu baixo, trocando a marcha sem desviar os olhos do trânsito.

- Não é má idéia... sabe, mostrar que isso tudo é meu. – comentou, parando num sinal.

Aoi tinha arregalado os olhos, surpreso com o que ouviu. O tom possessivo não passou despercebido, causando um leve arrepio.

- Não estou vendo um certificado de posse, Uruha. – o moreno respondeu olhando para fora, tentando acalmar as batidas loucas do coração.

- Eu não preciso de certificado de posse, Aoi. Ou preciso?

O moreno não respondeu, preso pelo olhar predatório do outro. Engoliu seco e balançou a cabeça, negando.

O sinal abriu e Uruha voltou a atenção para o trânsito, deixando o moreno abismado. O loiro estava diferente... aquele olhar não era normal nele. Tentando desviar a rota dos pensamentos, Aoi olhou para fora, surpreso ao notar que estavam saindo do centro da cidade.

- Uru, para onde estamos indo?

- Eu preparei um lugar para te levar esta noite, Aoi. – o loiro não olhou para ele ao responder.

- E... – o guitarrista moreno não sabia o que pensar ou o que dizer – Onde fica? Porque não podemos ir para o seu ou o meu apartamento?

- Porque não teríamos a privacidade nem a liberdade que eu quero esta noite. – o loiro respondeu, sem desviar o olhar da estrada.

- Essa resposta dá margem para pensar num monte de coisas, Uru – o moreno comentou, tentando se acalmar e esperar para ver.

O moreno foi brindado com um sorriso radiando do loiro.

- Eu sei. E provavelmente você está certo. – comentou, sorrindo.

Aoi mordeu o lábio, tentando conter a euforia. Não dava para imaginar nada, já que o loiro o havia deixado na mão por várias vezes ao longo das últimas semanas. Ele parecia querer namorar, mas o moreno não podia apostar todas as suas fichas nisso. Encarou o loiro, notando que ele realmente estava simples e muito bonito, como sempre. Sem maquiagem ou jóias. Ele não estava fazendo nada ostensivo mas... Aoi não conseguiu explicar... tinha alguma coisa diferente. Não diferente no sentido de mal ou de tensão. Uruha estava diferente, mas o namorado não conseguia saber exatamente no quê.

Desceu os olhos pela curva do maxilar, vendo o pescoço alvo, a parte do tórax deixada à vista pelos dois primeiros botões da camisa abertos. A jaqueta simples e calça jeans. Simples e estonteantemente provocante. E era exatamente isso que não conseguia explicar.

O movimento do braço ao passar a marcha, a mão no volante... tudo parecia diferente para Aoi. Uruha parecia exalar algo diferente e intoxicante.

- Gosta? – a voz do namorado o tirou dos pensamentos.

Percebeu que estivera encarando o loiro quase babando. Corrigiu-se e olhou para frente, ignorando o desconforto da excitação no meio de suas pernas. Esperou por um comentário ácido ou por alguma risadinha maliciosa. Surpreso, olhou para Uruha. O loiro ainda estava com os olhos fixos na estrada, mas tinha um leve sorriso nos lábios ao virar-se por um momento. Aoi não conseguiu não corresponder.

Saíram da cidade pela via expressa e pegaram uma saída secundária. Depois de alguns minutos, o cenário mudou. Estavam num bairro predominantemente residencial, as casas separadas por muros altos e jardins.

- Chegamos. – Uruha anunciou, manobrando o carro para a garagem de uma casa.

Aoi estava surpreso. Não havia mais casas e a última, atrás alguns quilômetros. Olhou em volta, notando um parque ou bosque logo atrás dos muros. Não podia ver muito da casa. Uruha soltou o cinto e desceu.

- Eu vou abrir o portão. Estaciona?

- Claro! – o moreno respondeu, soltando o seu cinto e passando para o banco do motorista.

Olhou o namorado andar calmamente e abrir o portão de madeira. Sorriu para ele, ao manobrar para entrar. Depois do portão, um pequeno caminho de pedras delimitava a área do carro. O moreno olhou para os lados, notando que o jardim parecia imenso. Desligou tudo e saltou, olhando curioso em volta.

Uruha estava vindo, depois de fechar o portão. Olhou o moreno e sorriu. Tinha feito a escolha certa. Ainda bem que o que tinha preparado serviria para seus novos planos. Ia ter uma noite maravilhosa com o namorado.

Passou por Aoi, puxando-o pela mão. Atravessaram a área externa e deram a volta na casa. O moreno reparou no piso de madeira trabalhada e nas almofadas espalhadas pela área. O jardim estava iluminado por pequenas lâmpadas japonesas espalhadas em suportes retorcidos. O ambiente todo era de calma e serenidade. Ouviu o som baixo de água correndo e franziu a testa.

Acompanhando o amante, parou quando chegaram ao outro lado. O moreno arregalou os olhos. Diante de si um belo e projetado jardim. Uma fonte de pedras que se parecia com uma pequena cachoeira, onde a água caía num lago de pedras redondas e vasos pintados. A água do lago estava vermelha.

À esquerda, um pequeno piso de madeira, coberto com um futon grande e cheio de almofadas. Uma pequena mesa com algumas bandejas e uma pequena garrafa.

Uruha sorriu ao ver a surpresa nos olhos negros. Aoi se afastou dele, indo lentamente para perto da fonte. Olhou em volta e aproximou-se do piso, notando algumas toalhas grandes e felpudas dobradas ao lado das almofadas. Sobre a mesa, viu que nas bandejas havia sushis diversos em kobunes¹ enfeitados com ideogramas delicados, hashis e hashiokis². Um conjunto de porcelana delicado. O guitarrista moreno apostou em saquê.

- Gostou? – a voz de Uruha soou, perto do moreno. Este se virou e piscou, surpreso. Uruha segurava um vaso estreito, com uma bonsai – Para você. É uma cerejeira shakan.

O moreno olhou do namorado para a árvore. Aproximou-se, pegando o vaso da mão de Uruha. Este ficou olhando o outro com expectativa. Aoi ergueu a sobrancelha com uma expressão divertida. O loiro ficou um pouco sem jeito ao ver que o namorado estava tentando evitar uma explosão de gargalhadas. Tentou, mas não conseguiu. As risadas altas e divertidas saíram, desconcertando o loiro completamente. O guitarrista moreno riu tanto que não conseguiu segurar o vaso, deixando-o cair e fazendo a árvore soltar-se quando se quebrou.

Aoi não fez caso da bonsai, tentou se endireitar e parar de rir, limpando as lágrimas.

- Bem, Uru... se você queria um troco por aquela noite, não precisava tanto. Me tratar como uma mulher... jantar e plantas? Francamente!! – o moreno riu mais um pouco, sarcástico – Não precisava disso para me foder hoje. Era só dizer. – ele concluiu, controlando-se para não rir de novo.

Ergueu os olhos e ficou confuso. Uruha estava sério, encarando-o.

- O que é? – abriu os braços e fez um gesto largo – Tem que concordar comigo que isso é ridículo!!

Uruha olhou em volta e então fixou seus olhos no vaso em pedaços e na árvore no chão. Aoi seguiu seu olhar e se encolheu um pouco. Nem tinha percebido que tinha soltado o vaso.

- É... você está certo. – Uruha respondeu, baixo – para foder, qualquer lugar serve. O problema é que hoje eu queria fazer amor com você. E isso não dá para fazer em qualquer lugar.

Aoi ergueu a sobrancelha, alertado pelo tom seco e sério na voz do namorado. Mordeu o lábio ao notar o que tinha feito.

- Não é para tanto, Uru... ainda podemos aproveitar – tentou se aproximar do loiro, inseguro.

- Depois dessa... – deu um sorriso desanimado.

- Vai ficar magoado por causa de uma piada? – Aoi estava perplexo – Não acredito! Você achou que eu não perceberia? E não vem me dizer que você não estava tentando me tratar como uma mulher porque eu não acredito. Bem que o Miyavi disse...

Uruha não respondeu. Virou-se lentamente e caminhou calmamente de volta.

- Espera um pouco, Uru!! Não terminamos aqui! – Aoi quase gritou.

Andou a passos largos até alcançar o namorado, que já estava a alguns metros dele. Estava se sentindo um pouco culpado por estragar a surpresa de Uruha, mas não conseguiu se impedir de rir ao ver que o cantor estava certo. Segurou o braço do loiro, tentando forçá-lo a parar. O jovem apenas se soltou com um movimento brusco.

- Você pode me seguir até a via expressa e de lá, sabe se virar. – ele disse, sem se virar.

- Agora está se comportando como uma mulher, Uruha – o moreno comentou, ácido.

O loiro o ignorou. Atravessou o jardim e passou pelo carro. Só então Aoi viu a moto dele estacionada no canto do portão. O capacete estava em cima. Sua atenção foi despertada pelo som do portão que o loiro tinha aberto novamente.

- Eu levei muito tempo para encontrar esse lugar. Fiz questão de que a fonte fosse vermelha porque você sempre quis conhecer o Lago de Sangue em Beppu mas nunca teve tempo. Quanto à árvore – o jovem explicou, caminhando até a moto e tirando o capacete. Sentou-se apoiando o capacete na coxa – eu comprei porque você sempre quis ver uma de perto e disse que gostaria de ter para colocar na mesa que fica na sacada do seu apartamento. – olhou o moreno parado ao lado do carro – Não estava tentando te tratar como uma mulher, estava apenas sendo romântico com a pessoa que amo. Desculpe se achou ridículo. Eu tinha gostado e achei que iria gostar também.

Sem esperar, colocou o capacete e deu partida na moto. Manobrou e saiu do jardim. Aoi ainda levou um tempo processando as palavras do namorado. Passou a mão pelo cabelo, nervoso e irritado consigo mesmo.

Não ia conseguir consertar aquilo. Uruha estava certo ao ficar magoado. Entrou no carro e deu partida, saindo de ré pelo portão. Mordeu o lábio ao ver Uruha fechar o portão assim que saiu. Desceu do carro, olhando o namorado colocar a chave do portão na caixa de correspondência.

- Podemos ir para algum lugar... conversar... – o moreno disse, quando o loiro passou por ele.

Uruha fez um gesto vago, desviando-se dele. Subiu na moto e deu partida de novo, esperando pelo moreno. Aoi ficou olhando para o namorado, desanimado. Tinha estragado tudo.

Entrou no carro e manobrou, seguindo o namorado de perto. Desistiu de tentar falar com ele por enquanto. Não ia conseguir nada e precisava pensar em como faria para reverter aquilo.

 

****

 

- Muito bem, senhor Yutaka! Quer me explicar direitinho essa história? E nem vem que nós já sabemos que estão se vingando! Tudo nesses últimos dias foi com esse propósito, não é? Esse joguinho infantil! Vai, desembucha!

Kai olhou o namorado por um momento. Suspirou e sentou-se, cansado. O cantor andava de um lado para outro, resmungando.

- É. Você está certo! Tudo verdade! – o baterista respondeu, levantando-se.

- O quê? – o cantor perguntou, parando de andar. Na verdade, era um blefe. Não esperava uma confirmação do moreninho.

O jovem o encarou.

- Estou apenas concordando. Você é esperto demais para nós.

Miyavi arregalou os olhos, incrédulo.

- Kai...

- Não! – o menor ergueu uma mão, sorrindo cansado. – Você está completamente certo, Miyv. Como sempre. Tudo isso era um plano sórdido que não deu certo. Estivemos infernizando a vida de vocês no último mês por causa daquela noite. Tudo verdade.

- Onde vai? – o cantor perguntou, ao ver que o baterista deixava a sala.

- Vou dormir. Estou cansado. – o outro respondeu, baixo.

Kai andou lentamente para o quarto. Ignorou os chamados do amante e entrou no quarto. Despiu-se lentamente e entrou no banheiro. Queria um banho e dormir. Distraiu-se com o banho quente. Estava tenso e cansado. Esperava que Ruki conseguisse se safar de uma briga com Reita e que Uruha não pegasse muito pesado com Aoi. O loiro era o único que ia conseguir alguma coisa naquela noite.

Saiu do banho enrolado na toalha, perdido em pensamentos. Vestiu-se lentamente e virou-se para devolver a toalha molhada. Parou ao ver o amante sentado na ponta da cama, parecendo muito inquieto.

- Qual é o plano dessa vez? – o cantor perguntou, desconfiado – Você não contaria a verdade assim, entregando Ruki e Uruha também. O que vão fazer?

- Aoi deve estar maldizendo o dia que nasceu, a esta hora. – o moreninho respondeu, distraído.

Miyavi estreitou os olhos.

- E na boate, qual era o plano?

Kai não respondeu de imediato. Saiu do banheiro sem a toalha e calmamente subiu na cama.

- Sei lá... – respondeu, baixo – qualquer coisa sórdida e absolutamente constrangedora para vocês. Pode encaixar o que quiser, aí.

O baterista ajeitou-se sob os lençóis, disposto a dormir.

- Está mentindo.

- Eu só confirmei o que disse, o que mais quer?

Miyavi estava indeciso e irritado.

- Eu quero a verdade, Kai! O que vocês estavam fazendo lá?

Kai sentou-se, tirando a franja do rosto e encarando o namorado. Miyavi levantou-se e o encarou de volta.

- Eu não entendo você. Disse que tinha certeza que era um plano. Eu confirmei e agora você não quer acreditar. Eu contei sobre Uruha e sobre a boate e você diz que é mentira. O que quer ouvir, afinal?

- Nós conversamos, Kai. Sabemos que vocês estão aprontando para cima da gente. Não negue!

- Eu não neguei. Eu admiti. Agora, quer por favor dizer o que quer ouvir, assim posso repetir e poder dormir em paz.

O moreninho olhou sério para o outro, que respirou fundo.

- Vou dormir aqui com você. – o mais alto respondeu, dirigindo-se ao banheiro.

O baterista olhou o namorado entrar no banheiro e, depois de alguns minutos, o som da água.

“Por um triz” pensou, rolando os olhos. Esperava que Ruki se saísse melhor.

 

***

 

Reita estava esparramado no sofá, segurando gelo no rosto. Olhava fixamente o cantor à sua frente, fumando nervosamente o quinto cigarro.

- E então, Ruki... você não está bêbado.

- Eu fui para a boate porque queria fazer uma surpresa. – o menor respondeu, sem olhá-lo – Eu fiz uma coreografia especial e queria dançar para você.

Reita estreitou os olhos, incrédulo com a explicação, no mínimo, risível. Resolveu dar corda para ver até onde o pequeno ia com aquilo.

- Podia ter dançado aqui.

- Você não me deixaria dançar o roteiro todo. – rebateu, recostando-se e tragando o cigarro.

O baixista elevou uma sobrancelha, irônico.

- Mesmo? E como aquele... ambiente ia ajudar?

- Ia impedir você de me agarrar.

O loiro mais alto arregalou os olhos. Não sabia se ria ou se ficava irritado com o amante.

- Como é que é? – o sarcasmo divertido podia ser sentido no tom da sua voz.

Ruki olhou para ele com calma. Já havia recobrado o domínio de si, agora era só enrolar o outro.

- Você sempre me agarra antes de eu terminar. Nunca consegui fazer um strip todo ou dançar a música toda...

- Eu não estou ouvindo isso...  – Reita disse, incrédulo – Mas é muita...

- Assim que você chegasse, eu ia começar a dançar. Como estávamos em público, você teria que ficar quieto e ver todo o show. Kai ia arrastar o Miyavi depois para algum lugar... acho que ele reservou uma suíte com termas... não sei direito. Depois de sairmos de lá, eu ia te levar para um motel.

Agora Reita podia dizer que estava surpreso.

- Ruki, isso não tem o menor sentido. Não dá para acreditar nisso. Esta história está muito furada!!

- Acredite no que quiser, Rei. Você queria uma explicação. É a única que tenho. Sinto muito se o cara começou a dar em cima de mim e não entendeu o fora. Sinto muito que ele tenha te machucado, mas não foi minha culpa. Não era para ter acontecido.

O silêncio se instalou, incômodo.

- Pediu desculpas rápido demais.

Ruki quis se chutar. O namorado era esperto e sabia que ele não se desculpava fácil assim. O cantor encarou o outro por alguns minutos e então se levantou.

- Onde vai? – Reita perguntou, quase sorrindo ao ver o amante admitir a derrota.

- Vou dormir. Assim, pode ficar imaginando mil e outras razões e explicações. Talvez ache uma que sirva para você.

- Que tal vingança? – a voz do baixista o fez parar no caminho para o quarto.

- Rei, se eu fosse me vingar de você, por qualquer motivo que fosse, não te daria motivos para sequer imaginar que isso pudesse acontecer.

- Você está se vingando. Desde aquela noite. Vocês três estão.

Reita, estranhando o silêncio, virou-se no sofá. Viu o cantor parado, recostado à parede olhando para ele com uma expressão divertida.

- O que foi? – perguntou, levemente alarmado.

- É engraçado.

- Ruki, o que é engraçado? Nada disso tem graça!!

- É engraçado. Você e sua teoria de conspiração.

- Não é teoria. Vocês estão fazendo isso e estão plenamente conscientes disso!

- Ok, se você diz... – o menor se desencostou da parede, dando de ombros. Virou-se e dirigiu-se para o quarto, comentando consigo mesmo, mas alto o suficiente para o amante ouvir – Mas sabe que não é má idéia...

Reita arregalou os olhos, atônito. Havia acreditado no que Miyavi tinha dito e agora, não tinha mais tanta certeza.

- Merda! Não é possível que eu dei a idéia para ele... – comentou, socando o encosto do sofá, irritado consigo mesmo.

Ruki, parado na porta do quarto, sorriu ao ouvir o desabafo. O baixista não devia ter notado que falou em voz alta.

“Espero que o Kai não tenha problemas...” pensou o cantor, entrando no quarto silenciosamente.

 

****

 

Kobune – barcos para sushi

Hashioki – descanso para hashis

Hashis – palito japonês de bambu ou plástico para refeições.

Sushi – bolinho de arroz temperado

Shakan: Estilo inclinado da árvore bonsai. Tronco reto ou ligeiramente sinuoso, inclinando-se predominantemente em uma direção.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!