Ações e Reações escrita por Seto Scorpyos
- URUHA, É SEU HOMEM ALI! NÃO VAI FAZER NADA, NÃO? – a voz poderosa do vocalista reverberou pela sala, ecoando nas paredes.
O guitarrista se encolheu no sofá, com uma expressão de conformismo no rosto. O vocalista bufou, exasperado.
- Ruki, não sei por que tanto escândalo! – Aoi disse, cruzando os braços, encostado à parede.
Desde que havia chegado com Uruha, o vocalista não tinha parado de reclamar e andar de um lado para outro. Ruki parou no meio da sala, emburrado. Colocou as mãos na cintura, claramente disposto a recomeçar a reclamar.
- Porque não podemos ir junto? – perguntou, zangado, encarando o baixista que terminava de colocar o casaco, aparecendo no fim do corredor.
- Ru-chan, eu já expliquei. É só uma noitada masculina. Não vamos fazer nada demais. – Reita respondeu, suspirando. Já tinha perdido a conta de quantas vezes tinha explicado, mas o pequeno vocalista não aceitou nenhuma delas.
- Não sei se notou, Akira, mas nós somos homens também! – quase cuspiu as palavras, de tão irritado que estava.
Reita trocou um olhar com Aoi e respondeu, tentando acalmar o outro:
- Eu sei, amor! Podemos sair todos juntos, depois. Tá?
Quando Ruki abriu a boca para responder, a campainha tocou.
- Está vendo? Vão ter companhia. Não vão ficar sozinhos. – disse Aoi, sorrindo.
Reita foi atender e a sala ficou em silêncio. Uruha rolou os olhos quando viu quem entrava. Ruki abriu a boca, incrédulo.
Miyavi e Kai.
- Até você, Kai! – Ruki esbravejou. Pela cara do baterista, ele também ia ser deixado.
- Boa noite para vocês também! – gracejou Miyavi, divertido.
Recebeu um olhar sombrio de Uruha e outro, mortal, de Ruki. Ergueu as mãos, em sinal de rendição, com um olhar maroto.
- Vamos? – Miyavi perguntou, olhando os dois parados no meio da sala. Abraçou Kai, dando-lhe um selinho. – Venho te buscar, tá?
Kai não respondeu, apenas concordou com a cabeça. Aoi se aproximou de Uruha e deu-lhe um beijo no cabelo, colocando uma mecha atrás da orelha. Tentou remediar a situação.
- Não vamos demorar. Eu também venho te buscar. – disse, baixinho.
O loiro o encarou, com uma expressão séria. Aoi ainda pensou em desistir. Mas já tinha chegado até ali. Agora não ia adiantar voltar.
Sorriu de leve, segurando o queixo do loiro. Roçou os lábios nos do namorado, despedindo-se.
- Até mais tarde!
Uruha não respondeu. Ficou olhando Aoi se afastar. Kai sentou-se no sofá, ao lado dele. O guitarrista mais velho suspirou.
- Vocês estão fazendo um drama por nada... – comentou, indo em direção à porta. Estavam no apartamento de Ruki. Tinham achado melhor deixar os três juntos. Assim não se sentiriam muito sozinhos.
Reita não arriscou chegar perto do vocalista. O pequeno estava irritadíssimo, e não fazia a menor questão de esconder. Atravessou a sala e ficou parado de frente à janela, de costas para Reita e para os outros. O baixista encolheu os ombros.
- Concordo com Aoi. É drama demais! – disse.
Virou-se e saiu. Os outros dois, dando uma última olhada nos namorados, o acompanharam. Depois do barulho da porta se fechando, Kai e Uruha se entreolharam.
Ruki caminhou calmamente de volta, suspirou. De repente, ele pegou um cinzeiro sobre a mesa e atirou na parede.
- CACHORROS! COMO PODEM FAZER ISSO COM A GENTE? – estava estressado, andando de um lado para outro e gesticulando. Os dois sentados no sofá só observavam, calados – NÃO SOMOS MULHERES PARA SERMOS DEIXADOS ASSIM!! O QUE ELES ESTÃO PENSANDO? PORQUE VOCÊS NÃO FIZERAM NADA PARA IMPERDIR?
Uruha fez um gesto vago e Kai arregalou os olhos.
- O que queria que fizéssemos? – perguntou, surpreso – Não dá para simplesmente amarrá-los na cama!
- Eu tentei argumentar... – Uruha começou, baixo. Ergueu os ombros. – Aoi me ignorou e não adiantou nada.
Ruki olhou para os dois, os olhos estreitos de raiva.
- Vocês parecem mesmo mulher! – disse, sarcástico.
Os rapazes olharam para ele, revoltados.
- E você? Gritou, xingou e babou! Adiantou o quê? – Uruha perguntou, calmo.
Depois de uma série de impropérios e xingamentos, que alcançaram até a oitava geração dos rapazes que saíram, além dos ancestrais, Ruki pareceu se acalmar. Sentou-se na poltrona de frente aos dois amigos, ainda bufando e resmungando. Kai olhou atentamente para ele e então se virou para Uruha.
- Qual o plano? – perguntou, puxando as pernas para cima e as cruzando. Toda a atenção fixa no guitarrista mais novo.
Uruha deu um sorriso satisfeito. Ruki arregalou os olhos, surpreso.
- O quê?
- Não achou que eu ia deixar barato, não é? – o loiro inclinou a cabeça, encarando o vocalista.
- E, além do mais, Ruki – o baterista falou, calmo. Sorriu maravilhosamente. – Vingança é como sorvete. Só presta congelada!
Uruha acompanhou o sorriso largo. Ruki olhou de um para outro, sentindo-se acalmar. Sorriu de volta.
- Vou pegar algumas bebidas!
****
Aoi acompanhava com o pé o som das batidas fortes. Apesar de estarem numa das boates mais badaladas do momento, não estava com a menor vontade de dançar.
Reita, Miyavi e ele estavam no espaço vip porque, além de terem mais privacidade, escapavam do assédio das fãs.
- E quando aquele cara do staff tentou agarrar o Ruki depois do fanservice? – Miyavi ria das lembranças, acompanhado de um sorriso de Aoi. Reita fechou a cara.
- Não foi engraçado! Ele conseguiu roubar um beijo do Ruki! – o baixista reclamou, irritado.
Só pensar no desgraçado agarrando seu chibi fez seu sangue ferver.
- Mas você tem que admitir que Ruki deixa as mulheres loucas dançando daquele jeito. Sem falar nos homens! – disse Aoi, bebendo seu drink – Ruki e uma haste de microfone...
- Esqueceu as coxas do Uruha? – Reita rebateu, malicioso.
Aoi engasgou com a bebida. Miyavi gargalhou. O guitarrista ficou nervoso.
- Não começa! Ele nunca provoca ninguém! – tentou defender o namorado.
- E nem precisa! Dançando daquele jeito, com aquelas pernas de fora... – Miyavi disse, segurando o copo e olhando para a pista, abaixo deles – Lindas pernas!
- Quer uma carona para a pista? – Aoi perguntou, sério – Te jogo lá embaixo sem problema!
Miyavi bem que tentou ficar sério, mas não conseguiu. Voltou a gargalhar. Reita também ria, ainda que mais discretamente.
- O que eu posso fazer se Kami me ama? – Aoi perguntou, distraidamente, erguendo os ombros.
Reita e Miyavi se entreolharam e sacudiram a cabeça.
- Eu tenho pena do loiro. Você é muito pervertido! Nem gosto de pensar o que faz o pobre rapaz passar. – disse Miyavi, fazendo drama.
- O pobre rapaz? – Aoi arregalou os olhos – Não sabe da metade! Aquela carinha inocente é puro disfarce! Eu é que sou constantemente tentado por aquele pedaço delicioso de mau caminho. O que eu posso fazer se não resisto? – arrematou, fazendo uma cara resignada.
- Mas é muito cara de pau mesmo... – Reita comentou, rindo.
- Ainda bem que eu não tenho esses problemas. Ninguém fica secando meu namorado. E olha que ele é lindo! – Miyavi disse, com um olhar distante. Suspirou, satisfeito. – Aquele sorriso maravilhoso de covinhas é somente meu.
- Tirando duas maquiadoras e o cara da iluminação. – corrigiu Reita.
Miyavi arregalou os olhos, parando com o copo a centímetros da boca.
- O quê? Do que está falando? – olhava de um para o outro, nervoso – Como assim tem um cara dando em cima dele? Quem é? Qual o nome do morto?
- Morto? – Aoi perguntou, tentando segurar o riso.
- Vai estar assim que eu colocar as mãos no desgraçado! – Miyavi bufou – Vai! Despeja! Quem é?
Aoi e Reita se entreolharam e caíram na risada. O cantor não achou graça.
- Eu não sei o nome dele! – disse Reita, tentando parar de rir – Eu só sei que o cara fica todo sorrisos quando o Kai está por perto!
- E fica olhando o traseiro dele quando ele anda. – Aoi acrescentou, desviando os olhos.
Miyavi ficou possesso. – Vagabundo! Caçando na minha área! Que abuso!
O cantor levantou-se num pulo. Reita o segurou, tentando não rir.
- Espera um pouco! Vai aonde?
- O cara surtou! – Aoi debochou – Espera um pouco! Senta aí! O que vai fazer agora? Deixa isso para depois!
Miyavi sentou-se, ainda irritado, resmungando.
- Eu ainda descubro quem é! – disse, entredentes.
Os rapazes ainda beberam mais um pouco, rindo das situações com os namorados. Sem que percebessem, o assunto deles girava em torno dos outros rapazes. A noite passou rápida, entre risadas e bebidas.
- Acho que já deu para nós! – disse Aoi, meio tonto pela bebida – Acho que não consigo dirigir.
- Tudo bem. Eu bebi menos. Eu levo vocês. Além do mais, temos que ir todos para o apartamento do meu baixinho, mesmo! – Reita disse, levantando-se.
Miyavi chamou o garçom. E depois de dividirem e pagarem a conta, se levantaram. O caminho para o carro foi feito em meio a risadas. Miyavi se debruçava sobre Aoi, ambos levemente embriagados. Reita ia à frente, rindo das brincadeiras.
Já no prédio, Aoi notou que Reita tinha ficado subitamente sério. Ergueu uma sobrancelha.
- O que foi, Reita? – perguntou, respirando fundo.
- Acho que não vou ser bem recebido. Alguém faz idéia de que horas são? – perguntou, olhando para os pulsos dos amigos. Nenhum usava relógio – Droga!
Miyavi olhou para o loiro, sacudindo a cabeça para livrar-se do torpor.
- Acha que Ruki vai aprontar com você? – perguntou, sentindo-se melhor.
- Não sei, eu o deixei puto de raiva! – passou a mão pelo cabelo, nervoso.
- Eles têm que entender que a gente precisa de um tempo! Não fizemos nada demais, apenas bebemos! – disse Miyavi – E você sabia quando aceitou!
- Eu sabia. – reconheceu Reita.
- E foi divertido. – comentou Aoi, olhando os dois. – Fazia tempo que nós não saíamos só para conversar e beber. Com eles por perto, não dá!
- É. – Reita encostou-se à parede do elevador, suspirando – Com eles a gente acaba mais namorando do que qualquer outra coisa.
- Eles vão gritar e xingar, mas depois se acalmam. – disse Miyavi, dando de ombros.
- Uruha deve estar bêbado. – comentou Aoi, baixo, encarando o sapato. Sua voz soou triste.
Reita olhou para ele. – Pelo menos não vai ter que ouvir.
- Ouvir? Eu preferia ouvir. Não gosto de ver Uruha bêbado! – Aoi respondeu, encarando Reita.
- Acho que Kai não teria coragem de fazer alguma coisa comigo... Será que teria? – Miyavi fez cara de cachorro, arrancando risadas dos outros dois.
Reita abriu a porta do apartamento com cuidado, mas não entrou. Parou, indeciso.
- Miyavi, vai você primeiro! – disse, empurrando o cantor.
- Eu? Porque eu? – Miyavi perguntou, alarmado.
- Porque seu namorado é o mais calmo. Agora entra aí! – Reita disse, dando um tranco nas costas do cantor, fazendo-o empurrar a porta e entrar.
Depois de alguns minutos, Aoi e Reita o seguiram. O baixista estranhou o silêncio. O apartamento estava às escuras.
- Onde eles estão? – perguntou Aoi, baixo, olhando em volta.
- Será que Kai foi embora? – Miyavi perguntou, inseguro.
Aoi arregalou os olhos, preocupado.
- Ahn! Não! Será que Uruha foi com ele?
- Mas cadê o Reita? – Miyavi olhou em volta, procurando o baixista – A tortinha de limão dele é que ficou aqui com nossos namorados! Tem que dar conta, agora!
Ambos viram quando Reita veio pelo corredor, sorrindo.
- Onde eles estão? – Aoi quase gritou e Reita fez um gesto desesperado para ele se calar.
- Vem comigo! – Reita disse, virando-se novamente.
Reita os guiou até o quarto. Aoi e Miyavi pararam na porta, olhando. Na enorme cama de casal de Ruki, os três estavam dormindo. Juntos. Ruki no meio de Uruha e Kai.
Miyavi e Aoi se entreolharam. O cantor entrou no quarto devagarzinho, acordando Kai com beijos leves. O baterista se mexeu, acordando sem barulho. Olhou em volta, encarando os amigos.
- Já voltaram? – disse, sentando-se na cama, apoiando-se em Miyavi – Que horas são?
- Não muito tarde, amor! – respondeu o cantor – Vim te buscar!
Kai sorriu, levantando-se.
Aoi deu a volta na cama. Ficou olhando o loiro dormindo.
- Ele bebeu, Kai? – perguntou, voltando seus olhos para o baterista.
- Não. Nós não bebemos. Quer dizer, só um pouco de sakê. Mas não muito. Ele está bem! – o baterista respondeu, calmo.
O guitarrista moreno ergueu uma sobrancelha. Inclinou-se, sacudindo o outro levemente.
- Uru... Uru... Acorda! – sussurrou, não querendo despertar o cantor adormecido.
Uruha se mexeu, inclinando-se e abraçando Ruki. O cantor se mexeu no abraço, mas se aninhou nos braços do loiro. Reita franziu a testa, aproximando-se.
- O quê? – perguntou, olhando para o guitarrista moreno.
Aoi encolheu os ombros.
- Ruki! Ruki! – Reita chamou, puxando o menor para seu lado na cama, tirando-o dos braços de Uruha.
Ruki acordou com o movimento, parecendo assustado. Passou os braços em volta do pescoço de Reita, ainda sonolento.
- O quê? – perguntou, a voz profunda soando baixo. – Rei?
Reita abraçou o vocalista, fazendo-o deitar a cabeça em seu ombro. Ruki estava de joelhos sobre a cama, completamente apoiado no corpo do namorado. Aoi sacudiu Uruha com um pouco mais de força, fazendo o guitarrista loiro sentar-se, ainda atordoado, na cama. Coçou o olho, inclinando a cabeça. O mais velho sorriu de leve. Uruha ficava lindo assim, meio adormecido.
- Yuu? – chamou, manhoso.
- Vim te buscar, Kou. Vamos para casa. – Aoi respondeu, passando os braços pela cintura dele, ajudando-o a se levantar.
O loiro se deixou enlaçar, passando os braços pelo pescoço do moreno.
- Estou com sono... – reclamou, fazendo bico.
Aoi teve que rir. Amava o bico do namorado. Deu um beijinho de leve, fazendo o loiro sorrir e olhar para ele.
- Já estamos indo, amor.
Os quatro se encaminharam para a saída. Kai, completamente desperto, acompanhava Miyavi de mãos dadas. Aoi apoiava levemente Uruha. Reita fez Ruki deitar novamente, percebendo que o cantor não havia despertado totalmente. Assim que o ajeitou sobre a cama, acompanhou os amigos até a saída.
- E então, se divertiram? – Kai perguntou, virando-se para Miyavi, já na sala.
O cantor o olhou e sorriu.
- Foi divertido! – ele disse, recebendo um sorriso de volta.
Uruha e Kai trocaram um olhar. Aoi percebeu e perguntou, meio culpado.
- E vocês? Divertiram-se?
- Mais ou menos. – Uruha respondeu. – Assistimos a um filme e bebemos um pouco. Depois fomos conversar no quarto. Acabamos dormindo.
Sua voz estava rouca de sono, mas provocou arrepios em Aoi.
- Então, vamos embora? – Miyavi perguntou – Reita, até mais! Dá um beijo na tortinha de limão por mim!
Reita franziu a testa e Aoi segurou o riso. Uruha ergueu uma sobrancelha e Kai o olhou, curioso.
- Tortinha de limão? – Reita perguntou, e sua voz tinha uma nota de advertência.
- Vem, amor! – Miyavi praticamente arrastou Kai para fora.
Aoi puxou Uruha e também saíram, se despedindo.
Já dentro do elevador, Kai encostou-se de leve no namorado. Aoi manteve Uruha por perto.
- Miyavi, que história é essa de “tortinha de limão”? – Uruha perguntou, apoiando o corpo no de Aoi, atrás dele. O guitarrista moreno o abraçou pela cintura, apoiando o queixo em seu ombro e olhou o cantor.
- É, amor! Explica! – Kai pediu, olhando o namorado.
- Depois! – Miyavi respondeu, fazendo os amigos reclamarem.
No estacionamento se separaram. Kai foi com Miyavi no carro. Aoi e Uruha tinham vindo de moto. O moreno se preocupou um pouco com o loiro, já que havia esfriado muito. Ajudou o outro a fechar a jaqueta e colocar o capacete. Subiu na moto, equilibrando-a para Uruha subir. O loiro o abraçou, enfiando as mãos no bolso da jaqueta de Aoi. Deitou-se sobre as costas do moreno.
Aoi sorriu. Ligou a moto e levou-os para o apartamento de Uruha.
Reita trancou o apartamento e voltou para o quarto. Ruki dormia pesado de novo. Sorriu, admirando o cantor. Tomou um banho rápido, vestiu-se e deitou-se ao lado do namorado. Puxou Ruki para seus braços, deixando-o aninhar-se em seus braços.
Estava quase dormindo quando abriu os olhos, assustado. Olhou para baixo, encarando o jovem, adormecido.
“Espera um pouco! Nenhum deles disse nada!” Pensou, alarmado “Isso é estranho!” Franziu a testa.
Teria que pensar melhor nisso.
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