Ai Painho escrita por Ami, KNM


Capítulo 2
Aniversário do Primogênito


Notas iniciais do capítulo

Bom, gente! O Arthur me mandou o esboço essa semana, mas eu estava sem pc, então ficou para eu postar agora, depois de uma breve revisão. Vou confessar que ri muito do material que recebi e espero ter tornado ainda melhor.
Você deve me perguntar: "Naturalismo é bom. Zero é bom. Tem os dois nessa fic e nenhuma zerete gostou?"
Bom, eu respondo: "Sim, alguma gostaram.!
Bem, estou muito feliz com a repercussão dessa história e aí vai mais outro capítulo!
A vida é cruel e isso que é relatado não é ilusório. Se tem medo de ler realidades, não leia minha fic. E não visite uma favela.
Bom, boa leitura!



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E começa o dia da gentalha mangueirense. Lá na rua da Catingueira a nossa família feliz acordava para mais um dia de provações e miséria.

O que se vê pela janela de qualquer barraco é a criançada mulambenta, cheia de deformidades causadas pela falta de nutrientes, correndo com o pão ainda na boca (os que tem um pão) rumo a escola com os pés lamacentos cheios de dedos sem unha e furúnculos, frieira e pus.

Yuuki, nossa princesa com cabelos outrora macios e cheirosos agora ajeitava a carapa sarará com uma escovinha de vaso sanitário ainda úmida, quando tinha água para lavar a piaçava. O caminhão-pipa talvez demorasse, então o cabelo sebento estava mais fácil de pentear, exceto por alguns resquícios de caspa e nojeiras que desprendiam de seu coro cabeludo do tamanho de uma pele de cobra recém-trocada. A outrora bela Yuuki Cruiz olhava-se no espelho à parede, um caco de um que havia achado no lixão da CUMUnidadi e colou na parede com o resto de arroz cozido, pois não tinha condições de dar uma fortuna por um vidrinho de SUPERBONDE. James bônde. O teleférico.

Agora, nossa super mãe de família estava pronta pra despertar sua adorável família com todo o amor e carinho que uma mãe poderia demonstrar.

TAU! - Uma chinelada de havaiana re-re-remendada na bunda de uma das pestes.

TAU! - Outra na nuca do do meio.

RASP! - Rancou um chumaço de cabelo do menorzinho.

Num instante todos berravam e se esguelavam no cômodo do barraco mais distinto da região. (barraco tem cômodo?)

- Irhrhhrhrhrh – relinchou a senhora Kiryuu - Tá na hora, pirralhada.

A criançada levantou com aquele bafo de onça matinal e foi logo calçando o chinelo de dedo para ir à construção demolível caindo aos pedaços escola.

A nossa grande dona de casa guerreira deu uma moca na diabinha para que parasse de choramingar e prendeu um elástico nos cabelos da filha, pentear para quê? Aquilo que parecia ser farinha eram lêndeas, que bom que não desperdiçaram a farinha!

Zero Júnior vestiu sua melhor blusa, com 4 furos e mancha amarela que nem manteiga nas axilas. É que não era semana de lavar roupa.

Crianças lindas, gente feliz. Jr e Yuuli estavam se pegando na porrada no caminho para a escola para dividir uma moeda de um centavo recém achada. Jr cantou a paulada na irmã e ficou com a fortuna só para si. E dez minutos depois os moleques ainda tirando a remela desciam a ladeira lamacenta principal desviando de buracos, valas, mendigos, aidéticos, cachorros leprosos, ratazanas de meio metro, tocos, carros velhos incendiados, prostitutas, prostitutos, camisinhas usadas (ainda cheias), e qualquer tipo de coisa de maravilhoso que se pode encontrar em ambientes sadios e limpos como este.

- Agora é nóis, mulé. - falou o senhor Zero (Zé, como era conhecido, Z para os íntimos) à sua esposa que lavava a louça numa biquinha de cano enferrujado que pendia para uma caixa d'água, fazendo a vez de pia. (Eram pratos e copos descartáveis quase se desintegrando de tanto serem reutilizados).

- Aaaaah! - Senhor Zé nem dera tempo da mulher se situar na vida e já lhe enfiara o órgão na perseguida sem depilação de Yuuki. Alguns vizinhos paravam pra olhar a cena (com o devido pudor, claro).

Dona Maria sempre olhava do buraco na parede do segundo andar, não havia dinheiro para janelas nem móveis. (Era uma casa muito engraçada, não tinha teto, não tinha nada) Ela ficava satisfeita de olhar e comentar, porque sabia que seu marido Dodô não rendia mais. Não levantava nem com reza braba, “o véinho não dá no côro”, ela dizia, melancólica ao lembrar dos tempos passados.

Um dos porquinhos que vagavam pela rua entrou e começou a roçar na perna do Seu Zêro.

- Eita, que tu quer, neh? - falou olhando para o animal. E, sem hesitar, retirou sua "ferramenta de trabalho" violentamente da mulher e domou o animalzinho com tanta habilidade que um "uhul!" contagiante pode ser ouvido da multidão. E o bichinho gritava, e gritava.

Depois disso, ele foi para o trabalho.

Hoje era aniversário de Zero Jr, seu primogênito, seu herdeiro! Seu sucessor!

Zero bateu uma laje com jeitinho e ganhou um prato de macarrão com arroz para o almoço. Hoje era dia de banquete, esquecendo que em casa sua mulher comia o reboco da parede.

Zero coçou os badalos e chegou em casa bêbado como um porco. Vendera um rim para comprar um maço de cigarros e pagou uma moça de boa família na Vila Mimosa para fazer um serviço a 1,99 centavos. Eram tempos difíceis, mas as modestas do prostíbulo continuavam cobrando caro.

Como pai de família responsável e preocupado, Zero logo foi para seu lar. Logo o tapume viria ao chão e ele teria de pensar numa luxuosa casa de papelão.

Quando chegou lá, viu os parabéns da turma do auê, toda a pivetada da rua reunida em seu cubículo. Gente suada no escuro, o único fósforo fora colocado no bolo, que não era bolo. Era uma mistura de fubá doce com água e terra para emendar. As crianças teriam que trazer água de casa em seus copinhos, porque água é muito caro.

- Que que tá acontecendo aqui, muié??! - perguntou Zero – Eu num li dô dinheiro pá ficá pagando essas festas de granfino não! Tem a água, tem o gáis e tem as minhas guria.

- Que que é ô Zé! - reclamou Cruiz Yuuki - É aniversário do teu filho! Esse cabeçudo aí que me arrebentou todinha pa nascê!

Zero passou os olhos no meio da molecada suja e encontrou seu filho. Como não tinha um presente pra dar a ele, tirou um cigarro do bolso e deu ao moleque, junto com um tapa na zureia.

- Esse bicho que tu cria ta muito do afrescalhado – falou o nobre homem sobre seu amado filho. Seu Zé era um homem devotado e apaixonado por sua família – Vô durmir, mulÉ. Manda essas criança pro hômein do saco e vem limpar minhas cocera. Trabalei muito hoje. Vo li botá pa fudê.

Assim a pobre e devota esposa mandou embora as criancinhas partindo uma colher de fubá para cada um e foi atender seu amado marido.

Ah, não tinha luxo. Mas tinha amor. O que mais uma mulher pode querer? Quantas têm dinheiro e não têm amor? Mas Yuuki tinha uma vida modesta e não precisava de mais nada que o amor de seu marido e família.

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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado!
Abraços de parte de Arthur e eu x)
Comentem se gostaram, e se não gostaram, também!
Lembre-se que impessoalidade numa avaliação é uma virtude! ;D
Obrigada por lerem!