Ela te transporta pra um curto período de tempo, alguns minutos, pro futuro ou pro presente. Pode ser útil às vezes. Espero que isso te ajude. – Disse minha mãe mentalmente.

Mãe, porque você não me avisou antes? Eu podia ter salvado a Veronica!

Não podia, nesse caso não. A morte dela já estava marcada fazia algum tempo e tudo o que o oráculo diz, tem que se cumprir. De um jeito ou de outro. Outros monstros viriam atrás de vocês até a profecia se cumprir. – Eu suspirei. Se nem os deuses, nem o próprio Hades conseguira evitar a morte da mortal que ele mais amava – que era Maria, mãe de Nico – Quem seria eu pra tentar enganar a morte?

Enfim, obrigada pela pulseira. E como os meus amigos também voltaram no tempo?

Você fez o tempo voltar e eles estão onde eles estavam antes, na verdade eles não voltaram no tempo. É meio... Complicado.

Eu olhei pra todos os meus amigos no ônibus.

-Vem, temos que sair do ônibus logo. – Eu falei pro Nico que estava ao meu lado.

-Mas... Já estamos quase chegando à rodoviária. – Ele me olhou surpreso.

-Eu sei, mas temos que ir, depois eu explico. – Nico apenas assentiu e se levantou, me seguindo. Eu fui pelo ônibus e apertei o botão da saída de emergência, fingindo estar passando realmente mal, o que não era difícil com a minha cara de zumbi cansado. Todos nós saímos do ônibus alguns minutos antes de chegarmos à rodoviária. Matts olhou pra mim e levantou uma sobrancelha, me examinando dos pés a cabeça. Eu olhava atentamente em direção a rodoviária e corri pro sentido oposto, todos me seguiram confusos.

-Você não está passado mal de verdade. – Disse Matts. Os filhos de Zeus olharam pra mim, esperando respostas, com os curiosos olhos azuis elétricos. Percy me olhava preocupado, assim como Nico. Clara mexia no celular enquanto andava atrás de nós. Nico tirou o celular das mãos da Clara e o desligou. "Clara, isso é perigoso" disse ele em um sussurro pra ela e ela virou os olhos.

-Não mesmo. - Eu disse, confirmando a afirmação do Matts sobre eu estar passando mal.

-Então porque tivemos que sair daquele jeito do ônibus?

-Tem uma hidra na rodoviária.

-O que? Como você sabe disso? – Perguntou Lizzie, a garota filha de Zeus que mal abria a boca.

Eu contei pra eles a história enquanto corríamos.

-A Hidra vai vir atrás de nós quando perceber que não estamos mais no ônibus. Temos que chegar ao acampamento rápido.

-Mas o acampamento fica do outro lado da cidade, pra lá da rodoviária. Nós estamos no sentido completamente oposto. – Disse Nico. Ele estava certo.

-Temos que... Já sei. Percy, chame o BlackJack e os amigos dele.

-Mas eles não vão transportar o Nico e a Clara. – O Nico tinha um cavalo alado que o transportava, na verdade. O cavalo que eu convenci a obedecer ele, 3 anos atrás. Isso parecia ter acontecido há uma eternidade.

-Nico, você não consegue chamar o seu pegasus?

-Acho que consigo.

-Ok, então Clara pode ir com você.

-Mas ele só transporta a mim, ele não transporta outras pessoas. – Esqueci desse pequeno detalhe.

-Clara, vá pelas sombras.

No fim, nós todos acabamos indo de pegasus, só a Clara foi pelas sombras. Quando chegamos ao acampamento, Nico foi ao chalé de Hades e lá estava Clara, jogada em uma das camas do chalé de Hades. Sorte que ela foi pro acampamento, ela disse que nunca mais voltaria pra lá. Mas eu tinha certeza de que quando ela acordasse, ela sairia e nunca mais voltaria se possível.

Quando eu botei os pés no acampamento, outra coisa que eu pude sentir que fazia alguns dias que eu não sentia era o frio. O vento gelado machucando a minha pele. A missão acabou e eu sabia que a benção da Melissa não ia durar pra sempre, mas ainda assim sentir o frio me impressionou. Faria uma oferenda à Melissa depois, com tudo o que aconteceu nessa viagem, se eu ainda passasse o frio que eu costumo passar no inverno de Nova York, eu estaria realmente ferrada. Eu imaginava se algum dia voltaria ver a Melissa.

Nós fomos a casa grande e falamos com Quíron sobre tudo o que aconteceu na missão, a parte da morte da Veronica – que quando eu comecei a contar me trouxe de volta às lágrimas – e todo o resto. Menos a parte sobre eu estar grávida. Eu espero que Percy consiga ficar de boca fechada, não quero que saibam que eu estou grávida agora.

Eu estava imaginando como seria quando os filhos de Atena descobrissem que a Veronica morreu. Ela era querida por todos, não só no chalé de Atena. Ela era uma pessoa incrível, faria muita falta mesmo...

Já estávamos de férias, mas eu não sei se queria ficar no acampamento. Com aquela história toda de gravidez...

Quando nós chegamos, já era hora do almoço. Fomos até o refeitório e nos sentamos nas nossas respectivas mesas. Quíron anunciou os filhos de Zeus e Thalia, quando soube dos novos irmãos, veio ao acampamento por algum tempo pra conhecê-los. Eu e Thalia nos dávamos bem. Nós discutíamos feio às vezes, mas tudo acabava bem. Ela veio até mim sorrindo. Ela me chamava de cabeça de alga, assim como chamava o meu irmão. Annabeth tinha dado esse apelido pro Percy há muito tempo atrás.

-Cabeça de alga! – Disse ela ainda sorrindo.

-Pára raios, como você está? – Eu disse rindo.

-Estou bem... Vim dar uma força pros meus novos irmãos, ficarei aqui por alguns dias. Sabe como é as caçadoras precisam de mim, mas Lady Ártemis acha que eu devia vir ver os meus irmãos. E você, como está?

-Hã... Eu estou bem. – Ela olhou pra mim e levantou uma sobrancelha. Será que estava assim tão na cara que eu não estava bem? Todos pareciam perceber isso.

-Você está mesmo bem?

-Sim, eu só estou meio cansada.

-Ah... Enfim, eu vou me sentar na mesa dos filhos de Zeus agora, com os meus irmãos. Nos falamos depois.

Eu fui me sentar com Percy na mesa que eu não via fazia alguns meses. Ele ficou me encarando enquanto eu comia. Eu fiquei em silêncio. O silêncio na nossa mesa era tão alto e pesado que chegava a ser incômodo. Porém, nós não tínhamos palavras. Eu sentia a raiva que meu irmão estava tentando esconder, sem muito sucesso. O pior é que eu sabia que as coisas iam piorar. Não com Percy, digo quando mais pessoas souberem sobre tudo isso, quando minha barriga ficar visível, quando os deuses realmente tentarem acabar comigo...

Aposto que Hera estava rindo de mim agora, aquele divino ser miserável e desprezível. Se ela ouviu isso na minha mente, era pra ouvir mesmo. Tudo o que eu queria era um pouco de paz. Olhei pra minha pulseira, o pingente de estrela brilhava a luz do sol. Então eu percebi que mesmo com as consequências, eu não voltaria no tempo, não voltaria a tempo de impedir isso tudo. Agora tudo o que posso fazer é estar preparada pra enfrentar a ira dos deuses, que meu pai me ajude, pelo menos.