Imperfeição escrita por GabrielleBriant


Capítulo 9
O que Lhe Faz Sentir-se Viva




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IX

O QUE LHE FAZ SENTIR-SE VIVA

ROSALIE

- Então Andrew é o seu melhor amigo, agora?

Sim, Andrew era o meu melhor amigo. Ele era o meu melhor amigo porque eu tive que encontrar uma companhia. Eu precisava de alguém que me distraísse, que me fizesse parar de pensar em Emmett... E Andrew era justamente isso.

Ergui uma sobrancelha e, por um tempo, não respondi. O coração de Emmett acelerou.

- Nessa cidade? Suponho que sim.

- E eu?

Quis dizer que ele era o motivo de eu ter me aproximado de Andrew. Quis dizer que ele era o fantasma que ocupava todos os meus pensamentos. Sabia que deveria dizer que ele não era nada; que eu mal o conhecia. Mas, de alguma forma, foi isto o que escapou dos meus lábios:

- Você é o meu protegido. – O olhei, apreensiva. Os grandes olhos verdes se prenderam imediatamente aos meus, e o meu coração aqueceu. Não consegui suprimir o meu sorriso. – Eu sou o seu anjo, lembra?

Ele sorriu o sorriso mais lindo que eu já vi em toda a minha vida, acentuando as adoráveis covinhas.

- Ah. Claro.

Ri, desviando o meu olhar dele e respirando fundo – e esse foi o momento em que eu percebi a essência de Andrew por perto. Imediatamente olhei ao redor.

A pracinha, que estava vazia no momento em que eu chegara à igreja, já estava lotada. Os vendedores já abriam as suas cigarreiras para vender quitutes após a missa e o culto, e os fiéis já lotavam os seus respectivos templos. Andrew descia do seu carro – estacionado perto da clínica de Carlisle – e tinha uma expressão ligeiramente irritada. Era em momentos como esse que eu queria ter o dom de Edward.

Deu uma cotovelada de leve em Emmett.

- Temos companhia.

O sorriso de Emmett morreu quase imediatamente.

- Andrew, cara!

Andrew respirou fundo antes de um sorriso obviamente falso abrir-se em seu rosto. Ele se aproximou de nós rapidamente e se sentou ao meu lado, segurando a minha mão – ele sempre fazia isso, ultimamente; o que estava me obrigando a usar luvas o tempo inteiro.

- Oi, Rose. Emmett, você finalmente está de volta!

Emmett ficou um momento em silêncio, olhando para nós dois com uma expressão confusa. Obviamente, ele não tinha deixado passar o fato de que Andrew acabara de me tratar por um apelido carinhoso.

- Sim... – ele disse lentamente. – alguma hora aquele gesso tinha que sair. Por que você não foi me ver ontem?

Eu sorri, não conseguindo segurar o meu comentário ácido:

- Pelo visto, Emmett, você não foi um doente muito popular.

- Aparentemente os meus amigos andaram ocupados – Emmett respondeu, igualmente ácido.

Andrew riu, apertando um pouco a minha mão.

- Você não pode me culpar, cara. Eu passei a tarde com a Rose.

Tive a nítida impressão de que Andrew estava querendo deixar claro para Emmett que nossa relação ultrapassava a amizade, e aquilo me aborreceu um pouco. Mas decidi não desfazer o possível mal-entendido: se Emmett pensasse que eu estava namorando Andrew, melhor.

- Aulas intensivas me transformaram numa maravilhosa motorista!

Passamos um minuto no mais absoluto silêncio, até que captei mais uma essência conhecida se aproximando de nós:

- Amor! – A voz de Louise quase gritou por trás de nós e ela se sentou ao lado de Emmett. – Oi Andrew, Rosalie.

Cumprimentei-a educadamente com a minha cabeça e tentei não me atingir pela forma que as mãos de Emmett procuraram as dela quase de imediato.

- Onde está o Bill? – Emmett perguntou.

- Ele vai assistir ao culto. Ele não vai há quase um mês, e você sabe como o Reverendo West gosta de nos manter na linha!... Emmett, querido, você já falou a Rosalie sobre a sua festa?

Olhei para Emmett com uma sobrancelha erguida. Ele sorria.

- Eu pensei que Andrew já tivesse falado.

- Eu ia falar – percebi um tom ligeiramente amargo na voz de Andrew. Louise sorriu para ele de uma forma sem-graça e murmurou um pedido de desculpas. Emmett, no entanto, mal percebeu. Os lindos olhos verdes estavam cravados nos meus. – Meu aniversário é quinta-feira. Mãe vai dar uma festinha para os vizinhos e depois vamos todos para Thireville. O que você acha?

Sorri.

- De que? Estou sendo convidada?

- Claro! Você, Edward, Dr. Cullen e a Sra. Cullen!

Assenti, me sentindo bastante animada. Aquilo seria bom... já fazia dois anos desde a última vez que eu fui a um aniversário de verdade – daqueles onde as pessoas de fato envelhecem.

.-.

A missa não demorou muito a acabar – logo eu vi Esme, Carlisle e Edward deixarem a igreja e começarem a se aproximar do Hudson. Despedi-me de Emmett, Andrew e Louise e acenei um tchau para William ao vê-lo de longe, na porta do templo Metodista.

Edward sequer olhou para mim quando eu entrei no carro, apesar de sentar-se ao meu lado. Carlisle, no entanto, virou-se com uma expressão animada antes de dar a partida.

- Você estava falando com Emmett? Ele seguiu as minhas recomendações de ficar em casa durante o fim de semana?

- Sim – Sorri ainda mais. – Acho que sim, pelo menos. Acho que essa foi a primeira vez que ele saiu desde o acidente. O aniversário dele é na quinta, sabiam?

Agora foi a vez de Esme voltar-se para mim com os olhos brilhando.

- Mesmo? Temos que providenciar um presente, então. Do que ele gosta, Rose?

- Carros – foi Edward quem respondeu. – Mas ele vai ficar muito constrangido se dermos algo caro a ele.

Suspirei.

- Nós poderíamos deixá-lo entrar em nossa garagem e escolher a peça que ele quisesse. Você acha que ele vai gostar disso?

Edward deu de ombros, olhando pela janela.

- Eu não prevejo o futuro, Rosalie. Mas é uma boa idéia.

- Vai ter uma festa – eu disse, esquecendo Edward e voltando à minha animação. – Acho que um jantar ou algo assim. Ele convidou todos nós.

Esme pareceu ficar em êxtase.

- Mesmo? Um aniversário de verdade? O último que eu participei foi... acho que foi o do meu primeiro marido, em 1919. Deus, faz tanto tempo!

Carlisle sorriu e eu soube que ele também estava querendo participar de um aniversário há algum tempo. Perguntei-me se Edward passaria o tempo inteiro com essa expressão de poucos amigos, ou se ele também, lá no fundo, estava feliz por celebrar o aniversário de uma pessoa viva. O sorriso torto que apareceu em seus lábios respondeu a minha pergunta.

XxXxXxX

Quinta-Feira, 19 de setembro de 1935.

O outono se aproximava rapidamente. As árvores, com as suas copas quase completamente amareladas, começavam a deixar que as suas folhas caíssem – o quer era um problema quando se tinha que manter impecável um quintal amplo como o de Esme.

Não que limpar o quintal fosse tarefa minha: Esme gostava de cuidar das suas plantas sozinha, e não se importava em sujar as mãos com terra. Mas eu precisava ocupar a minha mente para fugir do pensamento de que em algumas horas eu estaria na fazenda dos McCarty celebrando o aniversário de Emmett.

- Rosalie – eu ouvi Esme falar de dentro de casa. – Telefone para você.

Larguei o saco de lixo cheio de folhas amareladas no chão e entrei em casa. Esme me esperava encostada no piano, com uma expressão maravilhada em seu rosto.

- O que foi?

- É o Emmett! – Justamente pela empolgação de Esme estar tão óbvia, decidi que era melhor conter o meu sorriso e ignorar a sensação estranha vinda do meu coração morto. – Ele gosta muito de você, não é?

Franzi o cenho.

- E isso lhe deixa feliz? Que Edward tenha concorrência? – provoquei.

Esme não pareceu se importar.

- Eu já não tenho esperanças que algo aconteça entre o Edward e você! Mas o Emmett... Ele não ficaria lindo com a pele mais clara e com os olhos cor de mel?

Senti um arrepio cruzar a minha espinha – eu não queria pensar naquilo. Sem responder à Esme e tentando tirar da minha cabeça a imagem que ela acabara de criar, peguei o telefone.

- Sim?

- Rose – prendi a respiração. Aquela foi a primeira vez que ele me chamou assim. – A mãe de Louise está doente. – fiquei calada, tentando entender como aquela informação me afetaria. – Ela ajudaria a minha mãe a fazer a comida para a festa... então eu mencionei inocentemente que a Sra. Cullen tinha feito os melhores biscoitos que eu já comi em toda a minha vida, então mamãe está perguntando se ela não poderia vir ajudar?

Rolei os olhos.

- Você estava falando com Esme, Emmett.

- Eu sei; mas eu não a conheço direito. Acho que, como o meu anjo, é o seu papel convencê-la a vir ajudar a mãe.

- Um minuto – tirei o telefone de perto de mim e olhei para Esme. – A Sra. McCarty quer que você ajude a cozinhar para a festa.

Esme sorriu e assentiu, dizendo que ia apenas trocar de roupa e rumaria para a fazenda de Emmett.

- Ela já está indo – disse, novamente ao telefone.

- Ótimo... – Ele passou alguns minutos em silêncio. – Rosalie, o que você está fazendo?

- Agora?

- Hum-hum.

- Limpando o quintal.

- Você e o Edward?

Edward estava caçando – o que era ótimo, pois eu tinha esperança que ele voltasse com o humor um pouco melhor. O meu irmão adotivo estava terrivelmente irritante nos últimos dias.

- Não. Edward foi caçar alguma coisa – Emmett certamente supôs uma espingarda. Eu não desmentiria aquilo. – Eu estava com a Esme, mas agora acho que fiquei com todo o trabalho.

Houve uma pausa na qual escutei a respiração de Emmett se acelerar um pouco. Meus olhos fecharam involuntariamente, e, se o meu coração ainda batesse, eu tenho certeza que ele estaria acelerado com a antecipação. Eu acho que apenas se passou alguns segundos; mas, para mim, dois séculos se passaram antes de ele finalmente dizer:

- Você se importaria se eu fosse até aí? Eu posso ajudar.

Um grande sorriso apareceu nos meus lábios e eu quis dar um grito de alegria. Esme apareceu no pé da escada, se aproximou de mim e pegou as chaves do carro.

- Eu já estou indo, meu bem – ela disse. – Comporte-se. – Aquilo certamente indicava que Esme escutara a última parte da minha conversa com Emmett.

Não dei atenção a ela, mas esperei ela deixar a casa para responder.

- Eu estarei no lago.

Sem mais, desliguei o telefone. Enquanto me apressava escada à cima, comecei a calcular o tempo que um humano levaria para ir da fazenda dos McCarty até o lago – cheguei à conclusão que talvez quinze ou vinte minutos de caminhada fossem suficientes. Aquilo era um tempo razoável para que eu tomasse um banho e me vestisse.

Fiz tudo tão rapidamente quanto possível – e pela primeira vez em minha existência, dei graças por ser uma vampira: de que outra forma conseguiria estar arrumada em dez minutos, se não fosse uma? De qualquer forma, dez minutos depois de desligar o telefone eu estava limpa, meus cabelos estavam bem penteados – presos pela metade com um broche que peguei emprestado de Esme – e eu usava um vestido novo, verde-esmeralda, que marcava bem a minha cintura e me caía até dois dedos acima do joelho. Talvez não fosse o visual mais apropriado para limpar um quintal, mas eu não me importava; o importante era que eu estava gostando – e muito – do que via no espelho.

Desci as escadas e me encaminhei para o quintal. Havia duas espreguiçadeiras à beira do lago, e eu decidi que aquele seria um bom lugar para esperar por Emmett. Assim, sentei-me e olhei do céu nublado para a floresta – ainda mais bonita agora que as árvores começavam a apresentar as cores do outono.

Senti o cheiro de Emmett pouco depois de me sentar. Virei-me para olhá-lo. Ele estava parecendo um selvagem, com a barba mal-feita e os cachos emaranhados. A camisa quadriculada vermelha tinha as mangas dobradas, deixando os antebraços dele nus, e havia uma bola de suor em seu peito e embaixo dos seus braços.

Tenho certeza que se fosse qualquer outra pessoa, eu teria achado aquele visual repugnante... Mas nele, tudo parecia ficar adorável.

Levantei-me e sorri, ao mesmo passo que o sorriso dele morria e os olhos dele se cravavam em mim de uma maneira quase faminta. Foi um olhar tão poderoso que me deixou com falta de ar – o que parecia ridículo, posto que eu sou uma morta-viva que não tem a necessidade de respirar.

- Oi, Emmett – minha voz soou estranha; quase nervosa. Aquilo me irritou.

Ele engoliu seco e o coração dele passou a bater mais rápido.

- Eu... Eu pensei que você estava cuidando do quintal.

- Estava. Estou.

Ele suspirou e sorriu.

- Eu dei uma caminhada de quinze minutos e estou suando como um porco, enquanto você passou a manhã apanhando folhas nesse calor e continua parecendo uma... – Ergui uma sobrancelha, ansiosa para que ele terminasse aquela frase. – Você sabe.

- Não sei, não – mais uma vez, a minha voz não estava controlada. Estava ansiosa demais. – Eu pareço uma...?

- Eu sinceramente não encontro palavras.

Foi como se explodissem fogos de artifício em meu peito.

- Isso quer dizer que eu estou bonita?

Emmett deu um meio-sorriso.

- É muito mais que isso, Rosalie. Muito mais.

XxXxXxX

Reviews, por favor.

Bjus e mais bjus para a Lou Malfoy, que betou pacientemente mais esse capítulo.


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