Imperfeição escrita por GabrielleBriant


Capítulo 20
Céu no Inferno




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/109190/chapter/20

XX

CÉU NO INFERNO

EMMETT

Vermelho era tudo o que eu via. No chão, nas paredes... Sangue era tudo o que eu conseguia cheirar. E, em minha frente, um homem morto. Brutalmente assassinado. Havia horror em seu rosto quase intacto e, do pescoço para baixo, uma confusão de carne, pele, tripas e entranhas... e sangue. Tanto, tanto sangue.

Havia sangue em minhas mãos – literal e figurativamente.

Como se acordando de um sonho ruim, eu olhei para as minhas próprias roupas. Estavam totalmente tingidas de vermelho e havia pedaços de carne espalhados, pendurados nos botões e nos bolsos. Eu conseguia, ainda, sentir o gosto metálico em meus lábios, mas aquilo não me enojou, como esperado: a mim, parecia o mais delicioso néctar dos deuses.

Continuei olhando para o corpo, aos poucos traçando em minha mente um mapa do que havia acontecido. Eu senti o horror, claro. E senti a culpa, como um bom católico. Mas, também senti outra coisa... Uma coisa inconfessável: senti-me satisfeito. Eu me senti vivo. Eu me senti forte. Eu senti, olhando para a carcaça daquele... daquele saco de sangue, que eu podia fazer tudo o que eu quisesse. Eu me senti um deus.

- E-Emmett? Emmett?

Finalmente captei uma essência que não era de sangue. Era um cheiro doce, que eu sabia que conhecia. Era um vampiro. Inimigo? Sem que eu comandasse, um ruído ameaçador escapou da minha garganta.

- Emmett, sou eu. Rosalie.

Rosalie. Eu conhecia aquele nome. Não era alguém ameaçador. Não era um inimigo.

Ao contrário. Aquele nome fazia uma sensação estranha se apoderar do meu peito e do meu baixo-ventre.

Assenti.

O cheiro doce ficou cada vez mais forte, enquanto escutava passos molhados em aproximação. O meu corpo ficou alerta; porém não defensivo.

Uma mão quente tocou o meu ombro.

- Emmett, está tudo bem.

Lentamente, me virei.

Aquele rosto... como eu podia ter me esquecido dele? Como eu podia ter me esquecido dela, do meu anjo? Como eu pude não identificar o seu cheiro ou o seu nome de imediato?

Então, tudo voltou. Todo o meu passado e presente.

Eu me lembrei dos sermões na igreja, quando eu era vivo. Dos dez mandamentos – e em especial daquele que diz "não matarás". E me lembrei de, quase enfeitiçado, mergulhar as minhas mãos do abdômen de dois homens, para sentir o líquido espesso e precioso, enquanto eu lhes roubava a vida.

Imoral. Abominável. Monstruoso.

Ainda assim, a euforia tomava conta do meu corpo e eu me sentia tão forte, e tão bem que...

Eu era um demônio. Eu tinha sido transformado num demônio assassino de olhos vermelhos. Edward e Rosalie estavam certos; aquilo era uma maldição!

- Eu sou um monstro...

Rosalie, com o seu rosto salpicado de vermelho, tentou sorrir e tocou o meu rosto.

- Não... Isso é normal, Emmett.

Normal? Como aquele tipo de brutalidade poderia ser normal?

Imaginei, então, A Sra. Cullen, com as suas feições angelicais, atacando outra pessoa com ferocidade parecida; bebendo o seu sangue e se refestelando com as entranhas que saltavam do moribundo cada vez que a sua pele era rasgada. Ela faria aquilo? Ela também se sentiria forte e feliz depois de terminado?

Imaginei Rosalie...

Não.

Era impossível imaginar Rosalie praticando tal ato. Não ela. Não o meu anjo. O meu anjo não seria capaz de tamanha atrocidade.

- Rosalie, eu...

- Não diga nada. Olhe, eu tenho que cuidar disso aqui... Estamos num posto de gasolina, o que significa que não será muito difícil esconder os corpos. Vá para o carro e comece a dirigir na direção de Riverside. Eu o alcançarei assim que terminar.

Eu não queria ir.

Mas havia tanta vergonha em mim, que sair das vistas de Rosalie seria, na verdade, um presente. Então, eu não discuti. Saí da casa.

Do lado de fora, no posto de gasolina, o cenário não era muito diferente. Sangue dominava o local e, perto do carro, jazia o corpo de outro homem igualmente destroçado. Os corvos eram rápidos; já tinham sentido o cheiro da morte, e já tomavam a sua presa. Bicavam os olhos do homem e tomavam conta das suas feridas abertas.

Não queria mais ver aquilo. Não precisava de mais um lembrete do que eu realmente era. Fui para o carro. E dirigi.

As janelas abertas convidavam ventos fortes, fazendo que o sangue secasse em minha pele formando uma crosta desconfortável. A imagem dos dois corpos não saía da minha mente; mas era a imagem do rosto salpicado de vermelho do meu anjo que me assustava mais.

Eu era um monstro. A sede era uma maldição. Apenas naquele momento, refletindo só sobre as mortes que eu mesmo tinha causado, é que eu descobri que ser um vampiro não fazia de mim um super-homem. Na verdade eu era muito menos que humano.

Ser imortal, agora, me serviria para apenas uma coisa: evitar a minha inevitável descida para o inferno.

Um terrível barulho de explosão me tirou dos meus pensamentos. Pelo retrovisor do carro, pude ver que as chamas começavam a consumir o posto de gasolina – apagando qualquer evidência do meu crime; como se nada tivesse acontecido. Vi, também, Rosalie correr com velocidade em direção ao carro.

Não demorou a que ela chegasse e abrisse a porta – não existia no mundo um motor páreo para a velocidade de um vampiro. Quando ela sentou ao meu lado, tentou sorrir. A sua mão procurou a minha, que estava sobre a macha.

- Olhe – Eu disse, mal reconhecendo a minha voz. –, eu não sei o que deu em mim. Ele me fez uma pergunta e... eu devo ter respirado antes de responder, Rose, eu não sei...

- Esqueça, Emmett.

Franzi o cenho.

- Esquecer? Como eu posso esquecer?

- Já aconteceu, eu já remediei a situação. Agora, esqueça! Nós temos que encontrar u-

- Remediou? Eu matei dois homens, Rosalie!

- E quem não matou? – Ela disse sarcasticamente. – Você não pôde se controlar; só isso!

- Você viu o que eu fiz com eles, não viu?

Rosalie suspirou. Havia um vinco em sua testa que indicava que ela começava a ficar aborrecida com aquela conversar. Pela primeira vez, me vi ressenti-la. Como podia ela – o meu anjo – ter tanto desdém?

- Vi, Emmett. A violência está na nossa natureza. E, aparentemente, é um pouco mais aflorada em você.

- Eu não acredito que você está dizendo isso!

- E eu não acredito que você desobedeceu a minha ordem de ficar quieto e com a respiração presa!

E aquilo foi o suficiente.

O meu anjo deveria me consolar. Ela deveria continuar dizendo que aquelas coisas aconteciam com um vampiro novo. Ela deveria falar as coisas que eu queria ouvir, apenas. A verdade – ou a versão dela da verdade – me atingiu como um soco. E eu só precisava respirar.

De repente, parei o carro no meio da estrada, abri a porta e desci.

- O que você está fazendo? – Ela quase gritou, irritada, descendo do carro e vindo para a minha frente. – Você não pode parar aqui! Nós temos que falar com Carlisle!

Um ruído animal deixou a minha garganta, ameaçador.

- Você é sempre tão fria? Quando você mata alguém, você esconde os corpos e esquece?

Ela me olhou assustada; talvez com o meu tom de voz. Afinal, eu nunca consegui ser nada além de gentil com ela.

- Eu não lamentei nenhuma das mortes que causei – respondeu amargamente.

Balancei a minha cabeça.

- Que tipo de pessoa é você, Rosalie?

- Como você pode saber que tipo de pessoa eram eles? Eles podiam ser pessoas ruins, Emmett! Talvez eles merecessem morrer!

- Merecer? Ninguém merece morrer daquela forma, Rosalie, por pior que seja! E quem sou eu para julgar alguém?

- Se você não julgar, quem irá?

- Deus!

Ela riu, amarga, e a sua respiração ficou diferente – era como se ela tivesse chorando.

- O seu Deus não pode estar em todos os lugares.

- Se você pensa assim, o seu professor de catequese era bem ruinzinho.

Ela me observou, confusa, antes de rolar os olhos soltar uma risada breve. De repente, foi como se toda a tensão que tinha se formado entre nós desaparecesse... E eu quis confessar. Eu quis dizer como eu realmente me sentia. Eu quis confessar a força e a satisfação.

- Me desculpe – Ela finalmente disse. – A culpa foi minha. Eu deveria ter lhe deixado na floresta, como Carlisle disse.

- Sério?

- Você sabe que eu não sou boa em reconhecer culpa, Emmett. Eu fiquei nervosa quando vi... aquilo, e não soube como reagir. Colocar um vampiro novo perto de humanos – ela riu tristemente. – Isso estava fadado a acontecer. Eu deveria ter sido mais prudente.

Mordi o lábio inferior antes de falar – o sangue seco tocou a minha língua, e eu senti novamente o poder daquele sabor.

- Eu não estou chateado só por isso – Rosalie franziu o cenho. – Rosalie... Eu gostei.

Ela deu um passo para trás. Seu rosto denunciando que eu deveria ter ficado calado; que ela achava que eu era um monstro.

- O quê?

- Eu gostei – Repeti. Não recuaria. – Eu estou me sentindo assim porque eu gostei de cada segundo que eu passei- Eu me deliciei com cada gota de sangue. Eu não vou pro inferno porque eu matei; mas porque eu gostei!

Ela ainda me olhou como se eu fosse um monstro por um bom tempo, até que... até que algo diferente tomou conta dos seus olhos. Era um brilho de... compaixão, talvez. Talvez de amor; mas eu não me atrevia a sonhar tão alto.

Então aconteceu. Antes que eu pudesse esboçar qualquer reação, ela dava um passo largo em minha direção, e a mão esquerda dela cravava-se em minha nuca, me puxando para perto.

Os seus lábios famintos vieram aos meus.

Quando a língua de Rosalie tocou a minha foi... inexplicável. Mais uma vez, eu perdi o controle para uma fera – mas era um tipo diferente de fera. Minha mão direita foi aos cabelos dela, agarrando-os como se me pertencessem e mantendo a cabeça dela perto da minha, para que a minha boca não perdesse o contato com a dela nem se ela o quisesse. Já a minha mão esquerda... essa foi para o quadril dela e o apertou, deixando-o tão junto do meu que nós poderíamos nos fundir... tão junto, que eu tinha certeza que ela podia sentir cada centímetro do meu membro pronto para ela.

Ela era um anjo; deveria me afastar e me esbofetear. Mas toda a reação que ela teve foi deixar escapar um barulhinho pela sua garganta que só podia ser interpretado como prazer.

Ainda sem nenhum controle sobre o meu corpo, a mão desceu e sentiu as nádegas perfeitas e redondas de Rosalie. Enquanto eu a girava, ergui o seu corpo. As pernas dela se enlaçaram ao meu quadril, e as unhas cravaram em meus ombros ao mesmo tempo em que eu a encostei no carro.

Houve o barulho de vidro se estilhaçando. Houve o barulho de metal amassando. Mas era difícil se concentrar nesses detalhes, quando o cheiro de Rosalie aumentava exponencialmente – a fonte inconfundível era o local cada vez mais quente entre as suas pernas.

Eu precisava tocar-lhe ali. Eu precisava sentir o seu gosto.

Então, eu deixei a sua boca e comecei a provar a pele do seu pescoço. Minha mão – a que não agarrava de forma quase violenta os cabelos loiros – apertou a sua cintura e, lentamente, começou a trilhar o caminho que terminaria nos seios dela.

- Emmett... – Ela disse, com a voz fraca. – Emmett, pare.

Ignorei.

- Emmett, pare! Agora!

Ela não podia me pedir para parar. Ela me pertencia.

Cheguei ao seio e o senti – macio, firme, perfeito.

- Emmett! Eu não consinto!

A fera dentro de mim rugiu, mas o homem, daquela vez, prevaleceu. Ofegante, com o coração doendo e o pau latejando, eu me afastei.

- Me desculpe! – Consegui dizer.

- Não se desculpe – Ela também estava ofegante.

Me obriguei a olhá-la, com medo que ela parecesse zangada.

Mas, na verdade, Rosalie parecia confusa. Ela tentava ajeitar os seus cabelos, e os lábios inchados a deixavam... adorável. O sol apareceu por entre as nuvens e a fizeram brilhar.

A pergunta pulou da minha boca antes que eu pudesse segurar:

- Por quê?

Rosalie deu um longo suspiro e quando me olhou tentou sorrir.

- Porque agora eu também provei do sangue daqueles homens. E, acredite, Emmett: eu também gostei. Se você for para o inferno por isso, eu vou junto. Agora vamos. Temo que nos lavar antes de encontrar um telefone.

XxXxXxX

Reviews, por favor.

Mando milhões de bjus para a Lou Malfoy, que betou mais esse cap. E, claro, para as lindas que comentaram o cap passado: Lois, Alice, Tathiana e Duachais Seneschais. E, claro, o pessoal do Nyah: Relsanli, SophieHale e Naruhina 1204.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!