Relatos de Uma Repórter Chamada Alice escrita por carlyluna


Capítulo 7
O fim


Notas iniciais do capítulo

Pena que acabou... Foi muito bom escrever para vocês!!!
Boa leitura!!!



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Acordei assustada, eu estava completamente encharcada de suor, eu estava assustada. Descia a escada e fui direto para a cozinha – para tomar um copo d’água - devia ser ainda de madrugada, olhei no meu relógio de pulso e já passava das três da manhã.

A noite estava escura e silenciosa.

Precisei ir tateando até a cozinha. Quando achei o interruptor e acendi a luz, meu sangue gelou.

Lá estava Ana, ela usava uma camisola preta e luvas da mesma cor. Ela estava sentada na cabeceira da mesa segurando uma grande faca daquelas usadas pelos açougueiros.

Ela sorria para mim. Não era um sorriso nada feliz, era um sorriso do tipo você prefere morrer rápido ou lentamente?

Eu não sabia se eu corria, se eu ficava. Eu estava no tipo de situação que se você correr, já era, e se você ficar você também já era. Então  tomei a decisão mais estúpida que alguém teria tomado.

- O que você está fazendo? – perguntei.

- Você não sabe? – ela disse em um tom sarcástico.

Fiz que não com a cabeça.

- Eu pensei que você fosse uma pessoa inteligente, Alice – ela disse meu nome como se estivesse dito um palavrão – eu estava te contando a mesma historia que sempre conto às pessoas que vem aqui, eu me faço de boazinha! Como se eu fosse uma pessoa boazinha!

- Foi você! – eu disse – foi você que assassinou as crianças!

- Você não pensou que foi a Gabrielle né? – ela esfregava a faca na mesa – aquela sonsa, só percebeu o meu plano quando voltou da viagem que havia feito com o Magno. Ela chegou e viu a nova casa perfeita dela toda incendiada!

Ela riu.

Eu ainda não acreditava naquilo. Como aquela mulher poderia ter o coração tão frio como gelo?

- Mas... – eu tentava fazer as palavras saírem, eu estava de cara com a morte – por quê?

- Porque era para ser eu! – ela gritou – eu conheci Magno antes de Gabrielle! Quando a sorte ficou do meu lado e a Lorraine morreu, era para ter sido eu a esposa do Magno! E ai aquela piruazinha entrou na família! Logo ela ganhou o carinho dos Underberg, e eu, a que sempre teve o direito de ter tudo o que era de Lorraine, eu fiquei apenas como a simples babá!

- Você é louca! – eu disse.

Ela fincou a faca na madeira da mesa, fazendo um talho.

- Mas porque você envolveu as crianças nesta história? – perguntei – De todos, elas eram os que tinham menos culpa! Aliás, nenhum tinha culpa da sua falta de coerência na sua mente!

- Eles eram para serem meus filhos! Já que eles não foram meus, eles não seriam de mais ninguém.

Eu não conseguia dizer mais nada, eu apenas a encarava de boca aberta.

- Bem, você é a única além de mim que sabe toda a verdade – ela sorriu – você é uma garota inteligente, nem mesma eu pude achar aquele diário, Elle o escondeu muito bem. Então você o achou! A única prova que poderia me incriminar. Você teria saído viva daqui, eu te enrolaria e faria você acreditar que o incêndio fora acidental. Lamento te dizer, mas você não pode viver sabendo da verdade.

- E você vai fazer o que? – perguntei – me matar?

Ela sorriu em resposta. A resposta de um não é óbvio?

Ela veio lentamente na minha direção, a faca posicionada em sua mão para um golpe único. Corri escada acima, tropeçando uma vez no degrau. Levantei-me rapidamente e olhei para o corredor escuro. Ana andava lentamente, fazendo um jogo de pânico comigo. Eu podia ouvir a risada dela ao subir lentamente os degraus. Então me lembrei que uma vez enquanto andava pela sacada do meu quarto, eu vira uma escada cheia de folhas. Com certeza não era usada a muito tempo, e Ana nem se lembraria da existência da escada.

Entrei no meu quarto e fechei a porta antes que Ana me visse entrando. Fui correndo até a janela e tentei abri-la, mas por meu azar ela estava trancada. Droga. E agora? O que eu faria? Olhei para a escrivaninha e vi minha salvação. A faca que eu estava usando para cortar o bolo no dia em que eu achei o diário! Ela ainda estava lá!

Pequei a faca e comecei a girar a tranca como as pessoas abrem parafusos quando não tem uma chave de fenda.

Para minha sorte a janela abriu.

Para meu azar, a porta também se abriu.

Ana me olhou e escancarou o sorriso por me reencontrar. Passei pela janela e comecei a descer a escada me agarrando aos galhos. Fiquei com as mãos arranhadas e sujas mas em nenhum momento eu soltei a faca. Algo me dizia que eu precisaria usá-la mais cedo ou mais tarde.

Ao tocar meus pés no chão eu olhei para cima e vi que Ana também descia pela mesma escada.

Atravessei o jardim correndo e cheguei ao portão. Esbarrei nos galhos baixos das árvores que rodeavam a casa e fiquei com os braços arranhados também. Pelo visto, se eu sobrevivesse a isso, eu teria de me segurar para não arrancar as casquinhas dos machucados ( é um vício fazer isso ) para não ficar com nenhuma cicatriz.

Cheguei ao portão, mas ele estava trancado. Então eu pulei o muro. Como os muros dessas casas antigas são bem baixos, foi fácil de pulá-lo.

- Ei! – Ana gritou para mim.

De algum modo ela me alcançara, e estava bem atrás de mim, a ponta da faca apoiada de leve em minhas costas.

- Você não precisa fazer isso – eu disse na maior voz de pânico que eu pude encenar ( o que foi fácil, pois eu já estava em pânico).

- Desculpe Alice, mas eu não posso deixar você viva.

Enquanto ela dizia isso eu pus minha faca em posição. Assim que ela acabou de falar eu virei a faca em direção a ela, tentando atingi-la com um golpe. Mas como se lesse meus pensamentos, ela desviou do golpe com facilidade.

Ela me girou de um modo em que eu ficasse de costas para ela, com sua faca na minha garganta.

- Diga adeus – ela disse.

Então por mais estranho que parecesse, eu vi Eduardo Siriam vindo em nossa direção. Ele estava de pijamas e segurava uma arma apontada para nós.

- Largue a garota Ana! – ele disse.

- Eduardo – Ana disse o nome dele como se ele fosse alguém que ela conhecesse há muito, muito tempo.

- Ei! – eu disse – porque o senhor tem uma arma? Você é apenas o cara da recepção!

- Eu sou um policial – ele disse como se isso fosse óbvio – eu estava fazendo um favor ao meu sobrinho aquele dia, ele que é o cara da recepção. Eu estava cobrindo o horário dele.

- Há...

Foi a única coisa que consegui dizer. Eu nem sei por que eu perguntara aquilo. Vai ver porque é força do hábito.

- Chega de conversa! – Ana gritou.

- Senhor Eduardo – eu disse na minha voz de repórter – foi Ana que matou as crianças, agora ela quer me matar porque eu descobri isso!

- Sua pirralha tola! – ela gritou.

Então tudo aconteceu muito rápido.

Ela pegou a faca e desferiu um golpe no lado da minha cintura. Eu comecei a ofegar e cai no chão devido à dor.

Pus a mão onde tinha um corte de uns 6 centímetros, vazava muito sangue. Senti minha cabeça rodar, eu ficava com náuseas quando via o sangue.

Assim que eu cai no chão, eu bati a cabeça. Mas eu ainda pude ver Ana indo para cima de Eduardo.

Eles caíram no chão, mas a faca de Ana e a arma de Eduardo voaram para longe. Agora eles brigavam de corpo a corpo. Levantei-me com cuidado, com a mão ainda no corte da minha cintura. Fui bem devagar até a faca e desferi um golpe na perna de Ana, que caiu no chão. Isso deu tempo para que Eduardo desse um soco certeiro em Ana e a deixasse inconsciente.

- Ela morreu? – perguntei, as palavras mal saíam da minha boca.

- Não – ele disse ofegando – mas ela vai para a cadeia, com certeza.

Desabei no chão. Eu não conseguia ficar de pé, nem conseguia distinguir a gravidade do meu ferimento. Eu vi Eduardo pegar o celular e chamar uma ambulância e uma viatura.

Eles chegaram a menos de um minuto.

Eduardo algemou Ana e a pôs na viatura. Um médico me pôs em uma maca e me ergueu até a ambulância. Nesse pequeno trajeto até a ambulância, eu olhei para a casa e vi uma coisa que ao invés de me apavorar, me deu uma sensação de paz.

Eu vi Ana, Molly e Tyler parados na porta da casa. Eles sorriam e quando viram que eu estava olhando, Elle acenou e murmurou um obrigado. Eu os vi olharem para a direita e correrem até uma luz e a abraçando. Quando a luz se materializou, eu pude ver Lorraine. Ela abraçou e beijou os filhos e acentiu, sorrindo para mim.

A imagem deles tremeluziu e desapareceu, como em um sonho.

Então eu desmaiei.

...

Quando acordei eu estava em um hospital, e havia uma enfermeira trazendo meu almoço. Ela disse que tinha alguém que queria falar comigo.

- Quem? – perguntei.

Então eu vi Eduardo entrar no quarto.

- Um amigo – ele sorriu.

Ele se sentou na cadeira que tinha do lado da minha cama e perguntou:

- Está se sentindo melhor?

- Eu só estou sentindo uma dor aonde ela me feriu.

- Você poderia me contar a história, sem poupar detalhes?

- Claro.

Contei a ele toda a história, desde quando eu cheguei lá, até a hora em que eu desmaiei na ambulância. Na verdade eu não contei toda a história. Eu editei. Eu omiti as partes em que de algum modo eu vi as crianças. Em meus sonhos e pela casa. Ao que parecia, eu havia ajudado pessoas mortas. Isso é legal. Aposto que nenhum repórter fez isso.

- Bem – ele disse – Ana foi sentenciada à trinta anos de prisão. Muito tempo.

- Ela mereceu – eu disse.

- Sim.

...

Faz um mês que eu saí do hospital.

Faz um mês que eu quase fui dessa para melhor.

Eu não sei se esta história algum dia será lida por alguém, mas eu sei que tudo isso aconteceu.

Você deve estar pensando que eu sou uma maluca por ver fantasmas, mas se eu fosse você eu tomaria bastante cuidado ao se duvidar de uma coisa dessas.

Cuidado, tem algo terrivelmente terrível atrás de você!

Brincadeira!

Bem, meu nome é Alice Swett e esta foi a minha história.


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Notas finais do capítulo

Gostaram da história??
Ficou bom o final??
Era o que vocês esperavam??
Mesmo que acabou, deixem rewies para mim ver como ficou o final do meu trabalho...
Beijos e até a próxima
Vocês são demais!!! **