Para muitos ele era apenas mais uma estrela no céu escuro, mas para aqueles que tinham a alma de criança, - que fique claro que nem toda criança tem alma de criança - ele era um garoto. Um menino eterno. Uma criança que nunca vai crescer e que sempre vivera no seu mundo de fé, confiança e pó mágico. Ele é Peter pan!

Antes o líder dos meninos perdidos não tinha preocupações ou algo que o fizesse sentir algo que as crianças não conhecem muito bem. Ele não conhecia a saudade.

Fazia anos desde a última visita de Peter à Londres e nem ele mesmo entendia o porquê de ter ido lá naquela noite. Há muito os meninos perdidos tinham saído da Terra do Nunca, para morarem com os Darling e assim poderem crescer. Mas não era por esse motivo que Peter estava em Londres. Ele queria vê-la, queria ver a garota de cabelos loiros e olhos azuis que voou com ele pela Terra do Nunca há muito tempo atrás. Ele queria visitar a bela e decidida Wendy Darling.

Voou entre as casas e torres das igrejas até por fim, encontrar a casa onde ouvia histórias de piratas, outrora.

Porém antes de chegar perto da casa, parou e se escondeu no telhado mais próximo. Na porta da grande casa dos Darling, uma garota estava de pé conversando com um menino. Ela sorria, parecia feliz.

Peter observava tudo calado. Sua expressão mudou para surpresa quando a garota depositou um beijo – que ele conhecia como dedal – nos lábios do outro. Ele não entendeu.

Quando finalmente se separaram, Peter pode fitá-la com mais atenção. Seus olhos em especial. Eram aqueles olhos azuis. Os mesmos olhos da sua Wendy. Peter não conseguia acreditar no quanto ela estava crescida!

– Sininho, veja. – disse para sua fada companheira – Será que é a Wendy? Ela está tão diferente!

Wendy entrou na casa; Ela agora tinha dezesseis anos e havia se tornado uma jovem linda e inteligente. Era muito conhecida em sua escola por nunca ter falhado enquanto líder. Todos os professores diziam que ela seria boa em qualquer coisa que escolhesse fazer.

A garota sabia que seus pais não podiam cuidar de seus irmãos mais novos sozinhos, por isso sempre ajudava em casa. Era uma menina muito organizada e por isso tinha tempo para sair com suas amigas,cuidar dos irmãos, estudar e ficar um tempo com o seu novo namorado.

Apesar de estar crescida, havia uma coisa da qual a doce Wendy nunca esqueceria: O seu Peter Pan. O menino que a tinha levado noite à dentro, voando entre estrelas e astros para um lugar que antes só existia em seus sonhos. Lugar chamado de “A Terra do Nunca!”

E desde então, sempre dormia com sua janela aberta, esperando o dia que ele viria visitá-la. Passaram-se anos, mas ela não desistiu de esperá-lo. Embora soubesse que não podiam ficar juntos, ela ansiava pelo dia que o veria de novo.

– Oh, meu Peter Pan... – suspirou ao que abria a janela de seu quarto. – Há tanto tempo desejo vê-lo. Apenas mais uma vez para que eu possa, nem que seja por um minuto, ver aquele que é dono do meu coração. Posso conhecer vários garotos e assumo até gosto de alguns, mas sei que nunca encontrarei alguém como o meu Peter.

– Até falando engraçado você está. – soltou Peter, aparecendo na janela. – Puxa, é você mesmo Wendy?

– Oh, Peter! – exclamou Wendy, mal se contendo de alegria. – Finalmente você veio me ver! Ah, como eu senti sua falta!

– Sim, eu percebi. – respondeu o menino, entrando no quarto. – Sua janela mudou de lugar?

Realmente. O quarto de Wendy agora ficava perto da sala. Ela passou a ter um quarto só seu, mas não por que seus pais obrigaram. O motivo era o simples fato de que agora haviam mais Darlings. Então Wendy, apesar de amar muito seus irmãos, se sentia meio apertada no meio dos meninos. Eles não haviam se incomodado quanto da garota dormir em outro quarto, afinal o original estava bem apertado, de todo jeito.

– Bem, eu durmo sozinha agora. – contou a Peter. – E olhe Peter! Estou até mais alta que você!

– Não se eu voar. – retrucou maroto. – Mas realmente, você cresceu.

– Só por fora, Peter. – confessou, sorrindo – Ah! Mas o que eu estou fazendo parada aqui? Tenho que ir chamar os meninos. Eles devem estar doidos para lhe ver!

Wendy ameaçou correu para a porta, mas Peter a segurou pelo braço; A menina parou sem entender o que o garoto pretendia, mas já estava acostumada com o jeito dele.

– Acho melhor não. – soltou cabisbaixo. – Não quero vê-los... Crescidos.

– Bem, acho que tenho que lhe entender. - disse Wendy meio desapontada. – Peter, como está a Terra do Nunca?

– Do mesmo jeito de sempre. – ele respondeu deitado no ar. - Lá as coisas não mudam tanto como aqui.

– Existem novos meninos perdidos? – perguntou ela, animada. - E quem sabe, até meninas perdidas?

– Acho que apareceram alguns... - comentou Peter. – Mas não sei onde estão agora. Wendy... Quem era aquele garoto lá em baixo?

– Oh! Você viu o Derek. – ela estava meio vermelha. – Ele é meu namorado.

– Namorado? – indagou Peter. – O que é isso?

Aquela inocência de Peter encantava Wendy. O garoto não mudara nada desde a última vez que o tinha visto. O mesmo jeito mandão e decidido, com um toque de inocência de criança. Ele era tão perfeito para Wendy.

– Bem, como eu posso explicar...? - começou Wendy. – “Namorado” é uma pessoa por quem você sente amor.

– Por isso você deu um dedal pra ele? – tornou a perguntar Peter, curioso. – Porque você o ama?

– Peter, eu... – hesitou a garota. – Eu não sei como explicar essas coisas para um... Um... Um menino.

– Eu sabia! – Peter se irritou. – Você não é mais minha Wendy! Você é... Uma adulta!

– Sua Wendy? – perguntou a garota. – Oh, meu Peter! Você nunca me chamou assim antes!

– Não tente me confundir. – gritou Peter. – Você agora é uma adulta e eu não gosto de adultos,e ...

Ele não terminou de falar. Estava muito ocupado aproveitando o "dedal" que Wendy tinha lhe dado. Era uma sensação que Peter não sentia há anos.

– Isso poderia ser seu para sempre. – disse ela. – Só precisava ficar aqui pra sempre.

– Meu lugar não é aqui. – retrucou Peter. – E nunca será.

– Nunca diga “nunca”, Peter. – brincou Wendy, sorrindo. – Junto comigo você verá que o mundo real não é tão horrível assim.

– Eu não vou ficar aqui. – disse Peter se afastando de Wendy. – Eu nunca vou crescer.

– Os outros gostam tanto daqui! - comentou a garota. - Sei que será feliz se ficar.

– Não sou igual a os outros. – terminou ele. – Adeus, Wendy.

Antes que a garota pudesse fazer qualquer coisa, o menino mergulhou pela noite adentro, se misturando novamente com as estrelas e as nuvens. Virando um ponto verde no meio da imensidão azul e deixando Wendy para trás.

Não era que Peter não a amasse. Ele a queria perto dele, mas daquele jeito o seu orgulho jamais poderia aceitar. Wendy, por outro lado, conhecia bem Peter e sabia que essa seria a resposta.

Ela sorriu enquanto olhava o menino sumir no céu. Deitou-se na cama, mas não fechou a janela.

Sabia que ele voltaria. Não para ficar, mas talvez para nova visita. Wendy entendia que Peter não queria, e nem poderia, crescer. Ele nasceu para ser, eternamente, o filho único da Terra do Nunca.

"Ela lhe contou histórias, ele a ensinou a voar... Amavam-se, mas ele não queria crescer..."

Frase do livro Peter Pan e Wendy