O Olhar de Um Inimigo escrita por Bellah102


Capítulo 6
Capítulo 6




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POV. Serry

Era meu oitavo dia nas cavernas. Novos quartos estava a caminho, mas até lá, eu ficaria no mesmo catre na enfermaria. Peg agora estava grávida, e ela viria apenas para inspecionar as pessoas adormecidas, e minha babá oficial se tornou o irmão dela (ou pelo menos foi o que me disseram), Jamie.

Ele me levava para qualquer lugar, e se ele não fosse tão engraçado, aposto que seria irritante segui-lo o dia todo.

- O que eu sou obrigada à fazer para ir para casa hoje?

Ele se encostou ao meu catre, onde eu estava sentada.

-Já disse que trabalhar não vai comprar a sua liberdade.

-Prefiro não acreditar em você.

-Você é quem sabe. Hoje não tem trabalho, vai tomar um banho, está fedendo.

-Obrigada. Sabe, as garotas adoram ouvir isso.

Eu disse revirando os olhos. Segui-o pelos túneis, saindo da enfermaria, passando pelas plantações onde todos que não conseguiam bater com uma picareta colhiam os frutos. Depois entramos em um corredor estreito, e mais escuro à cada curva, fui ficando com medo e minha parte alma me obrigou à procurar a mão dele.

Estava escuro mas tive certeza que um sorrisinho convencido apareceu em seu rosto, mas estava assustada demais para me importar.

-Jamie... Onde estamos indo?

Ele se virou com um sorriso que eu não conhecia.

-Seu tempo acabou.

Soltei sua mão de chofre e pulei para trás. Será que ele estava querendo dizer o que achava que queria dizer? Achei melhor não arriscar. Corri. O máximo que pude, me arranhando nas paredes de pedra a cada curva e ouvindo a gargalhada de Jamie atrás de mim. No fim do túnel tinha um buraco no qual me enfiei sem pensar duas vezes.

Bati a cabeça em algumas caixas de papelão. Tateei em volta tentando manter a calma, procurando algo. Havia sacos de arroz, letãs de feijão e ervilha, e muitas caixas.

-Serry! – Gritava Jamie – Serena! Cadê você?

Sua voz estava se aproximando. Minha metade alma estava apavorada, então deixei a minha metade humana agir. Peguei um dos sacos de arroz e assim que a sua cabeça virou o corredor, corri até ele e o acertei com um saco de arroz. A culpa me acertou, tão furiosa, que foi a vez da minha parte alma agir.

Soltei o saco com um ruído de repulsa e levei as mãos à boca, e antes que eu percebesse, lágrimas rolavam pela minha bochecha. Eu não... Não seria capaz de matar uma pessoa... Sabia que devia correr e sair dali, mas de que adiantaria? Eu não conhecia a saída e correr só despertaria suspeitas.

O sangue escorria da parte de trás da cabeça de Jamie, espalhando seu cheiro enferrujado. Corri novamente para o buraco e me escondi em uma barreira de caixas. Comecei à chorar, chorei de culpa, de saudade de casa, de medo e de birra também.

Acho que eu já estava chorando à duas horas, quando ouvi um grunhido vindo do corredor.

-Hum?

Levantei os olhos da minha muralha e lá estava Jamie, se levantando, passando a mão pelo sangue coagulado em sua cabeça. Minha parte alma ficou aliviada por ele estar viva e minha parte humana lembrou do perigo, fazendo as duas congelarem.

-Serena?!

Me escondi novamente na minha muralha, puxando outro saco para perto de mim.

-Serena, porque está se escondendo de mim? O que aconteceu? – Ele ficou um tempo em silêncio, provavelmente se lembrando do que acontecera – Ah, é mesmo. Se acalme Serena, saia daí. Eu não quero matar você...

Minha parte humana ficou desconfiada, mas minha parte alma decidiu dar uma chance à ele. Para conciliar as duas,peguei o saco de levantei da minha muralha, sentindo meus joelhos protestarem a falta de uso.

-Eu juro, que se tentar alguma coisa, eu acerto com força para matar.

Eu disse com a voz rouca e cheia de ameaças vazias.

-Não acredito que está me ameaçando com um saco de arroz

-Já acertei uma vez, posso acertar de novo.

Ele se aproximou e eu dei um passo para trás. Estava assustada e aliviada ao mesmo tempo, minha herança genética me puxava para dois lados diferentes, era insuportável. Eu queria abraçá-lo e golpeá-lo ao mesmo tempo.

-Serena, acalme-se. Abaixe esse saco.

-Abaixar?! Você queria me matar!

-Acalme-se agora. Vamos conversar. – Ele mostrou as palmas das mãos em um gesto para eu me acalmar. – Eu não queria te matar

-Eu vi seu rosto! Ouvi sua risada! Você que não se atreva a mentir para mim!

Eu gritei.

-Era um teste!   

Ele revidou. Minhas mãos amoleceram segurando o saco de arroz.

-O que?!

-Jeb e Doc estavam curiosos para saber que parte de você era mais forte, saber como era.

-Vocês que não queiram saber como é – Eu disse balançando a cabeça, minhas infinitas lágrimas voltando a rolar – É muito ruim...

E antes que eu me desse conta eu já tinha largado o saco e estava chorando no peito dele. Eu não sei o que me deu, mas foi a primeira fonte de calor que eu encontrei para me apoiar.

-Nunca... Nunca mais façam isso comigo! Nunca mais!

Ele hesitou um pouco mais por fim fechou os braços à minha volta. Era estranhamente reconfortante para ambas as minhas partes, apesar da parte humana ainda estar desconfiada. Então de repente ele começou à rir.

-Porque está rindo?

Perguntei indignada pensando que ele estivesse rindo de minha desgraça.

-É que... Esse foi o mesmo lugar que Peg ficou quando chegou aqui três anos atrás... Você sabia que ela foi a primeira alma aqui?

Ele estava tentando me distrair, e eu apreciei isso enquanto dessa vez ia realmente tomar banho. 

-Me conte essa história. Quero ouvir. 


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