O Olhar de Um Inimigo escrita por Bellah102


Capítulo 10
Capítulo 10




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POV. Jamie

            Quando Serena desmaiou e seu corpo mole e inerte caiu em meus braços, passou pela minha cabeça deixá-la ali. Ela iria para casa e provavelmente esqueceria tudo se não pelo choque, pelo tempo. Repeli o pensamento, não podiam encontrá-la. Ela era tão humana quanto eu. Eu não queria que ela esquecesse, eu não queria esquecer.

            A carreguei e saí correndo me arriscando pelo meio do deserto caso outro Buscador aparecesse. Eu não podia ir para as cavernas sem entregar à todos então corri até o lugar onde eu guardava tudo o que achava em minhas andanças pelo deserto, que não eram poucas. Entrei pela entrada estreita até a sala que eu mesmo encontrara um ano atrás.

            Sentei-me ofegante, e me encostei-me à parede. Coloquei a cabeça de Serena deitada em minhas pernas, e tirei a sua venda. Seus olhos estavam fechados e tremelicavam levemente, e ela respirava rapidamente, como se estivesse assustada.

            -Serena? – Peguei sua mão – Serry? Por favor. Preciso de ajuda.

            Como se eu tivesse dito uma palavra mágica, seus olhos amendoados e prateados estavam se abrindo.

            -Serry? Você está bem?

            Ela estava olhando em volta, confusa e desnorteada.

            -Não muito. Estou com um pouco de frio e de sede, mas afinal... Que diabos... – Seu rosto se contorceu em espanto quando ela se lembrou, seus olhos voaram para os meus, suplicando algo. – Por favor, me diga que... Não... Não posso... Eu não... Ah Jamie... Eu não...

            -Está tudo bem. Você escolheu seu lado – Agora eu sabia o que seu olhar pedia. Pedia por redenção. Sorri para ela – Muito, muito obrigada. Você... Salvou minha vida lá em cima.

            -De qualquer modo, eu sacrifiquei outra.

            Seu olhar tornou-se perdido e ela se virou de modo à ficar de costas para mim. Seus cabelos ruivos se espalharam pela minha barriga e coxas. Olhei na parede à minha frente e passei a mão no meu cabelo suspirando. Ninguém sabia que eu perambulava pelo deserto ou daquelas coisas que eu juntara ao redor dos anos.

            Depois que Sharon me liberou da escola, eu comecei a pegar coisas perto da porta e depois eu comecei à ficar mais ousado e indo mais longe, e comecei à guardar naquela sala secreta. Eu mesmo tinha feito as prateleiras.

            O anel que eu nunca achei o par.

            O guarda-chuva quebrado.

            O patinho de borracha.

            E o porta retrato que eu consertei e coloquei a foto dos meus pais. Eu me lembro do dia que tiramos essa foto. Eu estava morrendo de tédio e tinha 7 anos, minha mãe me deu uma beijo na testa e meu pai me chamou de garotão, uma combinação que me fez ficar parado. Lá estávamos nós, sorrindo para mim, eu, meu pai, Melanie e minha mãe. Eu nunca sentira tanta falta deles até aquele momento, me sentia muito sozinho ultimamente mesmo com Peg, Ian, Jeb, Mel e Jared para cuidar de mim.

            -Sente falta deles?

            Serena perguntou de repente me tirando dos meus devaneios.

            -De quem?

            -Dos seus pais.

            Olhei para ela. Tinha virado novamente para mim sem eu perceber.

            -Sim. Às vezes.

            -Foram pegos?

            Afirmei com a cabeça, a ouvi bufar.

            -Por acaso achou engraçado?

            Perguntei o gênio do meu pai transparecendo.

            -Não... Só irônico. Seus pais humanos foram pegos por almas. E eu que era uma alma, fui pega da minha mãe por humanos.

            -É hilário. Háhá.

            Ironizei. Ela se sentou, me olhando sério.

            -Não disse que era engraçado, disse que era irônico.

            Julguei que ela já estava recuperada o bastante para voltarmos ao assunto que nos levou até ali.

            -Serry... Sobre o que aconteceu lá em cima...

            -NÃO! – Ela me interrompeu gritando. – Não, não, não, não, não. Não quero ouvir... Só quero parar de pensar nisso... E esquecer...

            Ela colocou as mãos nos ouvidos, encolheu os joelhos e escondeu o rosto neles enquanto falava.

            -Desculpe... Só queria ajudar.

            Demorei alguns minutos para perceber que ela começara à soluçar. Cheguei perto e passei o braço por seu ombro e dei-lhe um abraço apertado. Ela ficou ereta e correspondeu ao abraço.

            -Por quê?

            Ela perguntou, de repente, com a cabeça em meu peito.

            -Porque o que?

            -Porque escolhi ficar a vir? Porque escolhi vocês a eles? Porque o matei e não à você?

            Tentei não ficar ofendido com a última pergunta.

            -Eu não sei Serena. – Eu disse afastando um cacho de cabelos ruivos de seus olhos – Só sei que vai ficar tudo bem. Porque você escolheu o lado certo da história. O lado vencedor.

            Ela levantou os olhos completamente prateados e cheios de lágrimas para os meus e isso me encheu de desgosto, e meus instintos me fizeram fazer algo que normalmente eu não faria, algo que eu havia acabado de descobrir e não faria nem em meus maiores sonhos.

            Eu beijei a minha melhor amiga.

            E eu estava apaixonada por ela.

            -Oh Jamie...

            Meu nome. Foi o meu nome que ela sussurrou enquanto nos beijávamos. Ela deu um risinho de prazer e continuamos. Enrosquei meus dedos em seus cabelos, e a puxei para perto, ansiando tudo o que eu precisava desesperadamente e não sabia que queria, minutos atrás;


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