5 passos para eu (Poseidon) irritar Atena

Olá, eu sou Poseidon. Bom, todos sabem que eu e Atena, a deusa da sabedoria – pra quê sabedoria, meu deus, se você pode pegar garotas só com charme? - temos uma rixa, né? E todos sabem que eu sou muito sexy também, né? Mas todos sabem que eu estou sempre em cima de Atena pra tentar pegar a mulher, mas a cabeça de coruja fica fazendo doce, né? Só que não são todos os que sabem que eu realmente adoro estressá-la.

O dia que você ver a expressão de Atena ao ser pega numa pegadinha, você vai se matar de rir. Ela fica muito puta, sem falar no tamanho da indignação. Digamos que ela fique achando uma “puta falta de sacanagem” não saber/descobrir alguma coisa. Como eu já disse, sabedoria é uma coisa dispensável.

Mas hoje eu vou fazer uma coisa especial. Hoje eu vou me vingar dela por nunca querer me pegar. É por isso que ela é virgem; porque é mal-comida. Aposto que um monte de gente se oferece pra ela, mas quem diz que ela aceita? Hum.

Hoje é aniversário de Atena. E a minha sobrinha linda vai ser vítima de uma grande pegadinha e depois vai finalmente perceber que eu sou tudo o que ela mais pode querer nessa vida e que eu sou lindo e que ela me ama e que eu sou gostoso e... cara, acho que você já entendeu.

Acontece que eu e Atena estávamos juntos, mas ela me parou de falar comigo há uma semana, dizendo que estava com saudade de ser uma virgem puritana. Eu, é claro, não posso aceitar um pé na bunda tão fácil. Agora, no melhor e maior estilo deus – do melhor deus, vale ressaltar – eis os 5 passos para eu, Poseidon, irritar Atena.

Primeiro passo: a biblioteca.

Como eu já devo ter mencionado antes uma vez ou outra, Atena é deusa da sabedoria. E, como deusa dessa coisa dispensável, ela precisa conseqüentemente – usei uma palavra bonita: 1 ponto pro gostosão aqui! - de coisas dispensáveis como: livros, caneta, livros, blocos de anotações, livros, camisinhas, livros... bem, você me entendeu. E sim, provavelmente ela não vai usar a camisinha porque ela é virgem e toda essa coisa de gente mal-comida, mas é uma coisa dispensável, não é? Quer dizer, depois de usar, a gente joga no lixo e... ah, esquece!

Por motivos acima citados, eu optei pelos livros ao invés das camisinhas. Coloquei todos no meu reino – que é o melhor reino, assim como eu sou o melhor deus, é claro *sorriso colgate – para escavar, triturar, trucidar, amassar e todos os outros “ar” possíveis de baixo do mar – viu só, sou melhor do que Apolo nas rimas! Fuck Yeah, dois pontos pro deus dos deuses! - a terra por ali e achar pergaminhos protegidos, ou placas de pedra com coisas escritas ou até o exemplar mais velho do Kama Sutra ou da revista playboy.

Eles conseguiram relíquias bem valiosas... eu acho. Quer dizer, eu li a primeira linha do primeiro pedaço de pedra e fiquei entediado, então acho que Atena vai adorar o negócio. Eu pedi pra uma tiazinha lá do mar embalar tudo pra mim, porque eu sou péssimo com essas coisas femininas. Normalmente eu só pego as mulheres e pronto, mas como Atena é anormal e gosta de coisas dispensáveis e tediosas, eu tenho que fazer uma forcinha.

Agora que você já tem o seu presente pronto, você terá de convidá-la a algum lugar. E isso nos leva ao segundo passo.

Segundo passo: o convite.

Atena pode ser uma virgem tediosa, mas ela não é burra – é claro que não, ela é a deusa da sabedoria! -. Precisa de mais do que alguns pedaços de papel e pedra para aceitar um convite. Eu, é claro, pedi uma ajudinha à minha outra sobrinha querida – só que essa não é nada tediosa e é muito-mais-bem-comida-do-que-deveria-ser – Afrodite. Ela me deu um casaco de pele de puma para que eu desse de presente para Atena.

É, deve ser melhor do que a coruja empalhada chamada Meretriz que eu dei para Atena no ano passado. Depois de ela enfiar minha cabeça num vaso de cerâmica imensa, eu aprendi que não era legal dar uma coruja empalhada para uma pessoa cujo símbolo é uma coruja. E que é pior ainda dar o nome da coruja de Meretriz quando a dona dela é uma virgem. Mas isso, meu amigo, é outra história.

Para o passo “convite”, serão necessários 5 itens. Vamos ao primeiro.

Primeiro item: ter curso superior de teatro.

É, meu amigo, isso é obrigatório. Se eu chegasse lá com a minha típica expressão de cafajeste, o fora seria instantâneo – outra palavra bonita, três pontos pra mim! -. Por sorte, uma eternidade é tempo o suficiente para que você tenha aulas de teatro o bastante para desenvolver características indispensáveis para o passo “convite”: sorriso tão inocente que dá vontade de vomitar, humildade fingida e olhos brilhantes que fazem você aceitar qualquer coisa não-importa-o-quão-ruim-ela-seja.

Segundo item: presente.

Eu já garanti os meus porque eu sou fodão e tenho um reino inteiro para escavar, triturar, trucidar, amassar e todos os outros “ar” possíveis de baixo do mar quando eu desejar – acrescentei uma palavra, fuck yeah! Eu sou demais! - e achar coisas chatas. Sem falar que você precisa ter outra sobrinha gostosa que entenda de coisas-chatas-e-sem-necessidade-que-as-mulheres-costumam-gostar. Bem, eu tenho essa sobrinha e conseqüentemente, tenho o presente que ela pode prover.

Terceiro item: lugares.

Como eu devo ter dito antes uma única vez, Atena é a deusa gostosa da sabedoria, então não é burra – mas por conseqüência é bem tediosa – e aceita só os melhores presentes. Mas, assim como seus presentes têm que ser excepcionais – nossa, hoje eu estou de matar! Devo ter engolido um dicionário ontem à noite... como eu disse, eu sou o melhor. -, os lugares que você a levará tem que ser melhores ainda. Reservas no melhor restaurante do mundo – porque nós deuses gostosões podemos passar de um lugar para o outro em segundos – e uma sala de cinema inteira reservada só para os dois são coisas que podem ajudar. Mesmo que a sala de cinema seja alugada para rodar documentários irritantes e filmes mudos.

O que nos leva ao 4º item.

Quarto item: dinheiro.

Porque, meu amigo, com uma mulher difícil dessas você precisa ser rico para pagar tudo. Por mais que eu deteste admitir, dólares de areia não adiantam nada nessas horas. Portanto, sendo rico, você já se garante pelo menos até o quarto item, não é? Mas eu não gosto muito de concorrência, o que me fez elaborar o 5º item.

Quinto item: seja o deus dos mares.

Acho que você não é o deus mais lindo-e-gostoso-e-tudo-o-que-há-de-bom-no-mundo, não é? E muito menos que você é o deus dos mares. Então, cai fora, playboy! Essa mina é minha.

Tendo tudo isso em mãos, você estará pronto para fazer o convite. Use principalmente o curso superior de teatro, porque com isso, meu amigo, você vai fazer o convite parecer estupidamente inocente e nada vingativo. Coisas que ele, é claro, não é.

E, então se prepare para a parte mais fácil: achá-la. Você não precisa nem ser um deus para saber que ela vai estar na biblioteca. Deusa das coisas dispensáveis, lembra? Peguei um buquê de flores e fui até a biblioteca de Atena. Ao me perceber lá, ela ergueu seus olhos cinzentos para mim e fez uma carranca.

Fiz uma excelente versão em slow motion de correr e abraçá-la, mas tive que ter cuidado para não imaginar a praia ao redor, porque aí provavelmente a biblioteca dela viraria uma praia e aí minha vingança estaria perdida. Se concentre em outra coisas, Poseidon, eu me obrigava.

E então, use seus melhores estímulos para não se lembrar de praias: mulheres gostosas, vingança, as mulheres gostosas estão tirando a roupa, vingança, Afrodite gostosa, vingança, Afrodite gostosa tirando a roupa, vingança, Atena gostosa, vingança, Atena gostosa tirando a... Ai, minha cabeça. Acabei de perceber que Atena saiu do meu caminho e eu bati de cara numa de suas estantes. Bem, lembre-se de não se distrair muito com as distrações. Porque, mesmo sendo distrações, elas podem te fazer perder a vingança - e a cabeça também.

-O que você quer, Poseidon? - ela perguntou enrugando as sobrancelhas daquele jeito fofo e sexy que faz quando está confusa e/ou com raiva. Eu queria que ela estivesse só confusa, pois aí seria mais fácil fazer o convite e a vingança e depois tê-la em meus braço dizendo que... ah, você já sabe! Não me faça repetir.

-Vim te fazer um convite – disse utilizando o item “curso superior de teatro” e entregando-lhe um buquê de flores. - Afinal, é o dia do seu aniversário. Você precisa se distrair um pouco, não é?

Ela largou o livro que estava segurando numa poltrona, suspirou e murmurou:

-É, pode ser uma boa mesmo. Quer dizer, eu preciso descansar e... ei, espera aí: o que te faz pensar que eu sairia com você?

Eu podia ter respondido a verdade: “porque eu sou lindo, gostoso e sedutor e você me ama”, seria a resposta. Mas temos que nos lembrar que eu estou aqui para fingir que o que será feito é a vontade dela. Então, optei por simplesmente estalar os dedos. Ao fazer isso, o casaco de pele de puma vestiu os braços nus de Atena e um tanto de pedaços de pedra tediosos e sábios que são totalmente dispensáveis surgiram ao redor dela. Eu ganhei a garota com isso.

-Uau, Poseidon, eu... eu não sei como agradecer. Tudo isso é tão bom e valioso e... o que posso fazer para te agradecer?

-Aceite meu convite, é claro.

Ela sorriu e assentiu, dando-se por vencida. Ah, sim, isso nos leva ao terceiro passo.

Terceiro passo: a aparência.

Quando eu digo aparência, não são só as roupas. Bom, as roupas também, é claro. Mas você tem que estar bem velho e clichê. Nada de jeans e camiseta, ou bermuda e peitoral gostoso nu. Nada de havaianas ou papetes. Você tem que usar terno, sapatos sociais e colônia francesa. É, eu sei, viado pra caralho. Mas tudo em nome do bem maior – o que viria para mim, é claro.

Quando Atena e eu descemos da biblioteca chata, fomos direto para o meu novo carro. Era um lamborghini azul super potente, que parecia ter saído do próprio mar – o que, é óbvio, foi o que aconteceu. Atena franziu as sobrancelhas naquela caretinha sexy e eu soube que tinha que trocar aquilo o mais rápido possível.

Pensei no mar e em mulheres gostosas no meio dele, tirando as roupas. E, no meio das mulheres que estavam no meio do mar, estava Atena tirando a roupa. Com isso, o lamborghini foi tomado por água do mar. E aí eu imaginei um daqueles carros antigos e pretos sem sal e em um monte de corujar e cavalos marinho presos em rédeas ligadas ao carro. Pronto, lá estava a viadice, tédio e breguice totais.

Atena abriu um sorriso de criança e seus olhos brilharam ao ver toda aquela tralha da época dos dinossauros. Ainda bem que ela se contentou com aquilo, porque eu não tinha ideia do que mais pendurar pra deixar aquele troço mais velho. Talvez uma carcaça de dinossauro.

Isso me fez aprender outra coisa sobre Atena: não adianta ter um carro foda ou roupas do século XXI. Você precisa fazer tudo no maior estilo gay-apaixonado-do-século-passado. Depois do passo “aparência” ter sido cumprido, vamos ao quarto passo.

Quarto passo: a conquista.

Enquanto atravessávamos o céu num carro de sei-lá-quantos-séculos-atrás puxados por corujas e cavalos marinhos voadores, eu tinha que partir para o passo da conquista. Este passo, assim como o segundo, exige alguns itens.

Primeiro item: a conversa.

Vamos nos lembrar que estamos conquistando Atena, uma virgem tediosa que nega que ama o deus mais gostoso e fodástico de todos. Então, nada de conversa sobre coisas indecentes ou coisas que conquistariam mulheres normais. Converse com ela sobre como corujas são adoráveis, como os livros são essenciais para a formação do caráter – a mentira mais deslavada de todas; eu nunca terminei de ler um livro sequer e estou aqui, com esse caráter maravilhoso! -, como ela faz as melhores estratégias de batalha – outra mentira; quem derrotou Tifão?, eu; quem derrotou um titã sem a ajuda dos outros deuses?, acho que fui eu também; há! - e como sua faca de bronze combina totalmente com seus olhos cinzentos e seus cabelos loiros.

E, é claro, ria de todas as piadas sem graça que ela soltar. Foram pelo menos cinco naquela noite, entre elas:

-Como Zeus se despede dos outros? Azeus! Entendeu? Azeus? Aushuahsuashahu'

-Um átomo instável com 9 elétrons na última camada deu um elétron para um átomo instável com 7 elétrons na última camada. Os dois ficaram estáveis e o que antes tinha 7 perguntou: como você está agora? E o que antes tina 9 respondeu: positivo. Entendeu? Ele perdeu uma carga negativa, então ficou positivo. Entendeu, Poseidon? Kkkkkkk

Eu, é claro, ri de tudo. É, meu amigo, a vingança pode ter uma trilha dolorosa, mas no final vai valer à pena.

Segundo item: a aproximação.

No restaurante, puxe a cadeira para trás para que ela possa se sentar. Abra as portas do carro para ela. Pague a conta. Pague a comida do cinema. Diga que os olhos dela são os mais bonitos do mundo. Coloque o braço em torno dos ombros dela e não tente nenhum outro tipo de contato físico.

Nesse quarto passo, ela já deve estar caidinha por você. O que nos leva ao melhor passo de todos: o quinto.

Quinto e último passo: a vingança!

O melhor passo, mas o qual você precisa estar mais cheio de frieza. Você não pode fracassar ao escolher o último passo. Tudo deve ser calculado nos mínimos detalhes: o lugar, o como vai acontecer, tudo. Ares me disse uma coisa pior do que a outra. Eu decidi me encher de sadismo e loucura sozinho, porque se eu fizesse com Atena tudo o que ele me disse, ela provavelmente ficaria em estado vegetativo por pelo menos 20 anos.

Para executar a minha escolha, pensei numa única coisa: qual era a pior coisa que uma virgem puritana poderia querer? Deixar de ser virgem e puritana. Então um estuprador louco era a melhor opção. Infelizmente, eu não seria o estuprador louco. Eu teria que ser o salvador da pátria, lembra? O estuprador louco estava a postos.

Mas, antes de Atena seguir para o local em que o contratado estava, ela se virou para mim e sorriu. Colocou a mão em meu ombro e murmurou:

-Foi a melhor noite de todas, Poseidon. Muito obrigada por tudo.

E então me beijou. E, pela segunda vez, devo acrescentar que ela é muito selvagem para uma virgem. Eu podia ficar ali parado, tentando me lembrar do meu nome enquanto murmurava coisas muito inteligentes como “morsas... são... tão... sexies”*. Mas aí eu lembrei que tinha um estuprador louco pra pegar a minha sobrinha virgem gostosa que eu amava e queria pegar.

Corri atrás dela e gritei:

-Atena, não!

Mas, quando cheguei lá, só a encontrei rindo junto com o estuprador louco. Eu não estava mais entendendo nada. E então eu encarei com uma cara de “WTF?”.

-Sabia que você tentaria nos aproximar com uma vingança que obviamente tentaria me estressar. Eu só estava fazendo doce, Poseidon. Eu nunca te deixaria de verdade por nada. Mas, mesmo assim, eu adorei a noite e os presentes. Ah, e deixe-me te apresentar: esse aqui é o meu filho Malcom, ele tem curso superior de teatro. E, no final das contas, fui eu quem te estressei, não é?

Eu estava com uma cara de peido. De pum no pote. De orifício anal. Ou como você quiser chamar a cara mais perplexa do mundo. Esse tempo todo eu gastei dinheiro e fiz tudo aquilo quando na verdade a vingança seria contra mim. Foi aí que eu percebi que talvez a sabedoria tivesse alguma utilidade, mas que não seria ela a conquistar Atena. Agarrei a cintura dela e murmurei:

-Eu te amo, garota.

Ela sorriu e retrucou:

-Não mais do que eu te amo.

E aí, nós nos beijamos. Isso me lembra de uma coisa. Quando você for tentar conquistar uma filha de Atena – sim, porque a mãe já é minha – só vá até o quarto passo. Ela sempre saberá o quinto passo e você só vai acabar humilhado. Mas, no final das contas, a vingança acabou sendo muito, muito doce.