Depois de alguns minutos o táxi nos deixou no Times Square. Pagamos o motorista e saímos do carro. Felizmente haviam poucas pessoas no local. Os grandes painéis e telas que faziam anúncios estavam apagados e apenas três lojas estavam abertas, dando um ar de desânimo ao lugar. Colocamos as gaiolas no chão e olhamos à nossa volta. Aquele lugar monótono que observávamos era, à noite, um lugar animado e agitado. Tudo ali ficava iluminado, as lojas ficavam abertas até tarde, restaurantes enchiam e turistas se maravilhavam com a vista. Mas, ali, de dia, era apenas um lugar comum de Nova York.

     ̶ O que temos que achar aqui? ̶ perguntou Megan.

     ̶ O elmo, a chama e o caduceu ̶ respondeu Jamal ̶ Mas não acho que vai ser fácil.

      ̶ O importante é achar os objetos e estar de volta ao acampamento ao meio dia ̶ eu disse ̶ Portanto, se começarmos agora e nos separarmos ganharemos tempo. Megan, você cuida das gaiolas e das mochilas. Bailey, pegue sua lança e Jamal, sua espada. Quem precisar de ajuda é só gritar. Vamos!

     Assim nos separamos e cada um entrou m uma loja, estando ela aberta ou fechada. Minha irmã se sentou em um banco de espera do lado de fora de um restaurante com as gaiolas e as mochilas. Eu entrei em uma farmácia aberta e comecei a procurar o caduceu. Procurei a loja inteira e não percebi que o caixa, a única pessoa na farmácia além de mim, me olhava estranhamente. Eventualmente ele começou a me ignorar e pegou uma revista para ler. Eu procurei e procurei até perceber um barulho dentro de minha cabeça:

      ̶ Será que aqui não tem ratos? ̶ disse uma voz masculina familiar ̶ Estou com muita fome.

       ̶ Fique quieto, George. Logo alguém nos tira daqui ̶ disse outra voz familiar.

      Segui as vozes até encontrar em um canto escuro uma estátua de um médico segurando um caduceu com duas cobras.

       ̶ Martha! George! ̶ eu gritei, dando um susto no caixa que lia sua revista tranquilamente.

       ̶ Garoto! Tire-nos daqui! Ah, e você trouxe ratos? ̶ perguntou George.

       ̶ Não há tempo para isso ̶ replicou Martha ̶ Temos que sair daqui!

       ̶ Está bem, mas não consigo tirar o caduceu ̶ eu disse, tentando puxar o caduceu da mão do médico, mas sem obter sucesso ̶ O caduceu está grudado. Já volto.

      Assim saí correndo da loja e comecei a procurar Bailey. Com sua lança poderíamos separar o caduceu da estátua. Esperançosamente. Eu a encontrei vasculhando a loja do Hard Rock Cafe.

       ̶ Bailey! Preciso da sua lança! ̶ eu gritei.

       ̶ Para quê? Você encontrou algum objeto? ̶ perguntou ela desconfiadamente.

       ̶ Encontrei o caduceu, mas ele está preso em uma estátua. Vamos!

      Ela me seguiu até a farmácia e assim que entramos o caixa subiu para o andar de cima por um lance de escadas que eu não havia notado. Nos dirigimos ao canto onde estava a estátua e Bailey quebrou a conexão entre o caduceu e a mão do médico.

        ̶ Obrigada, filha de Ares ̶ disse Martha.

        ̶ Ela poderia ter trazido um rato ̶ reclamou George.

        ̶ Como ela sabe que... ̶ perguntou Bailey, incrédula.

    Quando eu ia responder, ouvi um grito vindo do lado de fora. Era Megan. Sua voz não parecia nem um pouco urgente, mas eu e Bailey agarramos o caduceu e corremos para a rua. Encontramos Megan de pé, olhando para um boneco em cima de uma loja de brinquedos, usando um elmo preto. Não sabia como iríamos subir lá, então chamei Jamal, pois era mais provável que ele saberia o que fazer.

      ̶ Jamal! Jamal,venha aqui! ̶ gritei.

      Depois de alguns segundos Jamal saiu correndo de uma loja de roupas, seguido por uma garota de boina cor-de-rosa e roupas de grife. Os dois pararam junto a nós e percebi que havia alguma coisa errada.

       ̶ Um monstro. Parece... Parece uma mistura de... Um homem e um... Touro ̶ disse Jamal, coma respiração ofegante.

       ̶ Aidez-moi!S’il vous plâit!Qui est ce monstre!? ̶ disse a garota atrás de Jamal.

       ̶ Calmer! Hã... Je... Je ne parler pas français... Parlez-vous anglais? ̶ disse Megan.

      ̶ Oui. Quero dizer... Sim. Sou Jolie e sou filha de Afrodite. Sou francesa e minha mãe ma mandou para um acampamento, mas me perdi e cheguei até aqui ̶ disse Jolie.

      Quando a francesa terminou sua fala, um monstro saiu da loja de roupas. O Minotauro.  Ele tinha uma chama em sua mão esquerda, a chama de Héstia. Pelo visto, teríamos de enfrentar meu velho inimigo e achar um jeito de subir até o boneco. Assim que me viu o Minotauro começou a correr em nossa direção, com seus chifres apontados para mim. Eu saquei contracorrente e me preparei para a batalha. Megan puxou Jolie para o banco onde estavam as nossas coisas e disse para ela ficar lá. Bailey também preparou sua lança, enquanto Jamal despistadamente tirava um gancho se sua mochila. Ele jogou o gancho, que se enrolou no pescoço do boneco. Jamal ia subir pela corda do gancho. O Minotauro continuava a vir em minha direção e, como se estivéssemos em uma tourada, desviei antes do impacto. Bailey tentou atacá-lo, mas ele desviou e pegou a lança da filha de Ares, quebrando-a ao meio. Ao ver sua lança esmagada no chão, os olhos de Bailey ficaram vermelhos e ela fumegava de raiva. Ela pegou uma espada que Megan havia trazido e começou a lutar com o Minotauro. O monstro desviava cada ataque da guerreira, que mesmo estando em desvantagem continuava lutando. Ao ver que a luta demoraria a acabar, fui ver como Jamal estava indo. Ele já alcançava o boneco e tinha um sorriso determinado no rosto. O filho de Hefesto continuou subindo até alcançar o elmo e retirá-lo da cabeça do boneco com um sorriso triunfante. Ao me virar para ver como Bailey estava se saindo, me assustei. O mostro havia o pescoço da guerreira em uma de suas mãos, enquanto segurava a chama com a outra. Ele apertava o pescoço de Bailey e ela estava quase morrendo, até que conseguiu reunir forças e cortou a cabeça do Minotauro, que explodiu em pó de monstro. Bailey caiu no chão e fomos socorrê-la. Ela estava desmaiada e não respirava direito. Megan foi até a farmácia e comprou um pouco de água, para ver se conseguiríamos acordar a filha de Ares. Enquanto os outros cuidavam disso, peguei a chama que estava no chão e ao levantar percebi que alguém estava me observando. Era alguém com uma capa e um capuz vermelho. Me aproximei, tentando parecer que não havia visto ela, mas assim que cheguei mais perto a pessoa começou a correr. E eu corri atrás.

         ̶ Ei! Espere! Não fuja! ̶ gritei.

        O grito de nada adiantou. A pessoa continuou a correr e quando virou uma em uma esquina desapareceu. Em seu lugar havia uma carta com um envelope preto e um carimbo vermelho-sangue com a letra N. No envelope estava escrito: Para Percy.