Segredo Familiar. escrita por mokoli-me


Capítulo 17
O fim.




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O fim.

Completaram-se três meses. Talvez esse seja o fim do caminho para Juliana.

No jogo da vida tudo acontece espontaneamente, um não pode morrer por querer salvar a vida do outro. Mas um pode morrer para se salvar.

Infelizmente não temos o controle sobre as enfermidades que nos atingem e nos tiram a vida em tão pouco tempo. Hoje eu estou rindo e cantando, amanhã eu estou em uma cama de hospital chorando. A vida é imprevisível.

Nosso caminho é curto, não sabemos o quanto, por isso devemos fazer o máximo para aproveitar o tempo que nos resta. Não digo viver cada minuto como se fosse o último, mas viver cada minuto como se ele fosse durar para sempre.

Quando não temos escolhas tudo fica mais difícil. Aliás, quem disse que a vida é fácil?

[Isabela on (!)]

Aqui eu de novo. Acordei deste sono terrível. Sim, sou eu.

Fiquei sabendo que tudo finalmente deu certo. Não há mais espaço para tanta felicidade. Eu sei de tudo mesmo. Quanto tempo se passou!

No meio de tanta felicidade, uma pontada de insatisfação me atinge. A Juliana está muito, muito mal mesmo, e eu não posso nem visitá-la. E saber que eu sou a única no momento que posso salvá-la, isso é horrível.

Uma pergunta fica no ar: será que depois de tudo o que se passou eu vou conseguir ter uma vida melhor, normal e feliz?

Bom, isso eu vou descobrir com o tempo. Tudo que eu quero é sair daqui e me sentir livre de um grande peso nas costas.

Já falei com meu pai, já falei com o Bruno, com os policiais e com todo mundo que veio me visitar. Acordei ontem e hoje estou sozinha para me recuperar melhor, sem cansar com os outros falando comigo.

Hoje eu não acordei muito bem, minha cabeça está doendo muito. Eu estou com muita dor mesmo, uma dor maior do que quando eu me cortei.

Eu não sei se eu realmente queria ter uma vida, eu só queria que tudo ficasse bem. Eu só queria que meu irmão pudesse descansar em paz.

A paz e o amor nunca vão caminhar juntos. Assim como a paz nunca irá ser universal.

Eu estou ofegante, meu peito está doendo, minha respiração falha. Estou sem voz para chamar alguém. Prefiro ficar aqui e conviver com a dor do que dar mais preocupação para os outros.

O que tiver que fazer em sua vida, faça, pois ninguém mais fará. Se eu não estivesse tomado a iniciativa de juntar as provas, nada disso teria acontecido, toda minha família viveria mascarando uma grande mentira.

Nós temos momentos felizes, mas não temos a felicidade, nós temos momentos tristes, e temos a infelicidade, é uma injustiça sem fim.

O que será de mim daqui para frente? Eu nunca vou esquecer o que aconteceu. As marcas em minha alma, na minha mente continuarão vivas a cada segundo, me atormentando. Eu não quero viver desse jeito.

Há coisas que por mais que nós desejamos não se concretizam. Há coisas que nós conseguimos rápido e outras que levam uma vida inteira. A coisa que eu mais queria demorou a se concretizar pelo meu ponto de vista, sendo assim levou uma vida inteira.

Se eu tivesse escolha entre viver e morrer eu escolheria viver, mas a vida é repleta de escolhas, e aquela que você mais quer não lhe é possível.

A dor cada vez mais invade meu coração, meus batimentos caem. Talvez eu esteja indo para um lugar distante. Lágrimas de desespero enchem meus olhos.

A vida é curta, os desafios são longos e tudo isso é uma grande injustiça, mas vivemos nisso por causa de nosso pecado ou por causa do pecado de outros. Não digo especificamente o pecado de minha mãe, mas o pecado daquelas pessoas que não tiveram compaixão diante de Cristo e até hoje pagamos por isso.

Se me fosse possível chorar lágrimas de sangue, isso eu faria, mas eu aproveito com o que tenho e não faço por onde reprimi-las.

Há coisas fantásticas na vida que talvez eu nunca chegue a conhecer, mas o meu caminho até agora me provou que eu já conheci o bastante para saber que coisas tão boas não são.

Nascemos, crescemos e morremos. Estudamos, trabalhamos e temos momentos felizes. Sofremos, vencemos e partimos. Um caminho sem coisas novas ou grandes feitos.

A dor parece me diminuir, eu acho que estou... morrendo.

Se minha mãe melhorasse e me pedisse perdão eu não mudaria meu ponto de vista e continuaria a dizer NÃO todas as vezes que ela o fizesse.

Nós devemos amar aqueles que nos correspondem, não devemos ficar presos a uma só pessoa na esperança de que ela nos ame também. Pode parecer ingratidão, mas não é, é apenas o fato de que nós temos uma vida, da qual devemos viver intensamente.

O meu maior ato de compaixão, não foi ter feito justiça, mas ter escolhido a opção de salvar vidas. A minha talvez não seja mais possível, mas a de outras com certeza é.

Eu me considero a pessoa mais sortuda do mundo, pois uns querem morrer para se verem livres da dor, já eu sinto dor, mas estou em direção à morte, que vai me trazer paz finalmente.

Eu acredito que eu vá viver em outro mundo depois desse, eu acredito que qualquer outro mundo é melhor do que esse, mas é o que temos em quanto vivemos.

A morte não deve ser tão mal, aliás, não percebemos quando já morremos.

A liberdade é o que eu mais cobiço e com a morte eu vou conseguir isso, vou me ver livre de toda a maldade, de toda crueldade que o mundo tem a oferecer.

Eu estou na escadaria para o paraíso, isso não é maravilhoso?

Não, eu estou colocando panos macios em uma situação difícil. Não é legal ver que você está morrendo e não poder fazer nada. Não é nada legal saber que outra pessoa depende de que você morra para sobreviver. Não é legal ter que morrer agora, não é legal ser quem eu sou.

Daqui a um tempo eu vou ser só uma lembrança, uma foto com cheiro de guardada, cinzas. Tudo que eu fiz vai ser totalmente insignificante para a morte. Eu vou ser um nada.

Saber que pessoas vão chorar pela sua morte e lamentarem por não terem te conhecido melhor ou ter lhe dedicado mais tempo, é simplesmente horrível.

O dia não está bonito, as flores no meu quarto estão murchas, a vida ao meu redor está cada vez mais precária. O mundo está perdendo a cor para mim. Nem o cheiro mais doce poderia mudar o sentimento de pânico que eu sinto agora.

Eu não quero morrer sofrendo, eu já sofri demais, se isso tiver que acontecer eu quero que seja uma morte bem lenta e sem dor. Eu pareço sempre pedir o impossível. O que fazer quando o fim está próximo?

Se você estivesse para morrer em alguns minutos o máximo que você poderia fazer seria lamentar, se auto-consolar, ou deixar escritos para algum parente. Se bem que a última opção parece ser a mais desesperadora de todas, pois a pessoa que você está dedicando a carta terá mais tempo que você, seus minutos estão se esgotando.

Por que comigo? Por que eu tenho que morrer agora? Eu dei o meu máximo para nada, eu fiz algo significante para várias pessoas, mas não para a morte que insiste em me levar.

Eu não dependo mais de um milagre, eu já acordei, só me basta ficar com os olhos abertos e só fechá-los quando realmente chegar a hora.

Entre viver sofrendo e morrer quando se é tão nova qual é a melhor opção? Se bem que não sou eu quem decide.

Assim como Bryan não conseguia falar com a cabeça dentro da água eu não consigo gritar quando tenho tão pouco ar.

Se eu pudesse escolher algo, escolheria apenas não ter nascido, pois assim eu nunca teria que passar por essa situação, nem pelas outras que aconteceram ao longo da minha vida.

Atrás da porta há paz, mas eu sei que não haverá lágrimas também. Paz talvez não seja sinônimo de felicidade, talvez paz seja sinônimo de harmonia e solidão.

A dor invade no meu ponto fraco, a minha cabeça que agora pega fogo de tanta dor, meu corpo está em chamas.

Adeus às coisas boas, adeus às coisas ruins, tudo a minha volta não me pertencerá depois da minha morte.

Eu nunca tive o direito de opinar sobre a minha vida. Pela primeira fez eu digo que quero ficar aqui, eu não quero ir para um lugar melhor. Eu me adaptei às regras mundanas, minha mente está acostumada a sofrer, eu não quero ter paz antes de ter uma vida.

─SOCORRO!

Por favor, eu imploro, eu não quero morrer, não agora. Eu quero uma chance, apenas uma chance de ser eu mesma, de poder mostrar ao mundo que eu sou uma vitoriosa, de poder ser feliz, ou ter momentos felizes, que seja, eu quero viver!

Vejo os médicos entrarem correndo no quarto e o meu pânico só aumenta. A única coisa que penso é:

‘Basta um milagre e você tem a sua vida de volta, basta encarar a morte de perto e você realmente dará valor ao que é viver’.

Naquele instante ela estava ali, mas a vida é imprevisível, não há luta que impeça a morte. Nosso destino já está feito, basta traçá-lo.

A vida que antes era implorada naqueles minutos agora é levada.

Basta um toque da pessoa que te ama e você pode acordar. Basta um toque da pessoa que te ama e você esquece qualquer dor. O amor move montanhas e salva vidas. Basta que a pessoa que te ama esteja viva.

MMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMM

Hora da morte: 23h23min.





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Notas finais do capítulo

É isso aí, acabou.
Mas ainda falta o epílogo.