“Tornar o amor real é expulsá-lo de você,
Prá que ele possa ser de alguém!

(...)

Os pensamentos que preferem calar,
Se não, irá nos ferir um não -
Mas quem não quer dizer tchau.”
Nando Reis

Respirei um pouco mais aliviada, quando eles partiram, mas algo ainda estava me deixando inquieta. Queria e precisava muito ver Jacob.


Edward me abraçou e me pegou em seu colo. Sei que o momento não era adequado, mas precisava pedir.


- Preciso ver Jake, saber se ele está bem… - Disse apenas alguns minutos depois dos Volturi desaparecerem pela névoa ondulada, em um sussurro.


- Carlisle irá cuidar disso. – Ele disse tomando a direção oposta de Carlisle.


- Não. Eu preciso vê-lo agora – Minha voz saiu mais firme.


Edward reduziu os passos para me por no chão.


- Eu preciso, por favor – supliquei.


Ainda que contrariado, Edward me deixou ir com Carlisle. Sabia que de certa forma, isso o tinha magoado, mas minha mente não estava trabalhando bem. Algo em mim, muito mais forte me impulsionava a correr em direção a La Push, somente lá eu encontraria sossego para o meu coração.

Carlisle foi quem me levou até La Push, Edward não quis seguir ao nosso lado, disse apenas que esperaria ansioso o meu retorno, desejou que Jacob ficasse bem.


Uni nossos lábios rapidamente antes de finalmente entrar no carro, onde Carlisle esperava pacientemente.


Ele dirigia cautelosamente, mas ainda sim era rápido suficiente. Era suficientemente rápido para que minha mente não entrasse em pânico com o tempo. Ao chegarmos na casa, os lobos todos estavam na porta de entrada. O clima era sombrio e tremendamente triste, tal como um velório.


Meu corpo se arrepiou por inteiro ao encontrar o olhar frio e ameaçador de Leah. Ignorei. E acabei encontrando o rosto marcado por lágrimas de Billy. Seu rosto estava desfigurado pela dor, seu olhar encontrou meu rosto e logo se dirigiu a Carlisle em um apelo silencioso de que ele pudesse reduzir o sofrimento de Jake.


Os gritos eram de cortar o coração, minhas pernas fraquejaram, não consegui entrar. Precisava de ar puro.

- Carlisle esta quebrando os ossos de Jake para recolocá-los na ordem correta… - Sam disse assim que Jacob gritou ainda mais alto.


Todos nós ficamos apreensivos, a cada grito, uma lágrima escorria pelo meu rosto. Meu coração já estava perfurado de todas as formas possíveis.


Mais um grito ecoou de dentro da casa vermelha, que já parecia pequena demais para agüentar tamanho sofrimento. Meu corpo foi chicoteado por aquela dor, cai sobre meus joelhos, um par de mãos quentes me ajudou a me levantar.


Meus olhos estavam molhados pelas lágrimas, não consegui ver direito quem me ajudou. Tentei puxar o máximo de ar para os meus pulmões e então entrei na casa vermelha dos Black´s, os gritos torturantes me guiando.


Carlisle já estava de pé, quase próximo a porta. Aquele enorme corpo, fisicamente intimidador, agora estava todo enfaixado. Meu Jacob estava frágil, vulnerável…


- Ele está dormindo agora… - Carlisle estava com os olhos compaixão – Devido sua temperatura corporal tive que manipular uma dose excessiva de morfina. Ele não irá acordar agora…


As palavras de Carlisle só me serviram como um calmante temporário. Senti que só me sentiria bem mesmo, depois que aqueles lindos olhos “quase” negros estivessem irradiando confiança, e que aqueles lindos lábios macios estivessem sorrindo novamente, aquecendo tudo dentro de mim.

Caminhei em passos lentos até a cama, e me ajoelhei ao lado daquele corpo bronzeado, molhado de suor e completamente imobilizado. Jake estava em um sono profundo, suas feições estavam levemente suaves, mas ainda havia em seu rosto a marca do sofrimento e da dor.


- Ele ficará bem… Voltarei aqui amanhã, quando ele talvez o efeito do remédio já tenha passado. – Carlisle se manteve na porta, como se estivesse esperando que eu o seguisse.


Respirei – com dificuldade – e então virei-me para aquela figura pálida que me aguardava insistentemente na porta do quarto. Carlisle entendeu que eu precisava de um tempo com ele, mesmo ele estando inconsciente.


- Vou deixá-los a sós. Espero você lá fora…


Meus olhos não desconectaram daquele corpo enfaixado, colocado milimetricamente sobre a cama – já pequena demais para receber toda aquela estrutura física. Percorri com a ponta dos dedos sua sobrancelha, desci levemente até as maças quentes e macias do rosto de Jake… tentando retirar o excesso de suor que molhava sua face.


- Queria tanto que você fosse menos teimoso… - sussurrei tentando conter o ressentimento leve que me dominou as emoções – Você não estaria aqui agora, se tivesse ficado longe disso como eu pedi…


Mordi os lábios tentando conter o descontrole emocional que ameaçava se manifestar em forma de choro.


- Só… fique bem logo – as lágrimas novamente escorreram por minha face – por favor… - engoli o choro, reprimindo-o.


Não sei bem quando desci, apenas senti-me impulsionada a fazê-lo.


Coloquei-me de “pé” sobre meus joelhos e encarei aquele rosto – o garoto do sorriso fácil e maroto que conheci alguns anos na praia de La Push - inclinei levemente meu corpo para frente e então, sem delongas, uni nossos lábios. Sem me importar se essa era ou não a coisa mais correta a se fazer!

“Te amo” … Repeti em minha mente.


Sim. Eu amava Jacob Black. O garoto de pele bronzeada, sorriso fácil e envolvente, mas eu sabia que não poderia simplesmente me jogar e me entregar a este amor. Ele não era suficiente, não poderia ser! Era Edward quem meu coração, e meus pensamentos tinham escolhido.


O que estava acontecendo comigo? – Me afastei de seus lábios – Por que ele simplesmente não podia voltar a ser aquele carinha e engraçado que eu conheci na praia? Por que já não era tão confortável a idéia de sermos amigos?


Estava tudo errado. Eu deveria ter certeza dos meus sentimentos!


Mas não! Já não possuía mais a certeza de alguns dias atrás. Precisava de um tempo para pensar em tudo, pensar nas possibilidades, ou talvez na forma de sair desse embaraço sem magoar ou ferir Jacob.


Tudo estava confuso em minha mente, mas de uma coisa eu tinha certeza. Eu não poderia mais trair o amor e a confiança de Edward.


Levantei-me como se tivesse sido impulsionada a me retirar daquele quarto, corri para o carro sem me despedir direito daqueles que ainda estavam na frente da casa. Carlisle não compreendeu minha atitude, e sempre muito gentil, se despediu do pessoal, entrou no carro e dirigiu em silencio o caminho todo de volta a sua casa.

O sol já havia se posto completamente, a casa dos Cullens estava levemente iluminada, mais do que meu próprio interior poderia estar neste momento!


Edward me aguardava na entrada de sua casa, veio ao meu encontro e em silencio apenas me guiou para dentro de sua casa.


Não consegui dormir muito bem durante a noite. Meus pensamentos me trouxeram as piores lembranças do confronto com os recém-criados, Jacob caindo ferido a apenas alguns metros de mim e a imagem dos Volturi, Jane com seu olhar insidiosamente ameaçador “Nós não damos segunda chance…”


Edward permaneceu ao meu lado como nas demais noites, desde que nos conhecemos, mas estava quieto! Ficou assim até o dia anterior. Senti-me imensamente agradecida por ele se comportar assim, embora lá no fundo eu soubesse que esse seu comportamento estava longe de ser meramente compreensivo.