Jacob partiu, deixando para trás uma Bella completamente diferente. A nova tinha plena consciência dele… e não apenas por seu tamanho, como eu havia dito amargamente, logo que Jake me trouxe em seus braços para o acampamento improvisado de Edward. E isso só provava o quanto dizer não a este amor seria difícil.

Voltei para a barraca fugindo do frio que sem o calor do corpo de Jake, ficava insuportável.

Enterrei meu rosto no saco de dormir, desejando que a justiça me encontrasse. Desejei jamais ver meu rosto novamente no espelho… o que eu fiz, não tinha perdão! Trai Edward e como se não bastasse dei uma nova espécie de esperança a Jacob, só mais uma forma de iludi-lo para depois deixá-lo em farrapos, magoá-la da forma mais cruel e covarde.

Sem um alerta, e com passos surdos, Edward aproximou-se de mim. Suas mãos frias me envolveram. O tremor que percorreu meu corpo, não foi de frio… e sim de culpa.

- Aconteceu alguma coisa? – sua voz saiu em um murmuro fraco e ansioso.

Um nó se formou em minha garganta, impedindo-me de respondê-lo.

- Onde está Jacob, Bella? – Edward levantou-se rapidamente – Ele fez alguma coisa com você?

Fez! Jacob, enfim, havia conseguido o que queria, me provar o quanto sou autoconsciente dele. Provar que o amo, não apenas como amigo… e que esse amor é suficiente para me fazer feliz. Mas como eu iria falar isso para Edward?!

- Não houve nada - menti - Ele apenas foi lutar… 

A imagem de Jacob, após o nosso beijo, apareceu em minha mente. Ele correu em direção a luta, á todo vapor, com a nítida promessa de seu retorno. Sim, agora eu havia lhe dado mais do que apenas um motivo para que ele voltasse a se torturar… lutar por algo que ainda permanecia fora de seu alcance.

Edward atormentou-me com o silencio por um tempo.

Não queria ser interrogada, sobre o que realmente havia acontecido em sua ausência, mas aquele silêncio me era tão inoportuno quanto falar-lhe a verdade.

- Ah – disse ele por fim, tirando-me dos meus devaneios.

Seus olhos estavam sem foco enquanto ele ouvia alguma coisa. Tive a nítida sensação de que ele já se dera conta do que realmente aconteceu.

Meus olhos fitaram o chão, a espera da devida repreensão, mas ao contrario do que imaginei, Edward esboçou um fraco, mas ainda sim, sorriso.

- E eu pensando que eu jogava sujo – disse ele com admiração invejosa. – ele me faz parecer o santo padroeiro da ética. - Senti suas mãos me acariciarem. – Não estou chateado com você, meu amor. Jacob é mais hábil do que eu acreditava. 

- Edward – sussurrei, tentando forçar minha voz aparecer. – Eu… Eu…

- Shhh – ele me silenciou. – Volto a repetir. Não estou chateado com você – Ele forçou um sorriso – Embora preferisse que você não tivesse pedido a ele.

Tentei explicar, se é que realmente existia uma maneira de me redimir… Mas Edward me silenciou novamente.

- Ele teria te beijado de qualquer maneira… Mesmo que você não tivesse cedido… - Sua voz desceu três oitavas – Agora só não tenho uma desculpa para quebrar a cara dele. – Ele deu de ombros, e afagou meu cabelo.

- Eu… - Precisava dizer algo, mas não me ocorria nada. Nada que eu falasse poderia justificar tal falha.

- Tudo bem, Bella! – Ele me fitou – De qualquer forma, Jacob jamais partiria numa chama de glória só para deixar o caminho livre para mim. Ou você realmente acredita que ele seria assim, tão nobre? – Seu olhar não me condenava, muito pelo contrário, só me transmitiu compreensão e paciência.

Isso não era bem uma pergunta, mas se conseguisse responder, com certeza lhe diria que sim. 

- Acreditei… - As palavras soltaram da minha boca, mesmo depois de minha mente ter decidido que não iria responder.

Ainda que isso indicasse uma certa ingenuidade da minha parte, eu realmente acreditei que Jacob não iria tão longe… E mesmo diante das razões apresentadas por Edward, ainda assim, não encontrei espaço para sentir raiva de Jacob por me enganar, não! No meu corpo só havia espaço para a raiva e o desprezo que sentia por mim mesma.

Edward riu suavemente de novo.

- Você mente tão mal que vai acreditar em qualquer um que tenha um mínimo de habilidade nisso.

Ignorei sua afirmação, minha mente só queria, no momento, solucionar uma única questão.

- Por que não está com raiva de mim?

Esperei ansiosa pela sua resposta, já me preparando para travar uma enorme batalha para o seu perdão.

- Você é só humana…

Como?! Pensei.. Não consegui acreditar no que Edward estava dizendo.

- Essa é a defesa mais tola que já ouvi.

- Mas você é humana, Bella. E, por mais que eu deseje o contrário, ele também é… Há hiatos na sua vida que eu não posso preencher.

- Talvez não tenha ouvido a história toda…

- Acredite quando falo que minha perspectiva é muito abrangente – sua voz era leve e tranqüila – Jacob faz quadros mentais nítidos. Eu quase me senti mal pelo grupo dele como por mim mesmo. O pobre do Seth estava ficando nauseado. Mas Sam está fazendo Jacob ganhar foco.

Sacudi a cabeça e então me joguei novamente no saco de dormir.

- Não existem hiatos… - sussurrei.

- Você o ama – seu murmuro era delicado, mas até do que eu realmente merecia.

Cada célula de meu corpo doía ao negar aquilo.

- Eu amo mais você. – Foi o melhor que pude dizer, não adiantava tentar negar aquilo que agora estava nítido diante dos meus olhos.

Edward não brigou, não gritou e nem se quer chegou a pronunciar os palavrões os quais eu merecia, pelo contrário arrumou um jeito para se culpar. Era típico de Edward, mesmo quando a culpa era inteiramente minha – como agora – ele arrumava um jeito de colocar o peso dos meus erros em suas costas, e de certa forma só piorava a situação.

 Por que ele não gritou? Não brigou comigo, pelo enorme erro que cometi?

Senti raiva dessa compreensão desmedida. Isso só tornava as coisas ainda mais terríveis e difíceis de suportar.

 Mas não adiantava tentar, Edward me venceria, demonstraria que tudo não passou de um momento de fraqueza, afinal eu era HUMANA! Raiva!

 Desisti de tentar e quando voltei a encarar sua face, percebi que ele estava um pouco apreensivo. Havia uma nova carga na atmosfera, uma nova urgência.

 - Já começou?

 - Não. Mas faltam apenas alguns minutos.

 Ele me encarou e então disse o que eu definitivamente preferia não ouvir.

 - Eu posso ser nobre, Bella. Não vou fazer com que escolha entre nós dois. Seja feliz e você poder ter a parte de mim que quiser, ou nenhuma delas, se for melhor assim. Não deixe que sua decisão seja influenciada por nenhuma dívida que pense ter comigo.

 Aquelas palavras me atingiram como á um chicote. Atirei-me contra seu corpo de mármore.

 - Droga, para com isso! – gritei para ele. – Pare de tentar fazer com que eu me sinta melhor, você não percebe? Só esta piorando tudo...

Seus olhos manifestaram-se surpresos.

 - Não… Você não entende. Não estou tentando fazer com que se sinta melhor, Bella. Eu falei sério.

 -Eu sei que falou – grunhi. – O que aconteceu com a reação? Não comece com auto-sacrifício nobre agora! Lute!

 -Como? – me questionou.

 - Não importa que esteja frio aqui. – Subi em seu colo, atirando-lhe os braços. - Não ligo se estou fedendo a cachorro. Me faça esquecer que sou medonha, Faça com que eu o esqueça. Faça com que eu esqueça meu próprio nome.Reaja!

 Não esperei que decidisse. Eu me apertei nele e esmaguei aboca em seus lábios frios como a neve.

 - Cuidado, amor – murmurou ele sob meus lábios urgentes.

 - Não – grunhi.

 Como era de se esperar, ele me empurrou delicadamente e colocou meus braços ao lado do meu corpo.

-Não precisa me provar nada.

 -Não foi essa minha intenção. – Joguei meus braços em seu pescoço, novamente. – Você disse que eu podia ter a parte que eu quisesse. Eu quero essa parte. Eu quero todas as partes. – Agarrei-me em seu pescoço, com o máximo de força que consegui.

  Tentei alcançar seus lábios. Ele curvou-se em minha direção, e beijou-me mecanicamente, seus lábios eram hesitantes enquanto minha paciência se tornava mais pronunciada. Meu corpo deixava minhas intenções claras, entregando-me. Inevitavelmente, as mãos dele passaram a novamente me conter.

 - Talvez não seja o melhor momento para isso – sugeriu ele, calmo demais para o meu gosto.

  - E porque não? – grunhi novamente, mas dessa vez decidi encarar minha derrota, diante de sua racionalidade.

 Mas o motivo que me fez parar foi outro. A imagem, nítida, do rosto de Jake sorrindo vitorioso… a lembrança de sua voz rouca sussurrando em meu ouvido, além da inevitável saudade de seus lábios e de seus braços fortes e quentes puxando-me para mais perto de seu corpo, me deixou sem forças para continuar me jogando contra o corpo gelado de Edward, tudo para obter novamente sua rejeição.

 Edward interpelou-me apresentando motivos mínimos, até que eu o pressionei e me arrependi – mesmo merecendo ouvir.

  - Nós vamos tentar, Bella. – ele inclinou-se e sussurrou em meu ouvido. – Vou cumprir minha promessa. Mas prefiro que não seja uma reação a Jacob Black.

  Eu me encolhi e enterrei a cara em seu ombro.

Enquanto Edward afagava meus cabelos, Seth uivou do lado de fora da barraca, quebrando o silêncio.

Senti cada músculo do meu corpo enrijecer-se ao som.

Seu uivo só podia significar uma coisa: A luta já havia começado!