A Nova Vida de Ruby Menninger escrita por Between the moon and the sun


Capítulo 2
Uma longa viagem e uma chegada nem tão boa assim




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Grande parte da viagem foi menos animada do que todos os velórios que eu já fui. E foram muitos, acredite. Ficamos em silêncio por muito tempo, ele me olhava como se eu fosse um ET e ele estivesse tentando saber de que planeta eu era. Eu estava agradecida pelo silêncio, eu estava péssima depois da morte do meu tio... Me trouxe muitas memórias... Eu suspirei e olhei pra pulseira que minha mãe me deu faz tempo. Meio infantil, eu concordo que a pulseira era infantil. Mas eu a amava. Segurei o pingente da pulseira que era um coração, daqueles do símbolo da Barbie, cor-de-rosa. Então o sátiro quebrou o silêncio.

-Então... Como é no Brasil?

-Quente, muito quente e... Até que é legal, dependendo da região, sabe - Eu disse e tentei sorrir, sem muito sucesso, mas estava tentando ser educada. E eu estava cansada de tanto chorar, com os olhos inchados.

-Seu humor está péssimo e eu sei que você não quer conversar, mas... Me desculpe, é que estou curioso sobre você. - Eu estava me perguntando como ele sabia que eu não queria conversar.

-Eu sinto as emoções das pessoas, sabe. Sátiros podem fazer isso.

-Ah... Isso deve ser legal.

-Ás vezes, nem tanto. Tipo agora, porque você está triste. Não gosto de sentir a tristeza das pessoas.

-Me desculpe por isso... É que hoje foi um dia difícil. - Eu disse enxugando algumas lágrimas que ainda não tinham secado no meu rosto. - Qual seu nome?

-Paolo.

-Ah... Nome diferente pra...

-Um sátiro? - eu assenti. - Minha família viveu um tempo no México, alguns de nós temos nomes meio... Latinos por causa disso. - Depois disso, eu não sabia mais o que falar, nem ele sabia, então continuamos em silêncio e eu acabei dormindo no ônibus. Eu sonhei com a minha mãe. Ela estava vestindo um vestido branco e sorrindo em um belo jardim, de braços abertos esperando alguém e eu a chamei, mas ela não pareceu me notar. Então eu vi o meu tio andando até ela. Ele estava tão novo, tão diferente daquele homem fraco e magro, totalmente frágil e arruinado pelo câncer que eu estava acostumada a ver na cama durante meses. Minha mãe abraçou o meu tio.

-Eu estive te esperando por muito tempo - Ela sorria e parecia muito mais bonita do que eu me lembrava e via nas fotos, se é que isso era possível. Aquele lugar lindo tinha que ser o Elísio. Isso me deixou mais feliz, ver a minha mãe ali, feliz com meu tio. A saudade que eu tinha dela até doía. Ela tinha os cabelos cor de chocolate, compridos que caíam totalmente lisos, de dar inveja em qualquer uma, que tinha que passar horas na frente do espelho alisando o cabelo pra ter o cabelo assim. Os olhos dela eram escuros. Todos diziam que eu tinha o sorriso, o nariz e o jeito de falar dela. O jeito como ela mexia as mãos quando falava e como ela trançava os cabelos em cima dos ombros quando estava conversando com alguém e desfazia a trança e fazia de novo, tudo era delicado, ao contrário de mim. Eu era um desastre, meu cabelo vivia parecendo um ninho de pássaros. E o meu tio estava ali, com seus cabelos acobreados e despenteados, os olhos escuros, porém profundos e felizes, como os da minha mãe. Eles estavam tão felizes conversando naquele belo jardim depois de todos esses anos sem se verem. Então o sátiro me acordou.

-Venha, temos que pegar o táxi pra chegar ao acampamento. - Eu acordei meio desorientada, me espreguicei rapidamente e pisquei os olhos que estavam meio pesados. Levantei e segui o sátiro que agora estava vestido pra parecer um humano, com sapatos e tudo mais. Quando entramos no táxi, eu levei um susto e pulei pra trás quando vi o motorista. Ele tinha olhos por TODO o corpo. Olhos azuis, grandes olhos azuis.

-Ruby, não se assuste. Esse é o Argos, motorista e segurança do acampamento. Na verdade, segurança, mas ele dirige pra gente às vezes. - Ele acenou pra mim com a mão e eu ainda meio impressionada, acenei de volta, acho que estava corando pelo fato de eu quase ter pegado uma faca na minha bolsa (que eu carrego pra matar os monstros que entram no meu caminho) e ter matado ele. Se bem que seria uma luta injusta, eu preferiria fugir ao lutar com um cara com tantos olhos e tão forte, se tivesse escolha.

-P-prazer em conhecê-lo, Argus. - Ele não falou nada, mas acho que um dos olhos que ele tinha no pescoço, piscou pra mim. Eu gostaria de saber como ele conseguia controlar todos aqueles olhos. Tentei não ficar olhando muito pra ele pra não incomodá-lo. Eu fiquei em silêncio, olhando pela janela do táxi até chegarmos ao acampamento, o que foi um alívio.

-Bem-vinda - disse o sátiro sorrindo enquanto subíamos a colina até a entrada do acampamento. Chegando lá, entramos rápido e eu olhei em direção a um galho de uma árvore, com muita atenção. Perto da árvore, um dragão gigantesco estava deitado, dormindo aparentemente. Mesmo assim, não arrisquei chegar perto. E em um dos galhos da árvore, uma coisa como... Pêlo de carneiro e brilhava intensamente na luz do Sol. Era de ouro, mas ainda assim, parecia feito de pêlo de carneiro. O sátiro percebeu que eu estava curiosa.

-Aquele é o velocino. - Então eu me lembrei da história. Eu e o sátiro caminhamos até uma grande casa azul e tinha um centauro lá, na varanda.

-Mas uma meio-sangue. Seja bem-vinda. - Ele disse sorrindo. - Eu sou Quíron, eu coordeno as atividades aqui do acampamento. - Eu o olhei e meu queixo caiu.

-Você? Quíron? Tipo... O das velhas histórias da mitologia grega?! - Ele riu e assentiu. Eu devia estar com cara de idiota. - E então... Hm... Quíron. Aonde eu vou ficar acomodada?

-No chalé de Hermes, até descobrirmos quem é seu parente olimpiano.

-Eu sou filha de Poseidon. Tipo, minha mãe me contou isso, ela sempre falava comigo sobre isso. - Ele me olhou impressionado e curioso.

-É melhor entrarmos e conversarmos melhor sobre isso.

Entramos em um escritório, dentro daquela casa grande. Quíron fechou a porta e olhou pra mim.

-O que sua mãe contou sobre isso pra você?

-Ela me disse que... Bom, eu sei que parece loucura, sabe... Ela disse que meu pai era um homem importante, chamado Poseidon e ele não vinha me visitar porque ele era muito ocupado. Depois que ela morreu, eu fui morar com o meu tio e depois de anos que eu estava com ele, no Brasil, ele me disse que meu pai era um deus e tudo mais e... Ele disse que minha mãe era muito próxima de Poseidon e quando ficou grávida, ela não contou pra ele, ela voltou pro Brasil porque ela não queria que ele tivesse problemas com os irmãos dele por causa de um pacto, algo assim. Meu tio sempre quis que eu encontrasse o meu pai e falasse com ele, ao contrário do que a minha mãe queria. Quando eu fiz 13 anos, nós viemos morar aqui, nos Estados Unidos porque o meu padrasto e os filhos dele estariam em risco comigo por perto e meu tio queria arranjar uma forma do meu pai saber que eu existia. Mas aí ele ficou doente e morreu hoje... - Eu abaixei a cabeça e tomei fôlego. - Ele me incentivou a aprimorar minhas habilidades com a água e eu fazia hipismo e tipo... Os cavalos, eles falam comigo. Eu disse que era loucura. - Quíron me olhou realmente interessado. Eu estava sentada em uma cadeira, de frente pra mesa.

-Me mostre algo que você faz com água. - Ele apontou para um aquário que estava perto da minha mão. Eu levantei a mão.

-Vem. - Eu disse isso e parte da água veio pra minha mão e eu pensei que eu queria que a água se juntasse em forma de bola. E então, comecei a brincar com a bola de água com as minhas mãos. Os olhos de Quíron saltaram da cara.

-Espere um minuto, garota. Tenho que chamar alguém. - Ele saiu pela porta, e eu continuei ali, brincando com a bola de água em minhas mãos, esperando por sua volta.


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