Apenas não se Esqueça de Amar a Si mesmo escrita por Koneko-chan


Capítulo 1
Apenas não se esqueça de amar a si mesmo.


Notas iniciais do capítulo

FALTAM 23 FUCKING DIAS PRA ESTRÉIA DE RDM! É NOZES! -q



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Apenas Não se Esqueça de Amar a Si Mesmo

Por que eu me importo? Essa é uma questão que nem eu mesmo sei responder. Meu nome é Draco Malfoy, mas eu francamente não sei ao certo quem é Draco Malfoy. Estou no sexto ano da Escola de Magia e Bruxaria de Hogwarts, mas não sei se isso quer dizer alguma coisa hoje. Talvez um dia, mas não agora. Desde aquela noite em que aceitei ser um comensal da morte eu sinto como se não soubesse de nada. Como se eu não fosse nada.

Minha missão era bem simples: matar Alvo Dumbledore. Grande coisa aos olhos de alguns, talvez seja apenas envenenar uma garrafa de hidromel. Já tentei isso e não deu certo. Estou no auge do desespero. Sei que ele vai me matar se eu não conseguir. Mas o que posso fazer? Eu não consigo bolar um plano! Vou envergonhar minha família, tenho quase certeza. Eu estou sozinho infelizmente. A única coisa que eu queria fazer era bater à porta de casa e pedir à minha mãe, Narcisa, que me dê ordens, que me diga o que fazer, como se eu tivesse cinco anos de idade e não soubesse fazer nada sozinho.

Mas esses tempos já passaram, não sou mais criança e já tomei a decisão que mudou minha vida. O suficiente para que eu me arrependesse quando minha missão começasse a falhar. Jogar as coisas para o ar e gritar "Que se danem!" é algo que eu não posso fazer porque  tenho que ser forte. Eu preciso ser forte para minha mãe. Ela precisa de mim agora que meu pai já não tem como colaborar.

Estava chovendo lá fora e eu estava sentado à uma janela num corredor aleatório do colégio. Matava a aula de Defesa Contra as Artes das Trevas (DCAT). Apesar de ele ser meu professor favorito, não ia aguentar olhar para a cara de Snape hoje. Ele tem me arrastado e praticamente implorado que eu o deixasse ajudar-me. Eu não podia permitir isso e não ligava se ele tinha feito o Voto Perpétuo, era algo que eu tinha que fazer sozinho por mais que me tentasse a ideia de ter ajuda disponível. Snape era um burro. Ele achava realmente que o Lorde das Trevas não notaria se ele tivesse me ajudado? E eu estaria encrencado, metido como covarde, humilhado. Tinha que mostrar meu valor, ser forte para minha mãe e fazer meu pai e o Lorde se orgulharem de mim (se é que o Lorde pode se orgulhar de alguém).

Eu bufei. Deveria ser simples. Meu hálito quente fez o vidro ao meu lado embaçar e eu ergui o dedo para nele rabiscar a frase "Quem sou eu?". Por que eu devo fazer isso? Por que eu escolhi isso? Quem sou eu para tomar esse tipo de decisão? Quem sou eu para matar o diretor dessa escola?! Não era apenas uma pergunta que rodava em minha mente, mas essa era a principal. Encostei a cabeça na parede de pedra, querendo que o contato me respondesse todas as malditas perguntas que rondavam sem trégua minha mente confusa.

Foi aí que a vi.

Uma garota morena com cabelo negro e olhos escuros escondidos por trás de uma armação quadrada e leve me observava não muito distante. Eu não conseguia distinguir a expressão dela e nem queria. Mas algo despertou minha curiosidade. O jeito como ela olhava para mim era mais do que levemente intrigado. Ela me fitava como se quase achasse que pudesse acabar com meu sofrimento, ou pelo menos como se quisesse muito aquilo.

– O que você quer? – perguntei, tentando fazer com que ela fosse embora.

Ela inclinou a cabeça ligeiramente para o lado, curiosamente. Andou alguns passos até mim e continuou me fitando, agora a menos de um metro de distância. Eu me sentia pequeno. Não só porque estava sentado à janela e ela em pé, mas me sentia inferior de alguma maneira. Eu não gostava de me sentir inferior, então tentei tirá-la de perto de mim novamente.

– Saia daqui, está me incomodando – falei com arrogância. Ela pareceu não ligar.

– Não fique triste – ela murmurou.

– Hã? – rebati, na defensiva.

– Quando estiver triste – ela prosseguiu – Lembre-se que existe alguém em algum lugar que te ama muito – um sorriso esboçou-se em sua face e ela corou levemente.

Eu franzi o cenho. Quem era ela? Quem era essa criatura que dizia coisas tão bonitas? Imediatamente pensei em minha mãe. Ela me amava muito e a garota tinha razão, isso me fazia sentir bem. Não bem, mas melhor. O amor não tem responsabilidades, de modo que eu não preciso me sentir responsável em continuar fazendo minha mãe me amar. Ela me ama incondicionalmente e vai continuar me amando mesmo que...

Mesmo que eu falhe em minha missão.

– Desculpe se te incomodei – a garota prosesguiu, despertando-me de meus pensamentos. – Mas vi você assim, triste, e não pude evitar de vir tentar dizer algo que talvez o fizesse sentir melhor.

– Não... não precisa se desculpar – murmurei quase inaudivelmente. – Quem... – eu pigarreei. – Quem é você?

Ela sorriu novamente, como se adorasse a ideia de dizer sua identitdade.

– Quem sou eu? – ela respondeu, porém. – Essa não é a questão – seus olhos se desviaram para a janela e eu podia perceber claramente que ela não observava a paisagem, e sim, o que eu escrevera no vidro. – Acho que o que realmente quer saber é outra coisa.

Eu lancei uma olhadela para o vidro, vendo a pergunta que já estava quase apagada. Voltei-me para a garota novamente.

– É, se algum dia souber a resposta para essa pergunta, por favor, me diga. Até agora eu não consigo responder.

Ela me encarou novamente, ainda sorrindo.

– Não é difícil. Você é um Sonserino loiro confuso. Acho que você tomou algumas decisões das quais se arrependeu e agora não sabe para que lado correr, só isso. Mas tenho certeza de que se não tivesse tomado essas decisões seria mais difícil reconhecer a sua imagem no espelho.

Fiquei alguns segundos emudecido.

– Você é uma poetisa ou algo assim?

Ela corou e balançou a cabeça negativamente.

– Só uma pessoa que esteve observando – então o sorriso dela se esvaiu do rosto. – Acho... que falei demais – voltou-se para mim novamente – Eu sinto ter interrompido suas especulações e espero ter ajudado. Até um dia, Draco.

Antes que eu pudesse dizer mais algo, a garota virou-se, agitando os cabelos negros na minha direção, e correu para a dobra do corredor. Eu levantei, começando a ir atrás dela, mas quando cheguei onde a tinha visto desaparecer não sabia mais para onde teria ido. Fiquei parado alguns segundos, pensando. Quem era ela? Eu precisava descobrir. E pelo que ela dissera ela andava me observando... Como eu não notara? Era sempre tão atento a esse tipo de coisa desde que me tornei comensal. Precisei de alguns segundos para assimilar que talvez eu a tivesse visto, mas não olhado.

Talvez eu a tivesse notado, mas não imaginado como uma potencial espiã.

– Preciso descobrir o nome daquela garota... – murmurei inconscientemente.

Eu procurei em todo o lugar. Eu perguntei a todos que eu conhecia. Pansy Parkinson até ficou estranhando quando cheguei para ela e perguntei:

– Parkinson, será que você conhece uma garota de cabelo escuro, meio morena com rosto arredondado e óculos?

Ela levantou a sobrancelha.

– Não, não conheço, por quê? Ficou com ela bêbado de cerveja amanteigada e nem perguntou quem era?

Eu trinquei os dentes.

– Não sou imprudente como você.

– Sendo você portador da cabeleira loira e do sobrenome Malfoy eu não duvido nada, convencidinho.

Revirei os olhos e continuei caminhando. Eu fora estúpido. Nem pensara em olhar no uniforme da garota a fim de descobrir a que casa pertencia. Me sentia um idiota completo, não a encontrava em lugar nenhum. No dia seguinte, sentei-me no mesmo lugar onde estava, quase rezando para que ela aparecesse lá novamente. Confundia-me ainda mais o motivo dessa minha obcessão por saber quem era a garota que falara tudo aquilo na noite anterior, mas... eu me sentia impelido a isso. Com outra pessoa não seria assim, tenho certeza, mas com ela... eu sentia uma pequena necessidade de descobrir mais sobre ela.

Graças a Merlin ela apareceu. Eu estava começando a perder as esperanças, sentado e brincando com uma figurinha de Dumbledore que ganhara num sapo de chocolate – eu tinha várias daquela e meu estômago não parava de revirar toda vez que tirava uma de novo – quando ela falou ao meu lado, sobressaltando-me.

– Hoje você está descepcionado. Por quê?

Eu pulei de susto e me virei para encará-la. A leve brisa que passava empurrava algumas mechas de seu cabelo pelo rosto e me senti inexplicavelmente tentado a colocá-las atrás de sua orelha novamente. Contive-me.

– É... Eu... Estava esperando que você aparecesse novamente. Não me disse seu nome afinal – respondi, sentindo-me um idiota por não conseguir formular algo melhor.

Ela abriu um sorriso enorme. Essa garota era tão facilmente agradável! Ficava feliz com um simples comentário que indicava que me lembrava dela.

– Kuri – ela disse – Pode me chamar de Kuri.

Não pude evitar de sorrir também.

– Sou Draco Malfoy.

– Eu sei – ela murmurou imediatamente, mas então seus lábios se contraíram e ela corou quando percebeu o que disse – Quero dizer, prazer conhecê-lo!

Eu abri espaço na janela e ofereci para que ela se sentasse. Kuri pareceu lisonjeada. Lisonjeada! Eu ainda não entendia quem ela era, mas parecia como um sonho. Ela me fazia pensar que talvez fosse desaparecer a qualquer momento, como fumaça pairando no ar para dissolver-se repentinamente antes de poder tocar o azul do céu.

– Então, você andou me espionando, não é? – perguntei, olhando para a figurinha de Dumbledore que dançava entre meus dedos.

Ela pareceu constrangida, juntando as mãos no colo com força.

– N-Não. Quer dizer, eu... Quando você está sozinho e eu estou por acaso passando, eu o fico observando e tudo mais... Hã, e o vi entrar na Sala Precisa uma vez, mas... Juro que só isso! Eu não teria a mínima intenção de te espionar!

Eu dei risada. Fazia muito tempo que eu não ria assim. Quer dizer... Fazia muito tempo que eu não ria, de fato. Eu não sabia qual era o motivo desse riso, mas essa garota era tão graciosa e meiga que eu sentia vontade de rir, simplesmente. Quando me virei para encará-la, ela me observava sem entender.

– Desculpe-me – falei. – É que você sente tanta culpa no fato de observar alguém que chega a ser engraçado.

– Oh – ela disse, parecendo ficar pensativa por um instante. – Devo levar essas palavras como um elogio?

– É, sim – respondi, ainda com um sorriso no rosto. – Você é ingênua, isso é muito raro. Mas não é um defeito... Acho que talvez isso te difira do resto do mundo.

– Bem, se é um elogio então, obrigada! – ela exclamou, feliz.

Eu suspirei por um minuto, baixando o olhar para o piso de pedra do castelo de Hogwarts. Que inveja. Eu queria ser como essa garota. Ela parecia tão alegre e doce a ponto de não ver a maldade de qualquer um. Parecia viver num mundo feito só para ela e que ela estava disposta a dividir com qualquer um que se atrevesse a se perder na escuridão de seus olhos.

Eu me perdi nesse olhar várias vezes depois daquele dia. Passamos a nos ver mais e nos encontrávamos mais ou menos naquele horário por ali todas as tardes. Durante o tempo que eu não estava com ela, tentava planejar a morte do diretor. Mas parecia que meu Plano B teria que ser movido para o Plano A, já que os demais planos falhos demonstraram que tentar matar alguém não é algo simples.

Entretanto, sempre que eu me encontrava com Kuri, ela me fazia esquecer um pouco a tristeza, preocupação e o medo. Como eu disse, no mundo particular dela parecem não existir essas coisas, pois eu nunca a vi preocupada ou receosa – a não ser, é claro, quando ela acaba dizendo algo que acha que não devia ter dito, mas isso a faz ficar fofa.

Depois de algum tempo comecei a me sentir culpado. Eu não devia estar escondendo todas aquelas coisas dela, afinal, ela era a pessoa que mais parecia me entender dentre todos os que eu conhecia. Mesmo assim tinha tanto medo de contar-lhe a verdade – primeiro porque o Lorde das Trevas não aprovaria, e segundo porque tinha medo de perdê-la.

Certo dia ela notou minha angustia.

– Draco? – perguntou-me. Estávamos sentados àquela janela, como todos os dias.

– Ahn. Que foi?

– Você está triste? Parece abatido.

– Ah! Não, não, estou bem, Kuri, mesmo.

– Tem certeza? – insistiu, parecendo ver através de minha máscara e entender meus sentimentos de imediato, contudo sem saber a causa deles. Se ela soubesse que esta angústia era causada por ela, qual seria sua reação?

– Sim, absoluta – eu sorri para demonstrar segurança.

– Bem – ela sorriu também, envolvendo meu braço com seus próprios, num abraço. Eu andava notando que isso era um costume, ela gostava de sentir que a pessoa com quem conversava estava realmente ali do lado.

Depois de alguns minutos, eu o vi passando por aquele corredor. Era ele, o infeliz do Potter. Como eu odiava aquele garoto... Tão cheio de si e supostamente importante. Enquanto repassava mentalmente meu ódio por ele, suas pernas pararam de caminhar e ele ficou olhando fixamente para minha direção. Mas não olhava para mim, olhava para a pessoa que me abraçava, Kuri. Ele olhou para mim novamente e depois para ela, então sorrindo. Kuri sorriu abertamente e, ainda com um braço sob o meu, usou o outro para acenar de modo entusiástico. Isso me surpreendeu muito e não pude deixar de me sentir extremamente incomodado.

– Vocês... se conhecem? – perguntei observando Potter voltar a seu caminho.

– Ah, sim! – ela exclamou, parecendo não ter conhecimento da famosa rivalidade entre mim e Harry. – Nós somos bons conhecidos, eu diria que até amigos. O nome dele é Harry, você também o conhece, Draco?

– Ahn... Sim – admiti, um tanto melancólico pelo relacionamento deles. – Mas infelizmente não somos amigos.

Ela provavelmente não entendia o quanto me custava inserir aquela palavra depois do “mas” e antes do “não”.

– Oh... É mesmo? Mas que pena! O Harry é legal, acho que vocês até poderiam ser amigos. Se quiser eu posso apresentar vocês de um jeito que...

– Não, Kuri, obrigado – eu disse um tanto agressivo.

– Ah. Certo.

Ficamos em um silêncio incômodo e depois de algum tempo ela me cutucou.

– Draco – perguntou. – Eu te chateei?

Eu a encarei, fitando aqueles olhos escuros que me faziam querer olhá-los o dia inteiro.

– Não – respondi. – Não chateou, Kuri.

– Então por que você está assim? Seu olhar está angustiado.

Eu fiquei sem saber o que dizer. A verdade, talvez? Eu já enganava tanto essa garota que dizer a verdade talvez fosse uma boa ideia. Mas como dizê-la quando sairia como uma declaração? O que eu queria dizer era “Bem, fiquei com ciúmes de você ter uma relação com o Potter, meu inimigo, porque na verdade sou um egoísta e não quero dividir você com ninguém, muito menos com ele”.

Talvez se eu dissesse isso ela sumisse de vez só para nunca mais me ver. E essa ideia me fazia querer correr para o Lorde das Trevas dizendo que não quero matar o professor Dumbledore.

Como demorei a responder, ela inclinou levemente a cabeça para o lado, me olhando. Logo depois, abraçou-me com ânimo. Eu conseguia sentir o calor de seu corpo passando para o meu, aquecendo-me, logo que ela se encostou a mim.

– Eu sempre estarei aqui com você, tá? – falou. – Não fique triste, por favor.

Eu soltei um curto suspiro de compreensão. Ela nunca abraçara o Potter assim, eu sentia. Senti também a necessidade de envolvê-la em meus braços para que não fugisse e continuasse ali comigo. Assim que o fiz, encostei o rosto no topo de sua cabeça, sentindo o perfume de seus cabelos.

– Está chegando – sussurrei.

– Hm? – perguntou, sem entender.

Balancei a cabeça. O dia. Estava chegando. O dia em que eu teria que deixá-la para me unir aos comensais logo depois de matar Dumbledore. Era possível que eu nunca mais a visse novamente, mas eu não conseguia reunir coragem para dizer-lhe o que eu estava sentindo com aquele abraço, a tranquilidade que me dava quando ela estava por perto ou como eu queria tê-la quando ela sorria para mim. Nem ao menos sabia como proferir esses sentimentos em palavras, para mim eles eram indescritíveis.

De repente, o abraço cessou e ela estava em pé num átimo, sorrindo para mim com as bochechas coradas.

– Eu tenho que ir agora, minha aula de Poções já vai começar! Estou atrasada!

Eu sorri e assenti. Uma garota como ela não levaria bronca por se atrasar, nunca! Ela levou a mão à minha bochecha, acariciando-me o rosto alvo.

– Se precisar de qualquer coisa é só me pedir, tá? Seja um conselho, seja um abraço, qualquer coisa. Se precisar pode ir pedir para me chamar na Lufa-Lufa, ok? Ou pergunte a uma das meninas de lá que eu apareço num instante!

Eu assenti.

– Pode deixar.

Ela sorriu e aproximou o rosto do meu, beijando-me graciosamente no rosto e virando-se logo para que eu não visse seu rosto corar e saiu correndo para não perder a hora. Eu, no entanto, fiquei ali com uma cara abobalhada estampada no rosto.

Eu sabia que estava um pouco tarde para isso, mas eu tinha que fazê-lo. Se eu não fizesse agora, eu me arrependeria pelo resto da minha miserável vida. Mas àquela hora da noite eu tive muita, mas muita sorte quando duas quintanistas da Lufa-Lufa apareceram não muito depois da minha chegada.

– Ei, vocês duas – exclamei quando detectei seus uniformes.

Elas tremeram de susto por um minuto, pensando que era o Filtch, mas relaxaram os ombros quando viram que era eu.

– Ai, nossa – disse a primeira, ruiva com os olhos escuros, sardas no rosto e um nariz pequenino. – A que devemos a honra de termos Draco Malfoy se referindo a nós?

– Não enche – falei, arrogantemente. – Escuta, você é da Lufa-Lufa, certo? Conhece uma garota chamada Kuri?

– Ahn, a Kuri-chan – disse a outra, que tinha os cabelos completamente encaracolados e um pouco crespos. Eles emolduravam enfaticamente seu rosto, deixando-a parecer ter uma cabeça grande. – Sim, conhecemos. Ela deve estar dormindo agora, será que não dá para falar com ela amanhã?

– Não posso – retruquei. – Precisa ser hoje. Podem chamá-la para mim?

– E o que ganhamos com isso?

Eu pensei bem.

– Hmm... Minha gratidão?

– Não é o bastante – riu a ruiva.

– Certo, certo, vou recompensá-las de alguma maneira, mas estou com pressa agora. Digam-me seus nomes e eu dou um jeito outra hora.

– Sou Daisy Claymore – a morena respondeu. – E esta é Laura Baker. Não esqueça nossos nomes. Mas antes vai ter que pedir com jeitinho!

Eu bufei e revirei os olhos.

– Por favor, Daisy. Por favor, Laura.

Elas soltaram risinhos.

– Está melhor. Ela já vem. Só não se aproveite da boa vontade dela, pelos amigos a Kuri-chan poderia fazer muito mais do que simplesmente acordar no meio da noite. Está ouvindo?

Eu suspirei.

– Sei disso. Agora andem logo, por favor.

Elas passaram pela entrada do salão comunal da Lufa-Lufa e eu me virei para esperar. Como essas garotas eram tolas e infantis... Conviver com Kuri por esse tempo lhe mostrara que nem todas as garotas eram como Daisy e Laura. Havia exceções. Garotas inteligentes, com muito a dizer, dedicadas e até mesmo ingênuas de um jeito meigo... Ele se acostumara tanto com ela que quase não acreditara nas exigências daquelas duas quintanistas!

Minutos depois, uma mão tocou seu ombro e quando ele se virou, Kuri estava de pijama e casaco, com o cabelo desarrumado e os óculos tortos na cara. Ela parecia preocupada e me olhava atentamente.

– O que foi? Aconteceu alguma coisa? Precisa de algo? – perguntou.

– Ahn – falei. – Não exatamente. Eu estava com saudades e... – eu me interrompi ali. Só mesmo essa garota para me forçar a dizer coisas tão sentimentais como algo que envolvesse saudade.

Ela sorriu, feliz. Não parecia nem um pouco incomodada por eu tê-la tirado da cama apenas para vê-la mais uma vez. Ela ficou na ponta dos pés e me abraçou, tendo em vista que eu era mais alto que ela.

– Tudo bem, estou aqui – ela disse. – Mas algo me diz que não foi só para isso que você veio me ver – ela se afastou e olhou para minhas vestes: um terno e camisa pretos e uma gravata verde, a visão de um sonserino. – Você está elegante! Aonde você vai?

Eu sorri por um momento e então abaixei o olhar para minhas vestes.

– Na verdade – admiti. – Eu vim me despedir, Kuri.

Seus olhos passaram de preocupados para confusos, e então para tristes. Ficaram brilhantes, como se ela fosse começar a chorar a qualquer momento. Ah, eu não me perdoaria se a fizesse chorar...

– Por... Por quê? – perguntou. – Para onde você vai, Draco?

– Eu preciso fazer umas coisas – respondi. – Não vou porque quero, mas porque preciso. Talvez... Talvez não nos vejamos por um longo tempo.

Agora seu rosto já não mostrava mais tristeza, e sim agonia e consternação. Eu coloquei a mão em seu rosto e ela segurou meu braço com as mãos, como se para que eu não o tirasse de lá.

– Não – choramingou, avançando e me abraçando. Eu a envolvi com os braços também. – Não vá, por favor!

– Desculpe – falei. – Mas preciso mesmo. Por favor, não chore.

– Não vou chorar – prometeu, embora sua voz já falhasse. – Mas prometa que nunca vai se esquecer de mim, tá? Porque eu nunca vou me esquecer de você! Eu te amo muito!

Eu sorri levemente. “Eu te amo” era algo que ela dizia com frequência para todos por provavelmente não ter outra maneira para expressar sua afeição – e eu notava isso por encontrá-la ocasionalmente com muitos dos seus amigos –, mas era a primeira vez que ela me dizia isso. E eu não sentia como se fosse algo que ela fosse dizer para expressar o tipo de afeição de amigo. Surpreendi-me ao ver que eu correspondia o sentimento.

– Prometa! – ela insistiu, antes que eu pudesse dizer algo.

– Certo, certo, não se preocupe. Eu prometo que nunca, nunca mesmo, vou esquecer você.

Ela se afastou de mim com o rosto baixo.

– Eu não vou deixar você ver meu rosto porque prometi que não choraria, mas eu não consigo!

Ela saiu correndo para a porta do salão comunal da Lufa-Lufa e se virou. Mas estava tão escuro que eu não pude enxergar seu rosto apropriadamente.

– Eu te amo mesmo, Draco. Nunca se esqueça disso – anunciou, e então, passou pela porta.

E esse foi o início de um buraco no meu peito que não passaria por muito tempo.

A noite escura impedia que eu visse os rostos dos poucos que vagavam àquela hora pelos corredores do castelo. Snape estuporou alguém próximo à uma estátua e todos os quadros ficaram olhando enquanto nós, os comensais da morte, passávamos, após deixar a Marca Negra pairando sobre o castelo da Escola de Magia e Bruxaria de Hogwarts. Após termos matado seu precioso diretor, Alvo Dumbledore.

Tia Bella, como sempre, pulava animadamente por todo castelo, fazendo sua bagunça – sua marca registrada. Num flash de luz verde, a lembrança de Dumbledore caindo do alto da torre de astronomia veio à minha mente. Seus olhos azuis suplicantes por trás dos oclinhos em meia-lua fitavam meu professor de DCAT com tanta intensidade que eu não entendia como ele ainda conseguira proferir a maldição da morte.

Entretanto, eu ficara com raiva do olhar do diretor. Por que ele lançara aquele olhar a Snape e a mim fora dirigida aquela serenidade irritante? Ele certamente duvidava que eu fosse capaz de mata-lo. Tolo! Se Snape não tivesse se intrometido eu... talvez eu... Certo, talvez eu não o tivesse feito... Para falar a verdade, eu até estava aliviado por não precisar mais fazer isso.

– Draco? Draco! Estou falando com você, seu mala!

– O que é, tia Bella? – perguntei.

– Estou decepcionada com você. E espere até o Lorde das Trevas ficar sabendo da sua molenguisse. Provavelmente ele vai te mandar junto com o seu pai inútil para apodrecer em Azkaban.

– Pare de aterrorizar o menino, Bellatrix. Ele cumpriu sua tarefa – Snape falou.

– Ele não matou o velhote.

– Não, mas abriu caminho para tonar sua morte possível. Era essa a verdadeira missão.

– Snape, pare de defendê-lo. Sua tarefa também já acabou!

Desliguei-me um pouco da discussão deles, começando a observar ao redor enquanto o castelo passava por meus olhos. Até que entrou em meu campo de visão uma garota de pele morena, olhos molhados por trás de óculos quadrados e cabelos negros que lhe caíam pelos ombros enquanto ela me observava com um olhar apavorado. Quando nossos olhos tomara maior conhecimento um do outro, ela levou as mãos à boca, incrédula, enquanto virava-se para começar a correr.

– Kuri – murmurei, arregalando os olhos impulsivamente. Comecei a correr atrás dela. – Kuri! – gritei.

Tia Bella gritou por mim às minhas costas, mas eu a ignorei. O que me importava agora era a garota que se dispersava rapidamente, virando os corredores com agilidade. Depois de alguns segundos de perseguição, consegui pegar seu braço, virando-a para mim.

– Kuri – falei. – Por favor, eu...

– Draco – ela me interrompeu. – Você está com eles?! Por quê? Eu vi a Marca Negra da janela do dormitório e fiquei preocupada que você tivesse se machucado, mas... Não foi você que...?

– Não – respondi de imediato, grato por ser verdade. – Eu não matei ninguém, juro!

Ela assentiu com condescendência, parecendo mais calma.

– Certo – disse. – Acredito em você.

– Kuri, por favor, não fique brava comigo por eu estar com eles.

– Não, brava não! – disse ela balançando a cabeça embora continuasse a falar. – Estou triste pela pessoa que morreu. E... por você também, Draco.

Eu franzi o cenho, sem entender.

– Triste por mim...?

– Sim – ela secou as lágrimas, provavelmente se repreendendo por quebrar a promessa de não chorar. – Draco, eu amo muito você, mas você não pode amar ninguém.

– Kuri, não estou entendendo.

– Draco, você não pode amar ninguém sem antes amar a si próprio. Todo o tempo em que nos conhecemos, vejo isso no seu olhar. Você não gosta de você. Arrepende-se de muitas coisas.

Fiquei por um instante, perplexo. Como? Como... em tão poucas semanas... Essa garota descobriu tanto sobre mim apenas olhando em meus olhos? As coisas que realmente temi que ela descobrisse, ela acabou por descobrir no último instante, por acaso! Ela descobriu sem esforço tudo o que se passava em minha mente.

– Kuri – comecei. – Isso te impede de acreditar que eu te amo?

Ela assentiu com um sorriso triste.

– Draco, eu te amo de verdade, mas não posso acreditar que é recíproco até ver que você conseguiu não se arrepender de nada do que fez. Porque as coisas que fazemos, certas ou não, fazem quem somos nesse exato momento. Seu remorso só mostra que você não é quem parece ser.

Eu balancei a cabeça, desesperado. Ela tinha que acreditar. Tinha que acreditar no que apenas agora eu sabia: eu a amava. Apaixonara-me por ela em um curtíssimo tempo, mas não deixava de ser verdade. Eu me aproximei dela e encostei meus lábios nos seus. Ela correspondeu o beijo, mexendo-se em sincronia.

– Draco! – chamou uma voz feminina atrás de mim. Bellatrix.

Eu me afastei de Kuri, já sentindo a dor da saudade.

– Por favor, me espere – disse. – Eu vou voltar e vou te mostrar quem eu sou.

Ela sorriu tristemente e mais lágrimas brotaram de seus olhos.

– Não vai... Mas vou esperar.

– Eu te amo, Kuri – falei.

Ela assentiu.

– Eu também.

– Draco!!

Eu me virei, dobrando o corredor e quase topando com tia Bella. Não podia deixar que ela visse a garota, ou ia matá-la. Ela me agarrou pelo braço, puxando-me de volta.

– Está maluco?! Precisamos ir logo, imbecil.

Eu assenti, deixando-me ser arrastado.

– Sim, senhora. Desculpe.

Um último relance de olhar para trás e a vi na dobra do corredor, sorrindo para mim. Vi que com seus lábios ela murmurava algumas palavras que não pude ouvir, mas as li em sua boca.

– Apenas não se esqueça de amar a si mesmo, Draco.

Fim


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Notas finais do capítulo

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