Saga Sillentya: Lágrimas da Alma escrita por Sunshine girl


Capítulo 9
VIII - Impostor


Notas iniciais do capítulo

Não demorei dessa vez... Tô ficando mais esperta, época de prova sempre faz isso comigo...

Cap. com revelações bombásticas! Apertem os cintos e boa viagem! rsrsrsrsrs...



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Capítulo VIII – Impostor

Encaminhei-me diretamente para a sala de aula, tentando em vão esquecer os eventos recentes. Um turbilhão parecia bagunçar todos os meus pensamentos, um turbilhão de olhos azuis e de nome Christian, para ser mais exata. Mas no fim, optei por não permitir que ele mexesse comigo. Eu tinha algo mais importante a fazer.

Sentei-me em minha carteira, observando enquanto a sala enchia-se aos poucos, o fluxo lento de alunos adentrando pela porta. O primeiro período seria História Européia e Tamara não teria aula comigo. Mas Peter sim.

Senti-me tensa de repente, nós não havíamos nos falado muito desde meu acidente. Eu não sabia ao certo se ele ainda se encontrava magoado por minha rejeição. Mas ele também não havia me ignorado nessas últimas semanas, o que devia significar que nossa amizade ainda permanecia intacta.

Assim que a silhueta elegante do Senhor Blake irrompeu pela porta, todos os demais se assentaram, o murmúrio sendo reduzido a um baixo sussurro. Logo, ele já revisava sobre o conteúdo da aula anterior e nos apresentava ao tema do seminário na semana que vem.

Porém, conforme os segundos avançavam, a aula arrastava-se, eu comecei a perder o foco no que o Senhor Blake explicava. Um calor diferente apoderava-se de meu corpo, subindo através do meu dorso e concentrando-se em meus ombros e pescoço. Depois veio a falta de ar.

Eu não sabia o que estava havendo comigo. Sentia-me sufocada. Tentei afastar a gola da blusa da pele de meu pescoço. Mas a sensação ruim não passava. Curvei-me sobre a mesa, encolhendo meu corpo na cadeira, enquanto cerrava os olhos com força e tentava inutilmente respirar.

Arfei, tentando fazer de alguma forma que o ar penetrasse através das minhas vias respiratórias. O calor ainda se acumulava em meus ombros e em meu pescoço. Toquei minha pele com a ponta dos dedos e a sensação que tive era de estar pegando fogo. Não sei por quanto tempo permaneci absorta, enquanto aquele mal-estar me consumia. Mas uma voz conhecida despertou-me de meu inferno. E uma mão quente repousava em meu ombro.

- Agatha, você está bem?

Era Peter. Não percebi que ele estava sentado ao meu lado direito. Ergui minha face, o máximo que pude, uma tontura começava a apanhar-me agora. Encontrei os olhos verdes, ele parecia preocupado comigo.

- Acho que não estou muito bem. – respondi-lhe, ofegante.

- Quer que eu chame o professor? – ofereceu-se ele, gentilmente.

- Não! – eu exclamei com todas as forças que pude – Só peça para que ele permita que eu vá tomar um pouco de ar. – acrescentei. Lá fora, quem sabe, eu melhorasse um pouco.

- Eu vou com você então. – murmurou ele, decididamente. E mais uma vez eu tive de impedi-lo.

- Não, eu posso ir sozinha.

A mão de Peter em meu ombro foi retirada e eu senti o ar agitar-se ao meu redor, enquanto ele levantava-se e ia até o professor. Meu ombro queimou no mesmo instante, e eu soube que não podia mais conter os gritos de agonia. Minha pele parecia estar sendo consumida por chamas.

Levantei-me de minha carteira, ignorando os olhares que foram direcionados para mim assim que o fiz. Corri até a porta da sala e cruzei o longo corredor, agora vazio, adentrando como um furacão no banheiro feminino.

Lancei-me até a grande pedra de granito da pia, escorando meu peso nela. Livrei-me do casaco no mesmo instante, lançando-o de qualquer maneira no chão. Abri a torneira e mergulhei as mãos na torrente de água fria e levando-as até meu rosto. Mas a sensação em minha pele não foi de alívio, meu pescoço ainda continuava em chamas, meu ombro queimava de forma pavorosa, e eu ainda arfava.

Encarei-me no grande espelho retangular acima da pia. Abruptamente, meus dedos agarraram o tecido da blusa. E então puxaram-no, revelando a pele da base de meu pescoço e de meu ombro esquerdo.

Eu ofeguei.

Chocada, recuei, cambaleando para trás. Meus dedos ainda seguravam no tecido da blusa, enquanto meus olhos encaravam meu reflexo sem acreditar. Eu jamais havia visto algo assim acontecer comigo.

A fênix de alguma forma encontrava-se em um tom mais forte do que o habitual, mais vivo, como um marrom acobreado, destacando-se contra o fundo pálido de minha pele. Observei-a, completamente incrédula. Aquilo tinha que ser um pesadelo muito, muito ruim.

Permaneci observando-a por longos segundos, antes de cair em desespero. Levei minha mão aos lábios, contendo os gemidos que já ameaçavam escapar de meus lábios. Cerrei meus olhos com força, quando a vertigem apanhou-me com uma intensidade maior.

Tornei a escorar-me na pia, temendo ir ao chão a qualquer momento. E então, cansada demais para lutar contra o desespero que queria dominar-me, eu sentei-me no chão, escondendo a face nos joelhos, eu só queria que aquilo terminasse o mais breve possível.

E eu chorei. Por que tinha que estar sozinha em uma hora dessas? Onde estava você, Aidan? Você devia estar ao meu lado agora.

Percebi com amargura, que eu precisava dele agora. Precisava de seu suporte naquele momento, de seu apoio incondicional. Mas eu não o tinha comigo naquele momento. Estava só, repeti para mim mesma com raiva, só, completa e indubitavelmente só.

Estava preste a levantar dali e jogar mais água fria no rosto, tentando mais uma vez atenuar os sintomas daquela forte vertigem, quando algo me impediu. Senti o chão tremer abaixo de mim, apenas um leve tremor, mas que eu pude muito bem detectar.

Arregalei meus olhos quando a pia na qual eu recostara tremeu junto a mim. Receosa, apoiei-me com uma das mãos, ajoelhando no chão frio, vi o grande espelho sacolejar, enquanto tudo o mais sacudia levemente.

Olhei em derredor, observando as cabines do banheiro tremerem todas juntas, sacolejando suavemente.

Aquilo era estranho, New Hampshire não possuía históricos de terremotos. Aquilo era geograficamente impossível. A costa leste da América não possuía terremotos, aquilo era loucura! Mas se era loucura, então porque o chão ainda sacudia abaixo de mim?

Eu com certeza teria enlouquecido naquele mesmo instante, se outro fato ainda mais alarmante não tivesse me deixado ainda mais apavorada: Observei o longo cordão pendurado em meu pescoço, e a gema grande em sua ponta brilhar, lançando feixes de luz avermelhados em todas as direções. Eu não estava mais sozinha.

E então, três batidas soaram na porta do banheiro feminino, enquanto uma voz ressoava, parecendo preocupada. Eu encolhi-me no mesmo instante.

- Agatha, você está bem?

O que faria agora? Aliviada, percebi que minha marca de nascença continuava queimando, mas a ardência havia diminuído, já não incomodava tanto. Com determinação, agarrei a jóia, escondendo-a em minhas mãos. Apanhei eu casado, caído no chão. E a voz ressoou novamente.

- Agatha, você está aí?

- Estou... – consegui responder, mas minha voz saiu meio estrangulada.

Isso atenuou a preocupação de quem quer que estivesse lá fora. Quem quer que fosse um impostor. Eu sabia que estava sozinha no banheiro, a única pessoa ali comigo era aquela que batia à porta, mas ela não era bem uma pessoa; Eu já sabia de seu segredo, eu já sabia do quê exatamente se tratava. South Hooksett havia ganhado outro desertor.

- Está tudo bem? – perguntou-me ele.

- Sim, estou quase saindo.

Abotoei meu casaco novamente, retirando a jóia que ainda cintilava em meu pescoço e a escondi no bolso dele. Pelo menos a vertigem já havia cedido. Arrumei minha expressão em uma máscara de indiferença, eu não poderia demonstrar pânico de forma alguma agora, ou despertaria as suspeitas desse Mediador.

Caminhei até a porta, minha mão trêmula, hesitou na maçaneta, mas tomando fôlego e criando coragem, eu finalmente a abri e assustei-me com o que vi. Eu arfei, meus olhos esbugalharam no mesmo instante. Não, não podia ser... Podia?

Encarei os olhos verdes como a mata, verde como as folhas de carvalho na primavera. Era o Senhor Blake, o professor de História!

Ele ergueu as sobrancelhas, parecendo-me desconfiado.

- Peter disse-me que você não estava se sentindo muito bem, é verdade?

Pigarreei para encontrar minha voz novamente, eu ainda não acreditava no que estava havendo.

- Si-sim, mas já estou melhor.

- Que bom então. Acha que consegue voltar para a sala, ou prefere ficar na enfermaria? Você parece um pouco pálida. – observou ele.

- Vou ficar algum tempo na enfermaria. – respondi-lhe, e ele ficou com um pé atrás.

- Tudo bem. – ele assentiu e deu-me as costas, deixando-me sozinha novamente. Não consegui evitar, eu precisava ter certeza, e enquanto ele afastava-se, retirei a jóia do bolso de meu casaco. Não havia dúvida! Stevan Blake era um Mediador! Ele estava enganando a todos, inclusive a mim!

Encarei a jóia que cintilava em minhas mãos uma última vez, antes de devolvê-la ao esconderijo de meu casaco. E depois me encaminhei direto para a enfermaria. Eu não pretendia ficar muito tempo lá, só até que a aula de História terminasse. Eu não conseguiria encarar o Senhor Blake tão cedo. Principalmente agora que conheço seu mais obscuro segredo.

Quando o sinal soou, pondo fim à aula dele, eu levantei-me da cadeira acolchoada da enfermaria. Depois de observar o relógio movimentar-se com tamanha lentidão, eu estava exausta e entediada.

Tornei à sala de aula, apanhando meu material e tratei de escapulir logo, não queria um monte de perguntas. Mas já era tarde demais. Vi um par de olhos esmeraldinos aproximar-se de mim, sorrateiramente. Peter parecia preocupado.

- E então como você está? – perguntou-me ele.

- Já estou melhor, obrigada, Peter. – agradeci sua preocupação, sorrindo-lhe gentilmente.

Ele arqueou uma das sobrancelhas.

- Tem certeza? Você parecia muito mal quando deixou a sala.

- Tenho certeza absoluta. – garanti-lhe e comecei a andar pelo corredor estreito, percebendo que Peter ainda me seguia. Então tinha mais que ele queria falar-me. Revirei os olhos, teatralmente.

- Então... É, eu te vi lá fora... conversando com um... garoto estranho. – Peter parecia desconcertado ao tratar daquele assunto comigo. Ele vira minha conversa com Christian mais cedo.

- É, ele é novo na cidade. – acrescentei, eu não tinha nada a esconder de Peter de qualquer forma. E havia algo que estava corroendo-me, e talvez Peter fosse a pessoa certa para tratar daquele assunto. – Peter, posso te fazer uma pergunta?

Ele estacou, prontificando-se a responder qualquer coisa que eu lhe perguntasse.

- O que você acha do Senhor Blake? – perguntei-lhe, um pouco receosa de sua reação. Ele sorriu, porém, contrariando as minhas expectativas.

- Ele é legal, - ele riu interrompendo-se – e as garotas caem de amores por ele. Mas por quê?

Estreitei meus olhos e baixei o tom de minha voz.

- Não acha que talvez... Haja algo sinistro com ele?

Peter riu um pouco, mas estava óbvia a sua opinião sobre o Senhor Blake.

- Bem, ele é um professor legal, isso já é mais do que sinistro.

Baixei meus olhos, encarando o chão e mordi meu lábio inferior. Tinha algo estranho ali.

- Mas você não respondeu minha pergunta, Agatha. Por que acha que tem algo errado com o Senhor Blake?

- Por nada. – respondi-lhe, querendo encerrar aquele assunto. Peter compreendeu-me, e enquanto eu tornava a caminhar pelo corredor apinhado, ele seguiu-me novamente, sorrindo encabulado.

- Mais cedo, na sala de aula, você quase me matou de preocupação.

Então ele ainda tinha esperanças, mesmo depois d’eu tê-lo rejeitado naquela noite, na festa de Becki. De repente, ele segurou em meu pulso, detendo-me em meu percurso. Encarei-o, confusa.

- Agatha, se existe algo que a esteja afligindo, pode contar comigo, estou do seu lado.

Fiquei surpresa por seu apoio, eu não esperava aquela atitude vinda de sua parte. Sorri em resposta, Peter era uma pessoa com quem eu podia contar. Constatar isso foi como um alívio.

- Obrigada, Peter.

Ele sorriu em resposta, e seus olhos ganharam um brilho de empolgação, não conseguindo conter a felicidade que o atingira naquele momento.

- Ei, disponha. Se precisar de mim, já sabe.

Ele lançou-me uma piscadela, e estava preste a retirar-se, quando eu o impedi.

- Er, Peter?

Ele virou-se com um sorriso sincero nos lábios. Sentindo-se ótimo por ser-me prestativo.

- Sim?

Hesitei um pouco, mas que mal havia?

- Você por acaso sentiu... algum tremor de terra agora há pouco?

Eu esperava que ele fosse zombar de mim, chamar-me de louca, insana, drogada, paranóica, mas ele surpreendeu-me, ergueu as sobrancelhas, parecendo confuso e surpreso por minha pergunta.

- Não, não senti nada. Aliás, seria estranho que eu não sentisse. Mas por que está me perguntando isso, Agatha?

Semicerrei meus olhos e fitei meus pés enquanto lhe falava.

- Por nada, é só que... Eu podia jurar que senti um tremor de terra enquanto estava no banheiro feminino. Mas acho que provavelmente devia apenas estar alucinando.

- Bem, isso não é muito provável, a costa leste americana não possui terremotos.

- Eu sei, - interrompi-o – é o que eu estou dizendo a mim mesma.

Peter aproximou-se de mim novamente, colocando sua mão em meu ombro, o que me pegou de guarda baixa. Eu não estava preparada para uma atitude sua como aquela.

- Ei, se diz que sentiu, eu acredito em você. Podemos investigar isso mais a fundo, se quiser, é claro.

Sorri um pouco desconcertada. Peter ainda era meu amigo, e saber que ele apoiava-me era muito bom. Não era como ter Aidan ao meu lado, mas aquilo já me trazia um pouco de alívio. Eu não estava tão só quanto pensava.

- Obrigada. – agradeci-lhe, sinceramente. Ele sorriu-me uma última vez e depois se embrenhou no corredor apinhado, desaparecendo por entre os alunos que o povoavam.

Permaneci ali, imóvel como uma estátua, até que o sinal soou novamente, despertando-me. Eu já estava recuperada de meu mal estar, embora minha recente descoberta ainda conseguisse apavorar-me e me deixar sem fôlego novamente. Mas dessa vez, tratava-se de temor apenas, temor de que ele soubesse de que eu sabia de seu segredo mais obscuro.

Disso eu não tinha dúvida alguma, Stevan Blake era um Mediador. Mas o que ele fazia em South Hooksett, isso eu teria de descobrir por mim mesma e o mais depressa possível.

Minha avó abraçou-me uma última vez, os olhinhos negros estreitando-se cada vez mais.

Seu táxi a aguardava logo à frente. Ela estava partindo, retornando a San Diego. Vovó deixaria muitas saudades.

Afaguei seu braço, sentindo a maciez do tecido de seu casaquinho e vovó fitou-me nos olhos.

- Sentirei sua falta, minha querida. – sussurrou ela e depois tombou a face até a figura de minha mãe.

Vovó Anette abriu um largo sorriso e depois caminhou até ela. Minha mãe desfez a carranca e descruzou os braços, recebendo-a calorosamente.

- Também sentirei saudades suas, minha filha.

Minha mãe cerrou os olhos, enquanto um sorriso projetava-se automaticamente em seus lábios.

- Eu sei, mamãe, também sentirei sua falta.

Elas desfizeram o gesto, fitando-se nos olhos. Vovó apanhou sua pequena nécessaire, acenou uma última vez para nós duas e depois entrou no carro.

O táxi a levaria até Manchester, onde ela pegaria o vôo de volta para a quente e ensolarada Califórnia. A porta do automóvel foi fechada e o motorista deu a partida. Pelo vidro, pude ver vovó sorrindo e acenando, retribui seu gesto e lá estava a sensação nostálgica novamente. Eu costumava entristecer-me muito com a partida de vovó quando era menina. Acho que isso não mudou. Eu sentiria saudades dela.

Minha mãe fitou-me, os olhos negros sondando-me, e eu sabia que ela havia captado meu estado de espírito, que nada tinha a ver com a partida de vovó. Mas seja o que for que ela tenha conjeturado, preferiu deixar-me com meus próprios temores e minhas próprias desconfianças. E eu agradeci a ela mentalmente por isso.

Ela não precisava saber que em mais ou menos um mês, um fenômeno aterrorizante ia ser desencadeado e então toda a cidade correria perigo. Não havia necessidade que ela soubesse que havia um Mediador em meu encalço, cobrando-me uma dívida. E que meu professor de História poderia ser o responsável pelos últimos eventos que assombraram South Hooksett.

Definitivamente, ela não precisava saber disso.

Depois que o jantar foi servido, eu aleguei cansaço e subi as escadas, preparando-me para uma boa noite de sono. Já me bastava o que eu havia perdido nas anteriores, sendo acometida por pesadelos e mais pesadelos.

Eu já me encontrava em meu quarto, meu dever já estava pronto e meu corpo jazia preguiçosamente enroscado na cama, debaixo do edredom. E então, foi inevitável que eu tivesse de reviver todas as lembranças desagradáveis de hoje de manhã. Eu ainda não acreditava no que havia acontecido comigo.

Inconscientemente, as pontas de meus dedos começaram a afagar o desenho em meu ombro esquerdo. Agora não restava um único vestígio da ardência insuportável que quase me consumira hoje mais cedo. Aquele tremor estranho que senti. O que afinal havia sido aquilo? Eu jurava tê-lo sentido, não fora uma alucinação, pelo contrário, embora a dor drenasse todas as minhas forças, eu encontrava-me bastante lúcida. O bastante para perceber que eu não havia sonhado, realmente fora real.

E também, as recentes descobertas acerca do passado de meu pai tornaram a assombrar-me. Como isso podia relacionar-se com o que está havendo comigo? Como isso podia relacionar-se com Sillentya, e principalmente com Aidan?

Não sei ao certo quando cansada e esgotada pelo dia atribulado, eu rendi-me ao sono e caí no mundo dos sonhos outra vez.

Tudo estava escuro ao meu redor, e a única silhueta que eu podia distinguir ali era a de meu pai. Ele estava tão próximo a mim, seus olhos verdes encaravam-me sem nada dizer.

Eu queria poder correr até ele, abraçá-lo, mas algo me impedia. Quando dei por mim, mãos fortes seguravam em meus braços, prendendo-os junto de meu corpo. E o cheiro de Aidan preencheu minhas narinas. Era ele a segurar-me, era ele a impedir-me de me juntar a meu pai. Aidan estava atrás de mim, e abraçava-me, segurando-me junto ao seu corpo.

Virei minha face, encontrando-o, seus olhos castanhos não me fitavam, concentravam-se na figura de meu pai. Ele estava tenso, eu podia notar isso, a tensão irradiava de todo o seu corpo.

- Aidan? – eu o chamei, mas não houve resposta. – Aidan, o que está havendo?

Novamente ele não me disse nada. E o silêncio só foi rompido pela voz de meu pai, abafada, suave, como a voz de um anjo.

- Agatha... – ele chamava-me.

Fitei sua figura, vendo que ele estava tão tenso quanto Aidan.

- Pai? – eu o chamei, mas seus olhos não me fitavam enquanto ele falava, ele os mantinha na face de Aidan e vice-versa. – Pai, sou eu, Agatha.

Meu pai pareceu não me ouvir, continuou observando Aidan, seus músculos estavam rígidos pela tensão e ele apertava-me contra o seu corpo.

- Agatha, - tentou meu pai novamente – não dê as costas para o que você é. – murmurou ele.

A confusão atravessou todo o meu semblante naquele momento.

- Pai, do que o senhor está falando?

Ele ignorou-me novamente, focando-se somente em Aidan e em mais nada.

- Agatha, não dê as costas para o que você é, não dê as costas para a sua raça. Não se esqueça de quem verdadeiramente você é.

- Pai, eu não estou entendendo... – sussurrei.

- Agatha, vingue-me. – pediu ele – Vingue a todos. Não se esqueça, minha filha, você precisa nos vingar. Faça-os pagar.

- Pai! Por favor, olhe para mim, eu não te entendo, não entendo o que você está tentando me dizer!

Mas então, as sombras engolfaram a figura de meu pai. Eu tentei acudi-lo, tentei libertar-me do abraço de Aidan, mas seus braços restringiam meus movimentos, e não permitiram que eu fosse atrás de meu pai.

- Pai! – eu gritei para o nada.

A desolação atingiu-me como um raio em uma tempestade de verão. Eu queria chorar naquele momento. E realmente teria, se Aidan não sussurrasse em meu ouvido no instante seguinte, deixando-me completamente aturdida.

- Agatha, perdoe-me, perdoe-me, meu amor, por favor...

Virei minha face novamente, encarando-o, tentando decifrar seu olhar, mas seus olhos estavam tão frios como gelo.

- Aidan? – chamei-o novamente, mas não houve resposta de sua parte.

- Agatha, perdoe-me, por favor. – insistiu ele.

- Perdoar-lhe pelo quê? – eu perguntei, confusa.

Os olhos dele por nenhum momento encontraram os meus, e eu tive vontade de gritar. Por que ninguém me ouvia ali? Por que todos murmuravam coisas sem nexo?

Debati-me contra os braços de Aidan, tentando libertar-me, mas ele não permitia que eu fizesse tal.

- Aidan, solte-me, por favor!

Seus braços apertaram-me ainda mais, impossibilitando qualquer chance de fuga. Cerrei meus olhos com força, desejando que aquele pesadelo terminasse. Mas quando os abri novamente, eu quase fui ao chão, e certamente teria ido, se Aidan não estivesse me segurando com tanta força.

Porque ao meu redor, já não havia mais escuridão, havia um salão imenso, repleto de figuras envoltas em mantos vermelhos. A construção lembrou-me de arquiteturas antigas. O assoalho cintilava abaixo de mim. Enquanto que as luzes bruxuleavam, dançando graciosamente pelo salão.

Virei minha face para trás uma última vez, vendo que Aidan vestia o mesmo manto carmim.

- Aidan, o que está fazendo?

Sua expressão assustou-me, tão fria e impassível como eu jamais havia visto. Em seus olhos havia uma hostilidade, uma crueldade. Algo que me arrepiou por inteira. E havia algo em seu rosto, uma satisfação incontida, lembrava-me de um caçador quando apanha a sua caça.

Só despertei quando uma das figuras de manto vermelho aproximou-se de mim, em passos suaves, quase como se estivesse flutuando. Seus olhos eram azuis como a safira, como o céu em um dia ensolarado, porém, deles emanavam tanta maldade, tanta frieza, que eu o temi naquele momento. Os cabelos eram grisalhos, finos, penteados cuidadosamente. E de seu rosto, várias rugas despontavam, escondendo um pouco de seus olhos e de seus lábios finos e ressecados.

O ancião estacou diante de mim, observando-me com seus olhos safíricos e incisivos. Sua mão moveu-se, revelando vários anéis em seus dedos longos e esquálidos. E eles envolveram meu queixo, sustentando meu olhar. Enquanto um sorriso brotava no canto de seus lábios no mesmo instante.

- Ora, ora, o que trouxe para nós, Aidan?

O choque foi tamanho que eu finalmente despertei de meu pesadelo. Encarei, ofegante e sobressaltada o teto de meu quarto. Permaneci arfando até que minha respiração estabilizasse e meu coração acalmasse seus batimentos.

Quando percebi que a sensação ruim desaparecera, apertei minha face contra o travesseiro, respirando lentamente. Girei de lado no colchão, tateando-o a fim de encontrar a jóia. Meus dedos enroscaram-se na corrente dourada e fina, eu a puxei, observando-a na negridão densa. Mas não havia nada de mais. Eu ficaria bem.

- Foi só um sonho. – sussurrei para mim mesma – Apenas um sonho muito ruim, nada mais que isso.

Fechei meus olhos novamente, rezando fervorosamente para que as lembranças daquele sonho não me perturbassem no restante da noite. Mas no fundo, eu torcia realmente para que aquele sonho não passasse disso; um simples sonho.

Eu estava com medo, medo do amanhã, medo do que pudesse me aguardar. E talvez, eu realmente tivesse razão para temê-lo. Talvez, meu sexto sentido já estivesse alertando-me de que algo ruim e perverso aconteceria em breve, pondo a vida de todos, inclusive a minha, em risco eminente mais uma vez.


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Notas finais do capítulo

Ahhhhhh e então??? Gostaram da revelação??

O mal-estar da Agatha está ligado ao Wayeb... Sinistro não?

Que esse prof era estranho, isso tava óbvio, mas que ele era um Mediador... Mas se pensam que as surpresas com esse carinha acabaram... Hummmm, elas estão só começando!

Peter apoiando a Agatha... Que gentil! Os dois serão uma espécie de dupla dinâmica nessa fase!

E esse sonho hein??? As peças estão começando a se encaixar! O que falta apenas para tal é a outra parte da lenda de Riguran que eu ainda não contei! rsrsrsrsrs...

E esse Aidan tava sinistro não?? Deu medo! O.O

Obrigada a Razi por recomendar a fic, muitíssimooooo obrigada, fofa!
Próximo cap., a excursão à floresta! Mais terror e mais mistérios!

Reviews???

Beijos!