Eu Confio... escrita por camila_guime


Capítulo 1
Sempre há outra chance...


Notas iniciais do capítulo

Olá Leitoras e Leitores!
Espero que desfrutem bem deste pedacinho da minha alma!
Aproveitem!



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Draco Malfoy.

“Parabéns, o acordo foi fechado e o imóvel é seu!” – Ele ouviu isso há uma hora.

“Você está promovido, sujeito a um aumento do dobro de seu salário!” – Ele ouviu há trinta minutos atrás.

Draco Malfoy, o homem mais bem-sucedido do mundo bruxo. Alto cargo no Ministério. Dono de uma imensa propriedade no centro de Londres, com uma passagem particular para o Beco Diagonal e para o próprio Ministério da Magia.

Homem culto, inteligente e sagaz. Dono de uma beleza diferenciada: loiro de olhos tão claros que tinham brilho próprio. Rosto fresco ainda mesmo aos trinta anos de idade. Corpo em forma e caráter afiado. Talentoso e prestativo.

Draco Malfoy marcou sua passagem em Hogwarts com conquistas estudantis e com bons-feitos, ganhando prêmios para sua casa, assim como para o time de quadribol da Sonserina, representando fora e dentro da Inglaterra. Fez carreira lacônica como escritor de um livro de contos (Hogwarts e Seus Segredos), e só evoluiu dentro do Ministério, onde legislou e teve sua lei aprovada, na qual faz inadmissível qualquer desrespeito aos bruxos-nascidos-trouxa, com tese baseada sob suas experiências... Pessoais.

Mas, enfim, voltando, Malfoy tinha tudo para ser o homem mais satisfeito e feliz do mundo. Bem-sucedido em todos os aspectos e popular entre o gosto feminino. Recebia cartas de bruxas, fãs suas, e algumas o pediam em casamento. Já tivera oportunidade com grandes mulheres do mundo bruxo e até mesmo do mundo trouxa, mas nenhuma desatou seu coração...

Desde muito tempo atrás, seu coração estava ferido e, para que aquela laceração estancasse, foi preciso vedar todas as passagens, e assim seu peito se tornou algo como um sarcófago de seus próprios sentimentos.

Dentro dele, um coração mumificado e velado pela lembrança de uma única mulher. A única que soube perfeitamente ser tudo o que ele precisava, e tudo que ele merecia ao mesmo tempo. Esta mulher, a mesma que mudou sua vida, a mesma que o motivou a crescer, a mesma que o elevou até o topo, onde a visão era plena e linda, porém, o fez despencar no mais profundo abismo, o outro lado da moeda de tudo de bom que ele projetou. Que eles construíram juntos.

Hogwarts, primeiro ano.

“Andem logo! Não queiram se atrasar!” – Hagrid comandava na plataforma.

“Por acaso Hogwarts vai sair do lugar, Hagrid?” – Malfoy disse ironicamente, sorrindo ao lado de seus comparsas traiçoeiros.

“Não seja mal-criado, Malfoy! Ande! Junte-se aos outros!”.

“Gigante metido à besta!” – Malfoy murmurou ao passar por Hagrid e ir se juntar a alguns alunos numa carruagem.

Quando se sentou no banco do transporte, sentiu seu rosto sento fritado por um par de olhos castanhos-dourados que ardiam em desgosto. Virou-se para seu lado e avistou Granger o olhando de esguelha, perceptivelmente fula com ele pelo jeito com que tratara o Guarda-Caça.

“O que você esta olhando... Granger?” – Perguntou acidamente se segurando para não chamá-la do que tinha vontade... Pelo menos não agora.

“Estou vendo um perfeito idiota! Por que Malfoy? Algum problema?” – A morena falou cheia de coragem.

“Não, problema nenhum. Só toma cuidado pra não se apaixonar!” – O garoto desdenhou sarcasticamente, rindo junto com seus amigos.

Hermione queria ter encontrado uma resposta à altura, mas ficou totalmente envergonhada e constrangida, já que ninguém ali parecia apoiá-la, e sim se rebaixar ao Malfoy. A garota rezou para que mais alguém subisse naquela carruagem. Mas realmente não teve sorte.

Draco, porém, se limitou a ignorá-la perfeitamente, fazendo piadas sobre as casas que não fosse a Sonserina enquanto todos os outros na carruagem o bajulavam, ou bajulavam seu pai.

Já no Grande Salão, os alunos estavam sendo classificados, enquanto isso, os demais esperavam aos pés dos degraus onde Minerva estava junto com o Chapéu.

“E você acha que vai conseguir Malfoy?” – Perguntou Goyle debilmente.

“Já viu algum Malfoy não conseguir o que quer?” – O louro se limitou a responder.

“Que gosto!” – Hermione censurou baixinho, para si mesma, porém, Draco ouviu.

“Tem algo a ver com isso, pirralha?”.

“Não enche, fedelho!”.

“DRACO MALFOY” – Minerva anunciou.

Quando o Chapéu bradou “Sonserina”, toda a mesa verde e prata se ergueu e aplaudiu, excitada. Malfoy quase não cabia em si. Desceu os degraus do Salão e fez questão de passar perto da Granger.

“Duvido que tenha um gosto melhor!” – Desdenhou.

Hermione vacilou ao subir com as pernas bambas até o banco. Teria enfrentado Malfoy se ela não tivesse sido a próxima a ser chamada. Granger. Um nome desconhecido no mundo bruxo. Malfoy não conteu um risinho maldoso quando ninguém se manifestou a respeito da garota.

Hermione não sabia muito sobre Hogwarts. Não mais do que se falava trivialmente. As reputações das casas ela veio conhecer apenas no trem, com uns garotos que lhe deram atenção. Mas fora isso, o único exemplo do que encontraria aqui de fato era, infelizmente, Draco.

“Sonserina!” – O Chapéu Seletor bradou orgulhosamente como sempre. Minerva o ergueu da cabeça da garota.

“Não pode ser!” – Hermione cochichou para a professora com os olhos temerosos.

“Oh, minha querida, foi escolha do Chapéu! Agora vá para sua mesa!” – Minerva a enxotou apressada para terminar a longa lista.

A mesa da Sonserina nunca esteve tão perplexa. Uma desconhecida em seu meio? Uma nascida-trouxa que agora receberia uma das casas mais fortes de Hogwarts como lar? Isso só poderia ser uma peça do destino. Uma brincadeira da vida!

Hermione se encolheu no seu lugar não levanto os olhos do prato até o final do evento. Malfoy, por sua vez, não conseguia crer nem discerni por que aquela garota havia caído no ninho das cobras! “Ela não sobreviveria um ano!” – ele pensou.

Hogwarts, segundo ano.

“Hermione! Hermione! Preciso de sua ajuda!” – Zabine gritava pelos corredores.

Hermione parou e o atendeu com o assunto sobre DCAT. Ela se tornou a bruxa mais inteligente da Sonserina se esforçando mais que todos.  Em um ano, era a mais inteligente da escola. Elevara a pontuação de sua casa com orgulho, passando por cima de preconceitos e rixas, deixando alguns satisfeitos e outros ainda mais despeitados.

Draco Malfoy estava bem no meio disso.

Era um aluno exemplar, de fato. O sonserino mais admirado pela beleza refinada e madura, mesmo ainda pequeno. Odiado pela boçalidade e soberba implacáveis, porém, admirado pela inteligência e astúcia sempre em tudo o que era preciso.

Ninguém ousava falar mal (pelo menos não às claras) ou criticar Draco Malfoy, pois ele sempre estava politicamente metido nos assuntos da escola e, como líder de sua casa, nunca deixou a desejar, e todos se orgulhavam de ter este pulso forte como característica da Sonserina amada.

Pessoalmente, Draco e Hermione ainda não se batiam bem... Eram sempre incluídos nas coisas juntos, por serem a marca forte da Sonserina, mas nunca realmente admitiram o poder um do outro. E a cada dia isto se acentuava mais...

“Soube que está namorando, Granger!” – Malfoy falou com seu tom oblíquo de sempre enquanto Hermione passava. A morena parou assustada com o comentário.

“Quem disse isso?” – Perguntou intrigada.

“Eu soube...” – Ele deu de ombros. “Mas e aí? É realmente tão bom namorar o fantasma da torre da biblioteca?” – Pronto, o escárnio surgiu.

“Melhor que pensar na ideia de aturar você, SIM! Agora vê se enfia toda sua testosterona nessa árvore me deixa em paz!” – A morena berrou para quem quisesse ouvir, fazendo os demais presentes no pátio rirem abertamente do sonserino.

Draco desceu da árvore onde estava e caminhou malevolente até Hermione, que já aprendera a segurar a onda como uma boa sonserina, e não recuou.

“Como disse? Sua Sangue-Ruim!” – Malfoy sussurrou destilando veneno no rosto de Grandger.

Os presentes seguraram a respiração e caíram num silêncio mortal. Poucos sabiam que Hermione não era nascida bruxa. Os que sabiam se esqueciam, perante todo o talento da garota. Alguns nunca se atentaram para isso. A maioria acreditava que ela vinha de uma família bruxa muito humilde e desconsiderada. Porém, desta vez, o choque percorreu o rosto dos sonserinos.

Uns segundos depois, cochichos começaram. Hermione pôde discernir frases de desilusão, desgosto, arrependimento, acusação, chacota, risinhos...

A final, não conseguiu se defender daquela ofensa. Um ano inteiro para se adequar ao mundo diferente e criar uma reputação admirável. Um segundo para desmoronar todo seu esforço e trabalho lícito e belo.

As lágrimas vieram aos olhos de Hermione sem que elas pudessem contê-las. Fixamente fitou o rosto de Malfoy com bravura. Tudo que não conseguia dizer estava sendo impresso naquele olhar.

Os espectadores pareciam ainda esperar por alguma reação dela, porém, Hermione ficou imóvel em frente à Draco, que, ao perceber a densa camada de força por trás da estaticidade da garota, aos poucos começou a se sentir inseguro.

Granger sustentou o olhar até ver o sorriso de escárnio de Malfoy desaparecer por completo. Depois disso, se virou para os demais com a cabeça erguida e encarou cada um demonstrando honra e coragem. Os sonserinos pareceram se encolher neles mesmos com o poder dela.

“Alguém tem algum problema com eu ser nascida trouxa?” – Perguntou enquanto as lágrimas rolavam a parte.

Ninguém se dignou a responder.

Hermione virou a costa par Malfoy e saiu do pátio em direção ao Salão Comunal. Nada mais foi igual depois disto.

Hogsmeade, terceiro ano.

O natal chegara com força total neste ano. As ruas estavam cobertas de neve e não havia magia que aturasse limpar as calhas naquele inverno gelado. Os alunos estavam num fim de semana não-vigiado na vila, para se divertirem e passarem o dia da véspera de Natal um pouco mais livre. À noite, a ceia seria em Hogwarts.

Draco e seu mais novo caso romântico, Eliza Groune, estavam enturmados com alguns sonserinos na entrada de um chalé que o grupo alugara para passar o dia. De frente para a rua movimentada, eles apreciavam a passagem das pessoas e dos duendes, (e demais criaturas), enquanto saboreavam um chocolate quente. Uma fogueira mágica os aquecia.

Eliza massageava os ombros de Draco quando de repente, um outro sonserino se manifestou:

“Olha gente! A Granger!”.

Hermione caminhava muito mal pela nevasca, toda embrulhada e quase irreconhecível.

“Mas ela não disse que não vinha?” – Draco questionou.

“EI GRANGER!” – Eliza chamou. Hermione, surpresa, deu de cara com seus conhecidos. Não ficou tão feliz por isso. “Está vendo como é ser um picolé?” – A sonserina falou causando algumas risadinhas.

“Não, Groune! Só passeando mesmo! E você, ainda escrava sexual do Malfoy?” – Hermione replicou.

Eliza engoliu a vontade de responder quando, de repente, Hermione tropeçou numa pedra encoberta de neve e caiu de cara no gelo.

O grupo começou a gargalhar impiedosamente. Antes, não fariam isso, mas hoje, Hermione havia caído bastante no conceito deles por puro preconceito. Mas ela já esperava algo assim, infelizmente as cobras tinham também esta característica.

Draco segurou o impulso de se levantar. As risadas já estavam o cansando. Porém, não se conteve em se pôr de pé quando viu que Granger não se reerguera, e continuou sentada na neve humilhantemente.

“Qual foi Granger? Seu bumbum pregou no gelo?” – Um garoto desdenhou. Outro logo em seguida disse:

“Anda! Levanta Sangue-Ruim!”.

Foi a gota d’água.

Draco se soltou de Eliza e desferiu um soco sólido na cara do garoto que a insultou, o qual caiu em cima do primeiro, numa queda feia.

“O que deu em você, cara?” – Eliza falou.

“O que deu em vocês! Eu chamei a Granger assim, uma vez! Mas isso não significa que alguém tem o direito repetir!”.

Bravo, Malfoy foi até Hermione e se ajoelhou.

A garota chorava copiosamente, mal respirava direito.

“Hermione...” – Draco começou.

“Sai. Daqui”. – Ela sibilou.

“Não posso. Não vou. Deixa-me ajudar você!”.

“Pra que? Por que isso agora? Passei um ano sendo discriminada por sua culpa e agora quer me ajudar? Quem pensa que eu sou? Não acha que eu tenho uma dignidade?” – Ela falou com dificuldade por causa do vento gélido.

Malfoy não respondeu por um tempo.

“Desculpa”. – A palavra soou dura por entre os lábios dele. “Eu juro Hermione que não me sinto feliz por muita coisa que já provoquei e te fiz passar. Nunca tive o direito de te fazer aquilo, e não sei se mereço perdão, mas mesmo assim eu quero, eu preciso. Por favor!”.

Granger estancou e engoliu em seco. Nunca falara com Malfoy numa conversa decente, sempre era como brigas e rixas. Agora isso?

“Como eu posso confiar em você?” – Ela questionou descrente.

“Não sei. Mas gostaria que me desse uma chance de me refazer. Prometo que nunca mais vou permitir que ninguém pise em você. Eles fazem isso por influência minha, mas ultimamente não ando mais suportando essa culpa...”. – O rapaz se sentia assim desde que Hermione demonstrara força e excelência perante a primeira vez que foi declarada Sangue-Ruim. Ninguém nunca encararia aquela ofensa da forma que ela encarou.

“Não confio em você, Malfoy!”.

“Eu sei. Mas eu confio em mim, senão, eu não estaria aqui, certo de que preciso do seu perdão. Por favor, Granger. Em nome da decência que resta na Sonserina, por raras pessoas como você, me dê uma chance!”.

Hermione chorou em silêncio enquanto pensava, encarando bem os olhos de azul intenso do rapaz. Perdoar estava na sua formação, e ser justa estava em seu caráter. Uma segunda chance todos merece.

“Eu posso te perdoar, Malfoy”. – Disse ela sem humor, apenas com justiça.

Draco piscou e uma única gota de lágrima orvalhou o rosto do rapaz.

“Muito obrigada Granger!”. – Malfoy não sorriu, mas apertou a mão de Hermione integramente. Tentou ajudá-la a se levantar, mas só aí reparou por que ela permanecia jogada: seu tornozelo estava com um profundo corte.

A morena quase uivou com uma dor aguda que percorreu toda sua perna. Sem conseguir se conter chorou. Malfoy não teve outro impulso, a carregou nos braços e a levou para dentro do chalé da Sonserina sob olhares afiados do grupo descrente.

“E coitado daquele que ousar falar ou fazer alguma coisa de mal-gosto!” – Draco ameaçou passando com Hermione para dentro de um dos quartos.

Hogwarts, quarto ano.

“Draco, preciso de ajuda!” – Hermione falou adentrando no salão principal com dezenas de pergaminhos nos braços.

“Pois não, Mione”.

“A nova seleção do time de quadribol precisa ser feita, e os formulários das escolas que vieram para o Torneio Tribruxo precisam ser enviados para Snape logo, para que a Sonserina se arrume. Não tenho muito tempo até o baile de inverno, então, você pode cuidar da Durmstrang?” – A morena disparou largando metade dos pergaminhos no colo do rapaz em pleno café-da-manhã.

“Obrigado pelos votos de boa-sorte para hoje!” – O garoto respondeu em tom maroto, se fazendo de magoado.

“Boa-sorte? Por que boa-sor...?” – Hermione engoliu em seco quando se lembrou. “Nossa! Hoje é seu primeiro jogo como líder do time!”.

“Valeu por lembrar!” – Ele se doeu.

“Foi mal, Draco, foi mal mesmo!” – A garota levou as mãos à boca.

“Tudo bem, essa é a sua consideração!” – Ele enxugou uma lágrima falsa.

Os sonserinos espectadores, mesmo tendo mudado seu comportamento com Hermione, ainda se surpreendiam com a junção dos dois numa amizade de repente tão natural.

“Não! Eu te desejo muita sorte! Muita sorte mesmo!” – Hermione abraçou Draco bem forte, e por um momento se esqueceu de que estavam sendo vistos.

Draco sorriu quando ela se afastou de repente, totalmente corada.

“Relaxa Granger! Eu ganho essa por nós!” – O rapaz plantou um beijo na testa de Hermione docemente. “E é agora que as cobras dão o bote!” – Ele gritou para os sonserinos que aplaudiram no maior apoio.

“É. Tudo muito lindo, mas nada de jogo agora! Os relatórios, Malfoy!” – Hermione comandou voltando Draco aos pergaminhos.

“Ah, claro, chefa!”.

“Anda logo!”.

“Estou indo!” – Ele riu.

Hermione virou para a entrada e, quando estava indo embora, Draco a chamou:

“Granger?” – Ela olhou por cima do ombro. “Vai ao baile comigo!”.

Não soou uma pergunta. Mas era simplesmente o típico comportamento autoritário do sonserino. Hermione sorriu obliquamente, característica que adquiriu de Draco, mas não respondeu verbalmente.

À noite, o baile estava excepcional. Draco vestia seu traje a rigor milimetricamente cuidado e ajustado nas medidas certas. Estava nos trinques. Uma cobra prateada estava bordada delicadamente na sua lapela, dando um ar de poder, classe e distinção.

Ansioso, porém sério e sublime, ele esperava Hermione na entrada do salão. Logo, não tardou a aparecer. Usando um vestido de um verde profundo e escuro, Hermione desfilou do início das escadarias até em baixo. Estava magnífica, com ninguém nunca a imaginou.

Saltos altos a deixavam sensual e imponente. Um broche de serpente, somado ao seu sorriso oblíquo a deixavam uma genuína sonserina de sangue-verde. Draco não poderia ter sorrido de forma mais orgulhosa.

Eles dançaram e desfilaram majestosamente pela festa durante toda noite. Ao final, estavam na última dança. Foi quando tiveram um tempo mais reservado.

“Ainda estou sinceramente extasiado, Hermione!” – Draco falou.

“Você é tão garboso, Malfoy!” – A morena tirou por menos.

“Você nunca se deixa seduzir não garota?” – Ele falou sorrindo.

“Você acha que consegue essa proeza?”.

“Confio no meu taco!”.

Ela preferiu não responder. Obviamente a sonserina já tivera alguns casinhos muito discretos com alguns da Lufa-Lufa, da Corvinal... Mas ninguém imaginava isso dela. Também, ela nunca se envolvera com ninguém da própria casa.

“O que está olhando tanto Granger?” – Malfoy perguntou notando o olhar fixo dela.

“Sinceramente?” – Ela começou sorridente e arteira, lembrando que esta foi a primeira frase que Malfoy dirigiu a ela quando se conheceram. “Hoje estou vendo um grande bruxo!” – Elogiou sem reservas.

“Isso é uma honra vindo de você! A melhor bruxa que qualquer pessoa ou bruxo pode conhecer nesse mundo!”.

Os dois sorriram e voltaram para dança. Naquela noite, os demais perderam qualquer chance, pois naquele salão, apenas os ilustres sonserinos brilhavam.

Hogwarts, quinto ano.

“ISSO É UM ABSURDO!” – Draco berrava inconformado no Salão Comunal da Sonserina.

“Draco se acalme!” – Zabine falou.

“Umbridge quer nos deixar maluco! Simplesmente!”.

“O Ministério está sendo abusivo, isso já sabemos, mas você não pode interferir sozinho!” – Eliza disse consciente.

“Mas é um ABSURDO!”.

“Falando o Ministério de novo Draco?” – Hermione chegou perguntando.

“E o que você acha?” – Zabine disse.

“Draco, ninguém pode fazer qualquer coisa sem a proteção judicial!” – Hermione falou sabiamente, sendo a luz que pairou sobre Draco naquele momento.

“É ISSO!” – O garoto berrou. “Mione: é isso! Proteção judicial! Vou interferir nessa palhaçada que o Cornélio Fudge está fazendo com a gente! Já viram? A parede do hall de entrada não aguenta mais de observações. Umbridge é uma louca desequilibrada!”.

“Disso já sabemos! O que você tem em mente?” – Hermione perguntou sentando ao seu lado atenciosamente.

“Vou me incluir na política do Ministério. Não é ‘para todos’? Então eu tenho o direito de falar pelos alunos!”.

“UHUL! Malfoy para presidente!” – Eliza brincou.

“É sério! Ninguém se digna a se mover. Não vou ficar de braços cruzados. Se os outros perderam a coragem, as cobras mostram como se faz!” – Disse ele inflado de força.

“Tudo bem. Pode contar comigo. Vamos ao ministério agora!” – Zabine disse.

“Não sem um abaixo assinado pelos interessados e um documento concretizando nossa união na causa!” – Hermione disparou sabiamente. Todos a encararam. “Andei lendo a nossa legislação... Temos que parecer sério!” – Disse ela docemente, acanhada.

“É por isso que você é nossa!” – Draco falou orgulhoso, trazendo Hermione para um abraço grupal.

Os representantes do Movimento Contra-Abusivo, liderados por Draco, seguiram em direção ao Ministério. Não importava se estavam burlando milhões de regras insanas, nem se estavam se arriscando num caminho cheio de armadilhas (pois as redondezas da escola estavam sendo “protegidas”), não importava nem mesmo o fato de Draco estar pondo em risco o trabalho do pai dentro do Ministério. Eles não ficariam parados. Não aqueles alunos.

Chegando lá, sofreram oposições de todos os tipos, porém, aos poucos alguns bruxos de renome que também estavam se sentindo oprimidos (principalmente artistas e excêntricos) se juntaram à causa. Era impressionante como, logo, logo, até os bajuladores do governo cederam à verdade e perderam o medo de Fudge.

O MCA foi levado a sério, até que, enfim, venceu a batalha.

Fudge foi retirado do cargo e o pai de Draco assumira o posto de Ministro. Umbridge foi destituída e sua licença para lecionar foi retirada por muito tempo, até segunda ordem. Hogwarts recebeu os alunos do grupo MCA sem fazer distinção de casa ou reputação. Eles eram os vencedores juntos com o MCA (que foi apelidado de “Meio das Cobras Acadêmicas”), e muitos deles estavam perpetuados naquelas assinaturas. Naquela manifestação histórica de como o corpo estudantil se opôs à imposição.

“Draco, você foi brilhante!” – Hermione disse enquanto todos comemoravam no Grande Salão.

“Você é minha musa inspiradora, como poderia ser diferente?” – Malfoy falou sedutoramente trazendo Hermione para perto.

“Sério? Eu sou?”. – O rapaz assentiu com a cabeça. “Então quando você estiver lá no Ministério, quando for o todo-poderoso, vai se lembrar de mim?”.

“Hermione, não seja boba! Eu nunca vou conseguir esquecer você!”.

Perante esta frase, Hermione congelou. Draco, porém, não perdeu a chance. Segurou Granger pela mão e a levou até o alto da torre de Astronomia. Não sabia como teve essa ideia tão rápido, mas achou que não poderia ter pensado num lugar melhor!

“Por que estamos aqui?” – Hermione perguntou.

“Por que eu queria poder falar com você, sem a agitação lá da festa”.

“Certo. Fale”. – Disse ela inocentemente.

“Vem cá”. – Os dois foram até o janelão da torre, de onde dava para ver todo o imponente cenário de Hogwarts. “Ultimamente tenho vindo aqui, e pensado muito na minha vida. Já passei por cada pedaço dessa escola, e nos bons e maus tempos, você, querendo ou não, estava por perto” – Hermione soube sobre ao que ele se referia, e o olhou com brandura. “Quero que isso continue igual, mas cada vez melhor, Mione...”.

“Legal de sua parte, Malfoy!” – Disse ela em tom maroto.

O garoto sorriu de canto e segurou as duas mãos de Hermione, entrelaçando seus dedos frios nos dela. Aproximaram-se a ponto de ficarem com os corpos juntos, ainda se encarando com o típico olhar oblíquo que, hoje, os dois tinham assustadoramente parecidos.

“Hermione...” – Ele não quis, mas saiu um sussurro.

“Diga...” – Ela reforçou.

“Quero que você me namore”.

“Eu também, Malfoy...” – A morena sussurrou de volta e por pouco não ia sendo calada pelo beijo que se sucedeu.

Malfoy não se conteve e a abraçou com força pela cintura, provocando risos em Hermione. Rodopiou com ela no alto da torre, dando uma terrível e prazerosa sensação de medo, liberdade e plenitude.

Ambos tinham uma forma compatível de estarem juntos, um modo ajustado que não deixava a desejar em nada. Eles eram frios, mas, juntos, suas temperaturas se igualavam. Eram ansiosos e ao mesmo tempo provocantemente plácidos. Eram um Malfoy e uma Granger. Eram sonserinos.

Hogwarts, sexto ano.

“Hermione! Hermione acorda!” – Eliza chamava a dorminhoca que teimava em continuar aninhada.

“AH, me deixa!”.

“Tudo bem, mas o Draco mandou avisar que não espera mais!” – A loira jogou.

Hermione sentou na cama de sobressalto.

“O que? Como assim? Ele já está esperando?” – Tagarelou.

“Ainda está cedo, boba! Mas se eu não te chamo, você ia hibernar!”.

Hermione riu de si mesma. Nunca se imaginara estar a ponto de ir à mansão Malfoy para passar as férias de verão ao lado de Draco.

“Anda logo, Hermione, precisa se arrumar agora”.

Outra coisa: Hermione nunca sonhara em se arrumar com a ajuda de Eliza. Mas realmente as coisas mudaram... Para sua sorte.

Logo, Granger estava arrumada e pronta para seguir viagem. Desceu para o Salão Comunal e se deparou com Zabine, Goyle e Draco sentados juntos nos sofás, conversando e rindo como grandes e saudáveis amigos. Com certeza Sonserina mudara seus conceitos.

“Bom-dia pessoal!” – Disse ela se aproximando.

“Bom-dia Mione!” – eles disseram.

“Que intimidade é essa? De onde veio essa confiança? ‘Mione’ é para os íntimos!” – Draco falou fingidamente.

“Mas eu sou íntima deles, Draco!”.

“UHUHULLL!” – Os rapazes zoaram.

“Não, não, Mione, você é íntima de mim...” – O sonserino falou sedutoramente trazendo a amada para um beijo público. Coisa discreta? Ah, não mesmo!

“Parem de lambição!” – Zabine disse enquanto Goyle vomitava de mentira.

“Vamos pra casa, baby?” – Draco convidou comicamente.

“Claro!”.

“Você está fácil assim é?” – Perguntou o garoto, zombeteiro.

“Não me peça para dificultar... Você pode não aguentar!”.

Draco riu e os dois se encaminharam para fora do castelo.

Aparataram com a permissão do diretor e chegaram à mansão num segundo. É desnecessário dizer o quanto a visão era esplendorosa. Um jardim ornamental seguia no horizonte, à frente, uma alameda margeada por carvalhos levavam por um caminho de pedras cinza até o hall de entrada da mansão.

“Draco!” – Hermione se espantou.

“Isso é legal não é?” – Disse ele admirando o lugar como se não o pertencesse.

“Eu vivo num apartamento de quatro quartos em Londres...” – Ela disse de queixo caído. Boba, boba.

“Vamos ter uma mansão em Londres”. – Disse Draco em tom de promessa. “Trinta e sete quartos está bom pra você?” – Brincou enquanto se encaminhavam para casa.

“Sem exageros, Malfoy!”.

“Eu uso magia! Por fora vai parecer um barraco, por dentro...”.

“Também não é pra tanto!”.

“Você é tão modesta, Mione!”.

“Faz parte do que você admira em mim!” – Disse ela convencidamente.

Draco não ousou discordar, apenas segurou a mão de Hermione e a guiou para dentro da mansão. Obras de arte bruxas e trouxas decoravam as paredes, as mesas de canto e os pilares da imensidão dos cômodos. Granger ficava cada segundo mais admirada. Draco apenas sorria do jeito dela.

“Tem ideia de como eu estou me sentindo aqui?” – A morena começou.

“Que tal feliz?”.

“Eu ia dizer amedrontada, intimidada... Mas, bem, isso também serve!”.

Malfoy puxou Hermione para junto de si e, carinhosa e possessivamente, passou uma de suas mãos pela nuca da garota. Beijaram-se como sempre: sem reservas ou obstáculos. O único limite eles decidiam juntos, quando o ar faltava, fora isso, nada era impedimento. Assim, Hermione foi sendo levada sem ver nada a uma direção, andando alguns poucos passos. Malfoy sabia conduzir e beijar ao mesmo tempo, e isso a fez rir. Pararam logo, quando ele a permitiu se afastar um pouco.

“TCHARÃ!” – Disse ele ao apresentar um cômodo novo.

Granger passou os olhos pelo local, completamente embasbacada. Nunca vira um quarto tão perfeito. Era lindo demais para palavras. Uma cama grande estava na parede adjacente, coberta por uma colcha de linho preta, arrumada com dezenas de acolchoados, travesseiros e almofadas. Um guarda-roupa embutido de um design trouxa contrastava com um espelho de ouro e prata de estilo clássico. Duas janelas grandes deixavam à luz iluminar o quarto através de cortinas prateadas, e uma sacada revelava a visão do jardim. Num outro lado, uma estante repleta de livros e troféus e medalhas caracterizavam um dos lados de um Malfoy. Do teto, pendia um esplendoroso lustre de prata e cristais, onde as sustentações das lâmpadas eram cobras intrincadas exoticamente.

“D.R.A.C.O!” – Hermione arfou.


“Esse é o meu quarto!” – Respondeu ele orgulhoso.

“Vocês têm muitos artefatos trouxas para um Malfoy!” – Hermione notou.

“Mione, eu tenho você! Graças a isso consegui mudar alguns de nossos conceitos!”.

“Draco, sinceramente nunca sei quando você fala verdade ou quando está só tentando me seduzir...” – Ela falou em tom maroto.

Draco segurou as mãos de Hermione, eles começaram a caminha em direção à cama.

“Hermione, você pode ter certeza: tenho sempre essas duas intenções!”.

Hermione riu e caiu de costas no ninho da sua cobra preferida, a qual começou a investir com seus beijos venenosos e viciantes, porém, a sonserina parou:

“EI! Você não apresentou o MEU quarto!” – Inquiriu.

Draco riu divertido e oblíquo.

“Ah, pois é... Esqueci! Depois você me lembra de novo...” – Ele fingiu e voltou a beijar a morena.

Hermione odiava a cara-de-pau do garoto, ao mesmo tempo em que amava seu cinismo. Ria e rixava com ele até então, mas agora, era mais por hábito que por brigar de fato. Draco, por sua vez, não tinha olhos para outra que coisa que não fosse a benefício de ambos. Crescera como pessoa e sabia que estava num caminho do qual ele se orgulharia, e consequentemente deixaria Hermione orgulhosa. Isso por si só, já bastava. Era muito mais do que ele poderia ter sonhado em pedir a Merlin.

“Ham-Ham... Com licença!” – Um elfo doméstico pigarreou à porta.

Os sonserinos se soltaram e olharam para a criatura.

“Pois não, Pepe?” – Draco perguntou.

“Os patrões e os convidados, senhor, chegaram e estão na sala. Com licença!” – O elfo se retirou.

Hermione se levantou da cama alegremente.

“Meus pais!” – Ela falou contente.

“E os meus...” – Draco não soou tão seguro.

“Vamos!” – Hermione tentava puxar o garoto da cama, mas ele parecia pregado lá.

“Ah, deixa pra amanhã...” – Ele pediu como um crianção.

“Anda logo, Draco Malfoy! Meus pais são trouxas, não monstros assustadores!”.

“Eu não estou com medo deles!”.

“Então vem logo!”.

Hermione saiu arrastando Draco pela própria casa.

Hogwarts, sétimo ano.

“Draco Malfoy, estudante da Escola de Magia e Bruxaria de Hogwarts, ganhou nesta semana o prêmio de melhor conto bruxo do ano com sua obra intitulada Hogwarts e Seus Segredos. Um bruxo brilhante de apenas dezoito anos de idade, que vem se superando e mostrando, desde pequeno, o poder que possui e a vontade incessante que tem de se sobressair, notada em seus feitos estudantis, blá, blá, blá...” – Zabine lia no O Profeta Diário, enquanto Draco e seus amigos ouviam sentados perto da lareira no Salão comunal.

“ÊÊÊÊÊÊÊ!!!!” – Eles comemoraram e bateram palmas para seu colega prodígio enquanto este tentava não se deixar dominar pela vermelhidão em seu rosto.

“OLHA! DRACO REPRESENTANDO, GENTE!” – Goyle falou.

“Mas ainda tem mais!” – A voz de Hermione rompeu à barulheira. Enquanto ela se aproximava dos colegas, todos se calavam.

“Mais o que, amor?” – Draco quis saber.

“Você recebeu essa carta e...”.

“Você leu uma carta minha?” – Draco perguntou surpreso. Hermione fazia isso desde quando?

“Sim, por quê?” – Perguntou despretensiosa.

“Não, por nada. Mas, e aí?” – O sonserino estava tão agitado e envaidecido que não se continha perante mais novidades.

“TUDO BEM GENTE! SILÊNCIO!” – A garota falou alto e em bom tom, subindo no sofá. Draco ficou tenso: Hermione parecia diferente. Ela pegou a carta e a abriu. “Como Ministro da Magia, é meu dever informar que, sob acordo de todo o Ministério, Draco Malfoy está sendo convocado para uma entrevista com o Conselho Legislativo, tendo em vista sua maior idade e o término de seus estudos na Escola de Magia e Bruxaria de Hogwarts. O Ministério se faz muito interessado nos seus dons políticos e sociais. Pedimos que esteja presente conosco às nove horas em ponto, nesta terça-feira. Atenciosamente, O Ministro!”. – Hermione leu.

A turma ficou totalmente estática.

“E ainda tem mais!” – Ela falou antes que eles despertassem. Voltou a ler: “PS: Estou muito orgulhoso e satisfeito com você, filho. Lucio Malfoy”.

“OOOOWWWNNNN!!!” – Toda a turma falou em coro.

“Papai está orgulhoso, cara!” – Zabine zoou. Mas não deixou de abraçar Malfoy com apresso, o parabenizando.

“MALFOY! MALFOY! MALFOY!” – Os sonserinos cantaram e britaram juntos.

Draco permaneceu estático, olhando ora para o documento nas mãos de Hermione, ora para a pilha de seu livro na mesinha de centro. Estava incrédulo demais.

“Então, Draco! Meus parabéns!” – Hermione entregou o papel para ele e o abraçou.

Draco retribuiu ao abraço emocionado. Não segurou as lágrimas e pela primeira vez a turma o viu chorando. Houve um abraço grupal, que fez o Salão Comunal parecer pequeno.

“Hermione”, – ele iniciou quando o fuzuê se acalmou, e ele cessou o choro. “Muito obrigado Hermione!”.

“Está me agradecendo? Draco, isso é tudo seu! Você merece!” – Hermione falou derramando lágrimas à vontade, segurando o rosto de Malfoy como se não acreditasse no que ele estava dizendo.

A turma toda se calou e prestou atenção tentando ser discreta. Mas não importava, por que nem Draco nem Hermione enxergavam alguém além deles mesmos.

“Não, Mi, Você fez quem eu sou hoje! E não há ninguém que te ame mais que eu!”.

“Eu também amo você demais, Draco!” – Hermione se entregou aos braços do sonserino e, desta vez, a turma não fez mais que se retirar silenciosamente.

Ninguém nunca vira caso sequer parecido com o deles dois em toda história de Hogwarts. Os invejosos explodiam de ódio por isso, os amigos se desfaziam em alegria e condescendência, os admiradores se espelhavam neles e a escola toda se inspirava e progredia sob os exemplos dos sonserinos.

“Mione vem comigo?” – Draco perguntou.

Hermione assentiu silenciosamente, sem forças para falar algo entendível. Então, sem se importar com mais nada, os dois aparataram. Quando chegaram, se viram dentro de uma suíte de decoração simples. Era uma construção de madeira, repleta de vasos floridos, e tudo muito confortável. Pelas janelas laterais, não era visto nada além de árvores, porém, era possível escutar um murmúrio distante. Hermione olhou para Draco surpresa.

“Não é possível!”.

“É minha retribuição” – Disse ele abrindo a porta e mostrando a paisagem estonteante de um mar no horizonte.

Estavam numa ilha, sem nome, sem identificação, sem ninguém além de quem eles precisavam: um do outro.

Hermione andou até a porta e inspirou o ar que entrava. Draco sentia seus olhos molhados enquanto via ela deslumbrada com a beleza do lugar. A abraçou por trás, desfrutando do perfume de rosas que Hermione trazia.

“Obrigada Draco”. – Disse ela, emocionada, virando para ele e o beijando.

Draco e Hermione se deram ao trabalho apenas de entrar e encontrar a cama no cômodo. Não precisavam se preocupar com mais nada, nem ninguém. Os dois se beijaram se tocaram e se sentiram. Sentiram coisas que eram quase inumanas de tão grandiosas e prazerosas. Sentiram a razão de suas vidas como nunca provaram antes.

Tudo tinha um sabor novo, uma textura especial, um cheiro diferente. Eles sabiam que era a essência deles, sem alteração de nenhuma forma. Queriam um ao outro como a escuridão queria a luz. Queriam atingir limites que o céu desconhecia. E a graça do amor lhes deu o prazer de conhecer o indescritível, de desfrutarem um do outro no mais alto nível de doação e unção.

Draco encostou seu rosto ao de Hermione, ambos tinham as faces úmidas de lágrimas e suor. E ele beijou a pele dela, percebendo que queria sentir aquele mesmo sabor para o resto de seus dias, e nunca se enjoaria.

Hermione abraçou Draco com braços e pernas e o trouxe para dentro de si. Mas mais fundo que isso: para dentro de sua alma. Ela sentiu subitamente que, mesmo assim, poderia se esvair e desaparecer da presença dele. Esse pensamento terrorista só não perdurou por que Draco se fez mais presente que nunca, olhando nos olhos dela, com a intimidade de alguém que vive dentro do outro.

A promessa de eternidade e infinito se encontrava dentro do azul celeste dos olhos dele. A jura de amor recíproco estava no mar escuro dos dela.

De volta a Hogwarts, formatura.

Draco Foi anunciado e subiu ao palco para receber suas honras de Aluno Excelência. Foi saudado com aplausos e todo o tipo de comemoração da plateia. Hermione se encontrava na primeira fila, deslumbrante num vestido preto com detalhes de flores exóticas, intrincadas, numa renda verde profunda e escura.

Granger foi reconhecida como a Aluna Revelação da história de Hogwarts. Todos os seus amigos e admiradores a aclamaram, mas ninguém se sobrepôs mais que Draco, que já desistira de tentar conter toda sua graça de tê-la ao lado.

As festas em Hogwarts sempre são extremamente agradáveis e regadas a alegrias, paz e grandiosidade. Mas naquela noite, a festa em Hogwarts era requintada com energias de sentimentos como plenitude, completude, paz, união, amor. Era uma formatura diferenciada. Eram grupos de alunos que não apenas completaram seus estudos, mas sim alunos que cresceram como bruxos, como seres humanos, como criaturas repletas de magia e sabedoria.

Zabine, Eliza, Goyle e todos os outros amigos se juntaram no seu querido Salão Comunal pela última vez, mas sentiam como no primeiro dia em que chegaram lá. Hermione e Draco, pelo menos ali, não eram estrelas ou celebridades, eram apenas amigos dos demais.

“Gente! Eu queria falar algumas coisas!” – Zabine berrou. O silêncio foi feito para ele. “Quero dizer que me orgulho muito de ter pertencido a esta geração. Tenho orgulho por ter feito parte de tudo que nós fizemos. De ter compartilhado esses anos da minha vida com pessoas tão inesquecíveis! Viva a Sonserina!”.

“E por que Draco e Hermione não dão seus depoimentos agora?” – Eliza falou com a câmera ainda empunhada.

“Eu já dei depoimento demais!” – Draco começou. Na verdade, estava fazendo oratórias desde que amanheceu o dia, no Ministério, na sua tese que estava tentando ser aprovada como lei, na escola, na festa... “Por que você não vai amor?”.

Hermione hesitou, mas sentiu que seu coração pedia para agradecer a tudo o que de bom ela teve ali. Então, subiu num banco com ajuda de Draco e começou:

“Gente, eu não poderia ser mais feliz! Vocês são muito importantes pra mim. Quero dizer pra vocês que... Cada um está dentro do meu coração. Que a Sonserina nunca foi tão boa como esta! Que devemos agradecer ao que quer que acreditemos, por toda nossa conquista. Alguém tem dúvidas de que somos especiais? Bem, eu não. Muito obrigada por tudo que vocês me proporcionaram!”.

Hermione sentiu o peito doer profundamente. Calou-se e permitiu o choro. Olhou para Draco à sua frente, reluzindo de admiração e amor. Ela não percebeu muito bem como, mas no segundo seguinte, seu corpo tombava para frente.

Os sonserinos a apararam assustados. Draco deu um jeito para afastar os curiosos de perto dela e tentava acordá-la a todo custo. Mas Hermione estava profundamente desacordada.

A preocupação tomou conta de todos os Sonserinos. Cego pelo medo de Hermione estar muito mal, Draco aparatou até o hospital e a festa aos poucos se dissolveu em Hogwarts, conforme a notícia do desmaio se disseminava.

Horas se passaram sem que ninguém fosse informado de nada. Os pais de Malfoy não ousavam se aproximar do rapaz, que chorava copiosamente ao pé da porta do quarto de Hermione. Os pais da garota tentavam se consolar compartilhando a dor com os Malfoy. Amigos e mais íntimos estavam velando o momento nas proximidades da sala de espera. Não queriam tumultuar ainda mais a ocasião.

Assim, dias se passaram. O Ministro Malfoy teve que voltar ao trabalho, com a cabeça no filho e na esposa que, desolados, se exilaram no hospital. Mas mesmo assim, a vida de certa forma não parava. Exceto, claro, para Draco.

Draco finalmente teve a permissão de entrar e ver Hermione. Ela estava pálida e de aparência frágil. Como um fino pedaço de cristal.

“Hermione...” – Draco disse.

Os olhos fechados dela pareciam uma terrível brincadeira sádica. Ele queria poder ver a promessa de amor recíproco lá de novo. Ele queria poder ouvir a voz dela batendo carinhosamente em seu coração outra vez.

“Mione...” – Ele chamou outra vez num fio de voz, pois sua garganta se fechava sob o silêncio dela.

O que a vida reservou com certeza não fora nem um pouco fácil.

Hogsmeade, doze anos depois.


“Parabéns, o acordo foi fechado e o imóvel é seu!” – Ele ouviu isso há uma hora.

“Você está promovido, sujeito a um aumento do dobro de seu salário!” – Ele ouviu há trinta minutos atrás.

Ele deveria estar feliz, como todo e qualquer bruxo estaria em sua condição. Mas, para Malfoy, nada disso significava felicidade. Hermione Granger. A única que soube perfeitamente ser tudo o que ele precisava, e tudo que ele merecia ao mesmo tempo. Esta mulher, a mesma que mudou sua vida, a mesma que o motivou a crescer, a mesma que o elevou até o topo, onde a visão era plena e linda, porém, o fez despencar no mais profundo abismo, o outro lado da moeda de tudo de bom que ele projetou.


Era exatamente isso. A elevação e a queda.


Ela dizia: “A queda nos dá a oportunidade de tentar se reerguer e ser forte!”. Mas como fazer isso nessa situação? Como a vida é capaz de te dar tudo que você sequer imaginou em conseguir para, de repente, tirar de você como se não se importasse. O que a vida espera com isso?


Revolta. Dor. Rebeldia. Desapego. Rancor.


Era uma luta constante dentro do coração de Draco contra esses sentimentos. Era frustrante ter que aceitar a dor e tentar fazer dela forças para prosseguir, por que toda noite, quando deitava a cabeça no travesseiro, tudo parecia ainda irreal, sem valor.


A fé se fazia presente num fio de esperança que ele mesmo não sabia de onde vinha. E era só por isso que ainda persistia nas coisas do mundo. Era como se Hermione sussurrasse no seu ouvido durante seus sonhos, aquela voz longínqua que o pedia para não desistir, por ela, por Deus, ou pelo que ele ainda acreditasse.


E era assim.


Sentado à mesa, Draco tomava um chocolate quente, olhando através do vidro da janela, no aconchegante Café Madame Puddifoot. Lá fora, a rua de Hogsmeade estava coberta de neve.


E ele lembrou daquela noite no hospital. Sua voz a chamando, mas Hermione não respondia, e apunhalava sem dó o coração de Draco com seu silêncio e seus olhos fechados. Apenas um movimento, apenas uma demonstração de presença: quando os dedos frios dela tocaram os dele como que por reflexo. Daí então, a luz daquela moça se extinguiu na frieza da morte. Uma morte instantânea, precoce. Como um coração tão bondoso e cheio de amor poderia ter traído uma criatura tão doce e bela como Hermione?


Se Draco pudesse ter sonhado que o coração dela a trairia daquela maneira, teria doado o dele literalmente. Mas infelizmente não deu para ser.


Hoje, as únicas coisas pelas quais ele ainda pregava algum valor, são as coisas feitas em nome dela. As conquistas alcançadas para a felicidade dela, como a luta na causa dos Nascidos-Trouxa, como a luta pela justiça no mundo bruxo, a luta contra a desesperança e o desespero que perturbava sua alma.


Draco terminou sua bebida, apático a tudo e todos. Levantou-se e pagou o que consumiu. Vestiu o capuz para poder sair discretamente pelas ruas e passou pela porta do Café. Uma ventania o atingiu, assim como aos poucos que enfrentavam o caminho nevado. Sem fugir do ataque do frio, Draco deu mais um passo à frente, porém, cambaleou para o lado e teve que se segurar no poste.


Do outro lado da calçada, no final da comprida Rua de Hogsmeade, uma figura feminina chamativa sofria com a ventania, tentando atravessar a rua e seguir seu caminho, mas a nevasca dificultava.


Tomado por um impulso de que isto era o certo a fazer, Draco correu rente às portas das lojas até alcançar a pobre moça na esquina. Parou perto dela, abraçada ao poste, e retirou o capuz para que ela pudesse reconhecê-lo e aceitar a ajuda.


“Moça, eu posso ajudá-la”. – Disse sem rodeios.


A moça retirou o véu do chapéu que lhe cobria a face e o que sucedeu foi e ainda é inexplicável.


A moça era, na verdade, uma mulher muito distinta. Pele pálida pelo frio, mas lábios vermelhos e vivos. Cabelos ondulados e escuros como noite. Ela olhou nos olhos de Draco e uma sensação desconcertante de déjà vu o atingiu. Estranhamente a ela também ocorreu.


“Sou Draco Malfoy”, – Disse ele estendendo a mão. “Venha, eu ajudo. Pode confiar em mim!”.


“Eu confio”. – Disse ela seguramente.


Havia algo de muito difícil descrição naquele par de olhos castanhos. Draco nunca soube o que era. Nunca quis entender nada mais além do que pôde discernir: não importava o motivo, mas se Hermione realmente achava que ele era merecedor de outra chance na vida, ele não era ninguém para duvidar.

Fim.


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Notas finais do capítulo

Obrigada por lerem!
Gostaram?
Beijos e abraços!

Mila.



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