Sycamore Tree escrita por Countess Dracula


Capítulo 1
Capítulo único


Notas iniciais do capítulo

Fic antiguinha - recentemente pus o final e resolvi postar. =P



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/103665/chapter/1

A noite está muito fria, e o vento forte emite um ruído estridente quando sacode as árvores do jardim de nossa cabana. Mas nenhuma me interessa, a não ser a nossa árvore. Aquela especial.

Da janela de meu quarto posso ver o plátano debaixo do qual passávamos tanto tempo lendo, rindo ou apenas em silêncio pacífico. Inesquecível aquela tarde em que você girava a bengala de seu avô, indo de um lado para o outro, tentando imitar o andar de Carlitos, enquanto eu apenas olhava admirada, deitada naquela toalha de piquenique. Lembro que nessa época você estava com os cabelos curtinhos, e penteados de um jeito que me fez rir – você parecia uma daquelas criancinhas com o cabelinho arrumado para ir à missa. O que obviamente fez você ficar irritadíssimo comigo. Por pouco tempo, claro. Você jamais ficaria realmente irritado comigo, não é? E você tinha ficado um charme, de qualquer modo.

O luar ilumina nossa árvore e posso jurar que você está embaixo dela, seu longo cabelo castanho e liso, voando no ritmo da ventania. Que parece a mesma da noite em que você se foi. Da sala vem baixinha a voz de Doogie White cantando “Ariel”. Como você amava os riffs do Ritchie Blackmore, enquanto o que mais me encantava nessa música era mesmo a voz hipnotizadora do cantor. Mas ao menos chegamos a um consenso, ambos gostávamos da música. Com um suspiro, resolvo ir até a sala, trocar a música. O CD, na verdade.

O mais irônico disso tudo? Estou ouvindo Sycamore Tree, de Jimmy Scott.

Sycamore Tree.

Se essa não é a nossa música, não imagino qual poderia ser. Sento-me no banquinho do seu piano, ouvindo nossa música e um arrepio percorre meu braço quando passo minha mão pelas teclas do instrumento. As lembranças das noites em que ficava vendo você tocar suas melodias me vêem à mente. Você me prendia ali, fascinada, com suas melodias tão lindas, tão cheias de emoção, mas tão mórbidas. Principalmente mórbidas. Do nada, essa lembrança se torna tão forte que abafa até mesmo a voz de Jimmy Scott, e ouço a sua melodia. Não sei quanto tempo fiquei perdida, imersa nessas memórias. Apenas saí do transe com o barulho do vento nas árvores.

I got idea man
You take me for a walk
Under the sycamore trees
The dark trees that blow baby
In the dark trees that blow

As luzes da cabana piscaram e num impulso, levantei-me e saí porta afora, atravessando o vento cortante sem abaixar a cabeça, olhando diretamente para nosso plátano. Diretamente para você.

And I'll see you
And you'll see me
And I'll see you in the branches that blow
In the breeze,
I'll see you in the trees
Under the sycamore trees

Você continuava tão lindo. Seu rosto não tinha nenhuma marca da mutilação que aquele maldito fez em você. Seus olhos escuros continuavam no devido lugar. Você estava inteiro. E ainda era meu.

Num floreio, você retira seu chapéu de Charlie Chaplin, e estendendo sua mão, retira-me para dançar a luz do luar. Sob o nosso plátano. Dançamos enquanto estou morrendo – ataque cardíaco, é o que os médicos dirão, causado pelo terror do que supostamente vi-, sem nem ao menos notar o corpo mutilado de seu assassino, jogado do outro lado de nossa árvore.

 Fim.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Sycamore Tree" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.