O Cometa escrita por Carol, thammy horan jones, renatatwifan


Capítulo 21
21. Contando tudo.




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/103475/chapter/21

20. Contando tudo.


-Só se você me disser o que faz aqui. - me peguei falando, e dei graças aos céus por minha mente ter funcionado tão rapidamente - Eu disse que queria falar a sós com ela.

Ele se encolheu.

-Nossa, desculpa. É que eu queria te chamar para dar uma volta na praia, e quando ouvi vocês, corri direto par cá, e... A Leah estava dizendo algo sobre você estar em perigo. Eu juro que não queria me intrometer na conversa, Ness, mas eu fiquei preocupado.

Abracei-o.

-Mas não precisava, você se preocupou à toa. Não é nada de mais, Jake.

-Então você vai me contar?

-Claro. - tentei sorrir - Me leva para a sua casa? Nós podemos conversar lá.

Ele assentiu.

-Tudo bem. - olhou para os lados - Espera aqui um instante?

-Hã?

-É rapidinho. - ele disse.

-Ok. - concordei, meio incerta.

Jacob se encaminhou para trás de uma pedra e, de repente, algo voou sobre ela. Cheguei mais perto para ver o que era e... Sua bermuda? Corei fortemente, o que ele pretendia?

Olhei em volta, o lobo-Jacob saía de trás da pedra, caminhando cautelosamente até mim.

-Ufa. - suspirei, recolhendo sua bermuda do chão e dobrando-a - Achei que você fosse fazer uma dança sensual para mim. Olha aqui... - indiquei minha bochecha - Eu fiquei vermelha.

Ele latiu e sua língua pendeu de lado para fora da boca. Um sorriso de lobo bobão.

-Por que você se transformou? - perguntei, rindo junto com ele.

Jake sentou-se ao meu lado e jogou a grande cabeça para trás, indicando suas costas.

-O quê?! Não! Eu não vou subir, eu tenho medo!

Ele me fitou por um longo momento, os olhos estreitos em fendas. Mesmo estando em sua forma de lobo ele conseguia se comunicar comigo, pois sabia que eu o conhecia suficientemente bem para entender aquele olhar. Ele queria dizer: “Não confia em mim?”.

-Ai, nem vem! - protestei - É claro que eu confio em você, mas... Você é muito grande, Jacob! E se eu cair?

O lobo latiu, impaciente, e foi como se tivesse dito “você acha que eu te deixaria cair?”

-Tudo bem, tudo bem. - rendi-me - Mas vai devagar, ok?

Ele balançou a cabeça afirmativamente e abaixou a parte da frente do corpo, até encostar o focinho no chão.

Eu subi em suas costas, devagar e com muito cuidado. Estiquei-me sobre seu corpo, tentando me colocar da forma mais segura possível, mas, cara, ele era enorme! Meus braços quase não se fechavam em torno de seu pescoço.

-Se eu cair, pode ir se preparando para correr - avisei seriamente - Porque eu vou te bater tanto, mas tanto, que a sua cara vai virar do avesso. Sério.

Ele deu um rosnado rouco - sua gargalhada de lobo -, e se pôs de pé. E, como esperado, eu fiquei morrendo de medo. Olhando de cima, ele parecia ainda mais alto.

Entrelacei meus dedos em seus pelos castanhos e me inclinei bastante para frente.

Jacob começou a caminhar lentamente, para fazer um teste e ver se eu não ia cair de cara no chão. Quando viu que eu estava segura, ele entrou na floresta e aumentou o ritmo de seus passos, de uma caminhada para um trote.

-Isso é tão... - procurei um adjetivo - Emocionante!

Jake virou a cabeça e me fitou por um instante. E eu entendi sua intenção.

-Não se atreva! - avisei, mas já era tarde demais.

O grito de surpresa, medo, adrenalina... ficou preso em minha garganta, e a única coisa que eu consegui fazer foi me agarrar ainda mais a seus pelos, enquanto ele aumentava a velocidade de seu trote. E aumentou, aumentou... E de repente nós estávamos correndo. Mas não uma simples corrida, não. Suas patas mal tocavam o solo, e as árvores passavam por nós como borrões.

-Incrível. - sussurrei, impressionada e maravilhada, sentindo o vento bater em meus cabelos.

A sensação era ótima, libertadora, e se eu fechasse meus olhos... Poderia jurar que estava voando.

Corremos durante poucos minutos, e foi a experiência mais eletrizante da minha vida. Aos poucos, Jake foi diminuindo a velocidade, e meu coração foi voltando a seu ritmo normal.

Ele novamente abaixou o corpo para que eu pudesse descer - coisa que demorou um pouco para acontecer, pois eu estava completamente aérea -, e depois se encaminhou para trás de algumas árvores, carregando sua bermuda entre os dentes.

-O que achou? - perguntou ao voltar para o meu lado, nem trinta segundos depois.

Levantei as sobrancelhas e assoviei.

-Bom, tudo bem que eu achei que fosse morrer e tal... - falei, ele riu - Mas foi fascinante, Jake. A adrenalina é maravilhosa.

-Eu sabia que você ia gostar.

Ele pegou minha mão e me conduziu para fora da floresta, surpreendi-me ao ver que estávamos nos fundos de sua casa. Caminhamos até lá e ele abriu a porta. “A casa é sua”.

Fui até a garagem pegar minha bolsa que estava em seu carro - ele havia me buscado hoje pela manhã e depois fomos a pé até a casa de Sue -, e depois entrei na casa.

-Jacob? - chamei, ao não encontrá-lo em lugar nenhum.

-Eu estou no chuveiro, amor. - sua voz gritou do banheiro - Pode ficar à vontade, eu já estou quase acabando.

Deixei minha bolsa no quarto dele e depois fui para a cozinha beber algo. Minha garganta estava seca de nervosismo e minhas mãos, suando. Tudo bem - pensei, traçando meu plano - por onde começar?

Abri o primeiro botão da minha blusa.

É claro que eu não faria um strip-tease para ele... Mas, se parte de sua atenção estivesse voltada para o meu decote, ele nem se ligaria muito na conversa e aí ficaria tudo na paz.

-Um jeito muito maduro de resolver seus problemas, Nessie. - repreendi a mim mesma, abrindo mais um botão da minha blusa e expondo parte do meu sutiã.

-Falando sozinha? - Jake entrou na cozinha, vestindo apenas uma calça de moletom e esfregando uma toalha na cabeça para secar os fios curtos de seus cabelos.

Eu não respondi a princípio. Estava muito concentrada em seguir com os olhos o caminho indecente que uma gotinha d’água percorria em seu torso nu: ela rolou por seu peito, por cada gominho de seu abdome superdefinido, e morreu no cós de sua calça. Ai ai O.o

-Hã? Não, é... Hm. - engoli em seco ao vê-lo se aproximar de mim com um sorriso safado.

-Isso tudo é calor? - ele me puxou pela cintura.

Corei ao perceber que ele falava da minha blusa.

-É... - falei com a voz bem fraquinha, sentindo seus lábios quentes em meu pescoço.

-Bom, então... Se você quiser tirar a roupa, eu não me oponho, sabe? - sussurrou maliciosamente em meu ouvido e depositou um beijo molhado por ali - Eu não quero que o calor incomode a minha princesa.

Meu corpo inteiro tremeu.

-Não se preocupe - sussurrei sofregamente - O calor não me incomoda nem um pouco.

Ele deu um riso rouco e, logo em seguida, sua boca já estava na minha. Eu não sabia como era possível alguém ser tão gostoso quanto Jacob: seu rosto, seu corpo, seu sorriso, sua pele... Tudo! E, além do mais, ele era quente. Literalmente quente.

Seus braços fortes seguravam minha cintura firmemente, enquanto os meus envolviam seu pescoço - meus dedos entrelaçados em seus cabelos. Eu já não estava mais conseguindo me segurar, eu o queria. Queria de todo o meu coração me entregar completamente a ele.

Mas agora nós tínhamos um assunto mais sério para resolver.

-Jake? - chamei baixinho entre seus lábios.

Ele, no entanto, não parou de me beijar. Suas mãos - nada bobas - já entravam em minha roupa.

-Jacob? - tentei novamente, empurrando seu peito dessa vez.

Consegui fazê-lo se afastar, mas só um pouquinho e relutantemente. Ele me olhou, confuso e frustrado.

-O que foi, Ness?

-Você não estava curioso sobre o assunto entre mim e Leah, antes? Eu achei que quisesse saber.

Ele coçou a parte de trás da cabeça, um pouco envergonhado.

-Ah, é mesmo. Acho que você me distraiu.

Eu ri.

-Bem, foi você quem me atacou.

Jacob sorriu, revirando os olhos. Foi até a geladeira, pegou uma garrafa de cerveja e sentou-se à mesa.

-E então, senhorita? Qual era o assunto tão misterioso? - deu um tapinha em seu colo para que eu me sentasse ali. Eu não o fiz.

Estava muito nervosa.

-Ness? O que houve?

Puxei o ar com força, esperando que toda a coragem que eu NÃO tinha fluísse para a minha boca e eu conseguisse falar.

-Jacob... - comecei com certa dificuldade - Essa conversa é bastante séria, ok? Eu só queria pedir que você me ouvisse até o final antes de tirar conclusões precipitadas. Isso é muito importante para mim, de verdade.

Ele uniu as sobrancelhas, mordendo o lábio inferior.

-Você está me deixando nervoso.

Assenti.

-Eu sei, desculpe-me. Mas então... Você vai colaborar, não é?

Ele concordou.

-Claro, claro.

Suspirei e  fui até a mesa. Sentei-me em uma cadeira de frente para ele.

-É sobre... - pensei um pouco - A minha família. Mas, olha, eu juro que eu não sabia... Antes. É, isso mesmo: antes eu não sabia, eu nunca soube. E Alice só me falou porque, bem, tendo um lobisomem como namorado, hora ou outra eu iria descobrir, certo? Mas não seria muito legal se você descobrisse antes de mim, então...

-Ãh... Nessie? - Jake me interrompeu - Até agora eu não entendi nem uma palavra do que você disse. Eu acho, sei lá, né, só acho que você deveria me explicar ao invés de me confundir ainda mais.

Eu ri nervosamente.

-Ok, você está certo. Mas é que é tão sério... Um segredo que não é meu, e eu estou prestes a contar a alguém...

-Segredo? - interrompeu-me novamente.

-É. - confirmei - Um segredo. Mas você vai ficar muito louco com isso, eu sei, eu te conheço.

-Tudo bem, agora eu estou realmente nervoso. - passou as mãos pelos cabelos - É só falar, Ness... Não precisa enrolar tanto, ok? É só falar.

Só falar... Tão simples! Argh, que droga.

-Bem, a história é meio longa. - avisei - Começa há uns vinte e cinco anos atrás, mais ou menos, quando meus pais se conheceram, e conheceram as irmãs Sawyer (N/A: bem, eu até que procurei, mas em momento algum é mencionado no livro qual seria o sobrenome do clã de Denali, então, eu meio que as batizei. Pois é, Sawyer será o sobrenome delas nessa história, porque eu estou dizendo e pronto ù.u).

“Meu pai cursava  engenharia civil na University of Alaska Anchorage, no Alasca. Tanya Sawyer era sua colega de turma, mas eles nunca se falavam. Ela era estranha - segundo papai -, quieta. Nunca chegava perto dos outros e nem trocava mais do que duas ou três palavras com ninguém.

Foi assim, cada um em seu canto, até o dia em que os dois tiveram que fazer um trabalho em dupla. Sempre começa dessa forma, não é? Bem, eles gostaram muito da companhia um do outro, e acabaram se tornando bons amigos. Tanya apresentou meu pai à suas irmãs Kate e Irina, que não estavam na faculdade ainda. Ele gostou muito delas também.

É claro que meu pai não era tapado a ponto de não perceber que havia algo de diferente nas três, sempre tão reservadas e cuidadosas. E chegou um dia em que a curiosidade dele venceu sua polidez e bons modos, e ele questionou-as. O que havia? Qual era o segredo que guardavam com tanto afinco? Porque havia um segredo, só podia haver.

As irmãs, a princípio, ficaram muito nervosas. Tinham medo de perder sua amizade. Mas nem sequer tentaram mentir ou dissuadi-lo de suas desconfianças. Contaram que, realmente, tinham um grande segredo. Um segredo mortal. E que, justamente por isso - por ser perigoso para ele -, não podiam revelar-lhe o que era. Meu pai, mesmo insatisfeito com a explicação pobre que obteve, aceitou tudo sem pedir maiores detalhes. O carinho e a amizade que sentia por elas eram maiores do que qualquer desconfiança.

Nessa mesma época, meus pais se conheceram.

Mamãe morava na Flórida desde criança, junto com meus avós Renée e Charlie. Pouco antes de se formar no ensino médio, contaram a ela que minha avó tinha câncer. Bella ficou muito abalada com isso, e desistiu de cursar Chemistry, pois queria que todo o seu fundo universitário fosse usado no tratamento de vovó. Ela foi, então, estudar em Anchorage, pois havia conseguido uma bolsa de estudos integral lá.

Quando entrou na universidade, meu pai já estava cursando o terceiro semestre. Ele se apaixonou por ela instantaneamente, como um imprinting.” - sorri.

-Hm... Amor, por que você está me contando isso? Olha, não é que eu não esteja interessado, ok? É só que... bem, você disse que era um assunto sério e...

-Calma, apressadinho! - empreguei a maior naturalidade possível ao meu tom - Ainda vou chegar lá.

Ele sorriu e me deu um selinho.

-Ok, desculpe a interrupção.

-Sem problemas. Bem, continuando...

“Papai se apaixonou por minha mãe, tudo o que ele mais queria era conhecê-la melhor, poder se aproximar. Mas Bella estava muito triste naquela época, por causa da doença de minha avó, e meio que se fechou em uma concha.

Tanya, Irina e Kate prometeram a meu pai que iriam ajudá-lo, e assim fizeram. Promoveram um encontro entre os dois, e com seu jeito de galã, Edward logo conquistou mamãe. Em pouco tempo eles começaram a namorar.

Os cinco - papai, mamãe e as irmãs Sawyer - construíram uma amizade muito forte, que dura até hoje.”

Eu terminei de falar e ficamos os dois em silêncio. Eu, perdida em pensamentos. Jacob, com o cenho franzido em confusão.

-E...? - ele perguntou de repente - Quero dizer, a história não acaba por aí, né?

Balancei a cabeça em negativa.

-Não, não acaba por aí. Lembra do que eu disse sobre o segredo? Aquele que elas nunca revelaram para meu pai?

Ele assentiu.

-Então... De fato, ninguém da minha família nunca soube a respeito disso, com exceção, é claro, de alguém muito bisbilhoteira.

Jake estreitou os olhos.

-Alice? - indagou com um meio sorriso.

Eu ri, sentindo-me um pouco mais relaxada pelo fato de ele estar colaborando com a conversa.

-Exatamente. - confirmei - Alice Enxerida Cullen.

“Como a amizade entre meu pai e as irmãs Sawyer se tornou algo bastante forte, ele acabou levando-as para conhecer o resto da sua família. Isso ainda antes de conhecer minha mãe.

Alice previu isso, e teria ficado muito empolgada com tudo - sempre adorou organizar recepções - se não fossem as visões estranhas. As três irmãs apareciam meio borradas em suas visões, e sempre em circunstâncias, hm, peculiares.

Macabras, na verdade. Foi assim que tia Allie descreveu: macabras. Ela conseguia ver a floresta, no Canadá, animais grandes e fortes, como ursos e leopardos e, como eu já disse antes: os borrões. Ela via Kate, Tanya e Irina correndo mais rápido do que as feras mais velozes da floresta, e achou que suas visões estavam caducando.

Mas teve certeza de que não tinha nada de errado com seu dom quando, finalmente, conheceu as três.”

Jacob, a essa altura, já estava bastante curioso. Desconfiado, até - eu diria.

-O que houve quando ela conheceu as três?

Suspirei pesadamente.

-Ela contou sobre as visões, assim como fez quando te conheceu. Contou que conseguia vê-las, mas em situações nada convencionais. Irina foi quem decidiu pelas irmãs, e contou o segredo a Alice. Contou o que elas realmente eram.

Pausei novamente, sem saber o que dizer dali em diante.

-E o que elas eram, Ness? Pelo amor de Deus, você quer me matar de curiosidade?

-Eu acho que prefiro mostrar a você. - falei - Tenho certeza de que você entenderá sem a necessidade de maiores explicações.

Sequei as palmas das mãos - encharcadas de suor - na minha calça jeans, e as coloquei em seu rosto. Fechei os olhos e me concentrei, tentando buscar uma lembrança leve... Algo que não o fizesse ter um ataque ou coisa assim. Sorri com a primeira que me veio à mente. Ela era PER-FEI-TA.

://FLASH BACK ON

-Já escovei os dentes! - gritei, empolgada - Agora está na hora da históriaaaaaaaa!

Saí correndo de dentro do banheiro, vestindo o meu pijaminha dos Telletubies e minha pantufa de porquinho. Joguei-me na cama e esperei...

Em menos de cinco segundos as três apareceram na porta, sorridentes. Sentaram-se ao meu redor, e Irina perguntou:

-Que história gostaria de ouvir, Nessie?

Apoiei o queixo no dedo indicador, pensativa...

-Já sei! Cachinhos Dourados!

Kate sorriu e acariciou meus cabelos.

-O que você acha de Cachinhos de Cobre? - perguntou sorrindo.

Eu ri e assenti, animada com a ideia. Tanya começou a história:

-Cachinhos de Cobre era uma menininha muito linda e curiosa, que morava no bosque com seu papai e sua mamãe. Ela adorava fazer passeios pela floresta, colher frutas e brincar com esquilos...

-Não! - protestei, fazendo beicinho - Esquilos não!

-Esquilos não?

-Eu prefiro coelhos.

As três riram.

-Coelhos, então. - Tanya continuou - Ela brincava com lindos coelhinhos brancos...

-Coelhinhos brancos? - interrompi novamente, sentando-me na cama rapidamente - Eu gosto muito de coelhinhos brancos! Você pode me contar a história de Alice no País das Maravilhas, tia Irina?

FLASH BACK OFF\\:

A lembrança terminou e eu fiquei mais alguns segundos de olhos fechados, me preparando para a bronca que eu sabia que viria. E quando finalmente tive coragem para encará-lo... Bem, eu me assustei.

Sua expressão era de raiva... Ódio, na verdade. E ele estava pálido feito cera.

-Que.porra.é.essa? - perguntou entredentes, o maxilar trincado.

Engoli em seco e não consegui responder. Jacob tremia levemente, o que me deixou com medo.

-Nessie! Dá para me responder?! Eu estou falando com você!

Ele segurou meu braço com certa força - sem a intenção de machucar, obviamente -, o que me deixou mais nervosa ainda.

Agora ele tremia fortemente, e eu sabia que não estava longe de entrar em fase.

-Pára, Jacob! Você está me assustando! - exclamei, meio histérica.

Jacob respirou fundo e me soltou. Os tremores de seu corpo estavam me deixando com medo. E o que eu vi em seu olhar... algo que nunca pensei que veria. Ele parecia amedrontado, mas também havia amargura, como se tivesse sido traído.

Não consegui conter o impulso de abraçá-lo, aquilo era natural em mim.

Mas o que ele fez em seguida, bem... O que ele fez em seguida me tirou o chão.

Estendeu uma das mãos para mim em sinal de advertência, tipo ‘fique onde está’.

-Fica longe de mim. - avisou - Eu ainda não estou completamente controlado, não é seguro.

Segurança? Era essa sua preocupação? Menos mal.

-Eu confio em você. - falei firmemente - Você não é um animal, que precisa estar controlado para que eu possa me aproximar. Você é o meu Jake, jamais me machucaria.

Sua expressão relaxou um pouco, mas seu corpo continuava tenso.

Dei mais dois passos para ele e toquei seu braço delicadamente.

-Mais calmo?

Ele respirou com força e me abraçou.

-Sim, mas só um pouco.

Sorri.

-Já é suficiente... Agora: será que eu posso te explicar o que você viu?

Ele assentiu.

-Deve.

-Ok, eu vou colocar a mão no seu rosto, então, por favor, tente não explodir em um lobo gigante e arrancar meu braço fora. - falei rindo, tentando descontrair.

Mas ele não riu, pelo contrário, me olhou com censura.

-Argh! - exclamei desgostosa - Seu senso de humor me deixa cada vez mais apaixonada por você, sabia?

-Digamos que a sua piada também não foi das mais engraçadas, né.

Dei-lhe a língua e estiquei meu braço, pousando a palma da minha mão em seu rosto. Comecei então a lhe mostrar parte da conversa que tive com Alice no dia em que ela me contou o segredo de nossos amigos.

://FLASH BACK ON

-Eles são vampiros, hm... Digamos que são “vegetarianos”, querida. - ela tentava me explicar - Não bebem sangue humano, apenas se alimentam de sangue de animais selvagens.

-Isso não tem cabimento! - objetei, convencida de que aquilo tudo não passava de uma brincadeirinha de Alice.

Ela assentiu.

-Ah, eu sei disso. Mas como não acreditar? Elas são amigas de nossa família há muito tempo. Seu pai, então? Não acha que ele já estaria morto se elas fossem vampiras convencionais?

-Vampiras convencionais. - zombei.

Alice riu um pouco.

-Quando encontraram Carmen e Eleazer, alguns anos depois de nos conhecer, elas meio que os proibiram de chegar perto de nós até terem a certeza de que os dois também tinham uma ‘dieta vegetariana’ estável e de que não nos matariam por acidente.

“Mas, com o passar do tempo, eles acabaram ganhando a confiança delas, e agora fazem parte da família Sawyer.

Eu nunca imaginei que pudesse existir algo assim, Nessie, mas a minha intuição me dizia que eu podia confiar.”

Ela sorriu e continuou:

“Quando você nasceu foi uma festa só, os vampiros quase brigavam entre si para conseguir a sua atenção. Eles te adoram, mocinha, você...”

FLASH BACK OFF\\:

Levei um susto quando Jacob, abruptamente, tirou minha mão de seu rosto.

-Eu não quero ver mais nada! - disse ele, furiosamente - CHEGA! Isso é... isso é ridículo! Eu estou enjoado, preciso vomitar. Preciso sair daqui e... Argh! Eu não aguento isso, é apavorante. Você foi, praticamente, criada por sanguessugas. Por que não me contou antes? Por que me enganou esse tempo todo?

A essa altura eu já estava encolhida, soluçando de medo. Sim, medo. Pela primeira vez na minha vida eu senti tanto medo que tive vontade de correr para os braços de meu pai como uma garotinha assustada, e isso me magoou muito. Porque eu estava me sentindo desamparada logo por aquele que se dizia meu protetor.

-EU NÃO SABIA! - gritei de volta, tentando me defender - Que droga, garoto, eu acabei de te mostrar! Alice me contou isso há pouco mais de uma semana! E sabe o que eu fiz? Passei esse tempo todo tentando encontrar a melhor forma de te contar! Articulei planos idiotas, que obviamente não funcionariam de modo algum, porque você consegue ser ainda mais idiota do que eu!

-Ah, então é isso? - ele perguntou com um sorriso debochado, os olhos sem brilho algum - Claro, né! Muito mais fácil me fazer sentir culpado! Como se eu já não estivesse mal o suficiente por ver que o meu imprinting convive com inimigos, até dorme na droga da casa deles! A presa mais fácil que aquela raça poderia querer, não que eles precisem de facilidade, é claro. Mas você vai até eles de boa vontade, sorridente, sem ideia do perigo mortal que corre!

Jacob deu um soco na mesa. Mas com tanta força que acabou rachando-a.

-PÁRA! - gritei em desespero - Eu estou com medo! Com medo de você! Os “sanguessugas” que você tão veementemente acusa, nunca me fizeram sentir o que estou sentindo agora: desamparo! E eu estou decepcionada com você, Jacob! Você é um preconceituoso, que julga sem conhecer!

Eu já não estava conseguindo conter as lágrimas, era sempre assim quando eu ficava com raiva. Minha garganta fechava, e eu sentia vontade de gritar até perder a voz.

Jacob fitou o teto, respirando fundo e apertando as mãos em punhos. Quando voltou a me olhar, parecia mais controlado.

-Eu posso até estar julgando-os, Nessie, mas tenha certeza de que não é sem argumentos: Em todos esses anos que eu vivo como lobo, já vi muitas barbaridades dessa raça de monstros desalmados, e quer saber? Eu não estou nem um pouco a fim de te deixar correr um riso desses. Isso me destruiria, droga! - sua voz diminuiu para um sussurro - Ver você machucada, e... - balançou a cabeça com força - Não! É inadmissível!

-Inadmissível é essa sua hipocrisia! - acusei, jogando as mãos para o alto - Porque se eu bem me lembro, o motivo de você ter se separado da matilha de Sam foi por achar que vampiros que não se alimentam de humanos não são inimigos! E agora, o que você vai me dizer? Que sua opinião mudou de uma hora para a outra, ou que você é tão displicente em relação ao povo da reserva, que achava ter o direito de pô-los em risco? Porque não pode que, se o comportamento de meus amigos é realmente tão duvidoso, eu seja a única em perigo!

Ele me olhou com mágoa, e eu entendi que tinha ido longe demais o acusando de displicência com seu povo.

-Desculpe-me por me preocupar tanto com você, Renesmee! - falou duramente, fugindo o olhar para não me encarar - Acontece que eu não consigo fazer de outra forma, você é toda a minha vida. É claro que eu me preocupo com a reserva, e sei que eles realmente não estavam em perigo. Mas eu não consigo pensar dessa forma quando se trata de você.

-Está vendo? - tentei falar mais suavemente - Você mesmo admite. É só questão de se acostumar, Jake, nós podemos confiar neles.

Ele balançou a cabeça.

-Todos os riscos devem ser evitados. Sem exceção.

Estreitei os olhos, pendendo a cabeça para o lado.

-O que quer dizer com isso? - perguntei desconfiada.

-Você não pode voltar a vê-los, Ness, eu te imploro. - sua voz era suplicante - Caso contrário, não me restará opção. Eu terei que matá-los.

Meu corpo gelou e eu me senti tonta ao imaginar a cena: Jacob lutando com meus amigos - e morrendo na batalha, certamente. Não, aquilo era demais para mim.

-Você não está falando sério! - eu disse - Não tem o direito de me proibir, e nem de ferir alguém sem ter motivos! Por favor, Jacob, não me faça ter de escolher entre eles e você.

Ele arfou, fechando os olhos lentamente.

-Por quê? - perguntou com a voz embargada - Responda com sinceridade: a quem você escolheria?

Eu não falei nada, fiz absoluto silêncio, sentindo-me ofendida com sua dúvida.

-Eu acho que isso responde a minha pergunta. - falou tristemente.

Minhas narinas se inflaram.

-É claro que eu te escolheria, seu animal! - falei, exasperada - É uma droga, se quer saber, porque eu estou com muita raiva de você e no momento só queria era te dar um soco bem no meio da cara. Mas o que eu posso fazer se amo, desesperadamente, um imbecil? Essa é minha sina, eu vou te amar para sempre.

Jacob ficou em silêncio, apenas me olhando e absorvendo minhas palavras. E eu já via o esboço de um daqueles sorrisos de tirar o fôlego brincar em seus lábios, então era melhor agir logo antes que ele me persuadisse.

-Mas agora eu acho melhor ir embora, preciso de um tempo sozinha. Você disse coisas horríveis sobre pessoas que nunca lhe deram motivos para isso, e eu também falei coisas que não deveria. Nós dois ouvimos o que não merecíamos ouvir. Magoamo-nos muito.

Seu semblante mudou imediatamente, e o que antes era uma expressão quase alegre, agora era puro desespero.

Dei-lhe às costas e marchei para fora da cozinha apressadamente.

-Não, Ness... - ele segurou meu braço - Por favor, espera.

-Por que eu deveria? - indaguei, sem olhá-lo.

-Porque eu te amo. Fica aqui, amor. Comigo. Por favor. - implorou.

Eu olhei para meus pés, tentando segurar as lágrimas.

-Não sei se isso é o melhor a fazer agora, os se só vai servir para machucar mais.

Ele me puxou para seu peito, abraçando-me com força.

-Eu vou te dar o espaço que você quiser, se é isso que você deseja. Só não vai embora agora, Ness, já está escurecendo e... Eu durmo no sofá, no chão, em qualquer lugar, mas dorme aqui essa noite, por favor.

-Tudo bem. - me rendi - Acho que a Rachel não se importaria se eu dormisse na cama dela, né?

-Com certeza não.

Saí de seu abraço, sua expressão desmoronou.

-Então eu, hm, vou tomar um banho. - falei.

Ele assentiu.

-Precisa de alguma coisa?

Eu preciso de você! - pensei.

-Não, eu... tenho tudo na bolsa.

-Ok, então. Enquanto você toma banho, eu preparo um lanche para nós.

Neguei com a cabeça.

-Não, obrigado. Eu comi o suficiente para um mês na casa de Sue, hoje. - tentei fazer graça, mas nenhum de nós dois riu.

Dirigi-me ao banheiro e tirei minhas roupas, entrei no boxe e encostei-me à parede. Era incrível como, mesmo estando muito magoada - afinal essa era a nossa primeira briga -, eu me sentia leve. Leve como se um peso enorme tivesse sido tirado de minhas costas, porque agora eu não escondia mais nada dele. Todos os meus segredos, todos. Jake sabia de tudo.

A noite estava chegando, e o clima agora era insuportavelmente gelado - tanto que a água do chuveiro nem chegava a esquentar direito. Esfreguei cada parte do meu corpo com bastante calma, e lavei os cabelos. Lágrimas quentes escorriam por meu rosto, mas meu choro era silencioso. Eu não queria que Jacob escutasse, isso o faria sentir ainda pior. E a verdade - eu tinha que admitir - é que ele nem estava tão errado assim, só queria me proteger. Com sua própria vida, se fosse necessário.

Desliguei o chuveiro e me enxuguei. Depois, enrolei meus cabelos na toalha e passei um creme hidratante no corpo inteiro.

Vesti minha camisola, penteei meus cabelos e saí do banheiro.

Jacob estava falando ao telefone com sua irmã, acho. Melhor - pensei -, assim não preciso falar com ele.

Encaminhei-me para o quarto de Rachel e acendi a luz. Ele já havia arrumado tudo para mim, e a cama estava pronta para  que eu pudesse deitar. Enfiei-me embaixo das cobertas e me encolhi como uma bola, tentando me aquecer, pois essa noite eu não teria o meu sol comigo. 


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Tudo bem, gurias, só tenho três palavras: NÃO ME BATAM! hauhuahauhua.. Sério, não fiquem bravas comigo por ter demorado com o capítulo, porque, sinceramente, foi muito difícil concluí-lo :(E mais, eu imagino que vocês devam ter se decepcionado com o final, né? Então eu só digo uma coisinha: a noite deles ainda não acabou! fikdica ;DBeijos e comentem MUITO, pois quanto mais reviews, mais rápido vem o próximo cap... E o próximo PROMETE!