Amigos - a Melhor Aliança escrita por camila_guime


Capítulo 47
Cerco Fechado




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47.

Danilo desceu do bloco de seu dormitório lado a lado com Stark, e anormalmente seguiam o percurso calados. Danilo fingia prestar atenção no seu MP, mudando de música aleatoriamente para não ter que entrar numa conversa. Stark fingia que não reparava, que estava com o pensamento longe, quando, na verdade, queria voltar a discutir a situação do amigo, porém, sabia que isso era inviável.

Quando alcançaram a área externa, o olhar de ambos percorreu cada pedaço do espaço, querendo apenas que alguma coisa fosse pretexto para que se falassem, porém, o olhar de Danilo alcançou primeiro alguma coisa que realmente se destacava naquela solidão do jardim:

Parecia uma garota (“indubitavelmente Rachel”, concluiu ele) deitada com a cabeça para baixo do banco. O banco deles.

Stark encontrou a mesma cena segundos depois de Danilo, porém, quando Danilo percebeu que Stark ia se preparando para provavelmente comentar sobre, ele deu uma pigarreada falsa e admirou o céu, disfarçando.

Stark teve vontade de dar um tabefe bem dado na nuca de Danilo, mas segurou esse impulso com todo bom-senso que possuía. Logo, Danilo voltou a mudar de música e seguiu o caminho se adiantando, deixando um Stark intimamente possesso pra trás. Sorte a de Danilo que, no instante seguinte, uma voz melodiosa fez Stark tirar da mente as “possíveis formas de se acabar com um teimoso na marra!”.

— Olá? – Vickie falou assim que se aproximou.

Stark virou para trás e um sorriso automático despontou em seu rosto, fazendo Vickie retribuir inconscientemente. Ela ia dando um costumeiro abraço de “bom-dia” quando, de repente, foi surpreendida por um singelo, porém profundo beijo da parte do garoto, sem dar a ela sequer condição para retribuir ou refrear.

Vickie se sentiu profundamente envergonhada, confusa, feliz e satisfeita. Não havia formalizado nada com Stark, e nem sabia que seus “encontros acadêmicos” poderiam condizer algo como isto. Contudo, não estava muito bem convencida desta situação que Stark vinha implantando sem seu consentimento real.

— Não sabia que eu tinha dado permissão pra isso. – Vickie comentou quando o rapaz permitiu um espaço entre seus rostos, mas ainda abraçando.

— Sério? Eu pensei que você tinha dado! – Respondeu, maroto.

— Quando foi que eu dei a entender uma coisa dessas?

— Algumas vezes, desde que tiramos boa nota em biologia, eu acho... Pensei que se lembraria! – Stark fez um cômico bico desentendido.

— Eu não sabia que eu tinha que lembrar... – Ela corou lembrando dos breves momentos que Stark deu de lhe roubar beijos, desde o mais tranquilo até os mais avassaladores.

— Ah, isso é uma obrigação sua! Como eu posso namorar uma garota que não lembra de quando eu a beijo?

Foi engraçado o que sucedeu: Vickie caiu numa súbita tosse que a fez lagrimar de tão forte. Quase se dobrava de dor de tanto tossir. Stark ficou meio perdido, com os olhos arregalados tentando segurar Vickie, que perdia o equilíbrio enquanto tentava discretamente se afastar.

Passou cerca de dois minutos inteiros tossindo até que se acalmou. Stark a segurou perto de si enquanto ela resfolegava.

— Nossa, Vi! – Stark recomeçou. — Tudo isso só pela palavra ”namorar”?

— O QUE?

— Foi quando sua crise começou! – Ele deu de ombros.

— Mas é claro que não foi por isso!

— Ora, foi sim!

— Foi nada!

— Então por que foi?

— Foi... Ahn... – Vickie tentava se concentrar, mas Stark não deixava. — Uma... Uma corrente de ar, que entrou no meu pulmão!

Stark ficou gravemente sério até começar a rir divertidamente.

— E você ainda diz que aprendeu biologia! – Caçoou ele, o que fez Vickie fazer um bico de quem não gostou nada do comentário.

— Foi uma corrente de ar sim!

— Então tá!

— Mas foi!

— TÁ! Eu já ouvi! – Stark riu cinicamente.

— Você não acredita não é?

— Se você está dizendo...

— Olha aqui seu loiro ensebado, eu...

— VICKIE! – Stark estancou o que seria um belo sermão sem sentido. Vickie não soube por que sua língua pareceu incapaz de pronunciar mais alguma palavra. — Vickie, me faz um favor?

A garota olhou de forma confusa para Stark, que tinha aparentemente um tom de seriedade.

— F-favor? Q-qual?

— Aceita de uma vez que a gente está namorando e vamos facilitar logo as coisas! Não queira uma relação conturbada como aquela... – Stark apontou para uma Rachel ao longe, ainda deitada no chão com a cabeça debaixo do banco.

Vickie ficou profundamente triste e intrigada ao mesmo tempo.

— O que ela está fazendo a...?

— VICKIE! – Stark a cortou novamente. — Responde! – Disse trazendo o rosto dela em direção ao seu.

— Ah, bem... – Ela hesitou procurando desesperadamente por uma fuga. — Como você quer que eu aceite nosso suposto namoro se você simplesmente pulou a parte em que eu tenho o direito de aceitar ou não e só chega na parte em que a gente se beija?

Stark riu da tagarelice, mas preferiu não contestá-la.

— Ah é? Eu pulei essa parte?

— PULOU! Como pode ter esquecido disso?

— Acha mesmo import...?

— ACHO!

— Tá bom, tá bom! – Stark tirou por menos. — Como você quer que eu faça, tipo o carinha meloso do filme da Bárbie ou do meu jeito mesmo?

Vickie sorriu sem se dar conta e desfez a tensão entre eles.

— Esqueceu que eu sou partidária dos “Queimem a Bárbie na Fogueira?” – Respondeu, marota.

— Ah é! Então... Do meu jeito... – Stark deixou um sorriso torto se apoderar de seu rosto e juntou sua testa na de Vickie, fazendo a loira inconscientemente suspender a respiração. — Vickie...

— Hum?

— Quer se, enfim, minha namorada? – Perguntou num timbre macio.

***

Rachel terminou de gravar o que queria debaixo do bando e se pôs de pé. Abraçou o livro de História e olhou em volta procurando por uma possível companhia, e logo viu Stark e Vickie muito juntos. Não dava para saber o que realmente diziam, mas não parecia ser difícil adivinhar, ainda mais quando se ouviu de Stark um sonoro:

— GLÓRIA IRMÃO!

E em seguida o loiro suspendeu Vickie num abraço selando seus lábios nos dela, contente. Vickie também parecia muito feliz.

Rachel quis realmente compartilhar aquela alegria com eles (não naquele momento, claro), mas a cena fez um golpe acertar em cheio sua dor particular. Então, resguardada, virou na direção oposta e seguiu pelo saguão lateral da escola.

***

Alan estava sentado no pé da árvore, Vanessa sentada ao lado, de frente para ele, passando um braço ao redor de seu pescoço.

— Você é muito chato! – Murmurou ela dando selinhos em Alan.

— Jura? Não sei por que não acredito... – Desdenhou.

— Ah, devia! Você é insuportável!

Alan riu enquanto ela tornava a beijá-lo.

— O defeito pode vim de você! Perfeccionista! – Acusou Alan, puxando Vanessa sorrateiramente para mais perto e apoiando as costas dela em sua perna, que estava flexionada.

— Eu não sou perfeccionista! – Vanessa deu-lhe uma tapa de leve. — Ou senão, não ficaria com você!

— HAHA! Muito esperta!

— Com certeza...

— Mas só há uma coisa inteligente a fazer agora... – Alan disse num tom rouco.

— Ah é? O que?

— Adivinha espertinha!

Vanessa riu e tornou a beijar Alan em seguida. Estavam num ângulo da árvore que com certeza os alunos não iam ver, o que tornava o hiper discreto relacionamento deles ainda mais reservado. Porém, este último beijo não demorou tanto quanto os outros...

— AHÁ! Eu sabia que era sua mochila, a avistei desde... – Rachel parou abobalhada, quando circundou a árvore e deu de cara com aquela situação. Deu três passos involuntários para trás, como se batesse em algo invisível.

Vanessa e Alan se afastaram ambos assumindo um tom rosado em seus rostos, mesmo que corar não fosse bem especialidade de Vanessa. O casal sorriu o sorriso mais cínico que tinham, tentando desfazer o clima.

— Rae! – Alan acenou.

— Capitã! Que... Surpresa!

— Ãn-han… - Rachel hesitou. — Nossa... Olha... Desculpem! Sério! Eu NÃO quero atrapalhar... Prossigam! Prossigam! – A morena sorriu amarelo e acenou um curto tchau, dando o fora dali num pulo.

***

— Eu estou dizendo, Jam, vai ter que aceitar! – Luana disse deliberadamente, pegando seu café com pão e indo sentar numa mesa. Jam, a seu lado, parecia confuso e descrente.

— Continua não fazendo sentido. Ele só falta cuspir nela! – O francês protestou sentando e pondo a bandeja com cuidado na mesa.

— Mas você viu o jeito que ele a olhar?

— Com nojo?

— NÃO! – Luana riu. — Você precisa entender que nem todo mundo conquista o parceiro com romantismo. Nem todo mundo é cavalheiro ou totalmente educado. Sabe... Canalhice está em alta hoje!

Jam parecia ainda mais intrigado.

— Sabe, não entendo vocês, mulheres! Olha, meu pai conquistou minha mãe com um buquê de rosas. Meu avô conquistou minha avó com uma serenata!

Luana continuou rindo enquanto Jam tentava entender a modernidade dos relacionamentos.

— Desculpa, com toda sinceridade Jam, isso não é mais como antes. Aliás, seus pais estão separados não estão?

— Por pouco tempo, eu acho. Vão e voltam. Mas faz parte! Agora... Gostar de uma pessoa que só te esnoba ou que ri da sua cara... Como pode?

— Isso se chama despertar de interesse. Quanto mais se instigam, mas querem vencer um ao outro, e querendo isso, se conhecem, e procuram a sedução como forma de derrotar o outro, mas logo percebem que gostam mais daquilo do que deveriam e... TCHARAN! Estão apaixonados! – Luana disse e começou a comer.

— Isso parece meio selvagem, não acha? – Jam parecia desconexo.

— Que mal faz um pouco de selvageria? – Luana falou se recostando na cadeira, manhosa, e piscando para Jam. O pobre engoliu em seco e desviou o olhar. — Jam? Responde uma coisa?

— Hum?

— Você foi prometido pro clero?

— O QUE? – O garoto tornou a olhá-la, confuso.

— Não?

— Não! – Ele pareceu embasbacado.

— Ah, que bom!

Luana jogou uma mecha ruiva pra trás do ombro e deixou sua frase pairando no ar. Jam estava perdido demais para prosseguir. Logo, Alanis se aproximou da mesa com um copo de vitamina.

— A Regenerada pode sentar? – Falou brincando e puxando uma cadeira.

— Claro! Contanto que ela não esteja com um plano maligno! – Luana brincou.

— Luana estava falando que você tem uma queda por aquele Eric! – Jam falou de uma vez.

— O QUE? – Alanis surtou.

— Você tem ué! – Luana deu de ombros com uma outra jogada de cabelo.

— Não sei de onde tirou isso, pirada!

Jam lançou um olhar de “eu não disse?” para a ruiva. Luana não se deixou atingir, e prosseguiu:

— Bem, se você não tem, vai ter, por que aquele ali tem! – Ela indicou discretamente com o queixo.

Alanis rolou os olhos e espiou por cima do ombro quem Luana apontara. Avistou primeiro Danilo, mas não foi quem lhe chamou atenção. Numa mesa atrás de Danilo, Eric e sua trupe riam alto.

Eric estava desmanchado numa cadeira, rindo da piada dos outros, bebendo café. Não parecia estar tentando ser o mau, nem o nojento que ele tentava perto das outras pessoas. Nem parecia estar falando idiotice. Apenas ria. Alanis continuou olhando e reparou que Safira não estava na mesa deles. Ergueu um canto dos lábios num sorriso inconsciente quando notou isto.

Alguém, interpretando errado o foco do sorriso de Alanis, ergueu a mão e acenou para ela, que saiu do transe na hora.

― Oi! – Danilo a cumprimentou de longe.

Alanis, enfim, sorriu para ele e acenou de volta. Quando virou de novo para sua mesa, Luana a encarava com uma sobrancelha erguida presunçosamente, e Jam tentava evitar um sorriso encarando seu prato.

O que Alanis não viu, mas sentiu, foi o olhar de Eric ardendo em suas costas, logo em seguida.

― Se um dos dois falar qualquer coisa, eu mato! – Alanis ameaçou sem conseguir fechar o sorriso que se expandiu em seu rosto.

Jam e Luana não a alertaram sobre o rapaz no outro lado do salão, e se divertiram internamente.

***

Rachel sentia borboletas no estômago, meio instável por ver Alan namorando Vanessa. Era tão estranho quando imaginar um irmão mais velho com uma garota daquela forma. Era nojento. Mas não podia deixar de sentir uma leve alegria por que sabia que Vanessa era legal, e que Alan merecia uma boa garota.

Assim, foi até o refeitório pegar nem que fosse apenas um copo de suco. Por ter chegado tarde, encontrou o salão quadrado mais lotado do que já vira alguma vez. Procurou um lugar rapidamente vasculhando por cima das cabeças que se amontoava, e achou um buraco no meio do espaço. Foi até lá.

Danilo passou as mãos pela cabeça, deitando a testa na borda da mesa. Tinha sido a pior noite mal dormida que ele já teve. As provas estavam vindo, o jogo oficial também. Estava brigado com Stark, não tinha cara para falar com Vickie e nem de longe pensava em falar com Alan. Sentia que não queria se aproximar de Alanis aquela manhã. Jam e a garota ruiva... Não seria muito agradável ficar perto deles assim, do nada!

Lembrou-se do “abraço-salva-vidas” que Rachel deu nele naquele maldito treino. Não pôde aproveitar nem um pouco daquilo, nem para esclarecer as ideias, nem para relembrar de como era ser próximo de Rachel.

― Eu sou um cachorro! – Xingou-se baixo.

Ergueu o rosto novamente e quando olhou pra frente, teve o mesmo choque que Rachel ao darem de cara um com o outro. Ela vinha em sua direção decididamente antes de empacar com o súbito encontro.

Um reflexo impulsivo assaltou aos dois ao mesmo tempo: dar um sorriso, um olhar receptivo... Qualquer coisa que ajudassem um ao outro a conseguir quebrar a parede de vidro, mas os dois orgulhosos se seguraram com toda força.

Rachel passou a mão pelo cabelo, desajeitada e, sem se dar ao trabalho de disfarçar, virou de costas e andou vacilante para onde veio.

Danilo sentiu uma raiva extrema subir pelo seu peito e se pôs de pé num rompante. Trotou atrás de Rachel, mas parou por alguma força inexplicável a menos de três metros dela. Rachel sentiu o coração metralhar quando espiou por cima do ombro e o notou tão perto. Voltou para frente e seguiu mais de pressa para fora.

***

Vickie viu Rachel saindo do refeitório como se estivesse se escondendo da polícia. Nem notou a própria amiga. Simplesmente passou correndo rente ao muro do prédio e sumiu de vista. Vickie não quis ir atrás dela, pois os raios ribombando em cima da cabeça da morena era um sinal de perigo. Logo em seguida, deu de contra com o que pareceu ser uma parede nova na porta do refeitório, mas depois notou que era só Danilo.

― Desculpa, - ele falou recuando para Vickie passar, mas ela não o fez.

― O que houve? – Perguntou definitiva.

― Vickie...

― O que ouve? – Ela insistiu mais incisiva. ― Falou com ela?

― N-não...

Vickie soltou uma lufada de ar, estressada e Danilo pigarreou.

― Posso? – Disse indicando o caminho. Vickie preferiu deixá-lo passar, não tinha condição para conversar com ele, pois sabia que acabaria partindo para agressão desta vez.

Contudo, Danilo não foi muito longe. Virou para o outro corredor e deu de cara com Stark.

― Ela estava chorando, Dan! – Stark disse fazendo Danilo se sentir zonzo. Tudo parecia girar em torno disso agora!

― Eu tenho que passar... – Ele falou como se Stark não tivesse dito nada.

― Você por acaso me ouviu? Ela estava chorando! DE NOVO! Ontem eu a vi assim duas vezes. Anteontem três! Está assim há semanas!

― Beleza pra ela não é? – Danilo ironizou, que nem sequer podia chorar.

― Danilo o que você está fazendo? Parou de enxergar a si mesmo!

― Não tenho nada para ver Stark, será que não entende? Não posso fazer nada! Não TENHO que fazer nada!

― Acho que tem sim!

― Stark! – Danilo o interrompeu. ― Por favor, não me manda falar com ela, não me dê conselho nenhum... Não quero brigar com você também!

Stark engoliu em seco e Danilo passou ao lado dele como um raio.


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Notas finais do capítulo

Gente estamos na reta final, mesmo, mesmo, nem eu acreditei quando vi isso!
Acreditem, as reconsiliações já foram escritas!
Conto com a participação de vocês!
Mila.



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