Consequências escrita por LiaLune


Capítulo 7
Bilhete


Notas iniciais do capítulo

Oi gente! Nossa, mil desculpas, dessa vez eu demorei demais!
Eu prometi que iria postar, mas ai o site teve aqueles problemas e tudo mais que acabaram me atrasando mais ainda.
Dedico esse capítulo a Morgana, por ter sido muito paciente esperando por um novo capítulo e também por ser muito querida com uma pessoa tão chata como eu :D



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Acordei muito preguiçosamente. Abri os olhos e percebi que estava na sala e não no meu quarto, aonde eu obviamente deveria estar. Numa tentativa de me levantar, apoio os braços no sofá e me sento. Má ideia. Sinto minha costa doer e meus ossos estalarem. Jogo-me de novo no sofá, desistindo. Meio minuto depois, eu me levanto e checo as horas.

     Havia acordado meia hora antes, o que significava que eu não chegaria atrasada novamente. Vasculho os armários e não encontro nada tão apetitoso assim. Opto por fazer torradas, que logo ficaram prontas. Esfomeada, não demorei muito para devora-las.

     - Bom dia – Minha mãe apareceu com o seu pijama de bolinhas vermelhas. Cômico. Pegou um iogurte da geladeira e sentou à minha frente. – Hum, torradas? Tem iogurte na geladeira.

     - Ah – reclamei. – Uma torrada não vai matar ninguém.

       Ficamos em completo silêncio após o curto diálogo, como de costume. Ao terminar de comer, tomei um banho e escovei os dentes. Penteei meus cabelos castanhos e me vesti. Depois, coloquei minha mochila nas costas e fui para o térreo do prédio, aonde minha mãe me esperava no carro.

     - Tenha uma boa aula – ela diz ao chegarmos em frente à escola. – Qualquer coisa, me ligue.

     - Está bem – Desci do carro e acenei. – Tchau, mãe.

            Ela se despediu e foi embora. Sonolenta, entrei na escola e andei pelos corredores, em direção ao meu armário. Estranhei não ter visto Samantha, mas ignorei o fato e abri meu armário, pegando o material que utilizaria no dia.

     Foi quando uma folha de papel, que aparentemente fora rasgada de um caderno às presas, caiu de meu armário. Curiosa, abri o bilhete e o li.

     “Tinha que ser a Rebecca... Só uma cadela para ficar prenha mesmo”.

      AimeuDeus. AIMEUDEUS.

Senti meu coração perder uma batida. Minhas mãos começaram a tremer, fazendo com que o bilhete caísse pelos meus dedos. Vejo Sam ao meu lado, me encarando curiosa.

     - Rebecca? – ela me chama, se aproximando. – Você está bem?

     Neguei com a cabeça e estendi o bilhete em sua direção. Ela o pegou confusa e o leu. Minha visão embaçou por causa das lágrimas que se formaram, mas ainda pude ver os olhos arregalados de Sam.

     - O que RAIOS é isso? – ela pergunta. Vira-se e me encara com uma expressão braba. – Como é que descobriram?

     - Não sei – respondo, mesmo que sem entender sua raiva repentina.

     - Mas que MERDA! – ela reclama, amassando o bilhete e o enfiando dentro do bolso da calça. – Como não sabe?

     - Eu. Não. Sei – respondo pausadamente. – Qual o seu problema? Acha que eu fiz isso de propósito? Não tem motivo para ficar nervosinha!

     - Oh, senhora da razão, eu não tenho motivo para ficar nervosinha?

     - Não, não tem. Que eu saiba a única grávida aqui sou eu – rebati.

     - Mas é a minha família que está no meio da história! Se você não se lembra, o Matthew é o pai do bebe! – ela diz rudemente.

     - Ele não tem nada a ver com isso – digo com os dentes cerrados.

     - Você é muito imatura! Minha mãe tem razão, uma criança não pode cuidar de outra – ela fala.

     Toda a raiva que eu tinha pareceu sumir com aquele comentário. Não dava para acreditar que Sam havia contado para sua mãe.

     - Por que você contou para ela? – pergunto incrédula.

     - Eu? Quem contou foi o Matthew – ela me conta, para minha completa surpresa e desentendimento.

     - Eu não entendo...

     Ela suspirou e sentou em um banco ali perto. A segui e me sentei ao seu lado, a encarando e esperando por uma explicação.

     - Ele... Só, não sei, contou a ela – Ela olha para as mãos. – Quando fui à sala, minha mãe estava péssima. E então, ela disse que não conseguia compreender o porque de você e Matthew terem... Sabe.

     - E o seu pai? Por favor, diga que ele não sabe – peço.

     - Matthew contou a ele também. Mas eu não sei o que dizer. Ele parecia meio confuso, meio decepcionado.

     Foi quando uma coisa impossível aconteceu. Vi os olhos de Samantha brilharem e lágrimas caírem.

            - Sam... – tentei consola-la.

     - Todos estão bravos comigo! Matthew, mamãe e meu pai! – ela confessa, com uma voz chorosa. – Estão decepcionados por eu não ter contado a eles.

      Palavras só iriam piorar a situação, eu sabia, pois eram poucas as vezes em que Sam chorava. Então eu a abracei. Apenas.

     - O que nós vamos fazer? – ela pergunta. – Outra pessoa já sabe sobre isso. Mas como descobriram?

-         Eu-eu não sei! – respondo.

     - Você acha que alguém leu nos bilhetes? Aquele que nós passamos durante a aula.

     - Impossível – eu discordo. – Eu coloquei todos eles no lixo.

     - Então, alguém deve ter os pego – ela diz. – Nós estamos completa e totalmente ferradas.

     - Eu sei – digo. – Mas e agora? Quer dizer, eles podem contar a alguém mais.

     - Uma hora ou outra eles vão descobrir – Sam diz. – E quando isso acontecer, nós vamos ignorar. E de qualquer modo um dia eles iam perceber o volume em sua barriga e tudo mais. Esse tipo de coisa não dá para esconder.

      Concordo com a cabeça e me levanto ao ouvir o sinal tocar.

     - Vamos, ou chegaremos atrasadas novamente.

      Definitivamente a sorte não estava ao meu lado. Cada olhar era suspeito para mim. Eu me perguntava qual deles havia descoberto meu “segredo”.

      Quando a aula começou, eu estava tremendo. Sentei-me na classe tendo plena consciência de que um daqueles alunos já me encarava com outros olhos, como se eu fosse uma qualquer, que acabou por engravidar. E isso só piorava.

     - Hoje temos uma prova surpresa – o professor diz. – Vocês têm um período para termina-la e entrega-la.

      Vários murmúrios e reclamações vinham dos alunos, que estavam revoltados. Eu apenas fiquei quieta. O professor passou por todas as mesas entregando as folhas até chegar a minha.

     Ok. Respire e se acalme. Quem for quem saiba daquilo, está ocupado fazendo a prova. Então, faça o mesmo. É apenas uma prova, você já fez isso várias vezes. Você estudou isso por horas mês passado e vai se dar bem. É.

      Recordei da matéria aprendida na aula. Era fácil. Fiz e terminei a prova em meia hora, demorando um pouco mais do que os outros alunos. Não me importei. Entreguei a prova e sentei novamente em meu lugar. Nesse meio tempo, vi Sam me passar um olhar que eu descreveria como “Você vai bem”.

     Contei os minutos para a aula terminar. A cada instante que eu ficava ali, eu sentia que ia enlouquecer. Era terrível. Mas finalmente, o sinal tocou e os alunos saíram da sala de aula. Sam veio falar comigo.

     - Eu dei uma olhada – ela diz. A encaro curiosa, sem entender sobre o que ela falava. – Sabe, nos alunos. Mas nenhum te encara tipo “Ah! Sua piranha, você deu uma de idiota e engravidou! Há, há, eu descobri!”

     Não respondi, apenas sorri levemente. Nervosa, caminhei até meu armário e, depois de o abrir, guardei meus materiais. Dessa vez, nenhum bilhete havia caído. Mas de qualquer forma, alguém sabia daquilo e não estava disposto a guardar a informação para si mesmo.

     - Sam – a chamei. Ela se virou. – Você não quer dormir lá em casa hoje à noite? Nós podemos ver um filme e comer algo.

     Ela abaixa os olhos.

     - Não posso – ela diz.

     - Não? Por quê não?

     Ela mordeu o lábio inferior e ficou encarando um ponto fixo.

     - Minha mãe prefere que eu... fique em casa enquanto não resolvemos a situação.

     Entendi no mesmo instante o que ela falava. E foi quando eu me lembrei de algo que minha mãe havia me falado. “Acho que seria mais sensato se você deixasse a poeira baixar um pouco” foram suas exatas palavras. Agora vejo que ela não é a única que tem essa opinião.

     - Ah, tudo bem.

     - Não, Becky. Nada está bem – ela discorda.

     - Sério, eu entendo sua mãe. A minha mãe acha a mesma coisa. Só que ela quer que eu e o Matthew nos entendamos. O que tem tipo... 0,00000001 por cento de chances de acontecer – Paro. – Mentira, é impossível. Mas não quero falar sobre isso. Não agora e nem aqui.

     - Certo. Eu vou indo então. Qualquer coisa... Não, acho melhor você não me ligar.

     - Concordo – digo. – Vejo você amanhã?

     - Sim – Ela sorri. – Tchau.

     Ela sai pela porta da frente da escola, por onde vários alunos também saiam. Porém, ficar sozinha naquele lugar não estava sendo nada legal. E, do nada, tive vontade de chorar. Eu sabia que agora em diante as coisas não ficariam fáceis. E eu que pensei que tudo estava indo para o seu lugar. Tsc, bobagem. Bem longe disso, aliás.

     Quer dizer, fala sério. Qual o problema de eu me encontrar com Samantha? Só porque o irmão dela está metido nessa, diríamos, confusão, não é motivo para nos separar. Mas tudo bem. Minha mãe sabe agora, e talvez ela possa me fazer companhia. Não que eu ache que ela vá analisar os caras gostosos dos seriados da televisão (não que a Sam faça isso).

     Peguei um ônibus e fui para casa. Estava morrendo de fome. Entretanto, quando eu cheguei em casa e abri a geladeira, eu tive uma maravilhosa surpresa. E o que eu achei ali dentro? Danette? Não... Bolo? Não. Qualquer coisa que seja gostosa? Não. Pois eu achei FRUTAS! É. FRUTAS!

     Ai, Deus. Tem frutas na minha geladeira. E legumes!!!

     Quem comprou essas gororobas? Eu quero chocolate, bolos, bolachas, salgadinhos, coisas que engordam e nada saudável! É sim! Achei uma lista de supermercado no balcão. De vários itens (saudáveis e horríveis, só para constatar), alguns estavam riscados, o que interpretei como os que já foram comprados. Há, há. Opa, alguém mudou a lista! Quem será que foi, hein?

     Ah, ninguém vê problema em trocar cenouras por Ruffles, não é?

     Não esperei minha mãe chegar para fazer as compras. Mudei de roupa e, um tanto indisposta, fui até o mercado mais próximo, o do Tio do Bigodin (o cara tem um bigodinho metido a chefe francês muito traumatizante), esperando poder comprar tudo e qualquer tipo de besteira açucarada.

     Enquanto procurava por um bolinho de chocolate nas prateleiras, avistei uma farmácia do outro lado da rua. Aproximei-me da janela, conseguindo então enxergar uma balança digital. Decidi me pesar.

      Atravessei a rua distraidamente, quase sendo atropelada por um carro cheio de garotos (sério, eles deviam ir na academia todo dia, porque aqueles corpinhos eram muito legais. Hehe). Morrendo de vergonha, corri para dentro da farmácia, trombando com uma enorme prateleira de absorventes e derrubado quase todos.

     A cara da funcionária - que antes organizava uns produtos -, me fez pensar que eu deveria sair da loja naquele exato minuto antes de ser estrangulada.

     - Desculpa! Foi mal, eu já arrumo – disse eu, recolocando os absorventes na prateleira.

     - Não. Tem. Problema – a moça falou, fuzilando-me com os olhos. Olhou os absorventes e fez uma cara de tédio. – Vai comprar ou não?

     - Ah, não – respondi, terminando de ajeitar minha pequena bagunça.

      Percorri o local com os olhos, logo avistando a tão procurada balança. Certificando-me que ninguém se encontrava por perto, eu subi. E arregalei os olhos. E abri a boca. E fiz uma careta que com certeza deveria estar muito estranha (tipo um extraterrestre amarelo com dor de dente. E vesgo).

     - CARA.. – Parei. Todos me fitavam. – Cara! Haha, cara de peixe, cara de avestruz.. É. Hehe.

     Isso foi o que eu disse. Por dentro eu meio que dizia “CARALHO! EU ESTOU MUITO GORDA DEMAIS DA CONTA! AI MEU DEUS! EU PRECISO DE UMA BARRA DE CHOCOLATE! Quer dizer, DE UMA BARRA DE CHOCOLATE LIGHT! Acho que eu vou desmaiar”.

     E eu desmaiei.

      Mentira, não desmaiei, mas bem que gostaria. Ir para o hospital seria uma maneira muito boa de fugir dali, isso é, se não fosse pelo fato de que os médicos iriam me examinar e fica tipo “Oh! Ela está grávida! Que horror!” e tudo mais.

     Enfim, quase sendo expulsa pela mulher, sai da farmácia e fui para a casa. Agora eu tinha um novo objetivo: Comer coisas saudáveis! Claro que não iria mudar muita coisa, já que o bebe ia crescer, minha barriga ia crescer e, querendo ou não, eu iria engordar.

     Mas eu tinha que tentar! Como é que eu me casaria com um cara super gostoso se eu estivesse gorda que nem um botijão de gás??? Fala sério.


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado.. Beijos!