Amor, Calibre 45 escrita por LastOrder, Luciss_M


Capítulo 7
Thanks for the memories


Notas iniciais do capítulo

"Era obvio, tão obvio que tinha vontade de rir de si mesmo. Nunca imaginaria que aquela pequena menina que não conseguia nem se proteger de um garoto gordo, se transformaria numa agente federal."



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Chicago

21/12/2007

Eram seis horas da manhã, o sol tentava sair no horizonte vencendo as barreiras das pesadas nuvens que enchiam o céu. E mesmo assim, ainda conseguia fazer seu papel, o amanhecer era uma das horas mais bonitas do dia.

Miguel olhava as pessoas saindo de suas casas e iniciando mais um típico dia de suas vidas pacatas, a vinte andares do chão. Sentado no telhado do prédio onde morava.

Na sua mente, repassa rapidamente o que faria hoje. Havia descoberto que Rose Monroe faria um ensaio no palco naquele mesmo dia, e junto com ela só haveriam o diretor e o sonoplasta. Ele resolveu que entraria pela saída de ar no teto do teatro, e mataria os três, sairia pela porta dos fundos, passando pelo camarim, sem levantar maiores suspeitas.

Depois teria que sumir no mundo, tinha certeza que a morte dessa atriz acenderia um holofote sobre Louis Bolevuc, e este não pensaria duas vezes antes de incriminá-lo. Felizmente, se tudo saísse como planejava, até que Louis conseguisse levar os policiais até seu apartamento, ele já estaria bem longe, provavelmente em algum lugar da Austrália.

E era esse o plano.

- Miguel, está ai? – A voz de Sarah Miller ressoou às suas costas, seguida por uma porta se fechando.

- Sarah?O que faz aqui?

- Procurei você no se apartamento, estava vazio. Então pensei que só poderia estar aqui – Aproximou-se da pequena mureta onde Miguel estava sentado, ainda olhando para baixo.

- Pensou que eu só poderia estar aqui? Achou que eu fosse me suicidar? – Sorriu com o humor negro nas suas palavras.

- Na verdade não. Você se ama demais para acabar com a própria vida. – Ele riu com a conclusão, era verdade. Sarah o conhecia bem. – No entanto estou ciente do seu desconforto com ambientes fechados.

Deixou de encará-la e se voltou para a rua. Aquela garota havia tomado seus pensamentos de novo.

- Você está diferente hoje. Está mais distante, aconteceu alguma coisa?

- Não, eu estou bem.

-Tem certeza. Acha que isso não tem nada a ver com a garota das telas?

Ele foi pego de surpresa por essa pergunta.

- Você viu? – Disse olhando para a médica.

- Impossível não ver, Miguel. Ela praticamente tomou conta da sala, desde quando você desenha quadros, achei que não gostasse de mexer com tintas?

Suspirou.

- Não gosto. Mas eu precisava colocar cor naqueles retratos.

- E fez bem, ficaram lindos. Quem é ela?

- Não sei. – Voltou a olhar a rua, agora estava bem mais movimentada.

Silencio.

- Bem... Isso é diferente.

- O que quer dizer?

- Nada, estou só pensando alto. Quero saber, na verdade, o que vai fazer agora? Louis me disse que te deu um novo serviço.

- Sim, Rose Monroe. Vai ser minha ultima vitima... Pelo menos a mando de Louis.

Sarah arqueou as sobrancelhas, nunca pensou que Miguel fosse dizer alguma coisa.

- É?

- Sim, Louis vai ser preso pela mote de Rose, tenho certeza,e quando isso acontecer vai me incriminar, tenho que estar longe nesse momento.

- Para onde?

- Austrália. Meu vôo sai hoje às seis.

Ela concordou com a cabeça, nunca se metia nas decisões de Miguel, sabia que era capaz de tomar suas próprias decisões sem interferência de ninguém. Completamente independente.

- Tenho que ir agora, quer que eu faça algo para você?

- Preciso de alguém que feche meu apartamento.

Ela assentiu e se dirigiu para a saída.

- Nos vemos qualquer dia, então.

- Eu não contaria com isso.

- Mas nunca se sabe. – Sorriu.

Ele sorriu de volta. Sarah era uma das poucas pessoas que realmente gostava.

- É, tem razão.

Ela saiu fechou a porta de ferro enferrujado, Miguel olhou para o céu,agora tão claro, e pegou o pequeno lenço do seu bolso. Ao vê-lo, ele tinha certeza de que ir embora era um erro, apenas não queria admitir. Mas... Que escolha tinha?

-------------*----------

Teatro de Chicago

21/12/2007

Thereza estava junto com Rose, o diretor e o sonoplasta. Vestida para o trabalho muito bem armada e equipada com colete a prova de balas. A tensão era palpável no ar, eram quase quatro e meia da tarde. Tudo estava preparado.

- Prima, quero que siga com o ensaio normalmente, eu vou estar te protegendo por de trás das coxias. Se você ouvir meu assobio, quero que vá até o camarim e vá pelas portas do fundo e entre em uma das três viaturas que estão lá fora, entendeu?

- Sim entendi. – Tentou disfarçar o nervosismo. – Mas você vai ficar aqui sozinho com o assassino?

Tessa sorriu confiantemente.

- Não se preocupe comigo, eu me viro por aqui. Sua maior preocupação é sair viva daqui.

- Tudo bem.

- Certo, agora vai lá e faz seu trabalho, já sabe onde estou.

Thereza se escondeu na penumbra da coxia. Seu celular tocou.

- Gary, como estão as coisas aí fora?

- Aqui está tudo bem, e ai dentro? Algum sinal suspeito?

- Não, ainda não. Mas admito que ainda estou preocupada com Rose.

- Todos estamos, e com você também, não acha melhor eu entrar ai?

- Não, precisamos de você aí fora coordenando a missão e... - Os instintos de Tessa lhe diziam que algo estranho estava acontecendo. – Tenho que desligar.

- Tessa! Espere...

Desligou na cara do superior, e segurou a arma entre suas mãos. Seus olhos de águia buscavam qualquer sinal do assassino.

Enquanto isso, Miguel se esgueirava silenciosamente pelos dutos de ventilação que terminavam sobre o palco, já conseguia ouvir as vozes da atriz. Calculou rapidamente a distancia entre o chão de madeira e o teto onde estava. Não era muito grande, já havia saltado mais do que aquilo.

Com uma chave de fenda tirou os pregos do pequeno conjunto de barras de ferro, e o retirou lentamente. O som da musica era alto demais para que percebessem sua presença. Respirou fundo, e passou o corpo pelo orifício aberto.

Caiu ao lado esquerdo de Rose atraindo a atenção para si, endireitou-se rapidamente e sacou o revólver. A música havia parado, ela o encarava assustada, mal respirava perante o olhar frio do assassino. Miguel estava a ponto de puxar o gatilho quando um par de olhos verdes tão conhecidos adentrou na sua área de mira.

Ele não conseguiu esconder sua surpresa ao ver o rosto daquela garota novamente, só que agora por trás de uma arma apontada em sua direção.

Thereza, também estava atônita, a ver quem era o assassino que tanto havia procurado, e perceber que era o mesmo homem que havia estado com ela no elevador, não conseguiu mais mexer um músculo.

Ambos não conseguiam se mover,estavam presos pelos seus olhares, com as armas apontadas para a cabeça um do outro. Ficaram tão alheios ao mundo que nem se deram conta de Rose correndo para o camarim atrás das coxias.

A pequena explosão que abriu um buraco na parede fez com que os dois saíssem do transe. Gary Thompson apareceu, Miguel viu naquilo sua oportunidade para fugir, seu cérebro agora estava funcionando novamente.Deu um rápido tiro na perna de Gary fazendo com que saísse de seu caminho, e correu para fora, se misturou na fumaça para fugir dos policiais que estavam a alguns metros da entrada e que se preocupavam com o companheiro ferido.

Thereza correu até Gary.

- Gary!

- Estou bem, estou bem! – Falou. – Os outros me ajudam aqui, não deixe que ele fuja Tessa!

Ela assentiu com um movimente de cabeça e com algum receio saiu pelo buraco da parede e correu a toda velocidade pelos becos da parte de trás do teatro. Podia vê-lo de longe assim como ele também sentia que ela estava se aproximando.

Miguel pulou um muro de arame sendo seguido por Tessa, ambos caíram numa grande rua movimenta da de Chicago. E sem se importar com xingamentos das pessoas que hora esbarravam, hora deixavam cair, continuaram sua corrida. Ele olhou para trás rapidamente, e viu que Thereza já estava a poucos metros dele, era rápida, tinha que admitir.

Segurou uma mulher que saia cheia de sacolas de uma loja e a empurrou no caminho por onde Tessa vinha. Esta por sua vez o xingou mentalmente, e saltou por sobre as três bicicletas estacionadas a sua esquerda desviando assim, da mulher que ainda estava recolhendo suas coisas da rua tumultuada.

Miguel desceu pelo corrimão do metrô, certo que Tessa não conseguiria faze-lo e perderia tempo descendo as escadas. Enganou-se, ela não só repetiu seus movimentos como aumentou a velocidade. Estavam perto, mas não o suficiente. O fugitivo saltou a catraca e correu, para sua sorte, havia um trem esperando por ele. Thereza escorregou de joelhos por debaixo da catraca, aproveitando sua baixa estatura e continuou correndo, viu Miguel perto do trem que já fechava as portas.

Para seu azar, assim que ele entrou, as portas de acrílico se fecharam.

Ela bateu as mãos em punhos com força na porta.

Miguel ofegante, vendo a cara de frustração de Thereza não conteve um sorriso torto que só a irritou ainda mais. A espessura da porta era a única coisa que os separava e aquilo era demais para ela. Bateu com mais força os punhos nas porta, Miguel sorriu ainda mais, aquilo o divertia de uma forma assustadora, era a policial mais estranha que já havia visto.

Ele abriu a boca e soltou vapor de ar que embaçou o vidro, em seguida escreveu. “ Nos vemos.” E sorriu sarcasticamente, Tessa sabia que ele estava brincando com ela.

O trem se moveu e ela pulou para trás. Soltando um grito de raiva. Todos os presentes olharam para ela. Correu até o balcão de informação.

- Qual é a ultima estação daquele trem que saiu?!

O homem a olhou de cima a baixo.

- Aí depende gracinha, o que eu ganho se eu te der essa informação? – A olhou maliciosamente.

Ela pegou a arma e a apontou para sua cabeça.

- Que tal eu te dizer o que você não ganha, ein? – Sorriu sádica.

O homem assustado lhe deu a informação que ela havia pedido.

E Tessa começou sua corrida novamente.

--------*--------------

Trem

21/12/2007

Miguel caminhou até o ultimo assento do vagão e lá se sentou, as pessoas se afastavam dele ao ver a arma em suas mãos.

Ele simplesmente ignorava, agora, a única coisa em que conseguia pensar, era naquela policial, que por uma incrível coincidência, também era a garota que havia conhecido no elevador e que quase chegara a beijar.

O destino estava se divertindo com ele. Havia pregado uma peça contra ele.

Suspirou e jogou a cabeça para trás, fechou os olhos.

E ainda, por incrível que pudesse parecer, queria saber de onde a conhecia, agora mais do que nunca. Seu nome parecia estar codificado em sinais em sua mente. Era difícil decodificar.

- Agora voltamos com nossa programação, nesse frio dia típico do inverno de Chicago. Hoje é dia vinte e um de dezembro, então se você não comprou o presente de natal ainda, ponha gorro e luvas e saia, antes que as lojas fechem!

O radio de alguém anunciou, aquilo fez com que Miguel abrisse os olhos repentinamente, assustando todas as pessoas que não deixavam de olhar para ele.

As palavras do locutor se repetiam na sua cabeça como num eco infinito. Um sorriso enorme se abriu em seus lábios.

Era obvio, tão obvio que tinha vontade de rir de si mesmo. Nunca imaginaria que aquela pequena menina que não conseguia nem se proteger de um garoto gordo, se transformaria numa agente federal.

E ainda numa agente federal tão linda. Isso ele não podia negar, ela tinha um corpo perfeito. Que parecia sempre atraí-lo para mais perto, talvez esse fosse seu problema.

Quando o trem parou na ultima estação, Miguel saiu e constatou feliz que ela não estava lá. Subiu calmamente as escadas que terminavam na rua, guardou a arma para não chamar mais atenção, embora a rua estivesse deserta, essa rua era muito afastada do centro da cidade.

Virou-se para ir em direção ao lugar onde ficava seu apartamento, seria uma longa caminhada, parou ao o vir o som do click, de uma arma.

- Não pensou que me veria tão cedo de novo, não é mesmo? – Thereza disse com um som debochado. Ela estava perto de um poste a alguns metros de Miguel.

Ele se virou lentamente para ela, um meio sorriso em seu rosto que ela não conseguiu entender.

- As mãos para cima! Agora! – Ordenou.

Miguel fez o que ela disse, mas ainda sorria, deu alguns passos em sua direção, deixando-a confusa.

- Não se aproxime!

- Sabe... Você não mudou quase nada nesses anos.

Ela engoliu em seco. Então não era só impressão sua, eles já se conheciam de algum lugar.

- Do que está falando?! – Não perdeu o tom autoritário, que só fazia com que Miguel se divertisse ainda mais com a situação, não conseguia vê-la como uma ameaça.

- Continua teimosa, impetuosa... – Agora estava mais perto. – E muito cheia de si.

- Já disse para não se aproximar, eu vou atirar em você!

Ele riu e parou quando o cano da arma encostou em seu corpo.

- Ora, nós dois sabemos muito bem que você não consegue matar ninguém. Você não é nenhuma assassina, não é mesmo, Tessa?

Ao ouvir seu apelido sendo dito por aquela voz tão perigosamente sedutora, se lembrou. O tom de voz não era o mesmo, mas desde aquela época, somente uma pessoa conseguia dizer seu nome e fazer com que uma alegria súbita lhe invadisse.

- Miguel? – Perguntou num fio de voz.

Por um curto momento o sorriso de Miguel, havia sido sincero, disso ele tinha certeza, mas recompôs a mascará de sarcasmo e humor negro antes que ela percebesse. Não eram mais crianças, não eram amigos que se reencontravam após muito tempo. Eram policial e assassino. Inimigos perante a lei, e perante a sociedade.

- Faz muito tempo, Tessa... – Deu um passo a frente, a arma tremia nas mãos de Thereza, ela não tinha mais coragem. – Admito que não reconheci você no inicio... – Sorriu e bateu no revólver a sua frente, derrubando o no chão.

Eliminou a distancia entre os dois colando seus corpos, os seus braços fortes passavam pela cintura de Tessa e se encontravam atrás dela, suas mãos segurando-se no poste formando uma espécie de jaula em volta dela.

- Mas peço que não me culpe por isso, afinal, você se tornou uma mulher encantadora. – Sussurrou em seu ouvido.

Thereza sentiu as pernas tremerem, a lembrança a havia deixado muito vulnerável, Miguel se aproveitava disso.

Ela segurou na sua camisa, seu corpo parecia não obedecer a seu cérebro que ordenava que suas mãos fizessem força para afastá-lo.

Miguel depositou um leve beijo no pescoço dela, e fez com que uma onda de arrepios percorre-se todo seu corpo. Ele encarou o rosto de Tessa, levemente ruborizado, e sorriu. Seus olhos verdes estavam arregalados pela confusão.

Um carro vermelho cantou os pneus pela rua e estacionou perto deles, Miguel já sabia quem era. Sua carona para casa.

- Lamento, nosso tempo acabou. – Olhou para ela, e pegou o lenço em seu bolso com uma das mãos. Colocando-o no lugar onde deveria ficar a arma de Thereza. – Você esqueceu seu lenço no elevador.

Ele soltou delicadamente as mãos de Thereza de sua roupa e se afastou dela correndo para o carro que partiu assim que fechou a porta.

Tessa ficou ainda alguns minutos encostada no poste, minutos que mais pareceram horas. O que havia feito? O que havia acontecido? Por que se tornara tão fraca perante Miguel?

Lágrimas de raiva correram pela sua face. Ele a pegara desprevenida desta vez e conseguira fugir, mas ia ter troco, e iria colocá-lo na cadeia nem que fosse a ultima coisa que fizesse.


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