Under The Snow escrita por Yuka


Capítulo 1
1


Notas iniciais do capítulo

Prováveis observações sobre a guerra e notas estão nas notas finais.
Inspirado na Guerra Nórdica dos Sete Anos.

Espero que gostem!



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            Aleksander segurava Adrien pela mão e encarava Berwald. Ali estavam os três principais daquela guerra, que durara sete anos. O campo em que se encontravam era imensamente branco. A neve espalhava-se por todo lado e as nuvens cobriam completamente o céu. O dia era sombrio e assemelhava-se muito com a noite.

            Logo o dinamarquês soltou a mão do norueguês para deixá-lo e correr ao encontro do sueco ao mesmo tempo em que este correu ao seu. Aleksander foi mais rápido no ataque, fazendo com que Berwald usasse o cabo de sua arma para defender-se. Forçando simultaneamente as armas, igualavam as forças e encaravam-se. O sueco ainda era ligeiramente maior, mas a empolgação dinamarquesa o fazia não ficar atrás.

            — Você acha que terá controle sobre a Suécia mais uma vez? — disse Berwald enquanto rangia os dentes, continuando a forçar-se em direção ao inimigo.

            — Não é isso, Berwald — respondeu ao mesmo tempo em que sentia que o adversário ganharia a luta entre as armas, esforçando-se o máximo que podia para que isso não acontecesse.

            — Então por que você atacou primeiro? — o sueco insistiu. Embora Aleksander houvesse começado a luta, não seria nada fácil ganhar. E ele sabia.

            Aleksander não respondeu. Forçou o machado contra o do inimigo e, com um rápido movimento para trás, distanciou-se levemente, sem tirar os olhos de Berwald. O dinamarquês ergueu a grande arma apontando-a para o adversário e inclinou a cabeça para trás, olhando-o com intenso ódio.

            — Não atrapalhe mais meus planos, Berwald. Se você ficar no caminho das minhas conquistas mais uma vez...

            Nesse instante, Aleksander interrompeu a própria fala ao perceber que o sueco andava lenta e calmamente em sua direção, segurando a arma com grande força e arrastando-a pelo chão — seu braço chegava a tremer e em seu rosto não estava a expressão mais amigável que ele era capaz de demonstrar. O dinamarquês abriu um sorriso extremamente malicioso e sádico e abaixou a cabeça, com os olhos fixos no inimigo.

            — Eu acabo com você!

            Os dois correram e acertaram as armas simultaneamente mais uma vez. Aleksander gritou com raiva — queria atingir de uma vez aquele sueco e não apenas ter seus ataques bloqueados. Gritando mais uma vez, puxou o machado com o fio direcionado para a mão de Berwald, fazendo com que o sueco fosse forçado a soltar uma parte do cabo da arma para que não fosse ferido. Diante disso Aleksander forçou a outra ponta da arma sueca o máximo que podia, arrancando-a da mão do inimigo e lançando-a para longe. O objeto caiu consideravelmente perto de Adrien, que assistia a tudo relativamente neutro — mas por pouco tempo.

            O sorriso dinamarquês abriu-se ainda mais e ele riu, sem baixar a guarda. Segurou o machado na mão esquerda e acertou Berwald no rosto com a mão direita, socando-o com o máximo que força que tinha e fazendo-o até mesmo virar-se. O sueco levantou-se, rápido, mas foi atingido novamente no rosto. Aleksander segurou-o pela gola do sobretudo anil e soltou sua arma, usando as duas mãos para segurá-lo pelo tecido. Descendo um pouco as mãos, ergueu a perna e forçou-o contra ela, acertando o joelho no estômago de Berwald.

            O sueco deixou-se cair ajoelhado no chão, aos pés do dinamarquês. Gemeu baixo e respirou algumas vezes com dificuldade, logo se forçando a se recuperar — Aleksander não esperaria muito tempo. Agarrando as pernas do adversário e puxando-as, fê-lo cair e ficar deitado no chão. Rapidamente Berwald saltou e acertou-o no rosto — bem como o dinamarquês havia feito com ele. Entretanto, Aleksander ainda estava consideravelmente bem para que reagisse rápido.

            Sentou-se, mesmo com Berwald sobre suas pernas, e agarrou-o pela roupa mais uma vez. Acertou-lhe o rosto várias vezes, consecutivamente, até que visse o sangue sueco escorrer-lhe da boca. Riu ao ver o líquido vermelho — vermelho, uma cor tão linda; a cor de sua bandeira — escorrer pela pele branca enquanto Berwald inclinava levemente a cabeça para trás. Mas não ganharia tão facilmente.

            A arma sueca estava longe, mas Berwald podia alcançar a arma dinamarquesa. Descuido de Aleksander.

            Berwald segurou-a próximo à parte cortante e acertou o rosto do inimigo com a ponta contrária. Aleksander caiu no chão mais uma vez enquanto o sueco levantava e pisava em seu peito com o pé esquerdo, forçando-o levemente. Não queria matá-lo logo — queria matá-lo lenta e dolorosamente.

            O dinamarquês suspirou enquanto apertava o queixo com uma das mãos — mas por pouco tempo. Gritou, gemendo, ao sentir Berwald chutar-lhe a parte das costelas — não só uma, mas várias vezes. Aleksander foi ficando sem ar e sem conseguir respirar por muito tempo enquanto apertava a neve entre os dedos. O sueco soltou a arma mais uma vez e acertou-o no estômago antes de bater em seu rosto novamente para que o fizesse sangrar também.

            Ambos tinham a respiração alterada e rangiam os dentes, incapazes de controlar sua raiva. Nenhum dos dois queria perder.

            Berwald se levantou logo depois que bateu tanto no adversário que o deixou incapaz de se levantar por um tempo e, cambaleante, andou em direção à sua arma. Inevitavelmente encarou Adrien — olhou-o fundo nos olhos. Por um instante o norueguês sentiu medo e, sentado na neve, arrastou-se para trás, direcionando o olhar para o dinamarquês no chão, que se levantava lentamente.

            O sueco já estava consideravelmente próximo, com a arma nas mãos, e nada de Aleksander se levantar de uma vez.

            — Aleksander! — Adrien gritou, inspirando-o a levantar: não queria que perdessem para Berwald. E não queria admitir, mas estava morrendo de medo do inimigo.

            O norueguês sentiu o corpo todo arrepiar quando viu o sueco erguer o machado, encarando o dinamarquês. Respirando fundo, Berwald deixou que a arma descesse, com força, contra o adversário.

            Adrien fechou e apertou os olhos em silêncio esperando ver o aliado destruído, completamente irreconhecível pela gravidade do ferimento. Entretanto, quando olhou novamente, viu que Aleksander havia desviado do golpe e corrido — ou se arrastado — para um tanto longe.

            — Ei — disse o dinamarquês, com dificuldade. — Calma, Berwald — e riu, tossindo em seguida, manchando a branca neve de vermelho.

            — Roskilde? (1) — disse o sueco enquanto enfiava a ponta da arma no chão com extrema força e olhava para Aleksander com superioridade. — Não brinque comigo.

            Aleksander continuou se arrastando sobre a neve, sentindo os dedos frios latejarem. Moveu-os com considerável dificuldade e agarrou novamente a arma ao mesmo tempo em que passava a manga do sobretudo no rosto, limpando o sangue. Berwald respirou fundo e pegou o machado novamente. Rangeu os dentes e, colocando-se aposto, inclinou o corpo para frente, gritando:

            — Eu não vou aceitar esse tratado!

            — Ótimo! — gritou o dinamarquês em resposta e, levantando a arma com dificuldade, voltou a andar em direção ao adversário. — Já que é assim que você entende... Venha me fazer acreditar que não posso mais ter domínio sobre a Suécia!

            Dessa vez, Berwald gritou e voltou a correr para Aleksander. Adrien ficou observando, sentado no chão e apoiando-se sobre as mãos, arrastando-se lentamente para trás e tomando mais distância do combate entre as duas nações. Os dois pareciam se divertir a cada golpe acertado e, quanto mais violento fosse e mais dano causasse, melhor.

            Logo ambos já haviam se acertado várias vezes com os machados e estavam com as roupas praticamente destruídas — assim como suas peles, praticamente retalhadas. Ambas as nações caíram de joelhos no chão, apoiando-se em suas armas, respirando com dificuldade e sentindo o corpo latejar. Estavam exaustos de tanto se atacarem e levarem golpes, e uma grande quantidade de sangue estava espalhada pela neve.

            Berwald arrastou-se mais uma vez até Aleksander. Ao se aproximar, o sueco segurou, com as mãos extremamente frias, o pescoço do adversário, começando a apertá-lo vagarosamente. O dinamarquês deixou que a cabeça caísse para trás, entreabrindo os lábios, sentindo os olhos começarem a encherem-se de lágrimas e ficarem mais vermelhos. Contorceu o corpo e procurou aspirar o ar, sem sucesso, começando a mexer os dedos desesperadamente.

            O sangue não parava de escorrer da boca de Berwald e logo ele tossiu, soltando o inimigo, incapaz de usar força para realmente matá-lo. Não podia mais. Estava acabado, assim como Aleksander.

            O sueco se levantou lentamente. O dinamarquês apenas ergueu os olhos, quase inconsciente, tossindo. Se Berwald tivesse um pouco mais de força, poderia tê-lo matado. Porém, não tinha. Empate.

            — Está certo — disse Aleksander, sentindo que não podia movimentar-se. — Eu não posso te controlar — tossiu mais uma vez enquanto fechava os olhos e virava o rosto. — Já pode me deixar agora... — respirou fundo mais uma vez antes de completar a frase: — Irmão... (2)

            — Já que é assim — olhou para Aleksander e, em seguida, para Adrien — eu devolvo. (3)

            Foi a última coisa que Berwald disse antes de começar a se distanciar das outras duas nações. Andou, cambaleante, até que Aleksander o chamasse novamente.

            — Ei, Berwald — com um sorriso idiota no rosto, o dinamarquês pôs o dedo indicador no chão e forçou-o contra a neve. Em meio a todo aquele sangue, afundou o dedo, furando a camada levemente congelada e fazendo ressurgir a parte branca. Em seguida, desenhou uma cruz nórdica. Desenhou a bandeira da Dinamarca no sangue dos dois.

            O sueco apenas ignorou o gesto enquanto jogava o machado, que escorria em sangue, no chão. Entretanto, não conseguiu ignorar completamente o fato de que o sorriso expressado pelo adversário havia feito seu coração doer. Começou a se distanciar do inimigo indo em direção a Adrien. O norueguês arrastou-se novamente, com o temor estampado nos olhos enquanto afastava-se de Berwald — estava em uma espécie de estado de alerta contra a nação. Arrastou-se até o aliado, passando por todo o sangue espalhado.

            — Eu te odeio, Aleksander... — disse o sueco, e deixou que o corpo caísse, sem mais dar nenhum passo.

            — Eu também te odeio — resmungou em resposta, tossindo, sentindo dor a cada respiração e com o rosto contra o gelo.

            Ambos permaneceram caídos, imóveis, enquanto voltava a nevar e a camada vermelha era substituída pela branca novamente. O sangue seria perdido na neve, mas nunca seria apagado. Assim seria com o ódio dos dois — poderiam controlá-lo, mas não o esqueceriam.


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Notas finais do capítulo

1: Roskilde: O tratado de Roskilde foi uma tentativa de tratado de paz entre os países. Embora iniciado pela Suécia, a maioria dos suecos não aprovou esse trato e a guerra recomeçou.
2: A fala de Aleksander representa a decisão da Dinamarca de abrir mão, de uma vez, do controle sobre a Suécia.
3: Diante da decisão dinamarquesa, a Suécia se dispõe a devolver os territórios, inclusive da Noruega, que tinha conquistado.
O medo atribuído a Adrien no final representa o temor da Noruega em relação à Suécia, já que os suecos tiveram o maior poder militar da Europa na época.