Era horário de almoço e eu me encontrava no restaurante da escola. Na fila, para ser mais específico. Terminei de pegar o que queria do self-service e dei dois passos para frente, olhando em volta, sem realmente saber quem estava procurando. – Provavelmente parecia um idiota, parado no meio das pessoas em movimento e segurando uma bandeja cheia de comida.

Vi o Dougie sentado em uma mesa grande, acompanhado pelos caras do futebol, o que me causou grande estranhamento. – Ele não costumava andar com os ‘populares’. Aliás, ele os detestava. Ou costumava detestar.

Hesitei por um momento, pensando se deveria ou não me aproximar. Foi quando um deles, Travis – acho que se chamava – de cabelos ruivos bagunçados, usando o uniforme esportivo e com um físico bem maior que o meu, olhou para mim e deu uma nada discreta cotovelada no braço de Dougie. Este olhou para o lado e depois para minha direção. Vi seu rosto ficar sério no instante em que ele me viu, o que me fez engolir em seco. Tentei ignorar a rapidez de meus batimentos cardíacos.

“Olha quem está aí.” Ouvi Travis dizer, com um sorrisinho maroto estampado no rosto. Dougie franziu a testa, antes de ajeitar o boné na cabeça.

“Eu vi.” Bufou.

“Não acredito que você andava com aquele otário.” Ele riu, seguido dos outros companheiros de mesa. “Mas relaxa, você não vai mais ter que aturar essa bichinha.” Revirei os olhos. – Não precisava ficar ouvindo aquilo. Decidi me sentar em uma das mesas pequenas que estava em um dos cantos, mas, para isso, teria que passar por eles.

Mas que saco. – Pensei. Minha sorte era realmente algo incrível.

“Ai, que nojo!” ouvi a voz de Dougie, seguida de altas gargalhadas vindas da mesa, coincidentemente no segundo em que passei. Ao me sentar, não fazia ideia de qual sentimento era mais forte: raiva ou decepção. Afinal, a hostilidade dele comigo era algo que chegava a ser suportável. Mas ele não tinha o direito de contar a todos sobre ‘a nova bichinha do colégio’. – Brinquei distraídamente com o garfo em minha comida. Meu apetite havia desaparecido.

“Sua mãe não te disse pra não brincar com a comida?” ouvi uma voz dizer. Levantei o olhar, me deparando com um garoto magro, de olhos castanhos e cabelos loiros arrepiados para trás. Ele vestia um moletom preto dos Beatles e um jeans azul-acinzentado. Lançei-lhe um olhar curioso. – Nunca o havia visto na vida. “Meu nome é Tom, eu sou novo aqui.”

“Danny.” Respondi. Ele sorriu e uma covinha se formou em sua bochecha esquerda.

“Se importa?” perguntou, erguendo a bandeja. “Não curto almoçar sozinho.”

“À vontade.” Eu disse. Ele se sentou e me encarou por um momento.

“Você parece chateado.” Constatou. “É por causa deles?” Ele acenou com a cabeça em direção à mesa onde Dougie estava. Fiz que sim com a minha. “Bom, sei que nos conhecemos há apenas...” Ele olhou seu relógio. “...Trinta segundos. Mas, se quiser desabafar...” Seu olhar me passou segurança. Por que não? – Pensei. Talvez me faria bem ter alguém com quem conversar.

Então eu lhe contei tudo. Desde o momento em que percebera meus sentimentos até o dia no qual os confessei. E sobre a atitude de Dougie desde então. Ele ouviu atentamente, sem me interroper sequer uma vez.

“Ele é meu único amigo.” Suspirei. “...ou era, não sei. Acho que agora estou sozinho.” Passei a mão em meu cabelo castanho, sentindo-me um pouco aflito. Tom lançou-me um olhar simpático.

“Pode não parecer, mas eu sei bem como é.” Ele disse. “Na minha escola antiga, as pessoas me excluíam, por causa dos meus gostos meio...nerds.” Ele soltou um risinho e abriu o zíper do moletom, revelando uma camiseta verde com a estampa dos ghostbusters, antes de voltar a me encarar. “Bom, se o Dougie não quer te aceitar, pior pra ele.” Sorri. Talvez não estivesse sozinho, afinal de contas.